sexta-feira, 31 de maio de 2013

Desenvolvimento e Negócios Agropecuários

Alguns analistas avaliam que o crescimento acelerado do agronegócio deve diminuir no próximo período em função da diluição, com o tempo, do impacto da baixa produção de grãos no sul do país, no ano passado. Em 2013, a colheita da soja subiu 23%. A safra do principal produto do agronegócio acabou. Ok, é lógico. Mas é interessante perceber como a cadeia produtiva vai se articulando com outras. Veja a matéria publicada na Folha de hoje:

Venda de aviões cresce 10% ao ano com agronegócio

JOÃO ALBERTO PEDRINI

DE RIBEIRÃO PRETO

A força do agronegócio não está garantindo apenas bons números para a economia do país -seu avanço de 9,7% sobre o trimestre anterior foi o destaque positivo no "pibinho" de 0,6% do primeiro trimestre. Um dos setores que está surfando nessa onda é o da venda de aviões executivos.

Segundo a Abag (Associação Brasileira de Aviação Geral), a venda de jatos, turboélices e helicópteros cresce em torno de 10% ao ano, puxada, principalmente, por clientes ligados à agricultura.
O país se tornou neste ano o primeiro produtor e exportador mundial de soja e o maior exportador de milho e colhe safra recorde de grãos -185 milhões de toneladas.
Segundo a Abag, a grande dimensão do país, a baixa disponibilidade de rotas da aviação comercial e a necessidade de uma logística cada vez mais rápida contribuem para alavancar as vendas.
Editoria de Arte/Folhapress
A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) informou que 122 cidades brasileiras são atendidas por voos regulares. Já a aviação executiva consegue chegar, de acordo com a Abag, a 3.500 cidades.
Essa facilidade de locomoção tem atraído produtores rurais e executivos ligados ao agronegócio, segundo empresas do setor. "O empresário faz a conta e acaba adquirindo o avião", diz o presidente da Abag, Eduardo Marson.
Segundo a associação, o número de aviões executivos subiu 11,4% em um ano. O último levantamento mostra que a frota da categoria passou de 2.898 aeronaves em 2010 para 3.230 em 2011 -dados de 2012 sairão em agosto, no anuário da associação.
EMPRESAS DE OLHO
As empresas que vendem aviões, nacionais e importados, voltam suas atenções para o agronegócio. É o caso da Lider Aviação, que já tem 70% das suas vendas voltadas para essa clientela -em 2011, eram 60%.
O diretor de vendas Philipe Figueiredo disse que a participação do agronegócio na compra de aeronaves tem crescido 15% ao ano. "Vendemos para frigoríficos, usinas [açúcar e álcool], produtores de soja, milho, algodão, criadores de gado."
Leonardo Fiuza, diretor comercial da aviação executiva da TAM, que revende Cessna (aviões) e Bell (helicópteros), disse que o agronegócio é o principal cliente na categoria de aviões turboélices.
Já a Helibras, que vende helicópteros, registrou aumento de 76% no faturamento do ano passado em relação a 2011, passando de R$ 288 milhões para R$ 508 milhões. Do total, 15% das vendas são para o agronegócio. A Algar Aviation informou que, dos 13 aviões comercializados desde 2007, 60% são usados como ferramenta de trabalho para atividades agrícolas.
Na Embraer, as vendas de jatos aumentaram 15% no ano passado em relação a 2011. Cerca de 70% é exportado. Do que é vendido no Brasil, 15% vai para o agronegócio -número expressivo, já que jatos são mais caros e cobrem até distâncias entre países.

Inverno em Monte Sião

Dá uma olhada nesta foto. É uma estilista colocando um cachecol numa das árvores de Monte Sião, sul de MG, distante 150 km de São Paulo e 100 km de Campinas. Dá para ver uma segunda árvore, com outro tipo de cachecol. Uma boa ideia, não?
Monte Sião produz, juntamente com Jacutinga, outra pequena cidade da região, quase metade da produção de malhas do país, aquelas que estão sendo compradas nos shoppings de bacanas do RJ, SP e BH.
Nestes dias, ocorre a Feira da Malha por lá. Temperatura de 11 a 24 graus. A cidade recebe 25 mil visitantes, dobrando a população local.
Toda vez que passo por lá, fico espantado com a modernidade e bom gosto das vitrinas das lojas. São 1.800 empresas de malhas na cidade. Algumas, possuem mais de uma loja.
Paulista (como eu) fala e se orgulha de Campos do Jordão. Cita o frio e a elegância dos visitantes.
Ainda não entendi o motivo para mineiro não falar de Monte Sião. Não fosse o turismo (aliás, ao lado de Monte Sião está Borda da Mata, que produz pijamas e cortinas), já seria motivo para atenção, já que (como noticiei neste blog), Minas Gerais começa a diversificar a pauta de exportação para a China. E um dos produtos que pode significar a virada econômica é vestuário.

A narração mais emocionada do jogo do Galo

Sou corinthiano, mas confesso que nunca ouvi uma narração assim.

Péssima notícia

Fiquei em dúvida se comentava aqui esta notícia. Mas lembrei que criei este blog pensando em ser um diário que me acompanharia em minhas viagens. Depois, foi se transformando em função dos comentários e repercussão na internet. Publico esta breve notícia como um desabafo. Ninguém acredita, mas joguei basquete por algum tempo. Comecei com 9 anos. Um jogo rápido, inteligente, técnico, que gera muita adrenalina. Sempre gostei de armadores ou jogadores clássicos. Daí minha preferência por Marcel (antes, gostava muito do Mosquito), Magic Johnson e Paula. Mas nunca deu para ignorar Michael Jordon, Hortência e Oscar. 
A notícia diz respeito à saúde de Oscar. Em 2011 foi operado para a retirada de um tumor de grau 2 (na escala de 1 e 4) em seu cérebro. No entanto, em uma ressonância realizada durante o monitoramento periódico, foi constatado novo aparecimento, agora em grau 3, o que exigiu a nova cirurgia. Ele reconhece que, apesar de pequeno, o seu tumor é perigoso, mas afirma que em nenhum momento se deixou abater.
Um guerreiro, como sempre. 
Pô! 

A economia mineira está se diversificando, afinal?

Sei que em dia de comemoração de atleticanos, comentar economia é anticlímax. Mesmo assim, lá vou eu. Uma das contradições mais estapafúrdias da economia mineira é ser o terceiro PIB brasileiro e ter a 10a média salarial do país. Consultar o salariômetro (ver AQUI ) é um exercício de masoquismo para quem reside aqui, entre as montanhas. Recentemente, fiz uma consulta sobre as médias salariais mineiras em quase todas profissões disponíveis no site: MG aparece abaixo da média salarial em todas.
Bom, mas hoje o Estado de Minas dá uma boa notícia neste panorama ruim. Minas começa a exportar para a China produtos manufaturados. Não só grãos e minério de ferro. O que pode gerar empregos com maior qualificação e, portanto, média salarial maior.
A matéria destaca que os mineiros estão exportando vestuário e produtos da construção civil. Até própolis de uma marca farmacêutica. São produtos que não terão concorrência chinesa, o que é ainda melhor. Um vestido mineiro é vendido nas prateleiras das lojas chinesas por 1,2 mil reais e os biquinis ao redor de 400 a peça.
Minha equipe está desenvolvendo consultorias para governos municipais do circuito das malhas mineiras. Este é o momento chave para os produtores (micro, pequenos e médios). A produção mineira de malhas responde ao redor de 50% dos produtos vendidos nos shoppings cariocas e paulistas, além de MG. Neste momento, Monte Sião colocou sua feira anual nas ruas. As árvores estão envoltas em cachecóis gigantes e a cidade de pouco mais de 20 mil habitantes é uma festa. Ao redor de 25 mil pessoas estarão por lá.
Daí vem a ausência da presença do Estado com mais vigor, definindo estratégias e articulando ações, como ponto negativo.
Que esta notícia não seja somente fogo de palha.

