sábado, 28 de fevereiro de 2009

A Folha e a "ditabranda"


No Brasil costuma-se brincar com tudo. Mas sempre há um sinal interior que indica quando se passa de um certo limite. Um limite ético.
Os fatos:
1) Editorial da Folha de SPaulo, de 17/2, aplica a expressão “ditabranda” ao regime militar;
2) Os professores Fábio Konder Comparato e Maria Victória Benevides enviam carta ao jornal perguntando: “Mas o que é isso? Que infâmia é essa de chamar os anos terríveis da repressão de ‘ditabranda’? Quando se trata de violação de direitos humanos, a medida é uma só: a dignidade de cada um e de todos (...) O autor do vergonhoso editorial de 17/2, bem como o diretor que o aprovou, deveria ser condenado a ficar de joelhos em praça pública e pedir perdão ao povo brasileiro, cuja dignidade foi descaradamente enxovalhada. Podemos brincar com tudo, menos com o respeito devido à pessoa humana”;
3) As cartas são publicadas acompanhadas da seguinte Nota da Redação: "Quanto aos professores Comparato e Benevides, figuras públicas que até hoje não expressaram repúdio a ditaduras de esquerda, como aquela ainda vigente em Cuba, sua ‘indignação’ é obviamente ‘cínica e mentirosa’.”;
4) O professor da Unicamp, Caio Navarro de Toledo, faz circular na internet uma nota de desagravo e coleta, no Carnaval, mais de 3 mil assinaturas. Estou entre os 3 mil, e assino com o mesmo orgulho que senti nos anos 80, militando pelos direitos humanos e mudança do meu país. Com o mesmo orgulho com que tento auxiliar no aprofundamento da democracia participativa na América Latina.

Sei que Maria Victória e Fábio Comparato não precisam de defesa. Sua história é a própria defesa. Mas o mesmo orgulho que me toma ao assinar a nota (ou abaixo-assinado) concebido por Caio Navarro é o que me envolve por conhecê-los. Pessoas como eles dois infelizmente são uma raridade. Estão no mesmo "pódio" que Zander Navarro: são discretos mas a veemência de sua postura parece fazer de suas vozes comedidas algo próximo de um grito. É a atitude que grita. Que incomoda. Mas o que faz um jornal, que não poderia mais assumir uma postura juvenil, procurar conformar uma "tábula rasa" entre todos brasileiros? Qual o motivo para se achincalhar figuras públicas, reservas morais de nosso país, colocando-os, gratuitamente, no mesmo patamar de políticos corruptos, dissimulados e tantos outros que rodeiam manchetes de jornal? A banalização. Este conceito que faz do jornalista um humano superior, que olha de cima o submundo que noticia.
Alto lá! Calma que o andor é de barro! Não se constrói um país banalizando-o. Não é possível transformar tudo em ironia. A imprensa brasileira deixa de ser espelho e passa a ser tese. Nada mais político, com "p" minúsculo.

O drama de Ipatinga


Como era aguardado, Ipatinga vive um drama da cassação sequencial dos seus prefeitos. Primeiro, foi Chico Ferramenta (PT) eleito e que não tomou posse. Agora, neste sexta-feira, às 17h30 foi cassado pela juíza de Ipatinga Sebastião Quintão (segundo colocado nas eleições de outubro). Tomou posse interinamente o presidente da Câmara. Em breve haverá novas eleições em Ipatinga.
Sinceramente, temo que esta situação (que não é afeta apenas à Ipatinga, mas envolve vários outros municípios e ao menos 5 governos estaduais) leve a um esgotamento político da população. Uma ação preventiva sempre é mais adequada que a curativa.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Microcrédito: sinais trocados


O deputado Otávio Leite (PSDB-RJ) apresentou emenda à medida provisória que capitalizou recentemnte o BNDES (em 100 bilhões de reais) para aumentar a oferta de crédito destinado a grandes e médias empresas. O deputado tucano quer que ao menos 3% do total deste recurso sejam destinados às micro e pequenas empresas. O Banco Popular sofreu queda de operações (de 149 milhões de reais em 2006 para 44,6 milhões em 2008).
Mas, afinal, a proposta de um não era a do outro? Os tucanos e petistas querem se diferenciar na marra ou erraram o rumo?

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Hamlet e as Dúvidas


Pedi ajuda (ver nota abaixo) e o "bruxo" Thiago Camargo veio em socorro. Segundo sua análise:
"mesmo não sendo possível ter clareza sobre o acontecerá no mundo, sugiro construir três cenários:
a) piora da crise mundial (longa e prolongada);
b) manutenção da crise em 2009 e melhoria graudal em 2010;
c) melhora gradual da situação internacional, com leve crescimento em 2010.
Esses são os 3 cenários internacionais. Todos com possibilidades reais, ainda que aposte nas duas primeiras.
No caso da b e c, os efeitos serão relativamente brandos no Brasil e já em 2010 teremos crescimento interno. No alternativa b, acho que teremos crescimento próximo a zero este ano... mas com gradual recuperação ano que vem. No caso da a, o Brasil terá que ter muito cuidado e aí veremos quem de fato é o Lula."

Dúvidas sobre o futuro da economia brasileira


Vou explicitar (e solicito ajuda a algum vidente)o que estou nomeando de dúvidas:
a)Não consigo ter claro se teremos um forte baque em alguns setores econômicos caso da siderurgia, metalurgia, calçados, parte da agricultura) ou em toda economia tupiniquim;
b)Não é possível ter claro se teremos uma queda brutal na taxa de emprego ou apenas queda na massa salarial do país (uma das duas vai acontecer, talvez as duas);
c)Não consigo entender o tamanho da crise no exterior, em especial, em relação à China (cuja relação comercial com o Brasil no último período cresceu significativamente) e, obviamente, os EUA e parte da Europa;
d)Não consigo avaliar o peso do mercado interno e da nova classe média sobre a manutenção da dinâmica produtiva nacional (já que não somos uma ilha);
e)Não sei se o pior da crise será no primeiro trimestre, no primeiro semestre, no ano todo e primeiro semestre de 2010. As três possibilidades são apresentadas como tese por economistas, empresários, governo e futurólogos. O governo, internamente, avalia que terá um forte reflexo na arrecadação do início de 2010.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

O Mapa da Violência no Brasil

O leitor e o fio da navalha


Acabo de assistir O Leitor. O filme vai o tempo todo no fio da navalha, dialogando com a arquitetura social e individual que esteve na base do nazismo. Há diálogos (no seminário da faculdade de Direito) que remetem claramente aos dilemas kantianos (será que estou vendo além?). Melancólico. Leva a forma de produção americana, mas o conteúdo é inovador, sem maniqueísmo.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Os sete pilares, de Lawrence da Arábia


Aproveito as férias compulsórias para colocar as biografias que comprei recentemente em dia. Começo a ler “Os Sete Pilares da Sabedoria” (o livro sobre Leila Diniz é de leitura fácil e rápida, quase um diário), de Thomas Edward Lawrence (na foto), que ficaria conhecido por “Lawrence da Arábia”. Como se sabe, narra o movimento nacionalista árabe contra a dominação turca, como parte do esforço britânico na 1ª Guerra Mundial para derrotar a Alemanha (o Império Otomano havia se aliado à Alemanha). Em 1917, Lawrence seria destacado para a força expedicionário do Hejaz. Logo criou uma forte identidade com os árabas e se aproxima do líder Feisal, chegando a ser conselheiro logístico do movimento, comandando um exército de 10 mil homens. Utilizou vários expedientes de guerrilha, explodindo estradas e reservas de materiais, até tomar Damasco, em 1918. O livro e o autor são, eles próprios, aventura e mistério. Já no prefácio, escrito por Fernando Monteiro, somos informados que o desfecho político da revolta árabe torturava Lawrence a tal ponto que seus amigos conceberam a escrita deste livro como saída material e psicológica, que evitaria uma tragédia. Daí surgir uma bolsa no All Souls College, em Oxford, para registrar as operações militares que participara. Sabe-se, inclusive, que se açoitava. Em 1919 percebeu que as promessas de reconhecimento da soberania árabe seriam desconsideradas, já como conselheiro árabe na Conferência de Paz (o amplo território foi dividido entre a França e a Inglaterra). E é neste período que escreve os Sete Pilares. A produção do livro revela a tortura pessoal de Lawrence: escrito originalmente em 1919, Lawrence perde os manuscritos na Estação ferroviária de Reading; uma segunda versão é finalizada no ano seguinte, mas, insatisfeito com o resultado, o autor a destrói. Finalmente em 1926, Lawrence escreve uma terceira versão, revisada por George Bernard Shaw e distribuído em uma edição artesanal restrita a amigos e escritores. Foi publicado pela primeira vez no final dos anos 30. Ler este livro também é jogo duro: quase 800 páginas.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Milk e o Poder


