segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Ensino Médio Inovador adota estrutura modular


O Programa Ensino Médio Inovador surgiu como uma forma de incentivar as redes estaduais de educação a criar iniciativas inovadoras para o ensino médio. A intenção é estimular as redes estaduais de educação a pensar novas soluções que diversifiquem os currículos com atividades integradoras, a partir dos eixos trabalho, ciência, tecnologia e cultura, para melhorar a qualidade da educação oferecida nessa fase de ensino e torná-la mais atraente. A proposta do MEC tem cinco questões centrais a serem discutidas no currículo do ensino médio. A primeira é estudar a mudança da carga horária mínima do ensino médio para 3 mil horas – um aumento de 200 horas a cada ano. Outra mudança é oferecer ao aluno a possibilidade de escolher 20% de sua carga horária e grade curricular, dentro das atividades oferecidas pela escola. Faz parte ainda da proposta associar teoria e prática, com grande ênfase a atividades práticas e experimentais, como aulas práticas, laboratórios e oficinas, em todos os campos do saber; valorizar a leitura em todas as áreas do conhecimento; e garantir formação cultural ao aluno.
No documento referência de 2009, lê-se:
O êxito do programa deverá ser garantido pela interlocução qualificada com os estudantes por meio de comunicação permanente construída por um Fórum virtual e pela realização de estudos e pesquisas de grupos de pesquisa das Universidades. O programa estimulará a realização de estágio e a concessão de auxílio ao desenvolvimento de projetos integradores de iniciação a ciência, atividades sociais, artísticas e culturais, bem como, outras proposições de atividades educativas de interesse dos estudantes.

Aí que me parece o ponto mais tímido do programa. Ele não consegue incorporar ações mais ousadas de formação para a cidadania e protagonismo juvenil. Não incorpora as experiências da educação fiscal, ou orçamento participativo jovem (espalhados pelo país), ou mesmo adotam uma ONG Júnior. Enfim, ficam ainda no campo da "oferta" e não da criação de espaço interativo.

Governo Dilma faz água?


Sinais de tempestade:
1) Corte no programa Minha Casa Minha Vida, dos R$ 12,7 bilhões previstos para R$ 7,6 bilhões;
2) Corte de 72% nas emendas parlamentares.

O reajuste do Bolsa Família e outros programas focados nos direitos da mulher terão que ser muito bem lançados para reverter o impacto negativo dos cortes orçamentários.

Programa em BH

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Cartunista explica o motivo de se denominar Geração Y

Falecimento de Moacyr Scliar


O escritor Moacyr Scliar teve falência múltipla de órgãos e morreu à 1h deste domingo).
Ele sofreu um acidente vascular cerebral isquêmico no dia 16 de janeiro. Lamento profundamente. Gaúcho, 73 anos, era formado em Medicina e publicou 88 livros de diversos gêneros literários. Desde 2003, era membro da Academia Brasileira de Letras (ABL). Em 2009, Scliar ganhou o Prêmio Jabuti, com o romance “Manual da paixão solitária”, o último livro que li escrito por ele. Comentei aqui neste blog o livro e reproduzo porque revela a vitalidade e ousadia deste escritor:
O livro de Scliar nasce de um mote dos mais instigantes. Uma passagem da Bíblia (Gênesis, capítulo 38). A história de Judá e Tamar. Uma daquelas histórias que padres e freiras não comentam. Judá, um dos irmãos de José, se casa e tem três filhos. Um deles, Er, casa-se com Tamar, mas morre sem deixar nenhum filho. Tamar, contudo, procura engravidar para garantir a descendência de Er. Em tais situações, era dever do cunhado perpetuar a linhagem de seu irmão falecido e a também prover o sustento e as necessidades da viúva. O cunhado Onã, porém, agiu de forma diferente do esperado e se recusou a perpetuar a linhagem de seu irmão. A Bíblia afirma que tal atitude não agradou ào Senhor, que o matou. Tamar então recebe a promessa de que poderia ter seu filho quando o cunhado mais novo atingisse idade, e volta à morar com seu pai. Ao perceber que a promessa não seria cumprida, ela cria um plano tão arriscado que coloca em jogo sua própria vida e honra. Judá toma Tamar como uma prostituta e não a reconhece, uma vez que era costume da época ter o rosto velado durante o ato sexual. Após saber que sua nora havia engravidado, a notícia bombástica: ele era o pai da criança, ou melhor, das crianças gêmeas. Judá assume então a responsabilidade por seu pecado, e Tamar passa a ser uma mãe solteira.
As tragédias rurais são todas relacionadas à famílias e sua perpetuação. E a Bíblia é uma obras tipicamente rural. Scliar acertou em cheio.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Charge do pensamento árabe

Novo mapa político do mundo árabe

Mais um domingo feliz

Ainda sobre o "suicídio" do cabo da PM de MG

De Thiago Ricci (R7, ontem):
Corpo de policial que suicidou em cela já está no IML
Há 23 anos na Polícia Militar, cabo Fábio de Oliveira deixou uma filha de 14 anos e um filho de 21

Thiago Ricci e Fernando Zuba
Está no Instituto Médico Legal (IML) o corpo do cabo Fábio de Oliveira, que foi encontrado morto nesta sexta-feira (25) na cela que ocupava sozinho no 1º Batalhão da Polícia Militar (1º BPM), no Bairro de Santa Efigênia, Região Leste de BH. Lotado no Batalhão de Rondas Táticas Metropolitanas (Rotam), ele era suspeito de participar da operação policial que, no último sábado (19), resultou na morte de dois moradores do Aglomerado da Serra - Jefferson Coelho da Silva, 17 anos, e Renilson Veriano da Silva, 39 -, e desencadeou uma série de protestos na comunidade.O chefe de comunicação da Polícia Militar (PM), tenente-coronel Alberto Luís Fábio, revelou que o cabo se enforcou dentro da cela com o cordão do short. Ele foi encontrado às 7h30, quando o café da manhã era servido. No 1º BPM, onde aconteceu a morte, estão o advogado do militar morto, Agnaldo Aquino, além do coronel Antônio de Carvalho Pereira, comandante do Comando de Policiamento Especializado (CPE) e um rabecão da Polícia Civil que irá levar o corpo para necropsia no Instituto Médico Legal. Representantes da Associação dos Praças e Soldados e do Centro Social dos Cabos e Soldados da PM também aguardam informações sobre o caso. O advogado Agnaldo Aquino, pouco antes de entrar no batalhão, contou à imprensa que esteve com seu cliente na quinta-feira por volta de 18 horas e que ele estava tranquilo, mas se sentia angustiado, com medo de ser condenado. Fábio Oliveira e os outros policiais militares envolvidos nas mortes na Vila Marçola, no Aglomerado da Serra, foram presos na tarde de quarta-feira (23), depois de passarem por exames do IML. Permanecem presos em outros batalhões os demais suspeitos: o soldado Jason Ferreira Paschoalino, no 36º Batalhão (Vespasiano), Jonas David Rosa, no 39º BPM (Contagem), e Adelmo de Paula Zucheratti, no 5º BPM (Gameleira, Região Oeste de BH). Na quinta-feira, o laudo da necropsia realizado pela Polícia Civil apontou que Jefferson Coelho da Silva e Renilson Veriano da Silva foram atingidos por dois tiros no peito, disparados de uma arma de grosso calibre a curta distância.
Oliveira tinha 23 anos de polícia e deixa dois filhos jovens
Há 23 anos na Polícia Militar, o cabo Fábio de Oliveira, 45 anos, deixou uma filha de 14 anos e um filho de 21. O militar estava na Rotam desde 1990. Em clima de revolta, o cunhado dele, Rogério Magno de Oliveira, falou com a imprensa e culpou o secretário de defesa social, Lafayette Andrada, pelo suicídio de Oliveira. "Ele é um ignorante, tratou os militares como bandidos. Errados ou não, eles estavam trabalhando. Fábio foi execrado pelo governo", afirmou.
Polícia Civil ouve 18 testemunhas do duplo homicídio
Três testemunhas foram ouvidas nesta sexta-feira (25) no Departamento de Investigações (D.I.). Elas se juntam às outras 15 pessoas, entre parentes, amigos e moradores do Aglomerado da Serra, que já foram interrogadas nos últimos dois dias. Outras três testemunhas ainda devem ser ouvidas hoje pela Polícia Civil. O primo das vítimas, o DJ Marcelo Emiliano Júnior, 27 anos, falou com a imprensa antes de entrar no D.I. e revelou não guardar rancor. "Eu não falo pela família, mas particularmente eu perdoo os policiais. Mas o crime deve servir de exemplo para mudar a abordagem da Rotam, que já matou outras moradores do Aglomerado", afirmou.

A crise da PM Mineira


Do IG:
Em um clima de tensão, foi enterrado na tarde deste sábado o corpo do cabo do Batalhão de Rondas Táticas Metropolitanas (Rotam), da Polícia Militar de Minas Gerais, Fábio Oliveira, 45 anos (foto). O corpo de Oliveira foi encontrado ontem na cela em que estava preso por suposto envolvimento nas mortes de duas pessoas inocentes (parentes de um outro militar), ocorridas há uma semana, em uma favela na Região-Centro Sul de Belo Horizonte. O subtenente Luiz Gonzaga Ribeiro, da Associação de Praças Policiais e Bombeiros Militares de Minas Gerais (Aspra), disse que o cabo morto tinha uma conduta exemplar e foi ameaçado de morte antes de ser preso, na última quarta-feira. “Interessa aos traficantes o enfraquecimento da segurança pública. O secretário de Segurança Pública foi irresponsável ao dizer que os policiais envolvidos no caso são bandidos de farda”, afirmou Ribeiro. O advogado dos policiais envolvidos nas mortes na favela, Ricardo Guimarães, disse que o soldado Jason Ferreira Paschoalino, também suspeito de envolvimento nas mortes, sofreu ameaças antes de ser preso. A sogra dele recebeu um telefonema em sua casa. A pessoa que ligou disse que mataria o soldado e toda sua família.