Crescimento por consumo ou por investimento?

O debate é pouco popular, mas seu resultado pode redefinir o jogo eleitoral de 2014.
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, reafirmou que o carro-chefe do crescimento brasileiro não será mais o consumo, mas o investimento. Posição que converge, em parte, com os argumentos apresentados pela Ministra do Planejamento sobre as prioridades do orçamento de 2014: infraestrutura, logística e políticas sociais como "motor do crescimento para o próximo ano". O PAC, teria dito a ministra, representou um aumento de 51% do investimento público em infraestrutura numa taxa anual duas vezes maior que o crescimento do PIB.
Tudo bem, desde que a taxa de investimento global (envolvendo o setor privado) supere a alavanca do consumo.
Ocorre que o departamento de pesquisas do Deutsche Bank, a despeito dos interesses do setor financeiro) afirmou, desde o início de 2012, que o fôlego do crescimento brasileiro não ultrapassa, nos parâmetros atuais, 4% ao ano, justamente porque a baixa produtividade e dificuldades de investimentos empacam a expansão do PIB. O modelo adotado pelo banco para chegar a tal conclusão é o índice de crescimento que não gera pressão inflacionária. A taxa de poupança variou ao redor de 16% do PIB na última década e o investimento ficou ao redor de 17%. Educação, carga tributária e infraestrutura aparecem no rol de causas para o baixo investimento produtivo.
Em 2012, a taxa de investimento caiu de 19,3% para 18,1%. Queda de 2,3% na agropecuária e 0,8% na indústria. A taxa de investimento no primeiro trimestre deste ano (2013) foi de 18,4% do PIB, abaixo dos 18,7% do primeiro trimestre do ano passado, quando o PIB despencou. Também é a menor taxa do primeiro trimestre desde 2009. Segundo o IBGE, a taxa de poupança foi de 14,1% neste primeiro trimestre, a menor taxa desde 2003.
No Brasil, vivemos um problema histórico da taxa de poupança não acompanhar os momentos de crescimento econômico do país. Veja, abaixo, a curva da taxa de investimento em relação ao PIB.
E assim, a roda gira.
O princípio parece perfeito. O problema é como se apresenta na prática.

Síndrome de Burnout já pode ser epidemia na rede estadual de ensino de MG

Do total de 179.727 educadores da rede de ensino do Estado de Minas Gerais, 63.900 (35,5%) se licenciaram em 2012 por problemas de saúde. Do total de licenciados, 30,8% apresentaram sintomas de transtornos mentais. Todos os anos nossa equipe assessora uma ampla pesquisa em toda rede municipal de ensino de São Paulo (Retrato da Rede, organizado pelo SINESP) e constatamos o alto índice de sintomas da Síndrome de Burnout, que articula aspectos de depressão, desencanto com a profissão, desânimo e angústia. Este ano verificamos aumento do índice de sintomas relacionados ao stress, desencadeado pela alta carga de demandas burocráticas, quadro de profissionais incompleto´, baixo grau de apoio das instâncias superiores do sistema educacional (em especial, em relação ao atendimento à adolescentes em liberdade assistida ou portadores de deficiências) e desvio de função.
Um estudo realizado por Sandra Maria Gasparini, Sandhi Maria Barreto e Ada Ávila Assunção, da UFMG (ver AQUI ) que entre 2001 e 2002, 84,2% dos professores da rede municipal de ensino de Belo Horizonte foram afastados por problemas de saúde. Deste total, 15,3% representavam transtornos mentais.
Estamos no período de realização das conferências municipais de educação (preparação para a conferência nacional que ocorrerá em fevereiro do próximo ano). Um dos temas é justamente valorização do profissional da educação. Infelizmente, o texto oficial do CONAE 2014 (sigla da conferência nacional) destaca a formação do professor e não as condições de trabalho como essencial para o desempenho da função. Estou participando de várias dessas conferências municipais como palestrante e procuro destacar este problema gravíssimo. Mas, muitas vezes, penso que a educação brasileira já definiu um rumo oficial, absolutamente cravado no administrativismo, com foco na melhoria de resultados estatísticos, com baixa repercussão real na vida dos alunos ou mudança do panorama nas salas de aula. Burocratizamos a educação. Aliás, tema que os professores, diretores de escola e coordenadores pedagógicos destacam como grande vilão do aumento do adoecimento de educadores públicos.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Um ambientalista de 6 anos

Alcoolismo e Futebol

O primeiro discurso que ouvimos quando crianças é que o esporte tira a criança das ruas e do caminho do vício. Aí, aparece Maradona. O uso de cocaína deforma seu corpo e a mutação é acompanhada pelos seus fans, perplexos.
No Brasil, o caso nem tão midiático, mas que gerou a mesma perplexidade em seus admiradores foi o de Sócrates. Antes, Garrincha e Adriano Imperador já tinham escancarado seu drama, mas foram tratados como folclore. Como um mosaico que se monta ao longo do tempo, levei um susto ao ver a transformação física de Jardel, ex-centroavante do Grêmio.
O livro de Casagrande deu a explicação que, se de um lado diminui a perplexidade, de outro, assusta. Deve ter sido a intenção do autor porque os dois primeiros capítulos são os mais duros e angustiantes para o leitor.
Outro gremista (que também jogou no Palmeiras e Guarani), João Marcos Coelho, goleiro que chegou a jogar na seleção brasileira, parou de uma hora para outra e não aguentou: desabou. Sem doses cavalares de adrenalina semanal, o vazio foi sendo preenchido pelo álcool. André Neles (o "André Balada"), ex-Palmeiras, confessou recentemente ser usuário de drogas.
Como se fosse para não deixar tudo cair no esquecimento, ao abrir o site da UOL, aparece estampada a internação de Marinho Chagas, lateral da seleção brasileira de 1974, quando foi eleito o melhor lateral da Copa da Alemanha. Está internado, na UTI de um hospital em Natal, resultado de anos de alcoolismo.
A lista é enorme.
Além de Maradona, há muitos e muitos outros casos internacionais, como de Paul Gascoigne.
Casão, mais uma vez, dá a pista: a falta de adrenalina.
A questão é que num mundo em que a fama é instantânea, a lista tende a aumentar.
E o esporte, que parecia ser uma trincheira contra a droga, torna-se justamente a trilha que vai da glória ao desespero.
Difícil, não?