Fui assistir Milk. Comovente. Sean Penn conquistou o Oscar merecidamente. Consegue impor uma atuação na medida, sem exageros. O filme retrata a liderança de Harvey Bernard Milk (na foto, cujo apelido era "glimpy", em virtude do tamanho de suas orelhas, nariz e pés), assassinado antes de completar 50 anos. Em 1984 esta história já havia dado um outro Oscar, retratada no documentário "The Times de Harvey Milk". O movimento gay se mobiliza para tornar o dia 22 de maio em feriado, homenagenado Harvey Milk, dia de seu nascimento.
O filme me deixou uma questão que não tem relação direta com o tema central: por qual motivo as lideranças sociais são mais fascinantes antes de chegarem ao poder?

Paim candidato a Presidente da República?


A novidade bombástica do momento é o lançamento da pré-candidatura do senador Paulo Paim (PT-RS) à sucessão de Lula. Paim foi lançado por lideranças do movimento negro, do movimento sindical e dos aposentados. Gaúcho, Paim tem uma base forte no Rio Grande do Sul, que lhe deu 2,5 milhões de votos como senador em 2002. É uma espécie de reserva moral do PT.

Leila Diniz


Sofri com a dificuldade do transporte no primeiro dia do Carnaval e decidimos adiar minha viagem para o México. Ontem mesmo conversei com os amáveis amigos do ITESO (universidade de Guadalajara) e o professor Carlos Figueredo (Universidade Metropolitana, de Caracas) e decidimos organizar uma única viagem para o próximo mês, envolvendo os dois países.
Em meio à frustração desta situação, resolvi ler o livro de Joaquim Ferreira dos Santos (na foto) sobre Leila Diniz. Só ,a passagem que detalha a declaração de amor de Domingos Oliveira ao rodar Todas as Mulheres do Mundo, já vale o livro.
Gostaria de ter conhecido Leila (tenho a impressão que não sou o único a pensar isto). Hoje ela teria mais de 60 anos (nasceu em março de 45). Fico imaginando como ela seria, hoje. Mas dá para ter uma noção: sua melhor amiga foi Marieta Severo.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Preparação para o clima político do México


Na tarde de amanhã já estarei em Guadalajara. Em pleno processo eleitoral (para o parlamento). O México está dividido em 3 partidos: PRD (centro-esquerda), PAN (centro-direita) e PRI (o tradicional, mas debilitado, partido mexicano). Como estarei no Estado de Jalisco (comandado pelo PAN, mas também com forte presença do PRI no litoral oeste do país), não vou acompanhar as disputas mais acirradas no PRD. Cito o PRD porque dois de seus principais líderes estão em confronto direto pelo futuro do partido, e um deles chega a citar Lula como inspiração.
A briga envolve Jesus Ortega, o presidente do partido, e Lopez Obrador (derrotado na disputa pelo cargo). Os dois aparecem na foto que ilustra esta nota (Obrador à direita e Ortega à esquerda). Citando Lula, Ortega afirma que pesquisas feitas pela legenda revelaram que dois terços dos mexicanos consideram o PRD "agitador". Sugere a superação deste perfil que considera de tipo populista. Ortega deixou claro que desejava refazer a imagem da sigla, como a de um partido mais próximo aos partidos de governo social-democratas do Chile e do Brasil (que tal?)
Por seu turno, Obrador afirma que a economia só piorará, e sugere uma campanha para pressionar o governo a cortar gastos inúteis, reduzir os preços pagos pelo consumidor e os impostos e fazer mais pelos pobres.
Vou acompanhar de perto e farei breves comentários neste blog.

Ônibus no carnaval é roubada


Ônibus agendado para as 22h30 de ontem, de Belo Horizonte para São Paulo, até as 3h00 da madrugada deste sábado nem dava sinais na rodoviária da capital mineira. Aliás, todos os horários regitravam atrasos de mais de 2horas. Crianças dormindo no chão, fumaça de diesel por todos os lados, escadarias apinhadas de gente e totalmente paradas, ônibus de partida sendo conduzidos para a área de desembarque, um verdadeiro show de desorganização.
As rodovias de São Paulo e do Rio de Janeiro apresentavam tráfego intenso nesta manhã, com pontos de lentidão. O maior congestionamento às 11h acontecia na a rodovia Régis Bittencourt, entre São Lourenço da Serra e Juquitiba, e em todo o trecho de serra: foram registrados 60 km de lentidão. Nesta manhã, o congestionamento na Régis chegou a 71 km.

Desemprego: dança de números


Há uma verdadeira guerra de interpretações sobre a crise no Brasil: longa e prolongada ou curta e focalizada. De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), em janeiro 1.318.298 postos de trabalho com carteira assinada foram fechados. Esse é o pior mês de janeiro desde 1996. Ao mesmo tempo, o mês de janeiro de 2009 surpreendeu pelo volume de admitidos: 1.216.550, o segundo melhor número da série. Dá para entender? Obviamente que o conflito de interpretações continua.
Entre demitidos e admitidos, o Caged contabilizou saldo negativo de 101.748 postos de trabalho fechados – o pior janeiro da história, em termos absolutos. O número, no entanto, é 6,4 vezes menor do que o saldo negativo registrado em dezembro do ano passado (654.956 postos fechados). O volume de admissões entre dezembro e janeiro cresceu em quase 330 mil novos postos de trabalho.
Para o Ministro do Trabalho, Carlos Luppi, “recomeça o aquecimento da contratação”. Destacou, ainda, que quatro setores da economia e oito estados tiveram balanços positivos em janeiro. A construção civil janeiro tem saldo de mais de 11 mil novos trabalhadores, o setor de serviços aumentou em mais 2.452 empregados, a administração pública teve alta de 2.234 postos e os chamados “serviços industrias de utilidade pública” (tais como telefonia, energia e saneamento) abriram 713 vagas a mais do que desligamentos. O saldo positivo de empregos ficou nos estados de Santa Catarina, Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Goiás, Paraná, Rondônia e Roraima. O motor do crescimento nesses estados, segundo o Caged, foi o cultivo de produtos de lavoura permanente.
Em todo o país, o setor agrícola, no entanto, registrou menos 12 mil empregos. Mais da metade desses desligamentos foram em São Paulo, especialmente no cultivo de frutas cítricas (baixa de 6.403 postos de trabalho). O cultivo da cana-de-açúcar teve saldo de menos 1.871 postos, com maiores perdas em Pernambuco, São Paulo e Paraíba.
Entre os setores, a indústria de transformação (com menos 55.130 empregos) e o comércio (com menos 50.781) concentram as demissões. Entre os subsetores, os piores resultados estão no comércio varejista (com menos 50.403), a metalurgia (com menos 12.028), a indústria de materiais de transporte (com menos 11.732) e a indústria alimentícia (com menos 8.794), além da agricultura.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Cartaz divulgação de Guadalajara

Hasta la vista, baby


A partir de domingo estarei no México, em mais uma maratona de palestras e oficinas sobre controle social. Carnaval nunca foi minha praia, de qualquer maneira. Estarei postando no blog algumas notícias de lá. Serão três oficinas e quatro reuniões de trabalho e palestras, em Guadalajara e Puerto Vallarta. Os temas que estaremos discutindo são: estratégias de organização e controle cidadão; qual participação cidadã e qual democracia?; análise da experiência brasileira; desenvolvimento regional a partir das organizações cidadãs; orçamento participativo; estratégias de formação de lideranças sociais e metodologias participativas.
Ao final, no dia 2 de março, assinaremos termo de cooperação entre ITESO (universidade jesuíta de Guadalajara) e o Instituto Cultiva.
No mês seguinte, será a vez da Venezuela.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Yeda Crusius: desgraça pouca é bobagem


