Venho repisando a mesma avaliação há alguns dias: as manifestações revelam um enorme vazio de lideranças no Brasil. As velhas entupiram as artérias que os colocavam em contato com as ruas. Fico estarrecido com o oportunismo de todos. Agora mesmo ouço que Aécio Neves já tem gravado spots para colocar no ar. Vai quebrar a cara porque as ruas também falam dele, contra todos políticos, governos e partidos. É bom ouvir bem o que se grita nos últimos dias.
Mas também há forte ausência de liderança jovem. Um ou outro se apresenta como porta-voz, por alguns poucos segundos.
O que teria ocorrido para chegarmos a este vazio político?
Vou apresentar uma hipótese.
Após a o fim do regime militar, tivemos duas ondas de manifestações de rua e protestos, envolvendo muitos jovens: em 1982, com as Diretas Já e, em 1992, com o impeachment do Collor. Na primeira onda, as lideranças partidárias (Ulysses Guimarães, Covas, FHC, Lula) lideraram o movimento. Na segunda, organizações estudantis (UNE e Ubes, entre outras) estiveram à frente. Se utilizarmos a cabalística como norte, 2002 teria ocorrido nova movimentação. Mas, naquele ano, Lula, a expressão maior de todo movimentalismo dos anos 1980, se elegeu Presidente da República. A partir daí, temos um interregno, só quebrado agora, em 2013. O governo Lula levou lideranças e organizações populares para dentro do Estado. Se não literalmente, através de fóruns, arenas, conselhos ou convênios. Na prática, as organizações populares que apareciam como canais de mediação, de absorção das demandas e insatisfações sociais, interditaram a relação fácil e rotineira com as ruas, comunidades e grupos sociais locais.
Daí a perplexidade geral de partidos e governantes de todas cores, partidos, ideologias e crenças.
Todos, sem exceção, nem sabem compreender o que ocorre.
E, aí, as ruas, como espaços abertos, viraram espaço de disputa diária, a cada manifestação, de tentativas políticas, oportunistas ou não.
O carro está solto, ladeira abaixo. Está atropelando meio mundo.
Ao invés de acelerar, a velha guarda, que um dia se fez como liderança nas manifestações públicas, deveria orientar, acalmar, abrir o debate público.
Mas parece que os anos de retirada de cena de tantas lideranças e suas organizações, desmontaram este capital político que detinham.
Ainda há tempo para retirar o pó e limpar a garganta. Ainda há tempo para voltarem à cena pública.
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