Queda do consumo das famílias pode rebater na política

A queda é significativa e pode abalar os índices de popularidade do governo federal. O gráfico que ilustra esta nota foi produzido pelo IBGE e divulgado ontem. O consumo representa compra de 65% do que se produziu no Brasil no primeiro trimestre.
A má notícia para o governo Dilma se soma ao crescimento pífio do PIB (menos de 1%) e ao boato sobre o bolsa família (que revelou insegurança dos beneficiários, eleitor central do lulismo), criando um panorama ou conjuntura desfavorável em termos de imagem governamental.
Em breve, teremos pesquisas do IBOPE e Datafolha revelando qual o impacto desta conjuntura sobre a avaliação popular a respeito da performance de Dilma. Se revelar queda de popularidade é bem provável que abalará a confiança interna da equipe ministerial. Minha avaliação se relaciona à orientação assumida pela área econômica de diminuir os estímulos ao consumo popular e construir a transição do crescimento pelo consumo para crescimento pelos investimentos (daí, medidas que visam baixar o custo de produção). Ocorre que a economia nacional se segura no vigor da agropecuária e não no desempenho industrial, setor privilegiado pelas medidas governamentais.
O fato é que as medidas tópicas adotadas recentemente podem ter reduzido o ritmo da curva descendente de nossa economia. Mas ela persiste. E a persistência pode abalar a confiança do brasileiro de baixa renda.
A partir daí, restará saber se a oposição conseguirá alterar seu discurso e se apresentar como alternativa mais segura. Algo que, até agora, não parece ter tido competência.

terça-feira, 28 de maio de 2013

País de sinais trocados

Comecemos com o lugar comum: o voto, hoje, está condicionado pelo consumo. Reserve num prato e continue a receita. É aí que a jurupoca pia. Qual o resto da receita?
Hoje temos três notícias conflitantes.
A primeira (positiva): segundo o ranking da QS University para a América Latina, o Brasil possui 4 das 10 melhores universidades desta porção do planeta. Aparecem na lista, em ordem decrescente: USP, Unicamp, UFRJ e UFMG. Os critérios adotados são, dentre um total de sete: qualidade da pesquisa, empregabilidade dos formandos, recursos de ensino e presença na internet.
A segunda (negativa): batemos nosso recorde de endividamento familiar. Segundo o Banco Central, as dívidas da família, em março, representou 43,9% da renda anual. O principal fator é financiamento habitacional contraído.
A terceira (negativa): a diretoria da CEF admite erro na história do boato do bolsa família. Embora os autores da boataria tenham sido levianos ou criminosos, contaram com a colaboração do banco estatal. O presidente da Caixa pediu desculpas pela liberação antecipada do Bolsa Família (que procurava corrigir erros no cadastro).
A questão passa a ser: qual o peso em termos de percepção e intenção de voto do cidadão?
Imagino que é ponto pacífico que o ranking das universidades não deve ser motivo de comemoração nem mesmo entre universitários das quatro melhores. Portanto, não deve mudar absolutamente nada na percepção dos brasileiros.
Mas a segunda, combinada com a terceira, podem criar uma fissura na percepção de estabilidade do consumo familiar. Principalmente a história dos boatos. Ao alterar a data de pagamento, obviamente que o governo sinalizou mudança. E mudança, sem explicação de motivos, gera dúvidas, desestabiliza a confiança.
Não foi um erro qualquer da diretoria da CEF. Poderiam ter explicado, o que obviamente desencadearia a corrida às agências bancárias. Mas imagino que se a explicação fosse bem feita, a corrida (que, afinal, ocorreu, mesmo sem explicações) poderia ser motivada por alguma esperteza ou necessidade imediata, mas não por desconfiança do programa sofrer cortes. O ânimo de espírito seria outro.
Também abala a capacidade gerencial e técnica da Presidente e seu controle sobre sua equipe.
Nada que possa alterar significativamente a imagem do governo. Mas, convenhamos, os sinais de Brasil Grande estão se desfazendo aos poucos.



Piloto de Curso sobre História do Sindicalismo Brasileiro

segunda-feira, 27 de maio de 2013

PT retira propaganda do PSDB com Aécio

Não é algo que me parece um bom caminho. Prefiro o debate de ideias, de propostas, de críticas. A diferença ajuda o cidadão a escolher caminhos, a pensar melhor sobre os rumos que deseja para o país. Quanto mais propagandas, debates e discursos à disposição, melhor para a democracia. Principalmente num momento como o atual, em que a inteligência parece arriar e o país entra num estado de letargia mental e intelectual.
No programa do PSDB que foi ao ar no último dia 21 (a foto que ilustra esta nota foi tirada deste programa), o senador Aécio Neves citava as ações do governo mineiro como cartão de visitas. O PMDB mineiro veiculou uma peça de TV muito agressiva, desmontando cada dado ou argumento. Veja uma das peças divulgadas na TV, abaixo.
Haveria o retorno da propaganda tucana, prevista para amanhã e 1o de junho.
Aí o PT impetrou uma ação junto ao TSE e a ministra Laurita Vaz deferiu, suspendendo a propaganda.
O fundamento foi o uso de linguagem em primeira pessoa. Algo que parece frágil. E se aparecerem duas lideranças, uma elogiando ou citando a outra?
Não vejo o que a democracia perde se Lula, Dilma, Aécio, Campos e Marina Silva apresentarem, na primeira pessoa, o que acreditam que tenham feito de bom. Imagino que erro de informação poderia ser contestada com algum direito de resposta ou algo que o valha. Mas o silêncio é sempre pior numa democracia. Como dizia Hannah Arendt (em outras circunstâncias, é verdade): o silêncio é o início do fascismo. Sem diálogo, sem ouvir o contrário, sem ao menos dar atenção ao contrário, não há como ter respeito democrático.
Transformar eleição em guerra, em fatalidade (para o adversário) ou num Coliseu de Roma dos tempos modernos é um erro grosseiro.
Não se trata de direito de defesa, mas de adestramento do debate político-eleitoral. Algo que se parece com a judicialização da política, onde o que menos conta é o julgamento do cidadão.



Editora Abril e o pêndulo ideológico

A CAMINHO DO CONGRESSO I
EXTERNA. RUA – DIA
Com a Veja nas mãos, ALUNA espera em uma esquina.

A CAMINHO DO CONGRESSO II
EXTERNA. BANCA DE JORNAIS – DIA
ESTUDANTE, segurando a Veja, anda de um lado para o outro.

A CAMINHO DO CONGRESSO III
EXTERNA. PONTO DE ônibus – DIA
Vários ESTUDANTES, com a Veja nas mãos, entram em um ônibus fretado.

A CAMINHO DO CONGRESSO IV
EXTERNA. BAIRRO – DIA
Na esquina de um bairro nobre, ESTUDANTE com a Veja na mão.

O que você leu acima é parte do roteiro do filme "Batismo de Sangue". A Veja nas mãos dos estudantes identificava os estudantes/delegados que participariam do Congresso de Ibiúna. Ontem, Roberto Civita faleceu. O que me chama a atenção é a guinada editorial, lenta, mas firme, da editora Abril. É difícil imaginar que a editora que foi ícone das inovações e vanguardismo editorial no Brasil, tenha alterado seu foco para algo próximo da linha adotada pela Fox, nos EUA.
Gente da minha idade ainda se lembra da revista Realidade ou das coleções que elevaram o mundo dos jovens leitores (Os Economistas, Os Pensadores, Coleção da Música Popular Brasileira, Coleção de Jazz, Os Cientistas, e tantas outras). A redação era primorosa.
O que teria ocorrido para tal mudança?