Já estava difícil. Mas dá para piorar um pouco mais. O governo do Rio Grande do Sul decidiu pôr fim a convênio com sete escolas itinerantes do MST (Movimentos dos Trabalhadores Sem-Terra) no Rio Grande do Sul. Com a decisão, as crianças serão transferidas para a rede pública de ensino a partir do início do ano letivo, em 2 de março. É verdade que é uma medida determinada pelo Ministério Público Estadual. Mas vai ter azar!!!
O Ministério Público vê na ação do MST mais do que um projeto educacional. "As escolas são células que vão alienando as crianças. É uma maldade o que se faz lá", argumentou o procurador Gilberto Thums. Cerca de 300 crianças serão atingidas pela medida. Já o MST considera a medida "perseguição política". "Foi uma decisão unilateral. Os pais dos alunos não foram ouvidos sobre as acusações de conteúdo ideológico", reclamou um dos coordenadores do Movimento no Rio Grande do Sul, Miguel Stédile.
As escolas do MST eram mantidas por um convênio firmado com a SEC, que repassava cerca de R$ 15 mil mensais ao Instituto Preservar para a contratação de 13 professores e 10 merendeiras. Desde novembro de 2008, no entanto, o repasse de recursos do governo estadual está suspenso.

Jarbas Vasconcelos, por Luis Nassif


Luis Nassif é outro que procura desvendar as motivações do "desabafo" de Jarbas Vasconcelos. Em seu artigo "A estratégia Jarbas" sugere:

1) No governo FHC, esse mesmo PMDB, tendo como pontas-de-lança o Ministro dos Transportes Eliseu Padilha e Gedel Vieira Lima, uma seleção enriquecida por Gilberto Miranda e outros notáveis, negociou cargos, benesses e massacrou Itamar Franco na convenção do partido. E os episódios ocorreram nos tempos em que Jarbas era dos grandes nomes do partido. É o mesmo PMDB de agora, com os mesmos personagens de antes;
2) Na semana passada Lula colocou o bloco de Dilma na rua. O fato veio acompanhado da divulgação das pesquisas de popularidade do governo, da constatação de que as medidas anticíclicas começam a dar certo, do encontro de prefeitos;
3) Esse início, aparentemente avassalador, assustou o PSDB. Serra ensaiou seu PAC contra a crise (cinco meses depois da crise deflagrada!). E, em reunião na casa de FHC, decidiu-se, de um lado, acirrar os ataques ao governo no Congresso, dificultando a aprovação de medidas;
4) Decidiu-se, então, pela entrevista do Senador Jarbas Vasconcellos à revista Veja. Jarbas é ligado a Serra e, muitas vezes, pensou-se na dobradinha para as eleições presidenciais. Há tempos perdeu o ímpeto político. Na segunda metade do seu governo, praticamente passou o comando ao vice-governador e alienou-se completamente da administração;
5) A entrevista de Jarbas é um prato feito e óbvio. Primeiro, critica seu próprio partido, para ganhar credibilidade – e porque o partido está na base de sustentação do governo.

Vou aproveitar esta nota para sugerir o livro de Nassif, "A Casa da minha Infância" (capa na foto ao lado). Emocionante.

Às vésperas do Carnaval


Recebi e repasso:

Diz que fui por aí
Zé Kéti e H. Rocha

Se alguém perguntar por mim
Diz que fui por aí
Levando um violão debaixo do braço
Em qualquer esquina eu paro
Em qualquer botequim eu entro
E se houver motivo
É mais um samba que eu faço
Se quiserem saber se volto, diga que sim

Mas só depois que a saudade se afastar de mim
Só depois que a saudade se afastar de mim

Tenho um violão p'ra me acompanhar
Tenho muitos amigos, eu sou popular
Tenho a madrugada como companheira
A saudade me dói, o meu peito me rói
Eu estou na cidade, eu estou na favela
Eu estou por aí
Sempre pensando nela

Perguntas sobre Jarbas Vasconcelos


Pergunta 01: O "desabafo" tem relação com a perda de espaço em Recife (a vitória de João da Costa foi mais um passo do desmoronamento das estrutura de poder montada por ele, que se sustentava em várias associações de bairro)?

Pergunta 02: Seu "desabafo" teria relação com a também surpreendente candidatura (vitoriosa) de José Sarney à Presidência do Senado?

Pergunta 03: Seria alguma encenação próxima ao que fez Roberto Jefferson com o PT?

Pergunta 04: Sendo um cacique dos mais experientes, qual lance seguinte pensa em dar?

Pergunta 05: Afinal, o "desabafo" ajudou a quem? Serra? Ele próprio? Outro partido? Outro candidato a Presidente?

O impacto da crise no Brasil passa pela China


A China dá sinais trocados sobre sua crise doméstica e os investimentos no Brasil. Em janeiro o investimento estrangeiro no Brasil foi de US$ 7,5 bilhões, cerca de 33% menor que o mesmo mês do ano anterior. Trata-se de um processo, pois já é o quarto mês de queda no fluxo de investimento direto na China. No ano passado, como foi investido US$ 108,3 bilhões, cerca de 30% superior a 2007, sendo que US$ 92,4 bilhões foram direcionados para projetos de investimento e não o mercado financeiro e de capital. Análises do governo chinês apontam que o investimento direto deve cair 30% neste ano em função da crise internacional. O grande desafio no momento para a China (e o mundo) é o aumento do consumo doméstico. Contudo, o crescimento chinês em 2009 está projetado pelo CDB (Banco Central Chinês) para 8% (e não os 5% que se avaliava no final do ano passado).
O problema de investimento no Brasil não é só econômico. Segundo os chineses, o projeto de instalar uma grande siderúrgica no Brasil tem quase oito anos. No Maranhão, não prosperou em função do conflito entre grupos políticos locais. Já no Espírito Santo, graças à promessa do governo capixaba de ceder à empresa instalações consideradas ideais, em Anchieta, no litoral, que não prosperaram.

Criada a polêmica Agência de Desenvolvimento da região metropolitana de BH


A região metropolitana de Belo Horizonte foi criada em 1973 (Lei Complementar Federal 14/73). A Agência de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte foi criada em janeiro deste ano. É uma autarquia territorial de Minas Gerais e está subordinada ao Conselho Deliberativo Metropolitano. O medo dos prefeitos em perderem autonomia, dos deputados em perderem o papel de mediadores e o medo geral em Fernando Pimentel ser o administrador-chefe, motivou uma série de artigos que definem o critério de eleição do administrador-chefe desta autarquia. São salvaguardas. No caso, será nomeado pelo governador a partir de uma lista tríplice do Conselho Deliberativo Metropolitano (os prefeitos têm direito à voto).
O foco inicial da Agência será o ordenamento territorial da região e, em seguida, regulação do transporte metropolitano.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

A reforma política do governo


O governo federal apresentou na terça-feira passada sua proposta de reforma
política. A matéria foi dividida em seis projetos de lei e uma proposta de emenda à Constituição (PEC). Trata-se de uma proposta conservadora, que não absorveu nenhuma das propostas de tipo participacionista da sociedade civil. A cláusula de barreira, inclusive, caiu para 1% dos votos válidos, denotando um acordão. É uma espécie de reforma em "banho maria" para fim de mandato. Os seis projetos de lei e a emenda constitucional a serem analisados pelo Congresso Nacional são:

1)Cláusula de barreira - PEC. Essa proposta de emenda à Constituição (PEC)determina que apenas poderão exercer os mandatos de deputado federal, deputado estadual ou deputado distrital os candidatos dos partidos que obtiverem ao menos 1% dos votos válidos - excluídos os brancos e os nulos - obtidos em eleição geral para a Câmara dos Deputados, distribuídos em, pelo menos, um terço dos estados, com o mínimo de 0,5% dos votos em cada um desses estados.

