segunda-feira, 17 de junho de 2013

Os jovens, outra vez!



Os jovens, outra vez!
Rudá Ricci

Um raio em céu azul. Esta é a frase que abria um importante ensaio sobre as greves de metalúrgicos no ABC paulista, em meio à ditadura militar. Não vivemos um momento político como aquele, felizmente. Na verdade, vivemos o oposto. Mas nada dizia que jovens tomariam o país, as capitais, aos milhares, começando pela exigência de diminuição do preço das passagens de ônibus público. No momento em que escrevo este artigo, sou informado que 20 mil pessoas fazem uma passeata no centro de Belo Horizonte. No sábado, uma primeira concentração, na Praça 7, região central da capital mineira, 7 mil jovens ensaiavam esta manifestação gigante. As ruas voltaram a ser tomadas pela pressão popular. Algo que não víamos há anos. Belo Horizonte dá um bom exemplo do que tratam estas manifestações, sua lógica e motivação. A concentração inicial, no início da tarde, no centro da cidade, parecia um carnaval. Alguns carregavam cartazes com partes do hino nacional, outros improvisavam com a frase “não mais deitado eternamente”. Muitas mobilizações se juntaram – esta é a novidade – facilmente identificadas pelos cartazes que portavam: “Fora Lacerda”, “Anônimos” e até bandeiras da Palestina. Caras pintadas, reivindicações pela educação pública, cartazes reproduzindo o artigo 9 da Constituição Federal (que trata do direito de greve), esta pluralidade revelava que, no conjunto, não havia liderança unitária. São muitas reivindicações. Uma verdade mobilização social do século XXI, com cheiro de rede social, fragmentada. Imagino que os com os pés no século XX estejam incomodados com a falta de unidade, de comando, de vanguarda. Passagem de ônibus ou reprovação dos gastos para a Copa das Confederações, reivindicações de trabalhadores públicos em greve.
Se não há a velha unidade do século XX, não há evidentemente oportunismos partidários. Obviamente que os empurrões acontecerão, tentando esgarçar governo federal, estaduais ou até municipais. A questão, para quem está no meio desta multidão, não é esta.
As manifestações já conseguiram impor algumas vitórias. Os municípios de Barueri, Itapevi, Jandira, Santana de Parnaíba e Osasco reduziram o valor das passagens de ônibus para R$ 3,20 a partir de hoje. Guarulhos, Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Mauá e Ribeirão Pires já haviam anunciado a redução.
Vejo na televisão manifestações gigantes no Rio de Janeiro e Brasília. Mais de 30 mil desfilam pela Avenida Faria Lima.

Enfim, o que teria ocorrido para um movimento criado em 2005 (Movimento pelo Passe Livre) ganhar tal projeção? A resposta é uma combinação de fatores, que começa com a interdição dos canais de participação social em nosso país a partir das entidades de representação clássicas. Os gabinetes fechados envolvem lideranças sociais históricas em inúmeras reuniões, diminuindo sua leitura sobre o que ocorria no dia-a-dia. De repente, os jovens, outra vez. 

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