segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

O desprezo pela política na escolha dos subprefeitos


Não compreendi a intenção política de Haddad ao escolher seus subprefeitos. Tive a honra de participar da discussão da lei que criou as subprefeituras, quando da elaboração da Lei Orgânica da cidade de São Paulo. A intenção era trabalhar os pilares da gestão participativa: descentralização, participação direta do cidadão na tomada de decisão pública e formação de rede territorial. O princípio era desconstruir a noção de política como profissão. Ao contrário, pensávamos em deixar o Estado mais poroso e público. E não há participação sem descentralização administrativa.
A nova geração de lideranças petistas parece mais afeita à tecnologia e tecnicalidades. Parece não gostar muito da política como processo de negociação, de equilíbrio dinâmico (fundado na necessária alternância entre dissenso e consenso).
Veja a lista dos nomes escolhidos como subprefeitos de Haddad (não se trata, como verão, de subprefeitos da cidade de São Paulo) que reproduzo como ilustração. Não vejo lideranças regionais na quase totalidade da lista. Haddad afirma que são técnicos. Disse que preferia engenheiros (sabe-se lá por qual motivo). O critério continua técnico, de coronéis da PM (no caso de Kassab) para engenheiros. Não há critério político, que no discurso de Haddad parece uma desgraça. Desta maneira, a representação, como já afirmei em nota anterior, vai se afastando rapidamente da política brasileira.
Era isto que Noam Chomsky criticava nos tecnicólogos: a reivindicação do poder em nome da competência técnica. Arrogantes, pragmáticos, os técnicos no poder acabam por defender o status quo porque desprezam o projeto político, a utopia e porque partem dos instrumentos já disponíveis para potencializá-los. Um raciocínio em linha reta, sem paixão.

O "real" do mundo virtual

Minha esposa está terminando um artigo técnico sobre a maneira como os alunos de educação básica pensam concretamente o mundo, e de maneira interdisciplinar. Perguntei a ela se não seria algo estranho para crianças que estão mergulhadas no mundo virtual da internet e smartphones. Ela me convenceu que é justamente o contrário: o mundo virtual é percebido como concreto por elas. Concreto como apreendido, controlado, próximo à noção piagetiana. A resposta me transportou para o livro de Steven Johnson. O livro trata da interface, de cultura e informação. Mas vai além. Sugere que, com ícones e mouse, confundimos comandos para uma máquina com movimentos reais, extensões dos braços. O mouse passa a ser nossa mão, no interior da sala de estar, o desktop. Uma metáfora. Fico pensando como o mundo político está distante desta realidade virtual. Como a representação política é muito mais distante que esta metáfora. E como os políticos, como interposição ou representação não direta de nossa vontade, são cada vez mais supérfluos. O mundo real/virtual é mais espelho de nossa vontade que os representantes eleitos.
Vou reproduzir algumas passagens do livro para entrarem no mundo de Johnson:


(...) Para que a mágica da revolução digital ocorra, um computador deve também representar-se a si mesmo ao usuário, numa linguagem que este compreenda. (p.17)
(...) Já podemos ver os primeiros movimentos dessa nova forma em designs recentes de interface que foram além da metáfora bidimensional do desktop para chegar a ambientes digitais mais imersivos: praças, shoppings centers, assistentes pessoais, salas de estar. (p.20)
(...) (P. 20 e 21) A grande investida de Engelbart [Doug Engelbart, inventor do mouse] envolveu o princípio da manipulação direta. Representar um documento de texto como uma janela ou um ícone era uma coisa, mas, a menos que o usuário tivesse algum controle sobre essas imagens, a ilusão seria remota, pouco convincente (...). Foi aí que entrou a manipulação direta. Em vez de teclar comandos obscuros, o usuário podia simplesmente apontar para alguma coisa e expandir seus conteúdos, ou arrastá-lo através da tela. Em vez de dizer ao computador para executar uma tarefa específica – “abra este arquivo” -, os usuários pareciam fazê-los eles próprios. (...) Mas a imediatez táctil da ilusão dava a impressão de que agora a informação estava mais próxima, mais à mão, em vez de mais afastada. Sentíamos que estávamos fazendo alguma coisa diretamente com nossos dados, em vez de dizer ao computador que a fizesse por nós. (...) O feedback visual dava à experiência seu caráter imediato, direto: se o mouse fosse movido um centímetro ou dois à direita, o ponteira na tela faria o mesmo. (...) O mouse permitia ao usuário entrar naquele mundo e manipular realmente as coisas dentro dele, sendo por isso muito mais que um mero dispositivo apontador;
(...) A infosfera é hoje parte de nossa “vida real” – o que torna o comentário sobre ela tão natural quanto o comentário sobre o tempo (P.27);
(...) o que tornava o desktop do Mac original tão revolucionário era seu “caráter”. Tinha personalidade, senso de humor. Exigia uma magistral integração de forma e função (...). Podíamos alterar o padrão de nosso desktop, criar nossos próprios ícones. (...) O computador que você utilizava revelava seu tipo de personalidade (...) (P. 41)