Ainda sobre o piso salarial de professores

Comentário de internauta:
Rudá, infelizmente a chamada Lei do Piso virou motivo de chacota. A mídia "gorda" anuncia a todo momento que a legislação é para 40 horas, "esquecendo" que existe a ADI (Ação de Inconstitucionalidade) 4167 impetrada no STF por governadores(as)inescrupulosos(as). Aliás, é curioso como o Supremo trata com desdém a questão, sucumbindo ao lobby de governos estaduais pouco familiarizados com a educação de qualidade. A CNTE apóia incondicionalmente o governo federal. No entanto, defende um PISO (para nível médio de escolaridade)de R$1.597,00 enquanto o MEC afirma que o valor é R$ 1.187,00 para longas, muito longas 40 horas. No nosso caso doméstico, o SINDUTEMG embarca na canoa e proclama que o eixo da campanha de 2011 será defender as proposições da CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES EM EDUCAÇÃO. Erro crasso! Devemos, outrossim, derrubar as premissas da Lei estadual 18975/10 e forçar o reacionáro desgoverno mineiro a manter as vantagens da carreira (biênios, quinquenios etc)incidindo sobre o tal subsídio.Fora isso, exigir concurso público, revisão da lei complementar nº100 que precarizou ainda mais o ensino em MG, gestão democrática e outros temas que realmente contemplem uma agenda propositiva.

Artigo da semana: esquerda sem estratégia

Esquerda no Brasil: falta estratégia
Por RUDÁ RICCI

1. Do Partidão à Crise do Mundo Soviético
Nos anos 1950 e 1960, a esquerda brasileira era hegemonizada pelo PCB, o partidão. Ao lado de uma ala mais esquerdista do PTB, da ala de Francisco Julião envolvido com as Ligas Camponesas, da Ação Popular nascida da JUC (Juventude Universitária Católica) e algumas fluidas organizações relacionadas à Leonel Brizola, o PCB reinava com uma leitura exótica, mas verossímil, sobre o Brasil: carregávamos os resquícios de um mundo feudal. Daí, desmembrava-se toda uma lógica de alianças de classes consideradas “progressistas” que poderiam banir o atraso e instalar um modelo capitalista clássico. Em poucas palavras, esta era a estratégia central: compor uma evolução por etapas. Hoje, sabemos que havia divisões internas no PCB, mas esta era a linha oficial. As outras organizações de esquerda não concordavam com esta estratégia e muitas sugeriam que não era na cidade que residia a energia moral da revolução. A leitura que mais tarde jogaria as ligas camponesas nos braços do castrismo e, mais adiante, do PCdoB, colocava o campo no centro da organização revolucionária. Já a Ação Popular (AP) caminhou por Minas Gerais e Maranhão e desenvolveu os fundamentos do que se denominaria de “trabalho de base”, utilizando rádios e métodos de educação popular para organizar sindicatos. Algumas poucas organizações trotskistas mantinham pouca influência política.
De 1961 ao golpe militar, abriu-se uma vaga de rachas no interior do partidão que se acelerou com o regime militar e após o AI-5. As inúmeras organizações, da POLOP à ALN, da ALN à Ala Vermelha, e tantas outras como PCdoB, MR8, MRT, MEP, VAR-Palmares, VPR, PCBR, havia poucas leituras distintas sobre a realidade brasileira. As divergências se davam sobre a organização urbana foquista ou a estrutura de guerra civil prolongada no campo, se centralizada num comitê central ou se segmentada com focos semi-autônomos, mas pouco diferiam sobre a estratégia: o Brasil vivia uma ditadura que seria expressão da crise do capitalismo, o que transformava as organizações de esquerda em estruturas de propaganda e direção da luta revolucionária para a derrubada do regime militar. O debate sobre o atraso ou desenvolvimento em que o país estaria mergulhado foi quase marginal entre as forças de esquerda, e talvez teve na POLOP uma voz dissonante.
De 1969 a 1974 a esquerda brasileira foi praticamente dizimada. A partir daí, tivemos um longo processo de mea culpa e revisão das leituras sobre o país. O vanguardismo foi a tônica de grande parte das vozes críticas. Parte do PCdoB sugeriu uma maior relação com organizações civis na busca de um trabalho político educacional de massas. Parte das organizações aproximou-se das teses de Gramsci que sugeria a disputa da hegemonia política e cultural, criando hábitos e valores a partir de um discurso que acolhia crenças populares e práticas comunitárias. Paulo Freire retornou à tona e a velha rejeição à igreja esvaneceu. Pautas mais gerais e populares foram, pouco a pouco, surgindo como elementos de mobilização social, caso da luta pela anistia política, pela defesa da soberania brasileira na Amazônia, contra a carestia, pelas demandas sociais nas periferias das cidades (em especial, pela saúde pública) foram se entrelaçando. Mesmo não aparecendo nos documentos oficiais de muitas organizações de esquerda que se reconstruíam no período final dos anos 1970, era evidente que havia uma inflexão em curso, da clandestinidade á ação democrática à luz do dia, do vanguardismo à organização popular de massas, da pauta centralizada pelas cúpulas políticas às pautas que incomodavam os cidadãos mais pobres nas periferias das cidades ou no chão das fábricas e fazendas. A Teologia da Libertação foi, neste sentido, a expressão maior deste amálgama e revisão. Não que as organizações de esquerda tivessem se infiltrado na igreja católica. Ao contrário: a vitalidade e engajamento de parte da igreja católica abriram espaços e sugeriram sutilmente os rumos a serem tomados. Ainda sem uma leitura clara do que ocorria no Brasil, a esquerda experimentava finalmente a crise do regime militar, ferido pela crise de financiamento externo e aumento das taxas de juros internacionais que tiveram no aumento do preço do barril de petróleo (em 1974 e final dos anos 1970) o veneno que contaminou todo sistema produtivo ocidental.
Enfim, entramos na década de 1980 respirando novos ares políticos em plena crise econômica internacional. A década perdida da nossa economia foi a década do florescimento político do país. A esquerda, que até então vinha se acomodando no interior da única organização partidária legal de oposição, o MDB, revelou suas diferenças aos poucos. PT foi a primeira expressão pública das diferenças, acolhendo uma multiplicidade de organizações clandestinas e semi-clandestinas, envolvendo muitas organizações trotskistas (como Convergência Socialista, Liberdade e Luta, Democracia Socialista), rachas do PCdoB (como a “ala rosa”), parte do espólio da ALN e Ala Vermelha, MEP, MCR e outras. Mais tarde, o PCB e o PCdoB também apareceram no espectro partidário nacional, além do PDT brizolista e várias incorporações ao PMDB (parte do partidão, do PCdoB e MR8 quercista, entre outros). O que alimentava as diferenças? Primeiro, o caráter da democracia brasileira, se uma transição em risco ou um processo irreversível de democratização. Depois, a necessidade de criação de um novo partido operário. Finalmente, a crítica ao mundo soviético. Em outras palavras, a esquerda se dividia entre cautela e ousadia política (o que a transformava em coadjuvante ou protagonista do sistema partidário vigente). Ou, ainda, entre uma concepção clássica de organização centralizada e hierarquizada de partido (as várias vertentes do partido de vanguarda leninista) e um partido de massas, enraizado na base social e com formas de participação e influência direta do filiado nas decisões capitais do partido. Até que, ao longo dos anos 1990, o PT resolveu trilhar os passos do Partido Trabalhista Inglês e passou a pressionar pela expulsão das organizações não totalmente integradas organicamente (ou disciplinadas), abandonar paulatinamente o projeto socialista e focar a vitória eleitoral como objetivo central. A vitória eleitoral, lembremos, é para esquerda um meio e não um fim. A queda do Muro de Berlim e todo a referência do mundo soviético para grande parte da esquerda internacional parece ter aberto a licença para a realpolitik entre tupiniquins. Mesmo o PT, que nasceu se contrapondo ao mundo soviético, parece ter respirado aliviado e foi paulatinamente abandonando o jargão e as premissas de esquerda, até mesmo as socialistas libertárias.