2)Inelegibilidade - PLC. Para prever casos de inelegibilidade, por três anos, de candidatos condenados por "decisão colegiada ou decisão de primeira instância transitada em julgado" por uma série de crimes, esse projeto de lei altera a Lei das Inelegibilidades (Lei Complementar nº 64, de 18 de maio de 1990). Os crimes em questão são os de abuso de poder econômico ou político; crimes eleitorais, de tráfico de entorpecentes, contra a economia popular, a fé pública, a administração pública, o patrimônio público e o mercado financeiro; e os praticados por detentores de cargos na administração pública direta, indireta ou fundacional, que beneficiarem a si ou a terceiros, pelo abuso do poder econômico ou político.

3)Lista fechada - PL. Um dos projetos de lei apresentados pelo governo prevê alterações no Código Eleitoral (Lei nº 4.737, de 15 de julho de 1965) e na Lei das Eleições (Lei nº 9.504, de 30 de setembro de 1997) para substituir a lista aberta pela lista fechada nas eleições proporcionais. Na lista fechada, o eleitor não vota no candidato, mas no partido - e é a legenda que escolhe quais serão os candidatos e quais deles terão prioridade no preenchimento das vagas obtidas. Segundo o Executivo, um dos objetivos da medida é contribuir "para o fortalecimento e a maior institucionalização dos partidos".

4)Financiamento público de campanha - PL. Esse projeto de lei altera a Lei dos Partidos Políticos (Lei nº 9.096, de 19 de setembro de 1995) e a Lei das Eleições para determinar que o financiamento das campanhas eleitorais será exclusivamente público, com origem nos recursos do Orçamento da União. De acordo com o governo, essa iniciativa visa, entre outros objetivos, combater a "dependência" entre candidatos e financiadores privados e dar mais transparência a esses gastos.

5)Fidelidade partidária - PL. Para implementar a idéia de que o mandato parlamentar pertence ao partido e não ao candidato eleito, esse projeto de lei promove alterações na Lei dos Partidos Políticos e na Lei das Eleições. De acordo com essas mudanças, o mandato do parlamentar que deixar sua legenda ou for expulso dela passará a ser exercido por suplente dessa mesma agremiação. Segundo o Executivo, a medida daria fim ao "troca-troca" de siglas por parte de parlamentares.

6)Fim das coligações - PL. Ao alterar a Lei das Eleições e o Código Eleitoral, esse projeto de lei proíbe as coligações de partidos em eleições proporcionais (relacionadas à escolha de deputados federais, estaduais e vereadores). O governo argumenta que, com isso, busca-se evitar que essas alianças sejam formadas para aumentar o tempo da propaganda eleitoral. Mas o recurso às coligações continuaria a ser autorizado para as eleições majoritárias.

7) Captação ilícita de sufrágio - PL. Esse projeto de lei altera a Lei das Eleições para tipificar como captação ilícita de sufrágio - ou seja, como crime - os casos que um candidato tenta "comprar" votos (por meio, por exemplo, de pagamento em dinheiro ou por outros bens ou pela promessa de emprego) ou ameaça ou constrange alguém para obter seu voto ou atrapalhar uma candidatura adversária.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Economista brasileiro é nomeado vice-presidente do Banco Mundial


O economista brasileiro Otaviano Canuto acaba de ser nomeado Vice Presidente do Banco Mundial e Chefe da Área de Redes, Redução da Pobreza e Rede de Administração Econômica (Head od Networks, Poverty Reduction & Economic Management Network- PRMVP). Otaviano estará no Banco Mundial a partir do dia 13 de abril e a sua nomeação como Vice Presidente será efetiva a partir do dia 04 de maio. Otaviano é atualmente Vice Presidente do BID. Com mestrado em economia pela Concordia University (Montreal) e doutorado pela Unicamp, foi professor da Unicamp e, mais recentemente, da USP. Fez seu pós-doutorado na Universidade de Paris XIII.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

O melhor da imprensa brasileira, neste domingo


A melhor de todas é o texto de Ana Cristina Reis, no jornal O Globo de hoje (página 16). O artigo leva o título de "Sem batom nào há crescimento". É o humor de volta ao jornalismo, depois de mergulhar na chatice e nervosismo sem fim. Esta passagem é a cereja do bolo:
"Francamente, senhor presidente, comparar suas unhas ao batom de Dilma... Tirar o batom de uma mulher equivale a tirar o palanque de um sindicalista, o bisturi de um cirurgião, a panela de um chef".

O outro ponto alto foi a chamada, na primeira página, da Radiografia da Educação Mineira, no jornal O Tempo de hoje. Minas Gerais conhece, hoje, uma outra vertente sobre as escolas mineiras que não a oficial. Ponto para a democracia e um furo no bloqueio da grande imprensa local. Clique na foto desta nota e veja a chamada no alto, à direita.

Verônica Ferriani


O boletim Sintonia Fina, de Nelson Motta, divulga um CD novo na praça, de uma cantora com voz limpa e muito bonita. Verônica Ferriani é paulistana. Diz Nelsinho Motta quando a ouviu pela primeira vez, em Recife:
"A recomendação era a melhor possível, ela estava cantando com os músicos da fabulosa Spok Frevo Orquestra, com o próprio Spok tocando sax. Adorei. E agora recebo o seu primeiro disco, produzido pelo grande BiD, e que fecha com um frevo moderno e sensacional, com arranjo do maestro Spok."

Veja este frevo em: http://www.sintoniafina.com.br/index.php?pilindex=2

E tem, ainda, "Eu amo Você", de Cassiano e Silvio Rochael (aquela cantada por Tim Maia), em : http://www.sintoniafina.com.br/index.php?pilindex=3

Se quer ainda mais, acesse http://profile.myspace.com/index.cfm?fuseaction=user.viewprofile&friendID=427959532

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Afinal... houve ataque racista à brasileira?


O site "direto da redação" publica artigo assinado por Rui Martins onde se afirma que a brasileira que teria sido atacada na Suiça "provavelmente se autoflagelou." Confesso que é o primeiro texto assinado por jornalista brasileiro que admite o que a imprensa suiça já afirmava desde o início do caso. Martins vai mais longe e escreve: "mais triste é o quadro da nossa imprensa irresponsável que mobilizou o país, levou o ministro das relações exteriores Celso Amorim a criticar um país amigo e Lula a quase criar um caso diplomático. (...) A maior rede de televisão do Brasil, a Globo, vista por mais de uma centena de milhões de brasileiros, não teve dúvidas em transformar o caso na grande manchete do dia, fazendo com que outros milhões de brasileiros, no Exterior, já acuados pela Diretiva do Retorno, se solidarizassem e imaginassem passeatas e manifestações. Essa é a maior barriga da história do nosso jornalismo, que revela o descalabro a que chegamos em termos de informação ou desinformação. Equivale ao conto do vigário do Madoff, ou das subprimes do mercado imobiliário americano. Só que o Madoff está preso, mesmo sendo prisão domiciliar e vivemos uma crise econômica, em consequência dos desmandos dos bancos americanos. Mas o que vai acontecer com a televisão Globo e todos quantos foram atrás ? Nada, vai ficar por isso mesmo."

Eu mesmo fiquei indignado com esta agressão que agora pode ter sido um delírio. No mundo da informação em tempo real, o que fazer para não ser vítima de uma barriga da grande imprensa?