O fordismo lulista

Segunda parte do ensaio que estou esboçando:

O FORDISMO LULISTA

O desenho sistêmico do que se denominou recentemente de lulismo motivou André Singer a aventar a possibilidade dele ter engendrado um “sonho rooseveltiano”[1]. Para o autor, o ambiente rooseveltiano se alimentou do ciclo de aceleração do crescimento brasileiro iniciado em 2007. Singer é enfático ao assinalar que:
 (...) o lulismo introduziu o New Deal no imaginário nacional, funcionando como sintoma ideológico. A título de exemplo, vamos lembrar três menções, oriundos de campos suficientemente distantes para indicar a existência de fenômeno geral. Wendy Hunter e Timoty Power compararam o Bolsa Família (BF), lançado em setembro de 2003, ao Social Security Act, com o qual, em 1935, Roosevelt instituiu o sistema de previdência pública. (...) Uma segunda referência encontra-se no fecho de balanço do governo Lula feito por dois economistas ligados ao Ministério da Fazenda. Segundo Nelson Barbosa e José Antonio Pereira Souza, “a superação de dogmas recentes encontra paralelos em momentos nos quais os Estados das economias capitalistas centrais optaram pela ruptura de seusm modelos de atuação [...]. Assim foi, por exemplo, com a G.I Bill (1944) e com a Employment Act (1946) [...]. A G.I. Bill, assinada por Roosevelt em junho de 1944, dava direito aos militares veteranos dos EUA que retornavam da Segunda Guerra Mundial a ingressar nas universidades. O Employment Act, promulgado pelo presidente Harry Truman em fevereiro de 1946, ainda no contexto do New Deal, atribuía ao governo federal norte-americano a incumbência de promover oportunidades de emprego. (...) Por fim, em julho de 2010, citando Paul Krugman, o jornalista Fernando de Barros e Silva escrevia na Folha de S.Paulo: “os Estados Unidos do pós-guerra eram, sobretudo, uma sociedade de classe média. O grande boom dos salários que começou com a Segunda Guerra levou dezenas de milhões de americanos – entre os quais meus pais – de bairros miseráveis nas regiões urbanas ou pobreza rural à casa própria e a uma vida de conforto sem precedentes”. (...) Continua o jornalista: “tudo isso nos fala à imaginação – tão longe, tão perto”[2].