2. O projeto de esquerda na virada do século XX
A esquerda existe por um projeto de mudança, de ruptura com a desigualdade social e política. Norberto Bobbio, pouco antes de falecer, sugeriu num pequeno texto provocativo, que a diferença entre esquerda e direita contemporâneas está na ênfase da defesa da busca da igualdade social (esquerda) ou da liberdade individual (direita).
Já sugeri em texto anterior que a pauta da esquerda mundial nos tempos atuais é a democracia deliberativa (mais que a participativa) porque é a crença no coletivo e na espécie humana. É nesta prática de alargamento do processo de tomada de decisão no interior do Estado (a participação, portanto, se torna um mecanismo institucional e não esporádico) que se produz a igualdade formal e por onde as demandas sociais se tornam políticas públicas. A defesa da participação direta do cidadão na gestão pública (e não apenas aquela em que o eleitor elege um representante, o mais competente entre todos), postula que toda humanidade tem inteligência e, portanto, capacidade para governar. Outro aspecto que compõe a pauta da esquerda mundial é a defesa do desenvolvimento sustentável que, aliás, se articula com o de democracia participativa e com o conceito de condições de reprodução das condições de trabalho. O conceito de desenvolvimento sustentável é oposto ao de progresso, de linha reta para um determinado padrão - normalmente, o padrão europeu ou norte-americano é o utilizado para explicar o que é progresso. Parte do princípio que os homens possuem cultura específica, experiências próprias e que o desenvolvimento precisa respeitar tais peculiaridades. O desenvolvimento, por sua vez, é entendido como integral - pessoal, humano, espiritual, social, econômico, produtivo, tecnológico. A base desses dois princípios (democracia deliberativa e desenvolvimento sustentável) é a promoção humana, contrário do individualismo ou mera proteção social. Na proteção (em políticas públicas), a ação do Estado se limita a garantir a sobrevivência da pessoa. É uma noção liberal, que foi esboçada na virada do século XVII para XVIII. Os liberais acreditavam que os homens são diferentes e que os mais capazes sempre terão uma vida privilegiada. Nessa perspectiva, o papel do Estado seria apenas o de garantir condições para que todos possam competir entre si (garantir saúde, educação e segurança). O restante estaria por conta de cada um, da competição. É daí que nasce a noção de proteção, ou seja, de apenas garantir a sobrevivência individual, mas não a melhoria de vida. A melhoria de vida seria resultado de uma ação exclusivamente individual. O conceito de promoção que partilhamos é outro. Significa acreditar que ninguém é capaz de se desenvolver por si só e que as condições do passado sempre limitarão o crescimento individual. Assim, uma pessoa, filho de favelados e que é favelado, sempre terá menos chances do que aquele que nasceu em berço abastado e que aprende a ler, tem uma biblioteca à sua disposição (além do cargo de direção garantido na empresa dos pais). O papel do Estado seria de promover (promoção) continuamente a possibilidade humana, tanto para os mais pobres como para os mais ricos. Ninguém pode ter seu potencial limitado. Em outras palavras, o Estado deveria promover, sem limites, o acesso a obras de arte, cursos de pintura, literatura, teatro, tecnologias de ponta, financiamento público para abertura de negócios, educação de ponta, intercâmbio etc. Não há limite ao crescimento da humanidade e o Estado seria um suporte para tal condição.
Finalmente, o internacionalismo. É um conceito coerente com o respeito à espécie humana. O inverso do nacionalismo. Ser nacionalista é defender a diferença abstrata entre os homens. A nação é sempre uma abstração. Raramente é uma escolha coletiva - ocorreu, por exemplo, na criação do Estado de Israel, nas revoluções de libertação na África ou nos movimentos separatistas contemporâneos, como é o caso da ex-Iugoslávia. Nesses casos, a criação de uma nação, como regra, se deu na disputa entre grupos que desejavam governar um território. O internacionalismo revela a crença no mundo sem fronteiras. Na troca de experiências. Na oposição ao racismo e à xenofobia.
Ora, se formos sinceros fica evidente que desde os anos 1990 uma pauta – que não seja esta que indiquei acima – qualquer escapou por entre os dedos da esquerda brasileira. Retornamos aos anos 1960 sem a estratégia – mesmo que equivocada – que existia naquele período.
Esta é uma possível pauta. Mas algo do gênero, ou mesmo oposta a esta agenda, é proposto pela esquerda brasileira nos dias atuais? Não. O que temos é um profundo ressentimento que (ou adesismo) em relação ao lulismo.

3. Lulismo como idéia-fixa
O lulismo torna-se uma referência quase obrigatória em todos textos e documentos internos de todo espectro à esquerda do mundo político. Fora desta tábua de salvação (ou de sedição, dependendo da agremiação em questão) resta o mundo do trabalho, mais especificamente, o mundo sindical. Aí parece ainda existir vida que pulsa para as agremiações de esquerda. Mas mesmo neste campo, parece viver um labirinto, cercada pela realpolitik e construção de arenas neocorporativas. Talvez este seja o problema central da falta de estratégia da esquerda brasileira: a sociedade civil não se vê representada nas estruturas clássicas de organização partidária. Na medida em que a esquerda não consegue mais se alojar, representar e conseguir ter canais de comunicação com as ruas, ela deixa de ser a esquerda como historicamente se constituiu. Enquanto teoria, o pensamento de esquerda não tem como centro a manutenção do Estado mas, em nosso país, passou a se limitar a este tema. O fato é que a identidade original da esquerda nunca foi a manutenção do aparelho de Estado. Pelo contrário, era justamente a construção de um projeto que abriria o Estado cada vez mais ao controle da sociedade (ou, para alguns, para o controle de um segmento de classe). Desde a análise sobre a Comuna de Paris, em Marx; passando pelo poder dos sovietes que se tornou slogan na revolução russa; passando pelos estudos do exílio mexicano de Trotsky; pelos estudos sobre conselhos operários de Gramsci, Togliati e os comunistas articulados ao redor do Il Manifesto. Apenas para citar clássicos.
Enfim, talvez exista uma esquerda brasileira não partidarizada, talvez engajada em ONGs, fóruns e redes. Algo novo que ainda não consegue se projetar claramente no espaço público. Mas é uma mera hipótese de análise. O fato é que a esquerda organizada em partidos nunca esteve, em nosso país, tão acabrunhada, tão sem estratégia nítida, tão fechada em guetos.

Bibliografia sobre os dilemas da esquerda contemporânea
ANDERSON, Perry e outros. Um mapa da esquerda na Europa Ocidental. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996.
BOBBIO, Norberto. Direita e Esquerda: razões e significados de uma distinção política. São Paulo: UNESP, 1995.
CASTELLS, Manuel. “Para o Estado-Rede: globalização econômica e instituições políticas na Era da Informação”, In PEREIRA, L.C. Bresser, WILHEIM, Jorge & SOLA, Lourdes. Sociedade e Estado em Transformação. São Paulo/Brasília: Editora UNESP / ENAP, 1999.
GIDDENS, Anthony. Para Além da Esquerda e da Direita. São Paulo: UNESP, 1996.
SINGER, Paul & MACHADO, João, Economia socialista. São Paulo, Editora Fundação Perseu Abramo, 2000.

Dica do Ed Motta

Erundina: serei estranha no ninho


A ex-prefeita de São Paulo e deputada federal Luiza Erundina deixou claro ontem que sairá do PSB se o partido acolher políticos como o prefeito Gilberto Kassab e o vice-governador Guilherme Afif Domingos, ambos de saída do DEM. Erundina destacou sua proximidade com o PT, partido do qual saiu em 1997, mas disse esperar que a Justiça Eleitoral impeça a concretização de uma eventual manobra de Kassab e da cúpula do PSB - nessa hipótese, estaria assegurada sua permanência na legenda.
Não sei se já postei neste blog minha profunda admiração por Erundina. Fui do governo dela em São Paulo. Fazia parte da ATDR (Assessoria Técnica de Diretrizes Regionais) que funcionava como uma secretária adjunta da SAR (Secretaria de Administrações Regionais, hoje, de Subprefeituras). Eu acompanhava todas regionais do norte e oeste de São Paulo (Perus, Pirituba, Pinheiros, Lapa e Butantã). O que posso testemunhar é a correção e engajamento da prefeita. Presenciei cenas que são raras em políticos, como a visita à uma biblioteca para crianças pobres em que Erundina, ao ver duas crianças lendo, foi imediatamente até elas e as abraçou, com lágrimas rolando no rosto. Perguntava o que estavam achando da biblioteca, se era confortável, se tinha o que elas queriam. Quando andava pela cidade no carro dela, era comum vê-la anotando num bloquinho os problemas que percebia na cidade: de um morador de rua ao relento à um pequeno incêndio embaixo de um viaduto. O projeto de ação integrada em São Miguel Paulista, onde em cada quarteirão havia um representante dos moradores que (com prancheta do cronograma das obras na mão) fiscalizava in loco as obras foi uma das situações mais marcantes na minha vida. Foram muitas inovações. Recebíamos e visitávamos experiências internacionais de gestão descentralizada e participativa (Osaka, Bolonha, Toronto, Barcelona). Tive o prazer de participar, com Paul Singer e Chico Whitaker, da equipe que elaborou a proposta do Executivo (absolutamente derrotada na Câmara Municipal) de Lei Orgânica. Foi, talvez, a gestão mais petista que a região metropolitana de São Paulo já viu. Erundina me parece a nossa Rosa Luxemburgo. Uma pessoa fantástica, admirável.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Mais uma de Lula


O motorista da prefeitura de Pirajuí, Feldman, conta que Lula, no final de mandato, visitou Tatuí, cidade próxima. No discurso, apresenta e festeja Dilma Rousseff e diz: "vocês têm que ter dó de mim. Aqui faz um calor dos infernos e fui lavar o rosto. Quando levantei as mãos para jogar a água na minha cara, vi que não tinha mais nada. Escorreu tudo pelo vão do dedo que não tenho". Isto é Lula.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Expectativa dos deputados federais em relação ao governo Dilma

Autodefinição ideológica dos deputados federais

Hábitos de leitura dos deputados federais (Instituto FSB)

Perfil das crianças de rua

MEC: critérios para municípios pedir complementação para o piso salarial do professor

O MEC anunciou o valor reajustado do piso salarial nacional do magistério: R$ 1.187,08 e os novos critérios para que Estados e municípios possam cumprir com a determinação.

Segundo a pasta, as regras para pedir complementação de verba para o piso foram atenuadas e cerca de R$ 1 bilhão está reservado para esse fim. Confira as normas:

1) Aplicar 25% de suas receitas na manutenção e desenvolvimento do ensino;
2) Preencher o Siope (Sistema de Informações sobre Orçamento Público na Educação);
3) Cumprir o regime de gestão plena dos recursos vinculados para manutenção e desenvolvimento do ensino;
4) Dispor de plano de carreira para o magistério com lei específica;
5) Demonstração cabal do impacto da lei do piso nos recursos do Estado ou Município.

