O anúncio do fim do jornal impresso (ou sua significativa perda de relevância) como meio de informação e formação da opinião pública recheia inúmeras discussões contemporâneas. Há sinais cada vez mais nítidos nesta direção, a começar pelo fechamento de ícones do jornalismo impresso, assim como diminuição do número de páginas e seções/editorias.
Sociólogo é formado para ler principalmente os sinais de futuro. as tendências. Nasceu assim, pela proposição de Auguste Comte nos famosos seminários sobre filosofia positiva. Comte quase implorava para compreendermos a nova sociedade industrial, que parecia desmoronar (a culpa, para ele, era o negativismo implantado pela Revolução Francesa) instituições e modos de vida coletiva. Uma visada quase oposta às dos historiadores, tema que gerou um belo livro escrito por Peter Burke.
Nesta direção, o que me atrai é entender o novo. Partindo do pressuposto que efetivamente os jornais impressos perdem espaço rapidamente na vida das pessoas neste mundo pós-moderno (o que ainda não está totalmente comprovado), o que seria o novo em termos de informação e formação de opinião pública?
Se rádio e TV têm seu lugar garantido, mas não como novidade, blogs e jornais virtuais parecem se consolidar como possibilidade. Explico: rádios e redes de televisão podem, evidentemente, ampliar seu poder e espaço e talvez esta seja a senha para uma disputa cada vez mais acirrada entre as grandes redes privadas e uma crise persistente nas redes públicas. Mas não consigo perceber grandes mudanças de estrutura. Talvez, com o avanço das possibilidades de interação que a TV Digital possibilita, tenhamos algo mais estruturalmente novo. Mas, até o momento, o sensacionalismo policial e o catastrofismo de toda pauta parecem dar o tom da disputa. Nada de novo, portanto.
Na outra ponta, muito se fala dos blogs como alternativa real. O problema é que os blogs parecem ainda atrelados à lógica das redes sociais: são excessivamente informais e opinativos. Ora, o excesso de adjetivos e carência de substantivos atrai quem já tem escolha, mas dificilmente atrai quem está procurando formar sua opinião. Pior: as redes sociais têm, hoje, cartas marcadas. A rotulação é a alma do negócio. Em todos temas, de futebol à política ou religião, passando pela parca discussão sobre arte. Invariavelmente assistimos uma espécie de MMA verbal. Há outro fenômeno que depõe, ao menos no Brasil, quanto aos blogs de informação: a sua fonte de financiamento. Já expus minha opinião em outra oportunidade: não consigo crer que um blogueiro que recebe recursos oriundos de governos ou partidos consiga ter a tranquilidade de denunciar erros ou desvios de seu patrocinador. Ora, se o patrocinador é um agente político, o blog já estaria fadado à suspeição em relação às análises deste campo de atuação humana. Pior se o teor do contrato sustentar que o blogueiro contratado deve "animar as redes sociais". Animar, além de incentivar, significa despertar ou reforçar. O que um blogueiro deve fazer quando seu investidor define que ele deve despertar ou reforçar algo nas redes sociais? Seria uma surpresa descobrir que a intenção do cliente/político seria despertar ou reforçar a verdade e a autonomia crítica.
Finalmente, os jornais virtuais. É cada vez mais difícil encontrar manchetes que não sejam sensacionalistas. Aqui, há dois problemas. Existem jornais impressos que produzem sites informativos. Por algum motivo que ainda não compreendi totalmente, grande parte contrata um editor (ou jornalista apurador) que inclui notícias nestes sites sem qualquer relação com a edição impressa. Assim, um leitor que passa pela rua e vê uma manchete do jornal Y, ao acessar a versão eletrônica dificilmente encontrará algo sobre o que viu na rua. Se há alguma estratégia comercial para obrigar o leitor a comprar o jornal, é bom que fique claro aos gênios da área de marketing que isto é quase impossível de ocorrer. Ninguém vê a manchete e sai correndo para acessar a versão eletrônica. A falta de tempo é, quase sempre, o fator de não se ter comprado o jornal na banca. E o acesso à versão eletrônica se dá por lembrança momentânea ou por outros motivos pessoais. Não por outro motivo que as redes sociais são mais acessadas em momentos específicos, quase sempre às 11h00, 15h00 e 20h00. São horários de relax ou pausa no trabalho.
Pior, estes sites vinculados aos jornais impressos (é o que um incauto imagina) adotam linha editorial distinta dos impressos. E, quase sempre, com um nível de apuração e redação muito inferior. Possivelmente porque os jornalistas responsáveis são menos experientes.
Mas há jornais virtuais que se alinham com a orientação editorial e pauta dos jornais impressos que lhe dão nome e prestígio. Neste caso, o problema é a linha comercial agressiva e deselegante. As matérias do topo das páginas são as mais sensacionalistas, flutuando entre fofoca e casos escabrosos. Alguns repetem, em formato de manchete, o que já se noticiou dezenas de vezes porque pretensamente chamarão a atenção de um público-alvo que catapultará o número de acessos do site. Algo como os programas dominicais que ficam com um olho nos índices de IBOPE para encurtar ou prolongar uma atração. Quase sempre, sabemos, isto gera apelação e não informação. Neste exato momento, dois grandes jornais virtuais (ou sites de informação) anunciam uma pauta fria como se fosse quente: Papa confirma visita ao RJ. Mas isto já soubemos dias depois do anúncio do novo Papa!
Enfim, esta transição do papel para o virtual não parece muito promissora. Desmonta e desmoraliza os impressos como fontes de reflexão (além da notícia) e cria uma série de revistas Caras virtuais sem nenhum cuidado editorial.
Um comentário:
Também penso que as mídias sociais parecem uma guerra rasa...como bem apontou Tom Zé em novas músicas disponíveis para baixar( ele foi esculachado por ter participado da propaganda do refrigerante mais simbólico do mundo contemporâneo) Arrematou na primeira faixa:defenda-se no tribunal do feicibuqui!
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