A longa citação se justifica pela clareza da proposição analítica. O autor sustenta que a redução, entre 2003 e 2008, daqueles brasileiros que percebiam um rendimento inferior ao valor de uma cesta básica de alimentos recomendada pela FAO, de 36% para 23%, cria um paralelo imediato com a história norte-americano e sugere um New Deal brasileiro. Uma redução de pobreza mais acentuada que a redução da desigualdade, é certo.
Singer não aprofunda a lógica fordista, se concentrando nas políticas rooseveltianas. Assim, resvala na observação de uma nova agenda estatal-desenvolvimentista adotada pelo país, com contornos tão profundos como o ciclo aberto pelo getulismo[3].
O desenho do fordismo lulista mantém identidade com a estrutura sistêmica rooseveltiana, no que tange o papel do Estado como financiador e orientador do capital e sustentação do mercado interno ampliado, fundado na elevação da renda média do trabalhador e diminuição acentuada da pobreza via transferência de renda. Mas acrescenta duas novidades em relação ao fordismo original, de âmbito político. O lulismo introduz o financiamento de organizações populares e de representação de massas, como organizações não-governamentais, articulações por direitos civis e sociais e centrais sindicais[4]. Também consolida uma antiga pretensão de governantes anteriores: a coalizão presidencialista, que cria uma forte intimidade governista e governamental entre Executivo e Legislativo.
A estrutura estatal-desenvolvimentista apresentada reduz os espaços de oposição e cria um ambiente de estabilidade para investimentos empresariais e familiares. As políticas anti-cíclicas se alimentam, então, deste ambiente de paz social ou pacto desenvolvimentista. O que remete ao controle das mobilizações e resistências sociais, assim como das articulações sociais para ampliar direitos.
As arenas e espaços que na Constituição Federal ganharam o status de participação direta de representações da sociedade civil na tomada de decisões relativas às políticas públicas, em especial, as sociais, são limitados ao papel de pacificação social. O novo papel se apóia numa gradual domesticação das organizações sociais e populares que, nos anos 1980 e 1990, se notabilizaram pela defesa dos mecanismos de democracia direta, pelas estruturas organizativas horizontalizadas e pela crítica à prevalência de interesses de mercado na ação do Estado.
O fordismo lulista, contudo, é um arranjo, uma composição de interesses. Os fóruns e arenas de participação social tiveram, portanto, que se enquadrar à lógica da gestão pactuada.
Este rearranjo institucional da participação social se revelou mais simples e viável do que se apresentava teoricamente.
No início da primeira gestão Lula, o participacionismo teve lugar certo. O programa Fome Zero foi entregue a lideranças católicas, expoentes da Teologia da Libertação nos anos 1980. A estrutura de gerenciamento do programa adotou a lógica da cogestão e foi compreendida como escola de formação de cidadãos para o controle de políticas públicas. O conceito de empoderamento foi fartamente utilizado neste período, numa tradução livre de empowerment. Nesta versão, significava ação coletiva ou participação coletiva em espaços privilegiados de decisões, ampliando o conceito de direito político. Assim, se orientaria pela superação de qualquer dependência social e dominação política. Era, obviamente, um discurso que confrontava o Estado patrimonialista.
Outra iniciativa foi a instalação do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), um amplo conselho consultivo, composto por empresários e representação da sociedade civil para análise e proposição da agenda nacional.
Finalmente, esboçou-se um frágil mecanismo de participação no controle do orçamento federal e políticas sociais com a criação de Comitês Estaduais de elaboração do Plano Plurianual (PPA) federal e apoio para realização de conferências nacionais envolvendo uma ampla agenda temática.
Todos estes instrumentos foram reduzindo paulatinamente sua autonomia e campo de atuação. Os primeiros a compreender a estratégia governamental fundado no pacto desenvolvimentista foram os gestores do Fome Zero. Frei Betto e sua equipe inicial pediram demissão das funções criticando a política econômica adotada pelo Ministério da Fazenda e à transferência do controle político do programa das estruturas participativas para Prefeituras.
O CDES, por seu turno, manteve uma agenda de reuniões e formulações conjuntas de propostas, mas não logrou se constituir num mecanismo de aproximação do empresariado e sociedade civil aos mecanismos de tomada de decisão governamental.
Finalmente, a profusão de conferências nacionais de direitos civis e sociais, que chegaram a ultrapassar em duas gestões Lula a marca de 70, raramente redundaram em leis ou mudanças orçamentárias.
Ao contrário, o fordismo lulista reforçou os escaninhos tradicionais de tomada de decisão governamental. A coalizão presidencialista tomou o lugar de todos mecanismos de ampliação da participação da sociedade civil no interior do Estado. Os partidos coligados, os ministérios e agências estatais partilhadas com estas forças, Congresso Nacional e governadores constituíram os interlocutores privilegiados do lulismo. Quanto ao empresariado, Ministério da Fazenda, BNDES e uma rede informal de consultores econômicos passaram a se revelar mais eficientes como lócus de negociações e estabelecimento de agendas desenvolvimentistas que câmaras setoriais e conselhos consultivos amplos.
O fordismo lulista é fundado no Estado orientador, altamente verticalizado e unificado. A unidade é o elemento central de toda lógica estatal-desenvolvimentista.



[1][1] Este é o título do terceiro capítulo de seu último livro. Ver SINGER, André. Os sentidos do lulismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
[2] SINGER, André. Os Sentidos do Lulismo, op. Cit., páginas 126 a 128.
[3] Alguns analistas sugerem se tratar de agenda do novo-desenvolvimentismo. Tal agenda criticaria o laissez-faire da pauta liberal e o autoritarismo da pauta socialista. O neo-desenvolvimentismo (ou neo-estruturalismo) sugere o desenvolvimento endógeno, sem romper com o livre comércio para alcançar a competitividade internacional. Bresser Pereira lista cinco elementos desta agenda: a) abertura comercial; b) planejamento estratégico estatal; c) estabilidade econômica incluindo preços, pleno emprego e equilíbrio da balança de pagamentos; d) inversão da equação juros elevados e câmbio apreciado; e) financiamento do desenvolvimento com recursos próprios (evitando atração da poupança externa para financiar o crescimento). Em suma: mercado livre pressupõe, nesta perspectiva, Estado forte. Ver SICSÚ, João; PAULA, Luiz Fernando & MICHEL, Renaut (orgs.), Novo-Desenvolvimentismo. Rio de Janeiro: Fundação Konrad Adenauer, 2005.
[4] Em 2012, as centrais sindicais receberam repasses federais da ordem de 160 milhões de reais referentes ao imposto sindical, o dobro das transferências ocorridas em 2008, quando iniciaram os repasses. A maior parte dos recursos fica com as duas maiores centrais do País, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a Força Sindical. Neste ano, a CUT recebeu R$ 44,5 milhões até outubro, e a Força ficou com R$ 40 milhões. Os recursos representam entre 60% e 80% do orçamento total das centrais. Destaca-se, ainda, a regulamentação recente da participação de dirigentes sindicais nos conselhos de empresas estatais federais. O jeton pago a cada conselheiro chega a 8 mil reais, caso da Petrobrás. Há registros de jetons que variam de 3 mil reais (suplente do conselho da Breasilprev) a 15 mil reais (conselho da Funpresp).  

