"O que mais voz aterroriza na pureza?", pergunta Adso. E Guilherme responde: "A pressa".Embasbaquei nesta frase inicial deste belo livro do Eco, mais italianíssimo que nunca. Um livro recheado de humor e análises verticais sobre a arte de escrever e o mundo da literatura (fazendo um resumo quase criminoso).
O que dizer de um livro que começa com um capítulo que ganha o título "Escrever da esquerda para a direita" (como resposta a um interlocutor que perguntava como ele escrevia seus romances)? E que explica inicialmente o título do livro (Confissões de um jovem romancista) a partir da conta sobre a idade de seus cinco romances (O Nome da Rosa foi escrito em 1980), o que o faria um autor de 28 anos (Eco, para desmoralizar de vez o leitor, afirma que está somente no começo e deve produzir muita coisa nos próximos cinquenta anos).
Ou, ainda, em meio à digressão sobre a existência real (ou semiótica) dos personagens ficcionais, atira esta pedra:
"Por isso parece estranho que, quando Goethe publicou Os sofrimentos do jovem Werther, em que o herói, Werther, se mata por causa de um amor malfadado, muitos jovens leitores românticos o houvessem imitado. O fenômeno chegou a ser conhecido como "efeito Werther". Que quer dizer quando as pessoas ficam apenas ligeiramente perturbadas com a morte por inanição de milhões de indivíduos reais - incluindo muitas crianças -, mas sentem uma enorme angústia pessoal diante do fim de Anna Kariênina? Que significa quando partilhamos profundamente a dor de uma pessoa que, sabemos, nunca existiu?"E, em meio a um diálogo com os leitores empíricos que tentam descobrir relações em seus romances que não existiram de fato (o que o faz distinguir entre "autor empírico" e "autor ideal" - ou idealizado - assim como o leitor empírico do leitor ideal, ou imaginado pelo autor), debocha:
"Adorei ler o belo livro de Robert Fleissner A Rose by Another Name: a sruvey of literary flora from Shasepeare to Eco e espero que Shakespeare tenha se orgulhado de encontrar seu nome associado ao meu."Um livro delicioso e profundo, que transita entre a teoria literária e a produção de um autor sem que o leitor se dê conta.
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