Na contramão do que vários analistas acreditavam ser uma onda cultural em nosso país que flertava com princípios neoliberais (o que, efetivamente, ainda permanece), as ruas, mesmo apresentando várias posições ideológicas em conflito, começam a retirar camadas desta vertente ultraconservadora.
Lembro de um texto cirúrgico de Norberto Bobbio em que fundamentava sua opinião sobre o caráter fascista da agenda neoliberal. Afirmava que ao sugerir que toda demanda popular que aumentasse gastos estatais seriam populistas e não racionais, o neoliberalismo rompia a lógica democrática de justamente se mover pelos interesses das maiorias, quase sempre mergulhadas em necessidades prementes, que exigem gastos públicos na direção da equidade.
Foi justamente este discurso que orientou, de início, o posicionamento do prefeito Fernando Haddad e o governador Geraldo Alckmin. Ambos rejeitaram recuar em suas decisões de aumento de passagens e reajuste de pedágios sugerindo que seriam medidas populistas. Aprenderam com as ruas. Recuaram e, no seu íntimo, se tornaram populistas.
Populismo é um desses conceitos fluidos que se tornaram lugar-comum, um chavão que não diz muita coisa. Nada se relaciona com estudos de Ernesto Laclau, mas com a empáfia desses governantes paulistas sem alma.
Aliás, São Paulo vai se tornando a terra do conservadorismo contemporâneo tupiniquim.
Hoje, espero não ver o conflito entre os organizadores das manifestações da periferia com as que ocuparão as ruas centrais da capital paulista. O MPL e forças mais à esquerda, ocuparão a periferia. Já o Anonymous e o Mudança Já (que adotam a bandeira do combate à corrupção e não toleram partidos políticos) tomarão o centro e avenidas mais charmosas da capital.
O país se revela em suas diferenças. Venho afirmando que as ruas estão sendo a melhor escola de informação e formação política do momento. Mesmo com as forças conservadoras mostrando sua cara publicamente, aliás, exatamente por este motivo, uma das camadas da cultura neoliberal vai se desmanchando. A política e o conflito (não o confronto) corroem a névoa tecnocrática elitista que tomou conta do mundo da década de 1990.
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