domingo, 30 de dezembro de 2012

Entrevista com Arianna Huffington (Huffington Post)

América Latina, por Jon Lee Anderson

A herança colonial na história africana

Um ano jabuti

Balanço que faço após acompanhar o "day after" das eleições municipais: falta inteligência política no Brasil. Alguns afirmam que por culpa da ditadura militar, que ceifou as inteligências do país. Acredito que seja algo ainda pior, o que Boaventura Santos nomeou de fascismo societário. 
Este é meu desejo: mais inteligência política para o país ficar com mais humor e mais sério (tudo ao mesmo tempo, misturado). É muita bravata e autoritarismo. Falta feminilidade. Falta gratuidade (esta palavra é, hoje, quase sinônimo de fraqueza, não?)
Enfim, desejo um ano jabuti. Da tradição oral do folclore brasileiro, lembrado pelo meu amigo Luis Bassoli, de Teófilo Otoni. A história relata uma corrida entre um jabuti e um veado, este último o animal mais veloz da floresta. Assim como na fábula de La Fontaine (a antropologia estruturalista me persegue!), a inteligência vence os poderes físicos do concorrente. Postados em diversos pontos do trajeto da corrida, jabutis parentes do corredor, aguardavam o veado passar. A cada momento, o veado perguntava sobre seu adversário e ouvia de um jabuti (parente do corredor) logo ao seu lado: "estou aqui!". O veado aumentava a velocidade e, mais à frente, perguntava outra vez, ouvindo sempre a mesma resposta de um outro jabuti. E, assim, sucessivamente, até que o veado caiu morto. 

Ainda sobre o fordismo tupiniquim

Mergulhado no clima modorrento de final de ano, começo a retomar meus estudos sobre o que denomino de fordismo lulista. Tateei algo no final do ano, numa primeira aproximação que fiz. Vou reproduzir uma parte do texto por dia. Aguardo comentários, críticas, sugestões.
A primeira parte trata do conceito de fordismo, tal como sugerido pela Escola da Regulação.