Matéria da Folha relativiza ganhos da política de transferência de renda

Matéria divulgada hoje pela Folha (reproduzida abaixo) sugere que o ganho de renda auferido pelas políticas de transferência de renda não muda significativamente o patamar de exclusão social dos beneficiários, em especial, em relação ao acesso ao emprego e educação. Os jornalistas João Carlos Magalhães e Breno Costa analisaram os dados do Índice de Desenvolvimento da Família (IDF) e concluem que dificilmente as famílias que recebem bolsas de complemento de renda conseguirão sair de suas condições de exclusão sem políticas governamentais. Tal conclusão se alinha com a crítica mais ácida ao programa desde o seu início: a dificuldade de se pensar uma porta de saída para os beneficiários, criando forte dependência em relação ao Estado para se reproduzir socialmente.
Pelos dados divulgados pela Folha, o Bolsa Família estaria se consolidando como política de proteção (aquela que é sustentada pelos liberais) e não como política de promoção (aquela sugerida pelos socialdemocratas). Ao apenas proteger, afirmavam os liberais dos anos 1990, o Estado só garantia condições de sobrevivência e algo relacionado com competências para a concorrência no mercado. As políticas de promoção, ao contrário, investem recursos públicos para a superação das condições iniciais do beneficiário. Se formos rigorosos, nem mesmo a concepção liberal parece ser atendida na medida que o acesso à educação (um dos três pilares da proposta liberal, ao lado de segurança e saúde) estaria garantida.
A matéria reabre um importante debate público sobre o desenho das políticas federais que melhoram efetivamente as condições de vida da população a partir de sua instalação, mas não geram um novo patamar de cidadania no decorrer dos anos. Não se formaria uma nova dinâmica social a partir da proteção básica estar instalada o que sugere a "estatalização" no Brasil, termo utilizado por Claus Offe para denominar a dependência social em relação ao Estado.

Maior renda não erradicou miséria social
JOÃO CARLOS MAGALHÃES
BRENO COSTA
DE BRASÍLIA

O governo Dilma Rousseff melhorou a renda dos pobres, mas não solucionou seus níveis miseráveis de acesso a emprego e educação. É o que revela um indicador que o próprio governo federal usa para analisar a pobreza no país, cuja base de dados de dezembro de 2012 a Folha obteve por meio da Lei de Acesso à Informação.
Chamado de Índice de Desenvolvimento da Família (IDF), ele é aplicado ao Cadastro Único (banco de dados federal sobre famílias de baixa renda) e possibilita uma mensuração detalhada da situação do pobres. Em vez de definir a pobreza só pela renda, como faz a propaganda oficial, o IDF a divide em seis dimensões: vulnerabilidade da família, disponibilidade de recursos (renda), desenvolvimento infantil, condições habitacionais, acesso ao trabalho e acesso ao conhecimento.
Cada uma delas ganha uma nota, que varia de 0 a 1, onde 1 significa que a família tem todos os direitos fundamentais ligado a cada dimensão garantidos, e 0 significa que tem todos eles violados. Juntas, essas seis notas criam uma média geral que, no caso dos pobres brasileiros, está em 0,61.
O índice de renda, por exemplo, está acima da média: 0,63. Essa performance tem relação com as mudanças feitas no Bolsa Família, que elevaram o orçamento do programa em cerca de 67%, chegando a R$ 24 bilhões. A última ampliação, feita em 2013 e, portanto não captada pelos dados obtidos pela reportagem, concedeu um complemento para quem tivesse rendimento mensal per capita inferior a R$ 70, considerado pelo governo teto para caracterizar a miséria.
Os problemas se localizam nas dimensões "acesso ao conhecimento" e "acesso ao trabalho". O índice da primeira, que capta a situação de adultos e de parte dos jovens, está em 0,38. O da segunda, em 0,29.
É difícil fazer uma análise comparativa dessas notas, uma vez que não existem cálculos recentes do IDF para toda a população. No entanto, uma maneira de traduzir as notas é pensar que o IDF foi concebido no segundo governo Fernando Henrique Cardoso para medir o grau de acesso a direitos fundamentais por meio de perguntas objetivas:  a cada "sim" a nota aumenta, e a cada "não", diminui. Aplicando essa ideia à nota geral, é como dizer que os pobres brasileiros têm acesso a 61% de todos os seus direitos fundamentais e são privados de 39% deles.
Em relação às notas mais baixas, é como dizer que eles acessam 29% dos direitos ligados ao trabalho e 38% dos relativos ao conhecimento. Alguns componentes detalham essas dimensões. Por exemplo, a proporção de famílias pobres com ao menos um adulto analfabeto, que supera os 80%.
Como o país experimenta algo próximo do pleno emprego, uma possível explicação é que a falta de formação nessa fatia da população é o maior limitador para que ela encontre trabalho.
A baixa nota das duas dimensões indica também que o número de pessoas que precisa do Bolsa Família não deve diminuir tão cedo, porque o emprego e a educação são tidas como as principais "portas de saída" do programa.
OUTRO LADO
O Ministério do Desenvolvimento Social afirmou que o país experimenta "inegáveis" avanços na educação e no trabalho, que não necessariamente são captados pelo Índice de Desenvolvimento da Família (IDF).
"O Cadastro Único tem particularidades, entre elas o fato de as pessoas buscarem o cadastramento exatamente quando enfrentam períodos de dificuldades socioeconômicas e choques negativos, como perda de emprego", afirmou a pasta. "Dessa maneira, os inegáveis avanços que o país teve nas áreas de educação e trabalho são muito mais bem capturados por meio de fontes de dados voltadas especificamente a esses temas, como, por exemplo, o Censo da Educação Básica."

Em relação à dimensão "acesso ao conhecimento", a pasta informou que ela está "focada na escolaridade dos adultos e não das crianças e adolescentes, público-alvo do acompanhamento das condicionalidades do Bolsa Família". A dimensão que mede o grau de desenvolvimento infantil obteve a melhor nota no IDF, alcançando 0,85. (JCM e BC)