Adolescentes autores de infração no Brasil


Levantamento Nacional do Atendimento Socioeducativo ao Adolescente em Conflito com a Lei revela que mais de 1.000 adolescentes terminaram 2008 internados. O levantamento é realizado pela Secretaria Nacional dos Direitos Humanos (SEDH). O número é 397% maior do que o verificado em 1996. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece que a privação de liberdade é uma medida breve e excepcional, que só deve ser aplicada no caso de grave ameaça ou violência, além de reincidências contínuas. Na verdade, é mais que isso. Pela doutrina que fundamenta o ECA, a internação ocorre como medida sócio-educativa e não punitiva. Em outras palavras, trata-se de um tempo maior para a educação e socialização do adolescente, ainda em processo de formação. Daí porque, mesmo internado, orienta-se para que o adolescente tenha contato com a comunidade e sua família. Algo absolutamente distinto da cultura anglo-saxônica (aliás, totalmente desastrosa, a despeito das matérias tendenciosas e pouco informadas da grande imprensa nacional, para quem sugiro a leitura do livro Gritos do Vazio, publicado pela Editora Autêntica). Indicadores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostram que somente 20% das infrações cometidas por adolescentes referem-se a homicídios ou latrocínios. O ECA prevê que, no caso de infrações mais leves, devem ser aplicadas medidas como advertência, obrigação de reparar o dano e prestação de serviços à comunidade. De acordo com a defensora pública Daniela Cavalcante Martins, responsável pelo acompanhamento da execução das medidas socioeducativas na Vara da Infância e da Juventude do DF, é frequente ver muitos meninos internados por violações leves, como furtos e ameaças. Já havíamos destacado este erro grosseiro e grave desde quando coordenamos a primeira pesquisa sobre o sistema de atendimento ao adolescente autor de ato infracional de Minas Gerais, financiada pelo CEDCA-MG.

Deus é Brasileiro


Pelos dados de fevereiro projeta-se um céu de brigadeiro na economia nacional. E ainda fazem as Cassandras de plantão passarem vergonha. Ao sair de uma audiência com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, na quinta-feira, o presidente da Confederação Nacional da Indústria, Armando Monteiro Neto (aquele que dizia que os efeitos da crise ainda seriam sentidos pelos brasileiros que aumentavam os índices de popularidade de Lula), mostrou-se impressionado com os resultados da indústria automobilística nos primeiros 11 dias de fevereiro, comparados ao mesmo período de janeiro - quando a produção subiu 92,7%. Segundo o Sinalizador da Produção Industrial (SPI), elaborado pela Fundação Getulio Vargas, a indústria paulista teve crescimento de 5,7% em janeiro comparado a dezembro, depois de três meses seguidos de queda. O SPI antecipa em um mês os dados do IBGE. O resultado deveu-se à reposição de estoques e ao estímulo do governo ao setor automotivo, de acordo com o economista Paulo Pichetti, coordenador da pesquisa da FGV. E as notícias boas não param por aí. A OGX, de Eike Batista, comunicou que vai antecipar para junho a exploração na Bacia de Santos, no bloco BM-S-29, pois pretende iniciar a produção no fim de 2011. Com um caixa de R$ 7,5 bilhões, a OGX destacou US$ 2 bilhões para a exploração e mais US$ 1 bilhão para a produção. Em outra frente, confiante no poder de consumo da classe C, a Coca-Cola Brasil anunciou na quinta-feira 12 que investirá R$ 1,75 bilhão neste ano, 16,6% a mais do que em 2008. Em 2008, as vendas subiram 7% e o faturamento chegou a R$ 15 bilhões, alta de 25% sobre 2007. O presidente da Coca- Cola, Xiemar Zarazúa, acredita que o mercado brasileiro vai subir para a segunda posição no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Terceira maior empresa de telefonia móvel do País, a TIM Brasil também divulgou a compra da Intelig, um negócio de R$ 1,5 bilhão. A empresa já está investindo R$ 2,3 bilhões na construção de redes de fibra óptica.
Já o Índice de Confiança do Consumidor, elaborado pela Fecomercio-SP, mostrou alta de 6,8% em fevereiro, em relação a janeiro.

Os PMDBs atacam...


João Arruda, deputado estadual e secretário-geral do PMDB do Paraná envia mensagem que revela bem as disputas e possibilidades do PMDB (a partir de um de seus ângulos: no caso, paranaense):
Mensagem:
"O Romanelli não leu o que eu informei. Se ele leu, não entendeu. Então, vou dar mais uma forcinha: o PMDB do Paraná terá como candidato a governador o senhor Orlando Pessuti. O diretório estadual do PMDB não apoiará NENHUM candidato a governador do PSDB, nem que a vaca tussa. A nossa legenda vai conversar com o PT depois do Carnaval. Também estabelecerá contatos com outras agremiações. Isso tudo combinado com o presidente, deputado Waldyr Pugliesi. Uma conversa franca faz bons amigos e ótimos parceiros estratégicos."

Explicação:
a) Romanelli é o deputado estadual Luiz Cláudio Romanelli, líder do governo Requião;
b) O deputado João Arruda havia enviado, antes, uma primeira mensagem em que afirmava que após o carnaval, PT e PMDB já agendaram encontro para fortalecimento da aliança entre os dois partidos, sem qualquer espaço para acordos com o PSDB.

Classe Média Emergente continua crescendo


Continuo na minha tese que o mais importante fenômeno sociológico brasileiro do último período é o crescimento da classe média (ou ascensão de brasileiros pobres para a classe média) A classe média emergente segue em expansão nas seis principais metrópoles do país e passou a representar 53,8% da população em dezembro de 2008, segundo dados do Centro de Políticas Sociais da FGV (Fundação Getulio Vargas). Esse percentual era de 51,8% no mesmo período de 2007. A participação da classe C subiu num ano em que o rendimento nas maiores metrópoles cresceu 3,4%, impulsionada especialmente pelo reajuste do salário mínimo. A FGV constatou ainda uma expansão das classes de renda mais elevada, as A e B, cuja participação subiu de 14,76% da população em dezembro de 2007 para 15,33% em dezembro de 2008.
Houve, desse modo, uma migração de pessoas que estavam nas classes de renda mais baixa para as de rendimento mais alto, com o consequente encolhimento das classes D e E.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

O dilema tucano


FHC acertou (finalmente) ontem. Disse que o PSDB deve antecipar a escolha do pré-candidato à sucessão de Lula. Afirmou que o governo federal antecipou a campanha e o PSDB não pode ficar de braços cruzados. Teoricamente correto. O problema é que, na prática, a teoria é outra. Os pré-candidatos do PSDB são os governadores Aécio Neves e José Serra. Serra tem a seu favor (neste momento) a liderança nas pesquisas de opinião sobre as eleições de 2010. Mas vem caindo lentamente, cedendo lugar para o crescimento de Dilma Rousseff (também lento). Começa a esquentar os motores. Para Aécio, a situação é ainda mais difícil. Saiu derrotado das eleições municipais em Minas Gerais, perdeu seu aliado em São Paulo (com a nomeação de Alckmin para o secretariado de Serra) e está constantemente pressionado (inclusive pela imprensa) para se filiar ao PMDB (o que desgasta seu nome no interior do PSDB).
Se teoricamente está correto, FHC vai ter que esperar para ver se o tempo teórico emparelha com o tempo político.
Ou FHC já teria escolhido seu pré-candidato?

Brasileira espancada na Suiça


A advogada Paula Oliveira, 26 anos, foi agredida por um bando de skinheads na noite da última segunda-feira na Suíça. Três homens brancos, de cabelos raspados, abordaram Paula, que estava grávida de três meses, na saída de um trem em Dubendorf, cidade próxima a Zurique. Ela foi espancada e sofreu cortes no corpo. A agressão a fez abortar os bebês. No corpo da jovem, o grupo escreveu com um estilete SVP, mesma sigla do Partido do Povo da Suíça, também chamado de UDC (União Democrática de Centro), na sigla francesa. O partido se posiciona de forma contrária às políticas que favorecem estrangeiros.

Esta situação, somada à dos brasileiros impedidos de entrar na Espanha e as leis fascistas contra migrantes que o Senado italiano acaba de aprovar exigem atenção e energia redobrada de nossa diplomacia. Em época de crise de emprego, o fantatismo e ultra-nacionalismo emergem na Europa (será preciso lembrar onde começaram as duas guerras mundiais?)