O CONCEITO DE PACTO FORDISTA

O pacto fordista, ou fordista-keynesiano, foi sustentado como hipótese explicativa pela Escola da Regulação a partir da tese de Michel Aglietta defendida em 1974, intitulada “Régulation et crises du capitalisme”. Logo adiante, formou-se um núcleo de pesquisadores que concentraram suas preocupações acadêmicas a partir do marco teórico sugerido por Aglietta, envolvendo Robert Boyer, Alain Lipietz, Jacques Mistral, J. P. Benassy, J. Muñoz e C. Ominami. Era o período da crise capitalista do período 1973/1974, para alguns, desencadeada pelo aumento do preço do barril de petróleo forçada pelas deliberações políticas da OPEP, mas que para outros já estaria instalada no seio da estrutura lógica do Estado de Bem-Estar[1].  Há, contudo, uma linha convergente que se aproxima das teses centrais de Keynes e Kalecki[2].
Sinteticamente, todos teóricos desta linhagem sugerem uma periodização dos movimentos cíclicos do capitalismo a partir das transformações do trabalho assalariado, das tecnologias de produção e da emergência do consumo de massas. Os anos 1930 marcariam a emergência do fordismo nos EUA, fundado no consumo de massas a partir da indústria automobilística e da construção civil, pedra de toque do modelo rooseveltiano. Com o custo reduzido de bens de consumo os trabalhadores passaram a participar de um pacto produtivo, fundado na intervenção do Estado regulador. Para tanto, os custos da cesta básica de consumo dos trabalhadores passaram a ser administrados e até subvencionados pelo Estado-demiurgo que, na outra ponta, regulava o crédito para a indústria de maneira seletiva e setorial. Um ingrediente fundamental foi a domesticação do trabalho a partir do ritmo de produção definido pela esteira elétrica e pela disseminação de princípios da poupança e consumo familiar (lembremos que Ford foi o primeiro empresário de ponta que investe em ações programadas de orientação das famílias operárias a partir de visitas programadas de um exército de assistentes sociais que, mais tarde, dará origem aos princípios da psicologia industrial), aumentando significativamente a produtividade e aumento do lucro observado nos segmentos produtivos com alto valor agregado.
O ciclo mais vigoroso do fordismo teria ocorrido entre os anos 1930 e 1950, a partir do qual se espraiou para os países da Europa Ocidental e o Japão, entrando em crise ao final dos anos 1970.
David Harvey[3] propõe uma síntese do pacto fordista que pode ser sintetizado como modelo que se apoia num Estado centralizador e orientador, que implanta um aparato regulatório que tem por finalidade garantir um ambiente estável de investimentos e consumo. Assim, as políticas anticíclicas adotadas promovem, na prática, um pacto desenvolvimentista, envolvendo agentes econômicos e políticos. Os instrumentos principais do aparato regulatório, por seu turno, são: subsídio da cesta básica de consumo dos trabalhadores e crédito controlado e seletivo para segmentos produtivos, buscando regular o grau de endividamento setorial.
Harvey sugere que a data simbólica de surgimento do fordismo é 1914, com a introdução do dia de oito horas e cinco dólares como recompensa aos trabalhadores da linha automática de produção de automóveis. Tais inovações propiciaram controle absoluto sobre a produtividade do setor e possibilidade de transformar o custo dos salários em investimento para a emergência do mercado consumidor de massas nos EUA. O geógrafo norte-americano retoma Gramsci para afirmar que os novos métodos de trabalho são inseparáveis de um modo específico de viver e de pensar e sentir a vida, envolvendo formas de sexualidade, família, coerção moral, consumo e ação de Estado.
A inovação fordista gerou, para Harvey, forte disciplina operária, não apenas na produção, mas na organização dos hábitos de consumo. Com efeito, o segundo foco passou a ser, já em 1916, educar o consumo das famílias operárias. Neste ano, Ford enviou um exército de assistentes sociais aos lares dos trabalhadores para compreender a dinâmica familiar  e sua capacidade de consumo.
O sistema fordista foi se engendrando ao longo de meio século, ganhando seu formato definitivo com os programas anticíclicos do New Deal[4]. A partir de então, segundo Harvey, forjou-se um sistema social e produtivo, que começará a ruir a partir de 1973/1974, com a crise aberta pela OPEP com aumento do preço do barril de petróleo. Um período de consolidação do que o autor denomina de indústrias portadoras de tecnologias amadurecidas do pós-Guerra: carros, construção de navios e equipamentos de transporte, aço, produtos petroquímicos, borracha, eletrodomésticos e construção civil. Afirma o autor
O Estado assumiu novos papéis e construir novos (keynesianos) poderes institucionais; o capital corporativo teve de ajustar as velas em certos aspectos para seguir com mais suavidade a trilha da lucratividade segura; e o trabalho organizado teve de assumir novos papéis e funções relativos ao desempenho nos mercados de trabalho e nos processo de produção. (...) A derrota dos movimentos operários radicais que ressurgiram no período pós-guerra imediato, por exemplo, preparou o terreno político para os tipos de controle do trabalho e de compromisso que possibilitaram o fordismo[5]
O Estado passou a patrocinar a produção de massa, as condições de demanda relativamente estáveis e controlar os ciclos econômicos. Em outras palavras, o centro político desta lógica é a construção da paz social e pacto desenvolvimentista.


[1] Não há consenso sobre a unidade conceitual que envolveria os vários autores que se valeram das teses centrais da Escola da Regulação. Alguns autores sustentam uma corrente liderada por Grenoble, uma segunda corrente de Amsterdã, uma terceira dos alemães “derivacionistas”, uma quarta norte-americana. Ver JESSOP, Bob. Regulation Theories in Retrospect and Prospect, Barcelona, 1988. Ver, ainda, AGLIETTA, Michel. Accumulation et régulation du capitalisme en longue période. L’exemple des États-Unis (1870-1970), Paris:INSEE, 1974; e BOYER, Robert. A teoria da regulação.  Uma análise crítica, São Paulo:Nobel, 1990.

[2] Michel Kalecki estudou as flutuações cíclicas das economias capitalistas desenvolvidas, tendo o estudo de 1933, intitulado "Esboço de uma Teoria do Ciclo Econômico", como o mais completo por ele produzido. Neste e em estudos posteriores, sustenta que as economias capitalistas se desenvolvem dentro de um padrão cíclico, se expandindo, mas formando um movimento ondulatório, flutuante, ao longo do tempo, relacionado ao nível de investimento e consumo. Num segundo momento, entre 1950 e 1960, estudou as economias denominadas naquele período de subdesenvolvidas, tendo em seu estudo "O Problema do Financiamento do Desenvolvimento Econômico" um marco em suas análises (publicado no México em 1954). Comumente se afirma que Kalecki era um autor keynesiano, embora o correto seja o contrário: várias de suas teses foram incorporadas aos estudos e plataformas de tipo keynesiano.
[3] Ver HARVEY, David. Condição Pós-Moderna, São Paulo:Edições Loyola, 1993.
[4] O debate acadêmico sobre as origens do New Deal permanece até hoje. Nos seus primeiros cem dias, o New Deal implantou o Emergency Banking Act, transferindo recursos federais para bancos privados; o Federal Deposit Insurance Corporation, que garantia depósitos bancários; o Securities Act, que regulava o mercado de ações para combater especulações; o Home Owners Refinincing Act, que regulava os pagamentos de hipotecas. Uma gama de leis regulatórias. Também foram normatizadas a produção industrial e agrícola, ale de ser montada uma ampla rede de assitência social, como a Civilian Conservation Corps. No final de 1933, criou a Civil Works Administration para alicerçar obras públicas. O diagnóstico governamental se pautava pelo desequilíbrio entre produção e capacidade de consumo. Ver LIMONCIC. Flávio. Os inventores do New Deal. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009.
[5] HARVEY, David. Condição Pós-Moderna, op.cit., p. 125.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Brasil conservador




