domingo, 26 de maio de 2013

O futuro do orçamento participativo

Hoje, recebi uma questão sobre o futuro do orçamento participativo (OP) no Brasil.
A pessoa que me enviou a dúvida sentia que havia resistência, passadas mais de duas décadas após a primeira experiência de OP.
Segundo Danielle Martins Duarte Costa (Acesse AQUI os Cadernos de Gestão Pública da FGV e busque a edição número 15, onde consta o ensaio desta autora), há dois registros sobre o número de experiências de OP no Brasil, de 1989 e meados dos anos 2000: 177, para o pesquisador Brian Wampler e 194, registrados pelo Projeto Democracia Participativa da UFMG. Tal discrepância já indica as dificuldades de acompanhamento e registro dessas experiências. Importante ressaltar que a autora destaca que 26 municípios mantiveram a experiência por três gestões e outros 5 mantiveram por quatro gestões, em especial, envolvendo as regiões sul e sudeste do país (SP, MG, RS e RJ se destacam).
A lógica adotada, de democracia direta, propiciou maior envolvimento de municípios com até 100 mil habitantes nesta experiência. Mais: 53% das gestões que a implementaram eram petistas (seguida pelo PSDB, com 13% e PSB, com 11%). A autora relata casos de conflito no interior do governo e com as bancadas governistas na condução do OP (como em Caxias do  Sul, Franca, Jaboticabal, Barra Mansa, Teresina) ou outros tipos de tensão com a população e entidades locais ou, ainda, baixa participação social (Volta Redonda, Chapecó, Vitória, Piracicaba, Santo André e Icapuí, entre outros), embora uma parcela significativa tenha tido envolvimento e coesão política na sua condução (em especial, em Porto Alegre, Belo Horizonte, Ipatinga, Vila Velha, Angra dos Reis, Recife e Belém).  
A participação, no período estudado, da população local nas plenárias do OP girou ao redor de 1% a 2% do total dos cidadãos dos municípios, chegando, contudo, a 10% em Gravataí; 17% em Belém; 21% em Ipatinga; 22% em Icapuí e 25% em Recife.
O OP definiu o uso de, no máximo 36% do orçamento total (caso de Belém), mas com maior frequência, o percentual do orçamento total discutido pela população ficou entre 5% e 10%.
Valdemir Pires e Larissa Martins avaliam que, passados vinte anos de experiências de OP, esta iniciativa continua sendo pouco avaliado, entendido e explicado em termos de sua dimensão técnica orçamentária-financeira (acesse AQUI a Revista Capital Científico e busque o volume 9, n.2, de julho./dezembro de 2011).
Durante todo este período, muitas críticas foram se acumulando em relação à dinâmica do OP.
Inicialmente, a maior crítica tomou forma ao longo dos anos 1990, sobre o uso partidário das plenárias e certo desgaste em relação às obras que não se efetivavam. Muitos dirigentes, inclusive petistas, revelavam preocupação com a participação dos segmentos organizados nas plenárias, muitos militantes partidários, que já tinham acesso ao governo local por vários outros mecanismos políticos. O OP não se enraizava.
Em relação à falta de implementação das obras definidas nas plenárias, um dos casos que se tornaram públicos foi o do OP de Belo Horizonte, onde a imprensa local criticou obras definidas pelas plenárias que aguardavam para sair da gaveta por mais de seis anos.
Também se criticava a falta de participação das secretarias (principalmente as grandes, como educação e saúde, que possuem mecanismos próprios de definição de estratégias e obras). Finalmente, conflito entre conselhos de gestão (ou setoriais/direitos) e OP, disputando espaços de deliberação (o caso mais evidente ocorreu em SP, durante o governo Marta Suplicy).
A partir de 2006, quando o governo Lula define sua lógica de condução orçamentária e de apoio às prefeituras, os recursos para investimento (justamente os que são, em parte, definidos pelo OP), passaram a se concentrar na União e repassados às Prefeituras através de convênios. Ora, tal situação diminuiu em muito a autonomia dos governos locais em definir os investimentos e conduzir obras. Os convênios federais são acompanhados de metas e sistemas de monitoramento fechados, como pacotes de investimentos, com formas próprias de controle e protocolos de ação.
Um exemplo das escolhas do governo Lula foi a substituição do controle social do Fome Zero (através dos "talheres" que estavam sendo construídos por Frei Betto e Ivo Poletto) pelo controle das prefeituras (aliás, motivo de saída dos dois do governo federal, além da imposição da lógica da focalização pelo Ministério da Fazenda).
Há portanto, toda uma engenharia das políticas públicas federais que determinam a lógica da gestão local.
Em suma, a experiência do OP ainda está em curso e pode ser aprimorada. Trata-se de uma das experiências mais auspiciosas do participacionismo elaborado ao longo dos anos 1980 em nosso país mas que ainda precisa encontrar seu lugar na gestão pública brasileira. Além do enfrentamento com a lógica matricial e burocrática do Estado brasileiro, verticalizado e autocrático, nos últimos anos precisa enfrentar a concentração orçamentária pública (ao redor de 60% do orçamento público concentra-se na União) que esvazia o papel protagonista das gestões municipais.

Conservadorismo e distorção da representação na Câmara Federal

Recente pesquisa divulgada pelo IPEA revelou que há forte relação entre valores conservadores (e passividade política) e grau de instrução. Nesta pesquisa, para 56% dos analfabetos, a desigualdade social é natural, índice que decresce em função da escolaridade dos entrevistados.
O ceticismo também se relacionaria com o grau de instrução: quanto menos instruído, mais cético é o brasileiro em relação à sua capacidade de influenciar governos.
A relação também se verifica no que tange aos valores machistas: 22% dos analfabetos concordam que o homem tem direito à dar a última palavra na decisão do casal, caindo para 8% no caso dos que possuem título universitário.
Em alguns casos, a renda também define um diferencial: 62% dos brasileiros com renda inferior a 162 reais mensais discordam do direito ao aborto (o índice cai na medida em que aumenta a renda). Sabemos que grau de instrução se relaciona com renda, embora um indicador possa ser mais revelante em uma ou outra questão.
Ocorre que este viés conservador dos menos instruídos não se relaciona com a representação parlamentar na Câmara Federal. Por diversos motivos. Um deles é o grau de instrução dos parlamentares, muito superior à média dos eleitores mais conservadores. Mas também em virtude da lógica parlamentar brasileira, absolutamente apartada da lógica social, cotidiana. As relações de dependência no interior da casa parlamentar e o padrão de vida que levam aumentam a distância com o mundo do seu eleitor.
Evidentemente que, na medida em que o processo eleitoral se torna mais dependente das orientações da equipe de marketing (que se orienta por pesquisas quantitativas e qualitativas de opinião do eleitorado), as posições públicas se realinham ou ficam mais apimentadas a cada dois anos.
Vejamos alguns dados que fundamentam a hipótese do conservadorismo diacrônico (da Câmara e da sociedade civil).
Leôncio Martins Rodrigues já havia revelado que as bancadas federais possuem um alto índice daqueles que possuem título universitário (73%, em levantamento realizado em 2002). No seu levantamento, as posições conservadoras defendidas por deputados federais vinculavam-se mais ao perfil profissional (empresários, profissionais liberais e membros da alta burocracia pública). Já as posturas mais progressistas entre os parlamentares da Câmara Federal, relacionavam-se com as categorias de professores, trabalhadores industriais e do setor de serviços e alguns trabalhadores rurais (Ver Partidos, Ideologia e Composição Social, Edusp, 2002).
Em termos de preferências religiosas, também  não há correspondência entre parlamentares com viés fundamentalista. As igrejas mais atuantes em termos de defesa de valores conservadores são as evangélicas (pentecostais e principalmente neopentecostais). Pois bem, a bancada evangélica perfaz 15% do total dos deputados federais, abaixo do índice dos brasileiros que se afirmam evangélicos.
Desde a eleição de Lula para a Presidência da República o realinhamento ideológico parece ter se configurado a partir da disputa eleitoral, tendo como eixo, até o momento, a polarização PT-PSDB. Celso Roma (USP), sugeriu, antes da eleição do petista, que os blocos partidários (em função das votações analisadas pelo autor) já se dividiam em duas grandes facções ideológicas: mais a esquerda, envolvendo PT PDT PCdoB PCB e PSB; e mais à direita, envolvendo PMDB PPR/PPB PSDB PTB PFLe PL.  
O conservadorismo societal se espalha pelo Brasil pelos motivos já expostos neste blog (inserção social pelo consumo e rebaixamento da ação pedagógica do PT), mas o que se percebe é que o sistema político nacional interdita o canal comunicante entre parlamento e eleitores. 
O que ainda salva o país, paradoxalmente.


sexta-feira, 24 de maio de 2013

VII Encontro da Rede Brasileira de Orçamento Participativo


Presidente com alma de prefeita

Matéria do Valor Econômico que revela o que se diz com frequência no meio político (incluindo petistas).