Em Pirajuí (SP)

Estou em Pirajuí, interior de SP, onde faço palestra sobre o perfil do professor do século XXI para professores da rede municipal daqui e de outras redes da região. O tema na região é falta de água de Bauru à Marília e a saída de Kassab e Afif Domingos do DEM. Como se previa, a desidratação do DEM será realmente fatal. Questão de tempo ou ele se torna mais um nanico do debilitado sistema partidário tupiniquim.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Slavoj Žižek


Comprei o livro deste filósofo e psicanalista esloveno mais que bem humorado e quase doido (o livro leva o título de "Em Defesa das Causas Perdidas" e faz uma pirotecnia envolvendo Marx, Lacan, Heidegger, Mao, Kafka, articulando um debate dos mais estranhos entre totalitarismo, liberalismo e marxismo e daí por diante). Vou comentar com mais cuidado o livro, após avançar na leitura. Mas não poderia deixar de compartilhar a interessante dedicatória, na abertura do livro:
Certa vez, numa sala onde eu estava dando uma palestra, Alain Badiou encontrava-se na platéia e seu celular (que para piorar era meu - eu havia emprestado a ele) começou a tocar de repente. Em vez de desligá-lo, ele educadamente me interrompeu e pediu que falasse mais baixo para ele poder ouvir o intelocutor com mais clareza... Se esse não foi um ato de amizade verdadeira, então não sei o que é amizade. Portanto, este livro é dedicado a Alain Badiou.

No tapa

Ainda sobre o perfil de Márcio Lacerda

Para boa parte dos eleitores de BH, Lacerda é aquele "que pensa nos ricos". Já Leonardo Quintão é aquele que "pensa nos pobres". Contudo, Quintão aparece ao mesmo tempo como um dos três preferidos e um dos três com maior rejeição.

Mais informações sobre opinião do eleitor de BH

Recebo novas informações sobre dados a respeito da opinião do eleitor de BH:
1) Reforçada a informação que a maioria da população da capital mineira não tem candidatos. Contudo, quando se estimula a resposta (apresentando uma tabela com nomes de possíveis candidatos), os mais lembrados são Márcio Lacerda, Leonardo Quintão e Délio Malheiros;
2) Os motivos para votar nos três são: Lacerda: bom administrador; Quintão:
ajudar as pessoas carentes e Délio Malheiros, partido. Roberto Carvalho e
Rodrigo de Castro são desconhecidos de grande parte da população;
3) Mais rejeitados: Quintão, Lacerda e Jô Moraes;
4) A maioria acredita que Lacerda é do PSDB;
5) A administração de Lacerda é avaliada como pior que a de Pimentel. Os entrevistados não sabem dizer algo de positivo que Lacerda tenha feito em BH.
Negativo: além do já citado pelo blog, as linhas de ônibus retiradas de bairros que tem estação do metrô próximo de casa e a limpeza urbana ( coleta de lixo e proibição dos garis limparem os passeios) se alinham ao problema da violência. Quando estimulado o problema mais citado é precaridade dos postos de saúde;
6) Na avaliação setorial a saúde se destaca como o pior serviço público local, seguido por transporte, habitação, limpeza urbana e lazer;
7) Educação recebe a melhor avaliação, seguida por geração de emprego;
8) Qualquer candidato petista só tem chances quando seu nome é associado aos de Lula, Dilma, Pimentel ou Patrus.

MEC negocia verba extra para garantir piso salarial do professor

Do Brasil Econômico:
Prestes a completar três anos, a Lei 11.738 de julho de 2008, que determinou a criação do piso salarial nacional para os professores da rede pública da Educação básica, ainda está longe de se tornar realidade. Apesar de não existirem pesquisas oficiais sobre o assunto, a Confederação Nacional dos Trabalhadores de Educação (CNTE) garante que nenhum estado ou município cumpre a lei. Os motivos são muitos e vão desde a falta de recursos à alegação de inconstitucionalidade da legislação. Para fazer valer o piso, ao menos uma desculpa está sendo combatida pelo governo federal: a falta de recursos dos municípios. O ministro da Educação, Fernando Haddad, se encontrou ontem com representantes do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e a CNTE para discutir formas de facilitar o repasse de recursos para municípios que alegam não ter como pagar o piso semferir a lei de responsabilidade fiscal que determina que não se pode gastar mais de 54% coma folha de pagamento. Nos próximos dias, uma portaria definindo normas claras sobre o repasse será publicada.

PT de BH: Pensando com meus Botões


Fico pensando se a pressão do deputado Rogério Correia (para o PT entregar os cargos que possui no governo da capital) não ajuda a negociação que Roberto Carvalho vem liderando para reposicionar o PT na prefeitura. Hoje, o PT possui cinco secretarias. Quer mais. Vejamos o quão forte será Marcio Lacerda, que até aqui parece se movimentar entre salas, mas não consegue liderar as ruas.

O futuro de José Serra


A aposta é de Gaudêncio Torquato:
Agora, José Serra diz enfático : "Não serei candidato a prefeito de SP, em 2012, em hipótese alguma". Quem vai acreditar ? E se ele for um candidato com imensas chances ? Será que ficaria sem mandato até 2014 ? Geraldo Alckmin, claro, postulará a reeleição ao governo. Há uma saída : disputar com Eduardo Suplicy a única vaga para o Senado a ser disputada em 2014. Este consultor acredita que Serra poderia, até, suplantar o petista. Que começa a sofrer o irreversível efeito da corrosão de material.

Lacerda cai nos braços do PSDB


Até aqui era apenas ilação. Mas, ontem, o prefeito Marcio Lacerda (de Belo Horizonte) decidiu abrir o jogo: nomeou um secretário e dois técnicos do ninho tucano e abriu uma crise com o PT local. O deputado estadual Rogério Correia (PT) pediu o afastamento imediato do partido, entregando todos os cargos do governo municipal. Afirma que o partido assume papel de pedinte no governo Lacerda. Os nomeados foram: Marcello Campos (indicado por Aécio Neves), Raphael Andrade e Maria Madalena Garcia (oriundos do governo estadual de MG).
O quadro político mineiro (e de Belo Horizonte) continua dos mais confusos. Noticiei aqui neste blog como anda em baixa a popularidade de Marcio Lacerda junto aos eleitores. Mas, também, PT e PSDB não andam bem junto ao eleitorado da capital. Uma situação que sugere que qualquer mudança de peça no tabuleiro abre uma crise ainda maior. Enfim: os políticos locais apostam no escuro.

O maio de 68 do mundo árabe


O que ocorre no mundo árabe se assemelha ao levante jovem (ou seria juvenil?) de maio de 68. Os sindicatos participaram em mobilizações anteriores na Tunísia (onde a central sindical foi chamada à concertação) e Egito. Mas no restante, não se tem notícia alguma a respeito de outra organização oposicionista que não a de jovens que se articularam, em sua grande maioria, em redes sociais. Uma rebelião da Geração Y, que rejeita até a medula sistemas hierárquicos, preza a liberdade individual e as expressões culturais de cunho pessoal, inusitado, independente. As redes sociais são o reflexo desta geração. Por seu caráter libertário intimista, sofrem o mesmo que ocorreu em 68: mobilizam, mudam o modo de entender o mundo, mas por não aspirarem o poder, abrem espaço para o quase-novo (ou quase-antigo).

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Causa perdida


"O plano da Otan [Organização do Tratado do Atlântico Norte] é ocupar a Líbia", afimou o ex-presidente cubano, Fidel Castro, em seu artigo publicado nesta terça-feira (22/02) pelo site CubaDebate. Para ele, os Estados Unidos ordenarão "em questão de horas ou muito em breve" que a organização invada a Líbia, palco de protestos contra o regime de Muamar Kadafi, que se iniciaram no dia 16 de fevereiro.
Já um dos homens mais próximos de Kadafi renunciou hoje. O ministro do Interior e general do exército Abdul Fatah Younis ainda fez um apelo para que o exército se junte aos manifestantes e respondam às suas "demandas legítimas".
Em outras palavras: quem a população da Líbia deve seguir?
E tem gente que ainda acha que Fidel é de esquerda!!!

Cinema e Psicanálise (em BH)

Passamos de 1.600 acessos diários


Estou começando a gostar deste negócio de blog. Já temos mais de 1.600 acessos diários. A ilustração mostra que às 10h de hoje o blog já computava mais de 400 visitas. Agradeço a preferência, mas como aqui não tem cliente, quem tem sempre razão sou eu mesmo.

Notícias sobre a Líbia (El País)

