Rudá Ricci
Um raio em céu azul. Esta é a
frase que abria um importante ensaio sobre as greves de metalúrgicos no ABC
paulista, em meio à ditadura militar. Não vivemos um momento político como
aquele, felizmente. Na verdade, vivemos o oposto. Mas nada dizia que jovens
tomariam o país, as capitais, aos milhares, começando pela exigência de
diminuição do preço das passagens de ônibus público. No momento em que escrevo
este artigo, sou informado que 20 mil pessoas fazem uma passeata no centro de
Belo Horizonte. No sábado, uma primeira concentração, na Praça 7, região
central da capital mineira, 7 mil jovens ensaiavam esta manifestação gigante.
As ruas voltaram a ser tomadas pela pressão popular. Algo que não víamos há
anos. Belo Horizonte dá um bom exemplo do que tratam estas manifestações, sua
lógica e motivação. A concentração inicial, no início da tarde, no centro da
cidade, parecia um carnaval. Alguns carregavam cartazes com partes do hino nacional,
outros improvisavam com a frase “não mais deitado eternamente”. Muitas
mobilizações se juntaram – esta é a novidade – facilmente identificadas pelos
cartazes que portavam: “Fora Lacerda”, “Anônimos” e até bandeiras da Palestina.
Caras pintadas, reivindicações pela educação pública, cartazes reproduzindo o
artigo 9 da Constituição Federal (que trata do direito de greve), esta
pluralidade revelava que, no conjunto, não havia liderança unitária. São muitas
reivindicações. Uma verdade mobilização social do século XXI, com cheiro de
rede social, fragmentada. Imagino que os com os pés no século XX estejam
incomodados com a falta de unidade, de comando, de vanguarda. Passagem de
ônibus ou reprovação dos gastos para a Copa das Confederações, reivindicações
de trabalhadores públicos em greve.
Se não há a velha unidade do
século XX, não há evidentemente oportunismos partidários. Obviamente que os
empurrões acontecerão, tentando esgarçar governo federal, estaduais ou até
municipais. A questão, para quem está no meio desta multidão, não é esta.
As manifestações já conseguiram
impor algumas vitórias. Os municípios de Barueri, Itapevi, Jandira, Santana de
Parnaíba e Osasco reduziram o valor das passagens de ônibus para R$ 3,20 a
partir de hoje. Guarulhos, Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do
Sul, Mauá e Ribeirão Pires já haviam anunciado a redução.
Vejo na televisão manifestações
gigantes no Rio de Janeiro e Brasília. Mais de 30 mil desfilam pela Avenida Faria
Lima.
Enfim, o que teria ocorrido para
um movimento criado em 2005 (Movimento pelo Passe Livre) ganhar tal projeção? A
resposta é uma combinação de fatores, que começa com a interdição dos canais de
participação social em nosso país a partir das entidades de representação clássicas.
Os gabinetes fechados envolvem lideranças sociais históricas em inúmeras
reuniões, diminuindo sua leitura sobre o que ocorria no dia-a-dia. De repente,
os jovens, outra vez.
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