É importante que nós, agentes políticos, tenhamos humildade para reconhecer e compreender a dimensão da insatisfação existente hoje no Brasil e que ultrapassa o plano das reivindicações pontuais. Há um evidente e justo clamor que une a sociedade por mudanças estruturais na gestão do setor público e é inevitável ver, na raiz dessa insatisfação, uma aguda crítica à corrupção e à impunidade que persistem na base do sistema político, impedindo transformações e agredindo diariamente os brasileiros.
Obviamente que critica o comando do PT, o que seria estranho se fosse diferente. Aliás, faz uma justa crítica ao comportamento de Rui Falcão, Presidente Nacional do PT.
Mas o importante é o equilíbrio.
No mesmo tom, FHC concede entrevista à Folha de S.Paulo, que sai publicada na edição de hoje.
O ex-Presidente sustenta que nenhum partido sairá ganhando com as manifestações e perdem quem for oportunista. Procura analisar a composição e natureza organizativa das atuais mobilizações:
Agora, com a internet, e com a fragmentação maior de classes, é diferente. O comando é quase inexistente, vai se formar na rua. As demandas são muitas, o pretexto pode ser qualquer um. Esta situação me lembra um ensaio meu dos anos 1970 chamado "A teoria do curto-circuito".O conceito de curto-circuito que FHC construiu para explicar maio de 68 na França, que seria a imprevisibilidade que ocorre nas sociedades modernas, "que parece estar bem organizada, de re-
pente sofre um curto-circuito." (ver AQUI a explicação de FHC sobre este conceito).
O ex-Presidente sustenta que não é a população organizada que está nas ruas, não são os trabalhadores e seus sindicatos. E sugere que os partidos pouco mudarão, embora alguma mudança ocorrerá.
O problema é que esta lucidez não está chegando ao coração do eleitorado, até mesmo os que estão nas passeatas. Pesquisa do DATAFOLHA junto aos manifestantes paulistanos revelou que Aécio está atrás, na intenção de votos destes jovens, de Dilma, Marina e Joaquim Barbosa.
Finalmente, a ousadia do senador Cristovam Buarque. O senador defendeu o "fim dos partidos políticos" no Brasil ao afirmar que esta seria o resultado lógico para atender o clamor dos manifestantes. Ressaltou
Talvez eu radicalize agora, mas acho que para atender o que eles querem nós precisaríamos de uma lei com 32 letras: estão abolidos os partidos, estão abolidos todos os partidos. Isso sensibilizaria a população lá fora. Hoje, nada unifica mais todos os militantes e manifestantes do que a ojeriza, a desconfiança, a crítica aos partidos políticos.
Deixemos as cartilhas teóricas de lado. O senador abriu uma reflexão sobre a esclerose dos partidos como instrumentos de representação e orientação social. Não se trata de anarquismo ou anarquia, como alguns "colegas" do Congresso apressadamente disseram aos jornais. Trata-se de refletir sobre a natureza e representação dos partidos, estruturas criadas no século XIX. Talvez tenha sido o único político profissional que tenha entendido (e acolhido) a opinião difusa que as ruas expressaram nos últimos dias.
Alguns políticos estão tentando entender o Brasil. Que eles tenham, ao menos, chance de expressar publicamente suas reflexões e tentativas de mudança.
Um comentário:
Cara, proselitismo isso do C.Buarque. Putz! Marina ja esta fazendo algo na pratica ha mais tempo, sem apelar pra ambiguidade da logica autoritaria contida nessa argumentacao de um ex-ministro da educacao. O AI-5 tambem tinha argumentos bem logicos pra acabar com partidos livres. O senador quer ser jovem passando o ridiculo de usar as girias dos netos dele como se isso criasse identidade por si so. Pelamordedeus! O cara ja foi mais sofisticado,ne?
Postar um comentário