La salvaje represión del régimen de Gadafi ayer contra los manifestantes ha dejado el aeropuerto de la ciudad de Bengasi, principal bastión de los opositores, destruido por completo e inutilizable, según ha informado el ministro de exteriores libios. El Ejército libio atacó ayer varios objetivos desde cazas y helicópteros cubriendo las avenidas de Trípoli y Bengasi de cadáveres.
Fue una clara demostración de fuerza del líder libio, que se resiste a dejar el poder pese a las protestas. "Estoy en Trípoli, no en Venezuela como afirman esas emisoras televisivas de perros", dijo ayer Muamar el Gadafi, famoso por su afición a los discursos. Ataviado con un paraguas y desde el interior de un coche, el general libio hizo anoche su primera aparición pública desde que estallaron las revueltas, que la televisión Al Yazira calcula que han dejado unas 250 víctimas en el país. No ha huido del país, intentaba dejar claro. "Quería decirle algo a los jóvenes que están en la plaza Verde [en Trípoli] y quedarme con ellos hasta tarde", continuó, "pero empezó a llover. Eso es algo bueno, gracias a Dios". Y con esas pocas palabras cerró el discurso. Menos de medio minuto retransmitido por la televisión pública que, en opinión de Gadafi, ha debido de servir para responder a todas las peticiones internacionales de que detenga la ola de violencia lanzado contra los manifestantes. Con una de las intervenciones públicas más lisérgicas que se recuerdan, el general abofeteó todas las expectativas que había generado en los libios la publicitada aparición. Seis días después de que se iniciaran las protestas, el régimen se tambalea. Pero las que pueden ser las últimas horas del líder más antiguo de un país africano -lleva casi 42 años en el poder- se están desarrollando en medio de un baño de sangre. Durante todo el día de ayer se cumplieron las peores amenazas pronunciadas por el régimen libio contra los manifestantes. Todas las informaciones procedentes de Trípoli apuntan que desde helicópteros y también aviones militares se está ametrallando e incluso lanzando bombas a los manifestantes, a los que además se reprime en las calles con carros de combate. Primero les tocó el turno a los distritos de Tajura y Fashlum y, al caer la noche, al barrio residencial de República. Las cifras de muertos, ninguna de ellas confirmada, se disparan. La información relativa a los bombardeos aéreos fue desmentida por Saif el Islam, hijo del coronel Gadafi, en declaraciones a la agencia oficial Jana transmitidas luego por la televisión nacional en un mensaje sobreimpreso en pantalla. "Las Fuerzas Armadas han bombardeado depósitos de armas situados en zonas alejadas de concentraciones urbanas", afirmó Saif el Islam, quien desmintió "informaciones según las cuales las Fuerzas Armadas han bombardeado las ciudades de Trípoli y Bengasi". La comunidad internacional, con Naciones Unidas al frente, ha pedido el cese de la violencia y varias empresas y países (EE UU, entre otros) han anunciado la evacuación del personal no esencial. La ONU ha anunciado que el Consejo de Seguridad se reunirá a puesrta cerrada hoy para debatir el asunto. El Ministerio de Exteriores español urge a abandonar el país y desaconseja todo viaje a la república árabe.
Disidencias en el régimen
Mientras, un grupo de oficiales del Ejército libio han urgido en un comunicado a los soldados que "se sumen al pueblo" y contribuyan a la marcha de Gadafi, informó anoche Al Yazira. La televisión señaló además que los militares han pedido a las tropas que marchen hacia Trípoli para incrementar la presión sobre el dictador, informa Reuters. Los datos fragmentarios sobre lo que es probablemente una gran matanza de civiles llegan a través de los testimonios que recogen las televisiones árabes, sobre todo Al Yazira; de las ONG de derechos humanos y también, sin pulir, a través de Internet, que, curiosamente, volvió a funcionar en parte del país, así como los teléfonos móviles. Sea cual sea la cifra final, parece ya evidente que será en el país menos poblado del norte de África (6,3 millones de habitantes) donde más habrá corrido la sangre. "Lo que estamos presenciando hoy es inimaginable. Aviones y helicópteros militares están bombardeando un barrio tras otro", aseguraba por teléfono a Reuters Adel Mohamed Saleh, un hombre que se declara activista anti-Gadafi. Según Saleh, los bombardeos se han estado sucediendo "cada 20 minutos" produciendo "muchísimos muertos". Según testigos del grupo Feb17voices, un colectivo que está haciendo llamadas a ciudadanos libios y colgando los audios en la Red para dar testimonio de lo que está pasando, el caos se extiende por la capital. Trípoli, donde la Fuerza Aérea intentaba aplastar la rebelión civil, ha sido prácticamente la última aglomeración urbana alcanzada por la oleada de protestas, que arrancó el martes pasado en Bengasi, la segunda ciudad del país (un millón de habitantes), y se propagó de este a oeste. La Federación Internacional de Derechos Humanos proporcionó incluso una lista de las ciudades liberadas por los manifestantes, que encabeza Bengasi seguida por Musratha, Tobruk y Sirte.

Governadores do nordeste em campanha: a nova CPMF


O XII Fórum dos Governadores do Nordeste colocou lenha na fogueira. Os governadores nordestinos (contando com a presença de Antonio Anastasia, de MG) começaram a se movimentar em função da centralização orçamentária na União e queda dos recursos nos demais entes federativos. As propostas foram: volta da CPMF, flexibilização da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e implementação da Emenda 29 (que trata de um repasse mínimo da União para que os estados possam gastar com a saúde - atualmente, os municípios devem destinar 15% da receita para essa finalidade, e os Estados, 12%). Eduardo Campos teria sido um dos poucos governadores que se opuseram à volta da CPMF.
Reunidos com a presidente Dilma Rousseff, ficou acordado abrirem debate nacional sobre a volta do tributo.
Por aí se vê por onde a carruagem vai passar: mais centralização orçamentária. E, de lambuja, fica confirmada a imensa força que Palocci tem no atual governo (esta pauta foi anunciada e defendida por ele quando das discussões da reforma tributária no final da gestão Lula). O que está obrigando Zé Dirceu a sair da toca e mobilizar o partido na pressão diária a, digamos, "alguns focos do governo federal".

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Um olhar tranquilizador

Relato de Tomás Amaral sobre o confronto no Aglomerado da Serra (BH)


Relato do Tomás Amaral, cineclubista da Filmes de Quintal e morador do Aglomerado Serra. Ele descreve o que ocorreu no último fim de semana naquela favela. A foto que ilustra esta nota foi tirada momentos antes de começarem os disparos. Detalhe: os policiais já estavam posicionados para o confronto.

Caros amigos, me desculpem por tomar vosso tempo, mas se for de vosso interesse peço que leiam para se informar:
A trágica morte de dois inocentes no Aglomerado da Serra era a gota d'água que faltava para a comunidade expôr sua revolta contra as ações truculentas e inconstitucionais da Polícia Militar no aglomerado. Há tempos que um grupo de não mais que dez policiais vem exterminando moradores do aglomerado aos olhos de toda a comunidade. A ROTAM reúne policias que ostentam o status de assassinos dentro da corporação, seguindo o mesmos códigos na lei - e aqueles debaixo dela - que a instituição tinha na época da ditadura. Hoje, porém, policiais civis e militares em Belo Horizonte estão deixando de ser coadjuvantes no crime para serem protagonistas. Não querem mais receber acertos, querem ser os donos das bocas. Provavelmente querem controlar todo o tráfico de suas jurisdições em um sistema unificado e hierarquizado dentro da própria polícia, e estão perto disso. O sociólogo e ex-Secretário de Segurança do Rio de Janeiro, Luís Eduardo Soares, apresentou exatamente essa análise no conflito ocorrido no Complexo do Alemão no Rio. As milícias no Rio representam justamente essa nova ordem do tráfico em que parte da polícia está engajada para implementar. Os policiais da ROTAM sobem as favelas de Belo Horizonte para receber propinas, extorquir os jovens que fazem parte da mão de obra do tráfico e matar. Eles andam, cada um com duas pistolas, uma com chassi e a outra com o chassi raspado. Matam com uma e platam a outra na vítima. Predem jovens envolvidos com tráfico, e quando não conseguem extorquí-los, não os encaminham para a delegacia, simplesmente os exterminam. Mas dessa vez, a prepotência de policiais que tiram, há anos, proveito do tráfico na serra, caiu do cavalo: pois as vítimas não tinham qualquer envolvimento com o tráfico e a comunidade está expondo o fim de sua tolerância com esses elementos. Os protestos continuam e hoje ou amanhã haverá uma assembléia da comunidade com a Comissão dos Direitos Humanos. A mídia fica em cima do muro ou reproduz sem contestação a versão mentirosa dos fatos apresentada pela polícia militar: a de que os dois trabalhadores estavam com roupas do GATE, armas e munições e atiraram nos políciais. A Rede Globo, especialmente, apresentou a matéria mais distorcida sobre o fato, que chegou a chocar a comunidade inteira pela ausência de um pingo de veracidade. Conclamo todos interessados no combate à corrupção dentro de nossas instituições a enviar um e-mail para o site da Polícia Militar MG, no canal "fale conosco", solicitando apuração desses assassinatos no Aglomerado da Serra. O momento é oportuno pois a Polícia Federal acabou de investigar e condenar os abusos das operações policiais no Complexo do Alemão. E em ambos episódios, tanto no Rio quanto em Belo Horizonte, temos abusos de policiais que representam a mesma estratégia de controle do tráfico de drogas. Portanto os protestos relacionados a esse caso específico podem servir a uma conjuntura maior. Temos que freiar a truculência de policiais corruptos e mostrar que a sociedade civil exige constitucionalidade nas ações da polícia.
Abaixo o e-mail que enviei para a PMMG, abraços!


"Solicito, enquanto cidadão belorizontino, às instâncias máximas da Polícia Militar de Minas Gerais, apuração rigorosa e medidas cabíveis no caso dos políciais da ROTAM que mataram dois inocentes no Aglomerado da Serra, apresentando uma versão mentirosa, facilmente desmentida por inúmeras testemunhas, e plantando provas falsas como: armas, munição e roupas do GATE em dois trabalhadores inocentes. A corporação não pode corroborar esse tipo de mentira para inocentar alguns poucos policiais envolvidos com o tráfico de drogas, extorsão de dinheiro, abuso de autoridade e extermínio. Me questiono se haverá vontade da Polícia Militar mineira para combater esse tipo de corrupção dentro da instituição. Acretido que os trabalhadores honestos de dentro da corporação têm a obrigação de dar essa resposta à população e querer limpar o nome da instituição.
Tomás Amaral
Filmes de Quintal
www.filmesdequintal.com.br"

"A Líbia mudou para sempre", diz poeta Khaled Mattawa


Entrevista com o poeta da Líbia Khaled Mattawa sobre o movimento pró-democracia em meio à violência do Governo. "Líbios estão dizendo à filho de Kadafi: "nós teremos uma nova Constituição, talvez teremos uma nova bandeira. Mas nós não queremos você ou seu pai ou o resto do seu plano"
Entrevista no Democracy Now AQUI

Moacyr Scliar


Do Sul21:
A saúde do escritor gaúcho Moacyr Scliar piorou nas últimas horas, e ele voltou a ser sedado. A informação é do filho de Scliar, Beto, que usou o Twiter do próprio pai para dizer que ” o estado de saúde do escritor piora. Voltou a ser sedado. Torçam pela saúde do meu pai”. E completou afirmando que “meu pai continua lutando”.
Scliar está internado no Hospital de Clínicas de Porto Alegre desde o dia 11 de janeiro, quando baixou para cirurgia nos intestinos para a retirada de pólipos. Quando preparava-se para voltar para casa, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC). Desde lá, está no Centro de Tratamento Intensivo do hospital. Moacyr Scliar tem 70 livros publicados e pertence à Academia Brasileira de Letras.