O Datafolha de hoje levanta uma questão: todos líderes nacionais populares serão, necessariamente, conservadores?

105 anos de dignidade

A frase pode parecer um exagero. Mas não é. Dona Canô nunca perdeu a dignidade, que sempre vem acompanhada de discrição. Lembram quando Caetano exagerou na verborragia contra Lula e ela pediu respeito? Não ofendeu nenhum dos dois mas deixou claro que o filho tinha saído da linha.
Só isto já bastava.

As férias deste blog

Pode ser a idade. Mas arriei neste final de ano. Além do calor insuportável. Passei por aqui para justificar a ausência dos últimos dias. Vou postar uma ou outra nota até a virada do ano, quando retomo os comentários de sempre, com regularidade.
Confesso que estou desanimado com a lógica política que tomou conta do Brasil. Tenho a impressão que já se cristalizou a ordem montada nos últimos dez anos. As inovações, que pareciam a pedra de toque nos anos 1990, cessaram. Aécio, por mais que os tucanos procurem dar algum fôlego a esta candidatura, parece mais um blefe que uma promessa. Dificilmente vai decolar. Aécio parece cada vez mais um personagem mineiro, sem repercussão nacional. Não tem muito o que dizer ao país. Não empolga. Parece algo fabricado. E cercado, como uma ilha, por todos os lados. Cercado por Lula e Eduardo Campos. Cercado pelos tucanos paulistas. Aliás, se fracassar em 2014, seu partido volta para os paulistas. Cairá no colo envelhecido, sem ânimo e alma dos que foram derrotados sucessivamente pelo lulismo.
Petistas parecem cada vez mais com os partidos socialdemocratas europeus. O que resta de charme está os álbuns de fotografia. Anos atrás, quando conversei com socialistas franceses, senti este sorriso amarelo que sinto em petistas que raciocinam. Os socialistas admitiam que não tinham nada de diferente a dizer que os partidos mais à direita. Agora, são governo e continuo vendo o sorriso amarelo. Não é o caso de chorarem, é verdade, mas também não conseguem dar gargalhadas. Vencer por vencer, só para almas pobres, como as dos políticos da terra onde estou, cidade onde nasci, que exageram em tudo para dar algum sentido à sua vida. Mas todos são miniaturas de carros reais, muitos deles, fora de linha, mas que um dia projetavam glamour e poder. Obviamente que num município de 60 mil habitantes, tudo é liliputiano. Até um carrinho em miniatura, se for importado, já vira sinal de poder e sofisticação. Protótipo do socialismo europeu e do envelhecimento precoce de petistas e tucanos. De volta para o futuro.
O resto, neste momento, é o resto. Incluindo a grande imprensa, que serve como o "Outro" para quem está no poder. Sempre haverá um "Outro" para quem não tem mais do que se orgulhar do presente. A alteridade como única fonte de adrenalina. As campanhas eleitorais, cada vez mais nacionalizadas, bilionárias e definidas pelos deputados federais que comandam o feudo regional, dizem pouco aos eleitores. O que as torna ainda mais caras porque somente o marketing pode ainda criar alguma emoção plástica, a despeito de tudo o que assistimos ganhar aquela identidade visual de sempre, da música ao locutor jovem, da imagem HD aos gráficos com estatísticas ou reproduções de matérias de revistas e jornais. Tudo igual, marketeiros passando de mão em mão como os jogadores de futebol.
Não sei, não. O Brasil de hoje motiva muito pouco. E as artes, como para-raios do mundo real, não deixam dúvida de como tudo parece bem feito, mas sem sabor.
Seria quase impossível não arriar.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Memórias de Chumbo