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Custo de um deputado federal


Do site Transparência Brasil:
"Cálculo da ONG Contas Abertas estima que o custo direto de cada deputado federal se elevou a R$ 114 mil mensais. Isso inclui o seu salário, a tal remuneração a cabos eleitorais, uma mesada chamada “indenizatória”, despesas com viagens e outros auxílios. São 1,368 milhão por ano para cada deputado. A título de comparação, um membro da Casa dos Comuns britânica custa, por ano, 160 mil libras. Ao câmbio médio de abril de 2008, isso equivale a R$ 536 mil. Ou seja o custo nominal de um deputado federal brasileiro é mais de 150% superior ao de um parlamentar britânico."

Governo da Itália perde no STF


O ministro Cezar Peluso negou, nesta terça-feira (10), pedido de liminar em Mandado de Segurança (MS 27875), ajuizado no Supremo Tribunal Federal (STF) pelo advogado do governo da Itália, contra a decisão do ministro da Justiça, Tarso Genro que, em 13 de janeiro último, concedeu a condição de refugiado a Cesare Battisti, pivô de um pedido de Extradição (Ext 1085) que tramita no STF. O governo italiano pedia a suspensão do ato do ministro Tarso Genro, alegando que “sua consideração poderá gerar o prejuízo do processo de extradição de que a impetrante (Itália) é autora, caso a Suprema Corte entenda pertinente a aplicação ao caso do art. 33 da Lei nº 9.474/97(*)”. Para o advogado, o ato do ministro Tarso Genro seria “manifestamente ilegal, inconstitucional e abusivo, praticado com o indisfarçável objetivo de obstar o seguimento do processo de extradição instaurado perante essa Suprema Corte, a pedido da impetrante [Itália], em desfavor do beneficiário do refúgio [Cesare Battisti]”. O ministro, contudo, não encontrou os requisitos necessários para a concessão da liminar. Como o pedido de extradição não foi ainda apreciado pelo STF, não existe nenhuma decisão irrecorrível “capaz de sacrificar eventual direito subjetivo do ora impetrante [república italiana]”, frisou Cezar Peluso.

Lavagem em Itapoã


Estou em Salvador e fico sabendo que amanhã é dia de Itapoã, região onde me hospedo quando estou aqui para prestar consultorias. Uma festa tradicional que antecede o Carnaval, em louvor à Nossa Senhora da Conceição de Itapuã. A lavagem das escadarias da igreja mobiliza católicos e adeptos dos cultos afro-brasileiros. Até os anos 40, quando a localidade ainda era uma pequena aldeia de pescadores, dois grupos se destacavam na manutenção do povoado eram os pescadores e as ganhadeiras – remanescentes do período da exploração baleeira. Cabiam aos pecadores a captura dos peixes e grande parte da comercialização do pescado era feito pelas mulheres ganhadeiras. Devido ao isolamento em que se encontrava a aldeia à época, essas mulheres caminhavam cantando, por dezenas de quilômetros pela praia, com as gamelas na cabeça carregando os produtos (peixes, frutas, cocadas, moquecas de folha, etc.) para serem comercializados na Baixa dos Sapateiros e outros pontos da cidade do Salvador. Até aquela época a Lavagem de Itapuã era comandada pelos pescadores e pelas ganhadeiras. Mas, com o crescimento do bairro a festa começou a se descaracterizar, inclusive com a introdução do trio elétrico. Hoje existe um forte movimento em defesa da retirada dos trios elétricos e pela busca das antigas tradições locais. O cortejo sai pela manhã e percorre parte da orla de Itapuã (cerca de 2 quilômetros) indo até a porta da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, onde acontece a lavagem das escadarias.
O problema é que estarei trabalhando o dia todo, desde as 8h00!!!!

Jorge Viana e a candidatura de Dilma Rousseff


Não consigo me convencer que Lula já bateu o martelo na candidatura de Dilma Rousseff. Mas não posso negar que grande parte do PT já está com o bloco na rua. O jornal Valor Econômico de ontem publica uma matéria em que revela a fome do ex-governador do Acre, Jorge Viana, absolutamente engajado nesta campanha. Em suas palavras (de Jorge Viana):
"Em março temos que tomar um rumo. Cada dia que passa é um dia a menos. O Lula tem dia e hora para sair". "Isso vai assim até março, meio caótico. Depois engrena", diz.
Dilma Rousseff teve pelo menos 20 encontros oficiais com Lula, só nestes 40 dias de 2009. Mais que qualquer outro ministro. Mas segundo Viana, nem Lula já a convidou nem ainda se constituiu uma coordenação formal da candidatura.

Ainda sobre o famoso Power Point da ministra:
"Mais eficiente é ela dormir lá no Acre, ir ao mercado, conversar com as pessoas. Vai sair em todos os jornais durante três dias. Mas chegar lá tipo meio-dia, fazer um ato bacana e sair as seis horas da tarde, as pessoas não vão nem tomar conhecimento". Com uma agenda bem trabalhada, o ex-ministro acredita que a ministra Dilma chega aos 25% no final do ano.

O paradoxo da crise


A crise mundial parace paradoxal para vários países. Este é o mote dos últimos artigos de Clóvis Rossi (da Folha de SPaulo), para citar um exemplo. Há clara concentração do impacto em alguns segmentos da indústria nacional, mas não em toda economia. O IBGE acaba de registrar recuo de 1,8% dos empregos industriais em dezembro (já descontando influências sazonais). Foi o maior recuo desde 2001. É o terceiro mês consecutivo de queda do nível do emprego (acúmulo de 2,5%). Houve redução da produção industrial em 12,4%. Alguns economistas sugerem que houve ajuste intenso de estoques em dezembro, principalmente nos setores que lideravam a geração de postos de trabalho. O exemplo que oferece é o da indústria automobilística, que até setembro do ano passado registrou crescimento de 10,1%. Em dezembro a taxa caiu para 1,1%. Os setores que registraram maiores quedas foram: madeira (-11,9%), calçados (-8,7%) e vestuário (-8,4%). O Estado que sofreu maior impacto negativo foi São Paulo. Muitos economistas avaliam que a retração de janeiro foi menos intensa que a de dezembro. Avaliam que a massa de salários deve cair mais que a taxa de emprego, em 2009.
Fica a dúvida sobre se a decisão dos empresários deste setor está afinada com a realidade do mercado ou se exageraram, por excesso de prudência. O fato é que terá reflexos concretos nas negociações de reajustes reais de salário para este ano.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Greve nas universidades francesas


Já se faz sentir o vendaval do governo Sarkosy sobre as universidades. Professores universitários protestam contra uma reforma do estatuto dos professores-investigadores e da formação dos docentes do primário e secundário.
Um dos debates acirrados é sobre a autonomia universitária que amealhou a crítica de lideranças universitárias porque a modalidade adotada teria aumentado a competição entre instituições sob o (paradoxal) controle crescente do Estado e sem orçamento adequado. Outro item de debate nacional é a conversão do CNRS (organismo nacional para a pesquisa científica) em simples agência de gestão. E, assim como no Brasil e grande parte da América Latina, há forte reação aos modelos de avaliação meramente quantitativos, ineficazes (por que no Brasil não se reage mais duramente a esses modelos de avaliação sistêmica?).
Por esses e outros motivos, as universidades francesas decretaram greve por tempo indeterminado.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Ama qhilla, ama llulla, ama suwa


Eu já tinha ouvido de uma liderança equatoriana, num dos encontros do Observatório Internacional da Democracia Participativa (OIDP). Achei muito bonito. Mas agora é mais impressionante porque passou a ser PRINCÍPIOS E VALORES DO ESTADO, na Bolívia, segundo a nova Constituição. "Ama qhilla, ama llulla, ama suwa" é um princípio quechua e quer dizer "não ser preguiçoso, não ser mentiroso, não ser ladrão". Ao saber disto, me lembrei de um caso recente de um prefeito indígena eleito na América Central que ao tomar posse entregou uma carta aos jovens de sua comunidade em que assinava sua renúncia. Ao entregar, disse: "se mentir, alguma vez que seja, vocês podem entregar esta carta ao parlamento e oficializar minha renúncia". Dramático, sem dúvida, mas de uma integridade que parece ter sumido da política contemporânea.