Presidente com alma de prefeita

 

Valor Econômico (Raymundo Costa, Mônica Scaramuzzo e Fernando Exman)

 

Eleita sob uma espécie de predestinação, a de fazer da Presidência um lugar para gerentes rigorosos, Dilma Rousseff viu-se cercada de expectativas de eficiência que seriam abaladas, sobretudo depois do "pibinho" de 2012. Seu estilo centralizador e impositivo está incluído nas críticas que são feitas, também na Esplanada dos Ministérios, às suas qualidades como gestora - que ela mesma define como a de uma "prefeita", sempre atenta a detalhes e cobrando resultados. Entre empresários ouvidos pelo Valor, a capacidade de administração da presidente é reconhecida, apesar de certa inapetência para a delegação.

Muitos, no entanto, consideram sua equipe fraca.


Um dos principais integrantes do governo chegou animado à segunda reunião do  ministério de Dilma Rousseff. Era janeiro de 2012. O primeiro ano de mandato da  primeira mulher a ocupar a Presidência da República decididamente não fora bom.  Em maio, Dilma contraiu uma pneumonia e ficou mais tempo que o esperado em  recuperação. A doença a abateu. Dois anos antes a presidente se submetera a um  intensivo tratamento de um câncer linfático. Em junho, demitiu Antonio Palocci,  ministro que deveria ser uma espécie de eminência parda na Casa Civil, dando  início a uma sequência de outras seis demissões no ministério, no que ficou  conhecido como "faxina ética". Para piorar as coisas, em 2011 o país teve um  crescimento pífio, de 2,7% do PIB.

O auxiliar de Dilma matutava sobre essas coisas quando a presidente começou a  falar. Aquela era a hora de deslanchar - pensou ele, ainda animado. As  principais gavetas da República estavam abarrotadas de projetos para a área de  infraestrutura, como as concessões de aeroportos, rodovias, portos e ferrovias.  Mas, à medida que a "presidenta" falava ele foi "afundando na cadeira". Dilma  disse que governaria "como uma prefeita" e anunciou a criação de um sistema de  monitoramento de todos os programas do governo federal. Falara a "gerentona" da  Casa Civil - a que gosta de mandar. Faltara o líder, aquele que convence e  estabelece as grandes metas, como os "50 anos em 5" de Juscelino Kubitschek.

Em vez de deslanchar, como esperava o auxiliar e amigo de Dilma, 2012 foi o  ano do "pibinho" - 0,9%. E a presidente começou a ser questionada como  "gestora". Até o venerável "Financial Times", em editorial desta semana, chamou  a atenção para o estilo centralizador e "mandão" da presidente. Na realidade,  segundo apurou o Valor, a formatação celular, ao lado do estilo  centralizador da presidente, é um dos motivos que travam governo, deixando-o  vagaroso e pesado. Dois ministros ouvidos pelo jornal disseram que o governo é  dividido em "células", no modelo da guerrilha, por razões de segurança. As  informações são compartimentadas e muitas vezes uma célula não sabe o que a  outra está fazendo.

O estilo "mandão" de Dilma era conhecido desde que se tornou ministra  das Minas e Energia do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Outros traços  marcantes apareceram ou se tornaram mais visíveis quando chegou à Presidência.  "Eu sou a presidenta, eu posso", passou a ser frase rotineira em conversas com  assessores próximos. Alguns pensavam, mas não diziam: "Pode, mas será que  deve?".

Nos últimos dias, o Valor procurou 18 importantes  empresários e altos executivos de grandes corporações do país. Dez concordaram  em avaliar a presidente como gestora, oito sob a condição de anonimato.  Administradora eficiente e perfil de liderança são qualidades que a colocariam  no radar de "headhunters" para importantes cargos de comando em grandes  corporações. Mas esses requisitos não são suficientes para bancá-la como uma  grande gestora, como foi alardeado pelo PT. A competência da presidente não é  colocada em dúvida, mas a de sua equipe sofreu um verdadeiro bombardeio dos  empresários e altos executivos.

"Ela está cercada de pessoas medíocres, que não a questionam. Todo mundo  morre de medo dela. Ela não tem humildade para escutar os outros. Não dá para  ter 39 ministérios, 39 subordinados. Em uma empresa, esse modelo não  funcionaria", disse um alto executivo de um banco de investimento. A imagem de  pessoas centralizadoras hoje está muito associada a empresas de donos,  fundadores de grandes grupos de primeira geração. "Fui muito centralizador, mas  esse modelo não funciona mais. Tem que delegar e ouvir mais", disse um grande  empresário do setor de infraestrutura e energia.

"Assim como uma grande empresa, seria interessante terceirizar funções e  estabelecer metas para o alto escalão, cobrar resultados", disse Theo Van der  Loo,presidente da Bayer no Brasil. Para Luiza Helena Trajano, presidente da  Magazine Luiza, a presidente Dilma "possui um perfil técnico de gestão,  administrando essa complexa máquina do governo em busca de resultados como uma  empresa". Segundo a empresária, Dilma tem desafios como reformas necessárias ao  país, organização de alianças, inflação, crise internacional e o de avançar no  crescimento continuando com a distribuição de renda. "O modelo da máquina  governamental emperra muitas das tentativas de administração mais ágil",  disse.

Lula, na visão de um empresário da agroindústria, não era considerado um bom  gestor, mas se cercou de pessoas competentes. "Ela não é cria política. Foi  colocada pelo PT. É como se um empresário colocasse o filho na presidência. É como se ela tivesse pulado a fila".

"Uma pessoa que não delega, como é o caso dela, não faz os processos andarem.  Isso não estimula equipes. Em uma empresa, por exemplo, esse modelo não permite  o crescimento de pessoas. Já existe uma preocupação política para 2014. Se ela  for reeleita no primeiro turno, vai exacerbar esse lado dela [autoritário]",  afirmou um alto executivo de uma grande construtora. Sem a obrigação de buscar a  reeleição, Dilma "vai tocar o terror", concorda um ministro.

Dilma parece ter ouvido as queixas dos empresários e abriu mais sua agenda. A  bem da verdade, diga-se que Lula, quando os dois se encontraram em Paris, no fim  do ano passado, sugeriu que a presidente conversasse mais com o setor privado.  No início de 2012, ela havia pedido que investissem no país. Dilma convocara o  encontro para "ouvir" os empresários. Falou cerca de 30 minutos, o ministro da  Fazenda, Guido Mantega, outro tanto e depois deu três minutos para cada  empresário expor seu ponto de vista. Em um dos encontros, o único empresário a  fugir das obviedades foi Joesley Batista, da JBF: "Estão dizendo que o problema  todo é aqui em Brasília, que o governo não decide nada".

Em pouco mais de cem dias de 2013, Dilma esteve mais com empresários que nos  dois primeiros seis meses de seus dois anos de: Foram 36 audiências públicas e  participação em eventos, segundo a sua agenda pública. Em seis meses do ano  passado foram apenas sete. Dilma abriu mais sua agenda não só a empresários, mas  também a políticos e ministros. Isso foi logo associado à ideia da reeleição.  Para o Palácio do Planalto, nada mais natural: o governo ficara virtualmente  paralisado, entre julho e dezembro do ano passado, enquanto discutia as  concessões de aeroportos, rodovias, energia elétrica, portos e ferrovias. Havia  dias em que as reuniões demoravam até oito horas seguidas. Mas auxiliares de  Dilma reconhecem que a centralização na Casa Civil não torna "mais ágil" o  governo.