Assisti um dos episódios da série Memórias de Chumbo, produzida pela ESPN Brasil. O de hoje foi sobre o Chile, da ditadura Pinochet e a colaboração dos regimes militares, usando o futebol como ópio (para retomar a velha e gasta analogia de Marx). Emocionante, principalmente o relato final, de um dos jogadores da seleção chilena que teve sua mãe torturada e que se recusou a dar a mão para Pinochet, quando foram recebidos na sede do governo.
Lembrei de alguns anos atrás, quando fui até Talca, governo socialista, participar de um evento internacional.  Falei sobre mecanismos de gestão participativa. No encerramento, os organizadores pediram que cada estrangeiro fizesse sua saudação final. Eu disse que seria importante recordar que aquelas propostas que estávamos discutindo era um projeto de esquerda. Não era liberal, de centro ou algo do gênero, mas da história da esquerda democrática do nosso continente. Ao descer, percebi uma fila de senhores e senhoras que me aguardavam. Todos estavam emocionados. Me abraçaram. E me agradeceram, sem falar muito.
A juventude brasileira não tem a menor ideia do que foi o período dos regimes militares no Cone Sul da América Latina. Em 1973 ou 1974, estive no Chile com minha família. Além de um leve terremoto, o que ficou marcado em nós eram os militares armados até os dentes, nas ruas, em barricadas, nos telhados. Não é exagero. Aliás, o exagero era todo deles. Lembro da Plaza de Las Armas em que se distribuíam rapidamente alguns panfletos contra a ditadura. Tudo muito rápido. Eu tinha 11 ou 12 anos de idade. Logo depois da distribuição dos panfletos, coisa de minutos, apareciam peruas de onde saíam policiais à paisana e fardados, todos armados, encarando a todos.
Anos depois, estava lá outra vez, falando num evento organizado por um governo socialista. Não dava para ser meramente protocolar ou acadêmico. E parece que quem sofreu na pele a ditadura só espera isto: recordação e solidariedade.

Honolulu

Em 2010, somente 27,5% dos brasileiros recebia mais de 2 salários mínimos


Carta do cineasta Silvio Tendler sobre intimidação que sofreu do Clube Militar


Carta Aberta a um Delegado de Polícia ou Respondendo à Intimidação por parte do clube militar.

Delegado,
Dois policiais vieram ontem à minha residência entregar intimação para prestar declarações a fim de apurar atos de "Constrangimento ilegal qualificado – Tentativa - Autor", informa o ofício recebido. Meu advogado apurou tratar-se de denúncia ou queixa ou sei lá o quê, por parte do "presidente do clube militar" (em letra minúscula mesmo, de propósito).
Informo que na data da manifestação, 29 de março de 2012, estava recém-operado, infelizmente impedido de participar de ato público contra uma reunião de sediciosos, os quais, contrariando à determinação da Exma. Sra. Presidenta da República, comemoravam o aniversário da tenebrosa ditadura, que torturou, matou, roubou e desapareceu com opositores do regime. Entre os presentes estava o matador do Grande Herói da Pátria, Capitão Carlos Lamarca, e seu companheiro Zequinha - doentes, esquálidos, sem força, encostados numa árvore. Zéquinha e Lamarca foram fuzilados sem dó, nem piedade, quando a lei e a honra determinam colocá-los numa maca e levá-los para um hospital para prestar os primeiros socorros. Essa gente estava lá, não eu. Eles é que devem ser investigados. Eu farei um filme enaltecendo o Capitão Lamarca e seu bravo companheiro Zequinha.
Tenha certeza, Delegado, de que, enquanto eu tiver forças, me manifestarei contra o arbítrio e a violência das ditaduras e, já que o Sr. está conduzindo o inquérito, procure apurar se o canalha que prendeu, torturou e humilhou minha mãe nas dependências do Doi-Codi participou do "festim diabólico". Isso sim é Constrangimento Ilegal. E já que se trata de assunto de polícia, aproveite para pedir ao "constrangedor ilegal" que ficou com o relógio da minha mãe - ela entrou com o relógio no Doi-Codi e saiu sem ele - que o devolva. Processe-o por "apropriação indébita, seguida de roubo qualificado (foi à mão bem armada)". É fácil encontrar o meliante. Comece pelo Comandante do quartel da Barão de Mesquita em janeiro de 1971. Já que eles reabriram o assunto, o senhor pode desenterrar o processo. É, Delegado, o que eles fizeram durante a ditadura é mais assunto de polícia do que de política!
Pergunte ao queixoso presidente do clube militar se ele tem alguma pista do paradeiro do Deputado Rubens Paiva. Terá sido crime cometido por algum participante da festa macabra, onde, comenta-se, havia vampiros fantasiados de pijama?
Tudo o que fiz foi um chamamento pelo youtube convidando as pessoas a se manifestarem contra as comemorações do golpe de 64. Se este general entendesse ou respeitasse a lei, não teria promovido a festa e, tendo algo contra mim, deveria tentar me enquadrar por "delito de opinião" mas aí, na fotografia, ele ficaria mais feio do que é, não é mesmo?
Por fim, quero manifestar minha solidariedade aos que protestaram contra o "festim diabólico" e foram tratados de forma truculenta, à base de gás de efeito moral, spray de pimenta e choque elétrico - como nos velhos tempos. Bastaria umas poucas grades para separar os manifestantes do povo, que estavam na rua, aos sediciosos que ingressavam no clube. Há muitos poderia causar a impressão de estar visitando um zoológico e assistindo a um desfile de símios. Não perca tempo comigo e com a ranhetice de um bando de aposentados cri-cri, aporrinhando a paciência de quem tem mais o que fazer. Pura nostalgia da ditadura, eles se portam como se ainda estivessem em posição de mando.
Atenciosamente,
Silvio Tendler