Esqueceram de Mim

As eleições em BH no próximo ano

Comenta-se, nos bastidores da política de Belo Horizonte, alguns dados ainda não divulgados sobre o cenário das eleições 2012. Vou resumir:
1) Marcio Lacerda vive seu inferno astral político. É responsabilizado pelos últimos acidentes no Anel Rodoviário. Para piorar, a transferência da Feira Hippie para o Boulevard Arrudas é avaliada como a pior decisão por ele tomada;
2) Grande parte da população não se recorda do nome do prefeito. E afirma que não há opção para 2012;
3) O partido mais citado como provável voto em 2012 é o PMDB, seguido pelo "PV de Marina";
4) No confronto de gestões Pimetel leva a melhor, mesmo quando o pesquisado identifica Lacerda como continuidade da gestão anterior;
5) A imensa maioria não tem candidato e nem sabe avaiar a gestão Dilma e Anastasia.

Se estes dados estão corretos, os jornais mineiros estão divulgando notícias plantadas pelas assessorias.

Minha entrevista à Folha de SPaulo de hoje


Entrevista para Uirá Machado:

1) Em seu livro, o senhor afirma que os movimentos sociais trocaram as ruas pelos gabinetes governamentais. Como seu deu essa transformação e de que maneira ela alterou a pauta reivindicatória?

R: Um dos fatores foi a crise de financiamento externo que decaiu bruscamente a partir da década de 1990. A partir daí, as chamadas parcerias com o Estado aumentaram. Foram assinados muitos convênios. Antes, contudo, já havia um processo de crise de representação que ocorreu em duas etapas. A primeira, quando a partir do final dos anos 1980 grande parte das lideranças apoiadas e assessoradas por organizações confessionais (como pastorais sociais) criou sua própria organização nacional, caso da CUT e MST. As pastorais sociais passaram a viver um dilema sobre o novo papel a assumir. As entidades financiadoras de grande parte dessas organizações começaram, por seu turno, a exigir resultados quantitativos que foi desarmando parte do seu ideário. Um exemplo é o resultado quantitativo que se exigia das romarias pela terra. As romarias são instrumentos de valorização social, de afirmação da identidade rural. Como exigir resultado concreto? A segunda etapa foi a vitória gradativa de candidatos ao parlamento e executivo oriundos dos movimentos sociais. Aos poucos, muitas lideranças foram alçadas à condição de assessores. Outros se elegeram vereadores, prefeitos, deputados. A partir daí, o ideário anti-institucionalista dos anos 1980 entrou em colapso. Como os movimentos sociais eram quase todos comunitaristas, não conseguiram construir uma nova instucionalidade pública. Rejeitavam a vigente, mas não conseguiram propor algo alternativo. Este é o caso dos 30 mil conselhos de gestão pública existentes no Brasil. Existem, organizam conferências nacionais, mas não conseguem alterar um milímetro da estrutura burocrática (anti-participativa) do Estado brasileiro. Enfim, estratégia de sobrevivência e mudança de ideário: estes foram os dois principais fatores que afastaram os movimentos sociais das ruas. Mas, para ser rigoroso, diria que muitos dos antigos movimentos sociais são, hoje, organizações e não movimentos. Possuem estrutura administrativa regular, direção profissionalizada, porta-voz, processo de tomada de decisões a partir de sua hierarquia interna, fonte de financiamento próprio, programas e instituições de formação de quadros exclusivos. Esta lógica não é a de um movimento social e cria forte competição de mercado, reforçando a busca pela sobrevivência.

2) O senhor argumenta no livro que o "lulismo" superou o petismo e teve trajetória coincidente com a dos movimentos sociais. Em que sentido isso se deu? O que é causa e o que é consequência?
R: São trajetórias paralelas que se encontram no governo Lula. A trajetória dos movimentos sociais foi a que descrevi anteriormente, que os leva a busca de novas estratégias de sobrevivência. A trajetória do lulismo é mais tortuosa. O lulismo não se resume à Lula. Então, temos um primeiro momento que é a constituição de um núcleo formulador, que começa com o Instituto da Cidadania (que formulava para as campanhas de Lula, mas não para o partido, detalhe pouco observado, mas muito importante na mudança de percurso do petismo), mas se consolida com a eleição de Lula. A partir daí, um corpo de gestores públicos constrói, aos poucos, uma formulação de gerenciamento político do Estado brasileiro. Houve uma alteração importante a partir de 2006. Na verdade, o lulismo, enquanto concepção gerencial de Estado, se forjou na adversidade. E se construiu num processo de depuração importante. Cito o caso emblemático da saída de Frei Betto e Ivo Poletto da condução do programa Fome Zero. Os núcleos de controle social elaborados por Frei Betto foram substituídos pela entrega do Bolsa-Família aos prefeitos. Foi uma escolha clara que redundou no pedido de afastamento dessas duas lideranças da maior importância para a organização popular dos anos 1980 apoiada pela Teologia da Libertação. O lulismo se constituiu inicialmente a partir da fusão da matriz pragmática do sindicalismo metalúrgico, do centralismo burocrático de organizações de esquerda muito específica que estavam no núcleo duro do governo federal em sua primeira versão e de um elemento inusitado para o petismo que é a busca do mercado. Este último item foi se configurando num projeto estatal-desenvolvimentista apoiado na expansão do mercado interno e no financiamento indutor do BNDES. Enfim, o lulismo, já em sua segunda e mais acabada versão, se aproxima de uma vertente do que a Escola da Regulação denominou de fordismo. Nada mais emblemático para um presidente metalúrgico. Portanto, movimentos sociais e lulismo alteraram simultaneamente sua referência e prática originais paralelamente. Até Lula se eleger Presidente não havia uma relação causal entre os dois pólos.

3) Qual o papel político dos movimentos sociais hoje em dia e de que maneira se diferencia do papel nos anos 80?
R: Como afirmei, se utilizarmos do rigor analítico dificilmente encontraremos com nitidez um movimento social no Brasil lulista. O MST, por exemplo, não é mais um movimento social, uma mobilização que demanda um direito não respeitado ou inexistente, sem estrutura hierárquica permanente. O MST é uma organização popular que eventualmente mobiliza uma base social cada vez mais reduzida em função da diminuição da pobreza rural. Segundo Marcelo Neri (FGV-RJ), de 2003 até 2009, 3,7 milhões de pessoas passaram a fazer parte da agora predominante classe C. E sustenta que mais 7,8 milhões de brasileiros do campo podem virar classe média em breve. Ora, esta nova classe média rural era a base social mobilizada pelo MST. Esta situação é uma senha para se entender o momento atual de grande parte dos movimentos sociais brasileiros. Mas há alguns novíssimos movimentos ainda se consolidando no Brasil, que carregam uma pauta pós-materialista (não fundada em necessidade básica), como movimentos por direitos de segmentos sociais específicos (crianças e adolescentes, LGBT e outros) e o movimento ambientalista. Contudo, são ainda restritos e não envolvem parte significativa da classe social mais importante no Brasil lulista: a classe C.

4) Lula foi um ícone das ruas nos anos 80 e dos gabinetes nos anos 2000. Qual o papel de seu governo na transformação dos movimentos sociais? É correto dizer, como alguns críticos afirmaram, que o governo Lula cooptou os movimentos sociais?
R: Em parte. Não foi necessariamente uma cooptação porque o outro lado desejava esta aliança. Eu diria que se trata de um pacto social não explícito. A política de Estado lulista é orientada para o pacto estatal-desenvolvimentista. No que tange ao movimento sindical, orienta-se para a construção de um modelo neocoporativo, onde as centrais indicam ministro, definem políticas públicas, participam de arenas que definem uso de recursos de fundos públicos. Isto ocorreu, por exemplo, com a CGL e a CISL na Itália, afastando-as da base sindical, o que provocou uma reação em cadeia de parte das comissões de fábrica daquele país. Outras lideranças de movimentos sociais urbanos e rurais encontram-se espalhados em muitas instâncias governamentais, em muitos ministérios e estatais. Não se trata de uma situação clássica de cooptação, mas da convergência de interesses políticos. Não há ingênuos em nenhuma das duas partes.

5) O primeiro grande embate de Dilma tem sido com as centrais sindicais. Quanto desse choque é explicado pela pura ausência de Lula? O "estilo Dilma" ajuda ou atrapalha nas negociações com sindicatos? A "falta de biografia" e de carisma é um problema ao lidar com movimentos sociais?
R: Acho que se trata de uma situação das mais complexas. O movimento sindical brasileiro é, quase todo, sindicalismo de resultados. É negociador por natureza e não contestador. O reajuste do salário mínimo é um aríete visível e popular, mas que será utilizado para negociações mais amplas, envolvendo agências reguladoras, tabela de isenção do IR e outros temas relevantes para o mundo sindical. Marco Maia é oriundo do mundo sindical e extremamente flexível. Por este motivo, recebeu apoio do governo federal. Vou, novamente, fazer uma analogia com o que faz o MST. O “Abril Vermelho” é um esforço de aumento ocupações de terras para negociar, a partir de maio e junho, o Plano Safra. Mas é evidente que o perfil de Dilma, marcado pelo estilo gerencial empresarial (a proposta de comitê gestor se aproxima em muito da Nova Gestão Pública do Reino Unido, que aqui no Brasil foi denominado de Estado Gerencial) influencia nesta relação. Vamos perceber como um gestor público tem que, necessariamente, saber ter jogo de cintura. A habilidade política é muito mais importante na liderança política que a capacidade gerencial. Mas há quem pense o contrário. Vamos tirar a prova dos nove nos próximos meses. Lebremos que Dilma Rousseff não é petista histórica e nem foi membro de destaque em nenhuma corrente interna do PT. Justamente num partido que vive a disputa interna diariamente.