A demora para decidir a que se referiu Joesley Batista é outro aspecto que  ministros e empresários criticam em Dilma. Até hoje, por exemplo, ela não  indicou um ministro para a vaga de Carlos Ayres Britto no STF. Ele se aposentou  em novembro do ano passado. Ela já havia demorado quase três meses para indicar  a ministra Rosa Weber. Não se pode dizer que a demora é regra para a escolha de  ministros do Supremo: em apenas 18 dias ela indicou o ministro Teori Zavascki  para a vaga aberta com a aposentadoria, no fim de agosto - em pleno julgamento  do mensalão - do ministro Cezar Peluso. A mesma coisa ocorre em relação às  agências reguladoras - Dilma levou quase um ano para nomear o substituto do  atual governador de Brasília, Agnelo Queiroz, para a Agência Nacional de  Vigilância Sanitária (Anvisa).

Dilma reafirmou sua autoridade presidencial logo no primeiro ano de governo.  Herdara 15 ministros do antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva. No governo  anterior, eram todos colegas. Agora, precisava dar uma demonstração de que os  tempos do governo Lula haviam passado, ela era a presidente e os ministros, seus  subordinados. Hoje, a escolha parece óbvia: Nelson Jobim, ex-presidente do  Supremo Tribunal Federal, e ministro da Defesa, era o candidato ideal.

Jobim já não era mais o colega que articulava com Guido Mantega, à época  ministro do Planejamento, contra o poderoso ministro da Fazenda Antônio Palocci,  mas agia como tal. E Dilma precisava deixar claro de uma vez por todas o "agora  quem manda sou eu". É verdade que o estilo do ministro - muito parecido com ode  Dilma - ajudou bastante a presidente. Em duas entrevistas em sequência, como se  estivesse testando a autoridade de Dilma, o ministro declarou que votara em José  Serra (PSDB) para presidente, que a ministra Ideli Salvatti era "muito  fraquinha" e que a chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, sequer conhecia  Brasília.

"Você volte a Brasília que eu preciso falar com você", foi o recado curto que  ele recebeu de Dilma quando se encontrava em Tabatinga (AM), na fronteira do  Brasilcom a Colômbia. O vice-presidente Michel Temer, que o acompanhava, completaria a agenda programada e depois deu carona de volta ao pessoal deJobim  que ficara em Tabatinga. O ministro escreveu a carta de demissão a bordo do  avião da FAB, enquanto voltava para a cidade que Gleisi mal conhecia.

A demissão do ministro da Defesa não deixou de ser simbólica: demonstrou o  gosto da presidente pelo exercício da autoridade. Outros traços de Dilma já eram  conhecidos, como o centralismo, o detalhismo - quer saber tudo sobre todos os  projetos - e a capacidade de deixar interlocutores ruborizados. Um deles diz que  a "presidenta" - Dilma exige ser chamada assim - é bem informada, tem acesso a  muita informação de governo e interesse pessoal de "estar por dentro". Lê muito.  Dos jornais aos projetos de governo que leva para o Palácio da Alvorada. A  receita para o ministro agendado para uma audiência, portanto, é saber do que  ela já está informada e falar só o que a presidente precisa saber.

Não é incomum Dilma interromper o interlocutor com frases do tipo "não quero  falar disso" ou com perguntas sobre uma minúcia qualquer do funcionamento do  ministério que o ministro evidentemente desconhece. Os empresários estão certos  quando dizem que Dilma causa pavor aos auxiliares, inclusive ministros. Na  realidade, alguns preferem enviar seus secretários-executivos para os despachos.  É certo que Dilma às vezes até gosta, pois trata-se de alguém que ela mesma pôs  no posto - oficialmente, para ter uma visão alternativa da pasta; na prática, um  atento vigia dos atos do ministro e, às vezes, do próprio ministro. Garibaldi  Alves (Previdência Social), de início se queixava de não ter o que fazer - tudo  era tocado e formulado pelo secretário Carlos Bargas. Com o tempo, Garibaldi,  ex-presidente do Congresso, se acostumou e parou de se queixar ao PMDB.

Prova do prestígio de certos secretários-executivos: com seu relacionamento desgastado com o secretário Alessandro Teixeira, o ministro do Desenvolvimento,  Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, amigo de guerrilha da presidente,  queixou-se de que a convivência entre os dois tornara-se insustentável e o  melhor seria a saída de Teixeira. Dilma concordou, mas parece não ter sido clara  o suficiente, para Pimentel, que desejava encontrar antes um outro lugar para o  secretário. Apressado, Pimentel assinou a exoneração e enviou o documento para a  seção que trata de pessoal no Palácio do Planalto. Avisada, Dilma desautorizou  publicamente o ministro e mandou devolver o ofício. Alessandro saiu. Mas quando  Dilma quis.


O Valor apurou que o ministro José Eduardo Cardozo, por mais  de uma vez, levou um projeto de um secretário do Ministério da Justiça para  apresentar àpresidente. E sempre voltou ao ministério com a mesma resposta a  seu auxiliar: não falara do projeto com a presidente porque Dilma não dera  abertura na conversa. Então, havia tratado especificamente do assunto pautado na  agenda.

Cardozo, ex-deputado e um dos "três porquinhos" do comitê eleitoral de Dilma  (os outros dois eram os também gordinhos José Eduardo Dutra e Antonio Palocci),  ainda é um dos ministros com mais acesso a Dilma. Nos quase dois anos que passou  na Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), Moreira Franco esteve comela  apenas uma vez - levado pelo vice-presidente Michel Temer.

Brasília é uma cidade de muros baixos e os congressistas não são propriamente  conhecidos por guardar segredos dos outros. O próprio Cardozo, conta-se no PT,  foi surpreendido por anúncios de medidas de defesa do consumidor feitos por  Dilma no Dia da Mulher. Ele apenas havia comentado, numa audiência anterior, que  estava trabalhando "em medidas na área da defesa econômica". Não tinha nada  pronto.
No PMDB, Edison Lobão (Minas e Energia) costuma reclamar que não consegue  nomear ninguém para a pasta que dirige. Em conversas com jornalistas, é só amor:  "A presidenta é uma pessoa extremamente competente, tem boa memória e não é  exatamente centralizadora, como se diz. Apenas quer saber se o argumento do  ministro é consistente".

O Código de Mineração levou nove anos sendo elaborado pelo ministério que, no  governo Lula, foi comandado por Dilma Rousseff. Toda semana Lobão responde que  "em 15 dias" o projeto será enviado ao Congresso. Isso, já há mais de ano.  Aliás, nesta semana, o ministério informou que o código estará no Congresso nos  próximos 15 dias. Segundo Lobão "as questões de concessões demoram porque têm  que ser decididas com segurança".

O ministro exemplifica: quando foi criado o grupo de trabalho para fazer o  marco regulatório do Pré-sal, "pensávamos em resolver tudo em três meses.  Levamos três anos". Sempre que os projetos ficam prontos, Dilma diz: "Vamos  espancar a lei". Isso significa esmiuçar cada artigo do projeto em busca de  erros, contradições com a legislação existente, sua constitucionalidade. "Isso  leva tempo", diz Lobão. É o que estaria acontecendo, no momento, com o programa  para importar 10 mil médicos - 6 mil cubanos - que tanto aflige o ministério da  Saúde. A Casa Civil ainda está "espancando a lei": qual tipo de visto será  concedido aos médicos estrangeiros?