O escândalo de John Train, ex-presidente da Merrill Lynch


Um artigo de Andrew Sorkin, no The New York Times, deu o tom do impacto do estilo Wall Street de viver em plena crise econômico dos EUA. Sorkin comenta a compra de John Thain, ex-presidente do Merrill Lynch, que teria gasto US$ 1,2 milhão redecorando seu escritório enquanto o banco vivia seus estertores finais parece apenas confirmar as piores suspeitas das pessoas sobre o dinheiro e a arrogância que ele pode despertar. Seu vaso sanitário de US$ 35 mil. Mas não fica por aí. Cita a cortina de chuveiro de US$ 6 mil que Dennis Kozlowski mandou comprar quando era presidente-executivo da Tyco International. Atualmente, ele está servindo uma sentença mínima de 100 meses de prisão por apropriação indébita de US$ 400 milhões da empresa. Cita, ainda David Rubenstein, co-fundador do Carlyle Group, um fundo de capital privado, que hoje "passa menos tempo na estrada fazendo palestras para potenciais investidores e mais tempo com os investidores atuais do grupo, preocupados com seu dinheiro". E, continua: "no começo de 2008, as ações que Vikram Pandit, o presidente-executivo do Citigroup, detinha em sua própria empresa valiam US$ 31 milhões, de acordo com a Equilar. Hoje, valem US$ 3,7 milhões."
A participação acionária de Thain (o homem do vaso sanitário) no Merrill Lynch valia US$ 28,5 milhões um ano atrás, e hoje caiu a US$ 6,5 milhões. Lloyd Blankfein, presidente-executivo do Goldman Sachs, detinha US$ 465 milhões em ações da empresa no começo de 2008, e hoje seu investimento vale US$ 167 milhões. Kenneth Lewis, que está pressionado em seu posto como presidente-executivo do Bank of America, tinha US$ 121 milhões em ações do banco um ano atrás, e hoje elas valem US$ 18,5 milhões.
"Dois anos atrás, eu tinha alunos que reclamavam de ofertas de salário de US$ 1 milhão anuais", diz Nabil El-Hage, professor de práticas de gestão na escola de administração de empresas da Universidade Harvard, e titular de um curso popular sobre o capital privado. "Hoje há uma compreensão clara de que ninguém vai ganhar um dinheiro absurdo aos 30, 35 ou 40 anos, como era possível até recentemente".

Greve de Professores de universidades de MG


Do boletim do Sinpro/MG:
1) Professores em greve na Unincor
A decisão foi tomada em assembleia conjunta entre as duas categorias, ocorrida no dia 7 de fevereiro. Nova assembléia será realizada nesta quarta-feira (11/2), às 18h30, em Betim.

2) Professores da Soebras em Montes Claros vão paralisar as atividades a partir de quarta
A partir da próxima quarta-feira (11/02), os professores das escolas do grupo Soebras em Montes Claros vão paralisar as atividades, tendo em vista a falta de posicionamento claro por parte da instituição de ensino quanto ao pagamento dos salários atrasados desde dezembro de 2008.

3) Notícia de venda adia decisão de greve no Uni-BH
Diante da novidade, a decisão foi de manter o indicativo de greve com uma nova assembleia no dia 11 de fevereiro, às 19h, no auditório Ney Soares (Rua Diamantina, 463, bairro Lagoinha - BH).

4) Docentes da Infórium sinalizam estado de greve
Os professores da Infórium voltam a se reunir nesta quinta-feira (12/2), em nova assembleia com paralisação das aulas, às 19h, na sala dos professores da instituição de ensino.

5) Professores da UNIPAC realizam assembleias nos dias 9, 10 e 11/2
Os professores da UNIPAC (Universidade Presidente Antônio Carlos) realizarão assembleias nos dias 9, 10 e 11 de fevereiro nas unidades de Itabira, Barão de Cocais, São Gonçalo do Rio Abaixo e Ribeirão das Neves, para discutir as propostas da universidade em relação ao pagamento dos salários atrasados e o cumprimento dos direitos trabalhistas.

Venezuela às vésperas de mais um plebiscito


Recebo as seguintes informações de Bruno Lima Rocha:
1) A democracia representativa na Venezuela é muito peculiar. Nasce de um acordo (Pacto de Punto Fijo, assinado em 1958) em que três grandes partidos, AD, Copei e URD concordam com a alternância no poder;
2) A emenda constitucional que sofrerá referendo popular no próximo dia 15 gera grande tensão entre os opositores de Chávez em virtude do aumento do número de eleitores que votaram nas últimas convocatórias. Chávez e seus candidatos aumentaram seus índices eleitorais em 20%, passando de 4.379.392 na derrota do referendum de 2007 para 5.504.902 votos nas eleições municipais e estaduais de 2008. Hoje a aliança encabeçada pelo PSUV governa 265 das 327 prefeituras, 18 das 24 capitais de estado, 80 dos 100 municípios mais populosos e 17 dos 22 estados;
3) Mas o chavismo não é unitário ou homogêneo. Desde 2002, o apoio político de Chávez é mais desorganizado do que se pensa, focado não exatamente no Movimento Quinta República (MVR), mas nos segmentos sociais assistidos pelo Estado;
4) Os setores que conformam hoje a ala radical da chamada “esquerda bolivariana” defendem o conceito de poder popular exercido diretamente pela população, indo além do controle do aparelho de Estado. Alguns coletivos político-sociais vêm da histórica Paróquia (distrito) 23 de Enero, como o Simón Bolívar, Alexis Vive, La Piedrita, Tupamaros e Lina Ron. Outros, são movimentos mais amplos, como as Comunidades al Mando, Misión Boves, Frente Campesino Ezequiel Zamora e a ANMCLA (associação de meios de comunicação alternativos).
5) Existe certa independência política frente ao governo e lealdade inquestionável ao processo bolivariano. Todas estas agrupações têm militantes mortos em seu histórico, boa parte deles executados pela repressão política da chamada 4ª República (até 1998). Daí se reforça a intransigência com a Oposição. Para desespero do próprio Chávez, não são raros os confrontos diretos, algumas vezes a tiros, entre o setor organizado pelo Comando Angostura (pelo Não à Emenda) e estes coletivos.
6) Tampouco são raros os conflitos com o aparato governista, dominado por dirigentes chamados de “direita endógena”. O apelido se justifica na medida em que sua prática política ainda se parece com os tempos dos “adecos” (Ação Democrática).
7) O servidor público venezuelano não entrar por concurso e sim por indicação. Como Chávez acabou com a estabilidade vitalícia, cada grupo que toma uma fatia de poder demite uma leva e põe os seus, do secretário de governo ao contínuo de repartição;
8) Os critérios do presidente para formar sua equipe direta são mais de amizade pessoal do que de capacidade político-técnica. A lista de reclamações contra os “anéis de entorno ao comandante” é enorme.

Meus comentários:
A Venezuela é um país em permanente mobilização, convocadas pelo governo federal. Não sei até que ponto esta mobilização permanente não gera um esgotamento político marcado pelo confronto (muitas vezes mais que conflito) entre diversas alas políticas. Há um permanente calendário eleitoral-plebiscitário (14 pleitos em dez anos). A considerada “direita endógena” ainda tem um grande espaço no interior do governo, tema que não se discute ou analisa no Brasil.
Para piorar o cenário, a Venezuela foi classificada recentemente como o país mais violento da América do Sul, com taxa de 45 homicídios por 100 mil habitantes. 69% das vítimas são jovens (entre 15 e 29 anos, moradores de bairros pobres, como ocorre no Brasil).