6) Qual a "herança" que Dilma recebe de Lula no que diz respeito aos movimentos sociais, sindicatos incluídos? O senhor afirma (página 157): "Se o petismo se apoiou nas classes trabalhadoras organizadas em estruturas tradicionais, o lulismo se apóia nas classes trabalhadoras desorganizadas, desidesologizadas e pragmáticas." Quais os efeitos desse processo sobre Dilma?
R: O primeiro grande problema é como conduzirá o financiamento da inclusão social pelo consumo que o lulismo montou. E aí está parte das dificuldades de relacionamento com o mundo do trabalho. É a classe média tradicional que financia as políticas de transferência de renda. Um estudo da economista Beatriz David (UERJ) sugere que se as classes D e E receberam os recursos do Estado para ascender à classe C (tendo no aumento real do salário mínimo, crédito consignado e bolsa-família como principais iniciativas governamentais), isto não ocorreu com a classe B ou parte dela. E sabemos que a porção maior dos impostos em nosso país é oriunda dos impostos indiretos. Em nosso país, não são os ricos e abastados que pagam, proporcionalmente, mais. Enfim, é daí que vem a motivação para parte do discurso anti-lulista. Ora, se a política tributária brasileira é regressiva (quem ganha menos paga mais), se a política de transferência de renda está com seu financiamento no limite, e se o lulismo é um pacto pelo estatal-desenvolvimentismo de tipo fordista (conciliando interesses de várias classes e grupos sociais), como resolver esta equação? A adoção de política tributária progressiva destruiria a engenharia política lulista. E o aumento de consumo já faz com que 60% da população estejam endividadas, sendo que quase metade não sabe como pagar suas dívidas. Criou-se uma expectativa em relação ao aumento real do salário mínimo para o ano seguinte, salvando parte do orçamento familiar cada vez mais comprometido com o parcelamento no cartão de crédito. Não temos uma bolha imobiliária, mas já se discute como resolver o salto de oferta de crédito imobiliário dos atuais 3,8% do PIB para a estimativa de 10% em 2014. Enfim, há uma espécie de bomba relógio a ser desativada pelo governo Dilma. Por que cito este problema? Porque esta é a herança e expectativa de lideranças sociais e consumidores da Classe C, vorazes consumidores. O lulismo está intimamente vinculado à inserção pelo consumo. Parte significativa da classe C, lembremos, rompeu nos últimos anos com um ciclo de pobreza familiar secular. Agora viajam de avião e compram nos shoppings que até pouco tempo os expulsava. São conservadores e pragmáticos. Seria coincidência que estas duas características são justamente as mesmas da maioria das lideranças sociais de hoje?

7) Já é possível fazer comparações entre Lula e Dilma no que diz respeito ao trato com os movimentos sociais? O fato de Dilma "bater o pé" indica maior conservadorismo nesse aspecto, embora ela nitidamente tenha uma pauta menos pragmática e mais progressista com os direitos humanos?
R: Dilma faz um discurso mais progressista, mas adota uma prática mais conservadora que Lula. Interessante como formadores de opinião elogiam diariamente sua performance. Alguns dizem que se surpreenderam positivamente, revelando que não era sua opção eleitoral. Lula era um negociador nato, possui a memória de um líder sindical. Mais: falava a linguagem da nova classe C, pragmática e, muitas vezes, cínica. Lula liderou o consumo no final de 2008, momento em que a crise dos EUA invadia o mundo. Dilma é técnica e ascética como a classe média tradicional. Não se trata apenas em um líder carismático e outro racional. Trata-se de empatia política, de qual segmento social é liderado. Lula falava para a nova classe média, ou a nova composição da classe C. Dilma parece falar a língua da classe média tradicional. Mas o Brasil ainda vive um momento de transição na sua composição social. A forte ascensão social é muito recente, algo similar ao que ocorreu nos anos 1950 nos EUA. E a classe média tradicional perdeu seu poder de formar opinião num país com mobilidade social mais enrijecida. Enfim, temo que Dilma não tenha feeling político para entender este momento de transição.

8) De maneira geral, o senhor diz que o lulismo se aproxima das práticas conservadoras na política e rompe com o que há de mais inovador no petismo. Como o senhor vê Dilma nesse processo?
R: O lulismo fecha um ciclo da modernização conservadora iniciada por Getúlio Vargas. Moderniza a economia sem alterar em nada a estrutura de poder, tendo no apoio às oligarquias regionais a sua expressão mais visível. Dilma vem para corrigir o financiamento desta trama, tornando-a sustentável. Começa, portanto, pelo signo dos cortes e do rigor fiscal. Ao menos é o que parece anunciar. Esta é uma fase delicada e arriscada de ajustes do lulismo, enquanto modelo fordista. O petismo tinha como inovação a construção de uma cultura política fundada no controle social, na cidadania ativa. O lulismo, enquanto pacto, desmontou esta possibilidade e se aproximou do modelo americano de relacionamento fragmentado com as organizações populares e de representação social. Mas este é o dilema da presidente Dilma: como tornar sustentável um pacto fechado, em que os interesses múltiplos foram atendidos em quase sua totalidade? A leitura conservadora em nosso país afirma que o lulismo foi populista e aliciou as classes menos abastadas. Mas fez o mesmo com as classes mais abastadas. E também com todo sistema partidário, desfigurando-o totalmente. Não se fala que nosso sistema partidário de frágil retornou ao modelo de partido de notáveis do século XVIII. Os partidos governistas perderam qualquer traço de identidade e adotam os programas governamentais nas intervenções públicas. A oposição perdeu seu eixo. Até mesmo os municípios perderam sua autonomia como ente federativo. Um prefeito, hoje, é administrador de programas conveniados com os ministérios. O lulismo é altamente centralizador e refuta sistemas de controle social, diluindo-os em câmaras de negociação e consulta. Estamos falando de um modelo de tutela social, que Claus Offe denominou, anos atrás, de “estatalização”, ou o avanço dos tentáculos do Estado por todos os poros da sociedade civil. Será difícil desmontar esta trama sendo uma criatura do seu criador.

9) O seu livro também trata da ascensão da nova classe média brasileira. O sociólogo Jessé Souza procurou mostrar, com base em uma pesquisa empírica, que esse contigente populacional que subiu de vida sob Lula tem características diferentes da classe média tradicional. Como o senhor avalia essa questão? Embora o senhor mantenha o nome tradicional (classe média) e a compreenda em sentido relacional, não deixa de perceber que o novo contigente tem características diferentes da classe média tradicional (pág. 76)...
R: A série histórica que temos no Brasil e que segue o Critério Brasil é baseada na estratificação social fundada no poder aquisitivo. Estamos presos, para efeito de análise comparativa, a esta base de dados. E o Critério Brasil fragmenta a classe média em subgrupos. Neste caso, a classe C seria a base de uma mini-pirâmide que compõe a classe média. Mas há um duplo equívoco de Jessé. O primeiro é que ele não percebe que se trata de uma transição na composição das classes sociais a partir da forte ascensão social dos últimos anos. Portanto, estamos falando de mudança de ideário e hábitos sociais no interior das classes sociais, em especial, da classe C. Isto já ocorreu outras vezes em nosso país, particularmente com o processo acelerado de urbanização a partir do final da 2ª Guerra Mundial. Francisco Weffort analisou a emergência do populismo a partir desta mudança de perfil que a urbanização causou naquele período. Tentei, com meu livro, fazer o mesmo. O segundo equívoco é que os conceitos de ralé e batalhador são impressionistas e partem de um juízo de valor. Batalhador sempre houve no Brasil. E me assusta esta vertente conservadora de definir o país a partir do empenho (ou empreendedorismo) individual e o não empenho. Não houve mudança na estrutura de classes. Houve a ruptura de uma história familiar de pobreza que se dá pelo consumo. É uma via passiva e tutelada de ascensão social. A nova classe C é desconfiada e tem na família seu porto seguro. Afinal, foi sua família que sofreu a pobreza. Mais, ainda: o conservadorismo comportamental aparece como elemento de negação do passado. O caso do aborto é emblemático. Muitos membros desta nova classe C se dizem contra o aborto. Mas têm muitos casos de aborto na família. Negam com todas as forças o passado e procuram se projetar com valores que afirmam o sucesso e a estabilidade familiar. Daí o conservadorismo comportamental. E também sua peculiar religiosidade. Weber sustentava que as classes menos abastadas não têm em seu passado algo a se identificar positivamente e se jogam para o futuro, para um futuro mágico para se justificar. Há, portanto, uma situação sociologicamente nova em curso, em que a inserção social se dá pelo consumo a partir de uma fração de classe ressentida. Ressentida, desconfiada e cínica politicamente. O ideário conservador e pragmático está fincado nesta âncora de sobrevivência. Mas é um segmento de classe individualista, que se finca nesta nova ordem, que não quer transgredir (mesmo transgredindo, de fato, tantas vezes na vida, para sobreviver), que não lê (mesmo porque, desconfia deste hábito das classes tradicionais), que quer "saltar fases de consumo" (da fome para o celular e tv de plasma). Enfim, esta é a expressão cultural da nova classe C. Que obviamente se distingue da classe média tradicional, segmento da classe B. Mas não temos uma nova divisão de classe, apenas uma nova composição em virtude da ascensão social de momento. Ao invés de analisar uma foto, temos que ter uma visão mais ampla e visualizar o filme desta transição.