A boa memória não é um traço a que as pessoas costumam se referir quando  falam de Dilma. Mas Lobão tem um caso. Numa recente reunião no Palácio do  Planalto, a presidente lembrou e contou em detalhes um episódio ocorrido durante  a discussão do Pré-sal. Lobão defendia a participação de 30% da Petrobras em  todos os blocos licitados. O então presidente da estatal, Sérgio Gabrielli,  queria uma participação de 5% para a empresa. A certa altura, Lobão interveio,  provocando risos: "Poxa, parece que o único comunista aqui sou eu". Dilma foi  guerrilheira; Gabrielli, é do PT, um partido de traço intervencionista.

A presidente também sabe recuar, quando isso é importante para atender seus  interesses. É o caso da "faxina ética" de 2011, quando seis ministros - além de  Jobim - perderam o cargo. Ela reintegrou ao governo até o PR, donatário do  Ministério dos Transportes e alvo de muitas suspeitas.

Dilma avalizou a retomada dos aumentos dos juros (taxa Selic) com a mão  direita e, com a esquerda, a desoneração de impostos de produtos da cesta  básica. "Aparentemente, com a volta do aumento da taxa de juros pelo Copom e a  disposição da presidente de ampliar os incentivos monetários e fiscais ao setor  produtivo, poderá haver dois movimentos contraditórios: um do governo,  acelerando, e outro, do Banco Central, puxando o freio de mão. Isso pode  resultar em derrapagem", alerta Antônio Augusto de Queiroz, do Departamento  Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). Dilma também misturou a  renovação dos contratos das concessionárias de energia elétrica com a redução da  conta de luz. Foi criticada pelo empresariado e pelos governadores de Minas  Gerais, São Paulo e Paraná, todos sob o comando do PSDB do senador Aécio Neves,  seu provável adversário na eleição presidencial de 2014. Pura política.

Os três Estados não aderiram ao plano de Dilma de antecipar a renovação de  suas concessionárias no prazo por ela estabelecido. O Congresso, ao votar a  medida provisória, quis incluir uma prorrogação de 30 dias para a adesão dos  Estados. Dilma não deixou. Além da questão política, havia um quê de revanche na  atitude da presidente. Auxiliares mais próximos já observaram: Dilma guarda o  rancor na geladeira. A Central Única dos Trabalhadores (CUT) já provou desse  veneno.

A CUT não apoiou as mudanças que a presidente fez na caderneta de poupança.  Em retaliação, ela segurou até dezembro um projeto sobre a Participação no Lucro  e Resultados (PLR) que interessava à entidade. E encarregou a ministra Gleisi de  fazer o anúncio. Os sindicalistas estavam acostumados a se reunir com Lula e depois descer até a sala de imprensa para anunciar a medida acertada. Uma demonstração de prestígio que faturavam com seus dirigidos.

O movimento sindical está ressentido por Dilma "primeiro ter recebido o  Trabuco e só depois os trabalhadores". Os sindicalistas referem-se ao encontro  dapresidente com o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, em  janeiro último. Dilma não foi às comemorações do Primeiro de Maio deste ano. Em  algumas delas apareceram faixas com os dizeres "Volta Lula". Feitos, segundo se  diz no meio, por encomenda da Força Sindical.

"O processo de governo é muito ruim", diz um ministro que tem uma pilha de  projetos sendo "espancados" na Casa Civil. Os empresários criticam os ministros  e os ministros, com raras exceções, criticam a Casa Civil da ministra Gleisi  Hoffmann, habitada, segundo eles, por técnicos jovens, inexperientes e, às  vezes, arrogantes. Não é raro um deles ligar para um ministro de Estado a fim de  tomar satisfações sobre algum projeto. Constrangidos, os ministros respondem. Na  época de Dilma, havia Teresa Campelo e Miriam Belchior. Elas faziam esse papel.  As duas viraram ministras. Uma do Desenvolvimento Social e a outra, do  Planejamento.

O estilo Dilma faz escola no governo. Em uma reunião recente entre técnicos  dos ministérios do Planejamento e da Integração Nacional, discutia-se a  liberação de verbas para municípios e a secretária-executiva do Planejamento,  Eva Chiavon, mandou fazer a "transferência fundo a fundo", como se diz no  governo. O pessoal da Integração Nacional achou por bem advertir que esse era um  dos mais conhecidos focos de corrupção. "Manda para os municípios e os prefeitos  que se expliquem depois aos tribunais de contas deles". Alguém advertiu que já  não era bem assim hoje, como demonstram decisões do Tribunal de Contas da União,  mas principalmente agora que o STF acatou a teoria do "domínio do fato" para  condenar José Dirceu como mandante do mensalão. Eva não se deu por vencida e  saiu-se com a frase que encerra muitas discussões: "A presidenta mandou".

Recentemente, o secretário-executivo de um ministério teve de largar a  reunião do conselho de uma estatal vinculada, sediada no Rio de Janeiro, para  uma reunião em Brasília, chamado por um dos "meninos da Casa Civil". Ele ainda  tentou refugar, mas não teve outra saída quando o rapaz rebateu: "A presidenta  quer".

"A presidenta não se conforma com avaliações genéricas. Ela quer saber dos  resultados, dos detalhes", diz a chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. "Ela  questiona, pede correções, reorienta. Isso é fundamental para o sucesso de um  programa e de um projeto", explica. "Às vezes, até pode demorar um pouco mais.  Mas ele é bem estruturado e dá resultado consistente. Não podemos ter projetos  superficiais e genéricos para lançar e depois não ter sustentabilidade".

Segundo Gleisi, "essa característica da presidenta é fundamental. Ela sempre  quer saber como estão os programas, chama os ministros, pergunta os dados, quer  as informações de execução, melhorias, resultados, intervém". Para a ministra da  Casa Civil, isso "é uma coisa muito positiva. Só dá certo porque ela [Dilma]  está cobrando". Para os críticos, é puro centralismo que atrasa e trava o desenvolvimento do país, que hoje já não é mais "o queridinho" entre os  Brics.

Formada politicamente na extrema esquerda, Dilma traz em sua "alma de  prefeito" - como já se referiu a si mesma em discursos - muito do que apreendeu  nos chamados anos de chumbo. "Ela sai (no governo) do intervencionismo de  esquerda para o mais puro liberalismo", tenta explicar um alto funcionário  próximo a Dilma. Na equipe econômica chama-se as escolhas de Dilma de  "estilingadas", decisões que, depois de tomadas, batem num muro e voltam. Só um  ano e meio depois de estar no comando do governo ela se convenceu de que o  Estado brasileiro não está em condições de investir e admitiu fazer as  concessões. Ainda assim, tabelou por baixo o lucro das empresas, no caso das  rodovias. Voltou atrás, quando percebeu que não daria certo.

Visto do Palácio do Planalto, o panorama não é tão ruim quanto pintam  empresários insatisfeitos com o câmbio, banqueiros sem saber como trabalhar com  juros baixos e ministros muitas vezes em busca de afagos. Três exemplos são  citados como o início de uma mudança de humor dos investidores em relação ao  Brasil: o sucesso das emissões feitas pelo Banco do Brasil Seguridade, da  captação externa da Petrobras e a retomada das licitações de lotes para a  exploração de petróleo e gás.