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Texto de José Pacheco (Escola da Ponte/Portugal)


AS ESCOLAS INVISÍVEIS
José Pacheco (na foto)
Perguntam os meus patrícios por que razão eu viajo tanto para o Brasil. E eu explico. Se comparadas ao Brasil, as escolas européias dispõem de melhores recursos. Porém, acumulam-se as teses sobre o mal-estar docente, sem que se vislumbre a cura para a maleita dos professores. As escolas do "primeiro mundo" converteram-se ao mundo digital, mas mantêm e reforçam práticas de ensino obsoletas. (...) Há, no Brasil, muitos professores que dão sentido às suas vidas dando sentido à vida das crianças e das escolas. Sinto-me um privilegiado por encontrar no Brasil tanta generosidade e responsável ousadia. Em cada viagem, junto mais uma ou duas novas escolas ao já extenso rol. No extremo norte do país, um colégio busca a forma ideal de escola que dê a todos garantias do exercício da cidadania e da realização pessoal. Num hospital do Sul, uma equipe de professores, técnicos de serviço social, animadores e voluntários suavizam os dias de crianças doentes. Num lugarejo perdido no Nordeste, a fé pedagógica faz milagres e produz um ensino que faria inveja a muito colégio (dito) de elite. Junto ao mar de Santa Catarina, crescem as paredes de uma escola sem paredes, que concretizará o sonho de um pequeno grupo de educadores.
Em São Paulo, um jardim-de-infância feito à medida da criança comove o visitante mais insensível. Na periferia da metrópole, professores e pais juntam-se a amigos e pesquisadores para dar forma a um projecto que transformou "sala de aula" em "espaço de estudo". No Rio de Janeiro, os sonhos de uma escola ganham forma, fazendo das crianças pessoas mais sábias e felizes. Sob o "mar de Minas", uma mulher empenha-se na humanização de uma academia de polícia. Um dos obstáculos à mudança nas escolas é o predomínio de uma cultura pessoal e profissional dos professores, que os convida à acomodação. (...) Assim como certas teorias e pedagogos permanecem invisíveis, também são invisíveis certas escolas. (...) O Brasil desconhece o que tem de melhor. Uma reforma silenciosa, marginal, está acontecendo por aí. Os professores que habitam as escolas invisíveis não recebem reconhecimento público. Por vezes, recebem injustiça, mas dão lições de resiliência. São mal-remunerados, mas não usam o baixo salário como álibi. Não auferem de benefícios nem aspiram à celebridade. Fazem milagres com os recursos de que dispõem, que o Brasil não é pobre em recursos humanos, ele desperdiça recursos. Os educadores anônimos que habitam as escolas invisíveis tecem uma rede de fraternidade. Geram esperança, neste Brasil condenado a acreditar que, pela educação, há-de chegar a uma cidadania plena.

Evasão escolar em Minas Gerais


Entre 2005 e 2007 o número de alunos que abandoram o Ensino Médio (1o ano, diurno) em Minas Gerais aumentou 50% (chegando a 15,5%). Dado do Censo Educacional 2008. Em todos Estados cresceu o número de estudantes qeu não conseguiram se formar. Os pontos de estrangulamento mais significativos estão na 5a série 1o ano do Ensino Médio.
Apesar das pirotecnias publicitárias da Secretaria Estadual de Educação, os números oficiais estampam a real condição da educação mineira. A situação é caótica e o desgoverno é imenso. O país necessita compreender o que se passa aqui, entre as montanhas.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Todos Somos Palestinos


Circula na internet uma lista de apoio às famílias palestinas massacradas pelo exército de Israel. No topo da lista consta apenas o texto de Thiago de Melo que reproduzo abaixo. Para quem deseja apoiar, o email dos organizadores é todossomospalestinos@gmail.com .
«BASTA DE BARBARIE, SÍ, FIRMO Y GRITO EN EL SILENCIO SONORO DE MI FLORESTA AMAZÓNICA. PUEDE TARDAR, PERO TENGO MÁS QUE LA ESPERANZA, LA CONFIANZA EN EL TRIUNFO DE LA GRANDEZA DE LA CONDICIÓN HUMANA, QUE SE ENCUENTRA HERIDA Y AVERGONZADA. EL ODIO CIEGO Y FEROZ QUE SIEMBRA LA MUERTE Y APAGA EL ESPLENDOR FUTURO DE LA INFANCIA DE CENTENARES DE NIÑOS PALESTINOS, SERÁ VENCIDO. PUEDE TARDAR, PERO SERÁ VENCIDO POR EL IRRESISTIBLE PODER DEL AMOR, PIEDRA FUNDAMENTAL DE LA PAZ ENTRE LOS HOMBRES DE LA TIERRA.»

Dom Hélder


Há exatos cem anos nascia dom Hélder Câmara, um dos maiores defensores dos direitos humanos no Brasil.
Hélder Pessoa Câmara, nasceu na cidade de Fortaleza, estado do Ceará, no dia 7 de fevereiro de 1909. Teve 12 irmãos (somente oito conseguiram sobreviver, os demais morreram vítimas de uma epidemia de gripe, que assolou a região no ano de 1905). Sua primeira missa foi celebrada no dia 16 de agosto de 1931, um dia após sua ordenação, aos 22 anos de idade. No Rio de Janeiro, colaborou com revistas católicas, organizou o XXXVI Congresso Eucarístico Internacional, exerceu funções na Secretaria de Educação do Rio de Janeiro e no Conselho Nacional de Educação, fundou a Cruzada São Sebastião, para atender favelados e o Banco da Providência, destinado a ajudar famílias pobres. Em 1952, foi nomeado Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro. No período em que permaneceu lá, exerceu o cargo de Secretário Geral da CNBB. Aos 55 anos, Dom Hélder Câmara, foi nomeado Arcebispo de Olinda e Recife. Assumiu a Arquidiocese, em 12 de março de 1964, permanecendo neste cargo durante vinte anos, durante os anos de chumbo. E justamente neste período se consagrou como liderança social do país, denunciando o autoritarismo e os abusos aos direitos humanos, praticado pelos militares. Por esta atuação, foi chamado de comunista e passou a sofrer retaliações e perseguições por parte das autoridades militares. Foi impedido de ter acesso aos meios de comunicação de massa e de divulgar suas mensagens durante todo o período ditatorial. No final da década de 90, com o apoio de outras instituições filantrópicas, lançou oficialmente a campanha Ano 2000 Sem Miséria.
Dom Hélder foi realmente uma grande liderança e sempre perseguido. Para dar um exemplo: o seminário de formação de novos padres de Recife, sempre inspirado em Dom Hélder, foi duramente perseguido durante a gestão de João Paulo II. Seus seguidores também sofreram na pele. Para dar outro exemplo: Romeu Padilha, muito ligado a ele, quando presidiu a Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural procurou aproximar a extensão rural pública de movimentos sociais e das lutas sociais rurais do país. Não deu outra: foi derrubado pelo então PFL.

Dados e agenda do Fórum Social Mundial


Dados do FSM de Belém:
133 mil pessoas inscritas de 142 países, sendo 15 mil no acampamento da juventude, e em torno de 150 mil pessoas envolvidas. 5.808 entidades e organizações inscritas. A América do Sul contou com 4.193, a África com 489 organizações, a Europa com 491. A Ásia teve 334, a América do Norte 155, América Central 119 e a Oceania 27.

Agenda:
8 de março - Dia dos Direitos da Mulher;
14 a 22 de março - mobilização e Fórum paralelo ao Fórum Mundial da Água de Istambul;
Começa em 28 março, em Londres, a semana de ação a nível do G20;
30 de março - Mobilização contra a guerra e a crise / Dia de Solidariedade com o povo palestino;
4 de abril - Dia de Ação no 60º aniversário da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN);
17 de abril - Dia Internacional para a Soberania Alimentar
1º de maio - Dia Internacional dos Trabalhadores
Julho - dias de Ação do G8 na Itália
12 de outubro - Dia Mundial de Ação para a Proteção da Mãe Terra, contra a mercantilização da vida.
12 de dezembro - Dia de Ação Global sobre a Justiça Climática em conferência de Copenhague, Dinamarca, sobre o clima.

Pacote de bondade para prefeitos


AS "Tendências 2009", produção do Instituto Cultiva, vêm se confirmando. A crise afetará duramente o orçamento das prefeituras neste início de ano, mas será contornada pelo governo federal que, indiretamente, aumentará seu poder político em todo território nacional. Na próxima semana o governo Lula recebe 4 mil prefeitos. Anunciará um pacote de facilidades para os municípios pagarem a contribuição ao INSS, além de uma linha de crédito do BNDES para os municípios rurais adquirirem patrulhas mecanizadas.