10) Qual o peso da ascensão da nova classe média na sustentação do lulismo?
R: Total. O discurso de Lula, e até mesmo a sua imagem, criam uma forte empatia com esta nova classe média (na verdade, nova composição da classe C). A história de Lula é a expressão de sucesso e ascensão social dos pobres do Brasil. Não apenas a expressão dos pobres, mas da sua ascensão pelo consumo e poder. Lula soube traduzir como ninguém esta empatia ao fazer analogias com o futebol, ao dar sorrisos irônicos, ao se comover em público, ao carregar o isopor de cerveja em suas férias. Lula era a afirmação destes hábitos e valores populares que invadem o mundo das elites e chegam ao cargo máximo do poder público do país. E os pobres do país aguardam sua vez para ingressar neste mundo mágico. Por este motivo o enfrentamento com a grande imprensa faz sentido para este segmento de classe. Porque a grande imprensa não fala dela e nem para ela. Mas Lula falou e a cortejou. Interessante que no filme Entreatos, em determinado momento Lula diz que não era peão há tempos e se diz classe média. No mesmo filme, se regozija em utilizar ternos e saber fazer bem o nó de uma gravata. Lula foi e é a expressão maior da ascensão desta nova classe C.

11) O senhor também descreve o lulismo como uma engenharia política. Trata-se de uma ferramenta à disposição de Dilma ou é uma prática personalista, dependente do carisma? Como o lulismo se formou?
R: O carisma é parte integrante do lulismo porque a partir dele cimenta socialmente um projeto político. Mas não é populismo porque o populismo desconsidera as representações formais e as elites. O lulismo se apoiou nestas representações e elites. Ao contrário do populismo, o carisma é um instrumento estético do lulismo. O seu fundamento é o estatal-desenvolvimentismo apoiado no financiamento público do alto empresariado, na transferência de renda, na coalizão presidencialista (que minou o já frágil sistema partidário) e na criação de arenas neocorporativistas (envolvendo o mundo sindical e organizações populares). Esta lógica se revelou poderosa e fragilizou qualquer oposição real ao seu governo. Acredito que a motivação política sempre esteve no centro das ações do governo Lula. Mesmo toda política desenvolvimentista parece sempre motivada pela engenharia política que forjou. Daí acreditar que comparar os oito anos de gestão Lula com os dos outros governos pós-regime militar não tem muito sentido. Nenhum outro gerou uma estrutura de poder desta magnitude. O que será uma imensa sombra sobre os quatro anos de gestão Dilma.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Investimentos diretos no Brasil

Com o país caminhando aceleradamente para se tornar o quinto mercado consumidor do mundo, tivemos, em 2010, US$ 30 bilhões de investimentos diretos. Para 2011 o Banco Central projeta US$ 38 bilhões.

Agora é a Líbia


As forças de segurança da Líbia abriram fogo contra os manifestantes na segunda cidade do país, Benghazi, no domingo, disse uma testemunha, depois de muitas mortes em um dos dias de protestos mais sangrentos que assolam o mundo árabe. Os manifestantes, inspirados pela agitação na vizinha Tunísia e no Egito, exigem o fim da ditadura de Muamar Gaddafi, que já dura 42 anos. Suas forças de segurança responderam com violência. As comunicações estão sendo controladas, e o acesso de jornalistas internacionais a Benghazi não é permitido. O grupo Human Rights Watch disse que 84 pessoas foram mortas na cidade no sábado, elevando o número de vítimas fatais nos confrontos que ocorrem principalmente no leste do país para 173 em quatro dias de distúrbios.
No último dia 17, as convocatórias para protestos de massa invadiram o facebbok. Sob a palavra de ordem "Revolta de 17 de fevereiro de 2011: para fazer um dia de ira na Líbia", um grupo do Facebook, convocou manifestação contra o regime de Muammar Kadhafi e chegou a envolver 4.400 membros. Um outro grupo, com mais de 2.600 elementos, convidou o povo líbio a sair à rua por "um dia de ira contra a corrupção e o nepotismo", assinalando o aniversário da morte de pelo menos 14 manifestantes em Benghazi (nordeste) a 17 de fevereiro de 2006.

Segunda-feira

Fim de semana

Timão, já fisgando o peixe

Timão, antes da vitória

A capa da Caros Amigos

Minha entrevista na Caros Amigos já gera polêmica

O blog do Rodrigo Vianna (Escrevinhador) começou a repercutir minha entrevista sobre o lulismo na revista Caros Amigos. Para quem desejar acompanhar o tiroteio ver AQUI

Entrevista com bispo Fritz Lobinger (África do Sul)


Publicado el 18.02.2011

Lleva años pensando y escribiendo sobre esta propuesta de dos formas complementarias de ministerio presbiteral en la Iglesia católica. ¿Cuándo y cómo comenzó a reflexionar sobre esta propuesta?

Empecé ya a reflexionar sobre ello en la década de 1970, cuando vi con mis propios ojos cómo muchas comunidades sin curas residentes estaban ansiosas de poder ejercer los ministerios desde ellas mismas, haciendo voluntariamente ese trabajo. No sólo lo he visto de forma aislada, sino en muchísimas ocasiones. Y no sólo en mi diócesis, sino en muchos países de África, Asia y América Latina. He visto que estos ministros voluntarios han funcionado bien durante muchos años. Ante esta realidad, me pregunté: si las comunidades pueden ejercer tantos ministerios, ¿no es nuestro deber confiarles también el ministerio ordenado? (...)

¿Esta propuesta de ordenar presbíteros en las comunidades es algo nuevo o ya existía en la gran tradición de la Iglesia?

La ordenación de los líderes locales voluntarios ha sido la norma en la Iglesia durante algunos siglos. Leemos en la Biblia, en los Hechos de los Apóstoles, capítulo 14, cómo san Pablo lo hizo cuando él y sus compañeros visitaron las comunidades de reciente formación: “En cada una de estas comunidades a las que visitaron, ordenaron ancianos”. Esto significa que en cada pequeña comunidad cristiana no sólo había uno, sino varios líderes ordenados. Ninguno de ellos era asalariado de la Iglesia, sino que todos siguieron en su trabajo secular. Durante algunos siglos, era evidente que había presbíteros que no se enviaban a la comunidad, sino que surgían de dentro de ella. En la práctica oficial de la Iglesia, lo que una vez ha sido aceptado, puede volver a ser aceptado hoy día. Es un modelo que se nos permite seguir. Es, además, muy conveniente para nuestros tiempos. En estos días se observa un afán nuevo de los laicos para participar activamente en la Iglesia, y también sufrimos una grave escasez de sacerdotes. Por tanto, es imperativo para nosotros retomar esa tradición venerable de la Iglesia de ordenar a los líderes locales probados.

¿Qué aspectos de la propuesta podrían propiciar un consenso entre los diversos sectores de la Iglesia?

El consenso sólo será posible en la Iglesia si queda claro que la propuesta no destruye el sacerdocio existente. En este momento, muchos obispos tienen miedo de que la ordenación de los líderes locales ponga en peligro a los sacerdotes actuales. La forma actual del sacerdocio seguirá siendo como es, incluso puede salir beneficiada, si una segunda forma emerge junto a ella, de tal manera que las dos formas se necesiten y se refuercen mutuamente. Tampoco pedimos “sacerdotes casados”, contraponiéndolos a lo que algunos pueden vivir como elevado ideal de entrega total y espiritualidad específica del sacerdote célibe. Nosotros pedimos la ordenación de los líderes locales. Por supuesto, estos líderes locales son gente madura, en general, casada, pero nuestro objetivo es que sean personas que procedan de la comunidad. Y los actuales sacerdotes seguirán junto a ellos, como hasta ahora. (...)

Insiste en que los nuevos “ministros ordenados” no traten de imitar la forma actual del sacerdocio. ¿Por qué?

Sí, eso me parece muy importante. Y por varias razones. Una es que los presbíteros voluntarios –con una vida similar a la del resto de los fieles en cuanto a familia, trabajo, etc.– quedarían sobrecargados, porque la gente esperaría, entonces, demasiado de ellos. Por otra parte, los actuales sacerdotes se sentirían degradados, porque entenderían que los presbíteros voluntarios harían lo mismo que ellos, sin tanta formación y sin la renuncia que implica el celibato. Además, tal vez, entre los jóvenes no se diferenciaría una vocación específica como la del presbítero célibe con total disponibilidad. Y la comunidad seguiría siendo pasiva, porque los nuevos ministros ordenados otra vez iban a hacer todo por ellos. Por ello, creo que ayuda a la diferenciación el criterio de que no se ordene nunca sólo a un líder, sino siempre a dos o tres en cada comunidad, es decir, a un equipo pequeño.

¿Cuáles son las ventajas del “equipo de ministros ordenados” en comparación con un solo ministro ordenado?

Si sólo se ordenara a una persona en cada lugar, este ministro local ordenado puede parecer demasiado similar a un sacerdote a tiempo completo. La gente esperaría tanto de esa persona como del cura actual. Esto significa que la propia persona ordenada se sentirá frustrada, y lo mismo ocurrirá con el resto de la comunidad. Esto aligeraría de tareas a cada miembro del equipo, que de esta forma no quedarían sobrecargados. Además, a muchos líderes que trabajan muy bien no les gusta ser la única persona ordenada en la comunidad. Prefieren unirse a un equipo, asumir la responsabilidad juntos y seguir siendo como el resto de los habitantes. (...)