Entrevista sobre a eleição de Collor e o papel da imprensa

Entrevista para estudantes de jornalismo da UFMG:


1) Após a agitação de 1984, com a eleição de Tancredo Neves, o fracasso do governo Sarney no combate a inflação e fracas instituições políticas, veio em 1989 a expectativa de um novo “salvador da pátria”, simbolizado na figura de Fernando Collor. Atualmente vemos uma relação de desilusão do eleitorado com a política no Brasil.
O que levou a população ao desinteresse generalizado com a vida política? De que forma a atuação da imprensa influenciou nesse quadro?
R: Acredito que duas situações que acabaram convergindo. A primeira, frustração pelo resultado final de toda esta mobilização. Os mesmos continuaram e até Collor retornou, como senador. Há, ainda, a inclusão social de 40 a 45 milhões de brasileiros pelo consumo, via Bolsa Família, crédito consignado e aumento real do salário mínimo. Esta situação já havia ocorrido nos EUA durante a década de 1950. Quando uma massa imensa é inserida pelo consumo, e não pelo direito ou pela política, emerge um profundo individualismo das famílias que procuram garantir este novo padrão de vida. Sobressai o pragmatismo e a despolitização geral. Os dados que temos sobre o perfil desta “Classe C” (na verdade, não podemos afirmar que se trata de uma nova classe social, mas de elevação da renda dos trabalhadores) retrata exatamente isto. O que conta, hoje, é o cinismo e não o engajamento. A revolta, que alimentava as mobilizações de rua, diminuiu em muito. Veja o caso das centrais sindicais ou movimento estudantil: ambos são financiados pelo Estado.


2) No dia 13 de dezembro daquele ano, a Folha divulgou uma pesquisa feita pelo Datafolha entre os leitores do jornal, que indicava que 58% julgaram que a cobertura da Folha era imparcial, enquanto 20% consideraram pró-Lula e 12% pró-Collor.
Como você, que viveu intensamente aquele período, avalia a atuação do veículo paulista?
R: Naquele período a Folha assumiu uma postura liberal clássica, de defesa dos direitos civis e da liberdade de imprensa. Não estava partidarizada até então. Mas, com o advento do lulismo a grande imprensa foi se partidarizando mais e mais. Recentemente, o publicitário Gaudêncio Torquato divulgou como o Estadão (jornal paulista que compete com a Folha) avaliava que a Folha confundia dado com fato real durante a Campanha das Diretas. Tancredo dizia que a Folha não sabia contar e que a emenda Dante de Oliveira não passaria. Era o tempo de engajamento civil da Folha.


3) O criador da campanha do PT em 1989, Paulo de Tarso, afirma que foi um erro do partido ter optado por não aceitar o apoio do PMDB, que detinha votos que poderiam alterar o resultado do pleito. Nas últimas eleições, o apoio do PMDB se não foi decisivo, assegurou vitórias mais expressivas ao Partido dos Trabalhadores na disputa presidencial.
Levando em consideração que com isso o Partido do Movimento Democrático Brasileiro ganhou mais espaço na pauta de decisões do governo, você vê como equivocada a decisão do PT em 89? Atualmente ela se justifica pelo jogo político?
R: São dois PTs muito distintos. O PT dos anos 1980 que vai até meados dos anos 1990 era dirigido por lideranças que tinham inspiração direta ou indireta na Teologia da Libertação e autores libertários. O nome do PT vem daí, de uma clara necessidade de existir um partido DOS trabalhadores e não PARA os trabalhadores. Esta era a diferença com os partidos comunistas e socialistas existentes no país. Era uma tentativa de organização de base, com ampla democracia de base, horizontalizado. Daí a ideia de núcleos de base do partido, instalados em locais de moradia e trabalho (algo que, afinal, não vingou). A partir de 1994, o partido passou a ser comandado pela burocracia construída por ex-militantes de organizações clandestinas. A formação deste pessoal não é de organização de massas ou respeito à participação, mas de partido de quadros, de vanguarda. Em outras palavras, não vejo possibilidade alguma do PT ter se aliado com o PMDB a partir do ideário que tinha naquele período. Ele era um partido transformador, cuja prática política no interior do partido já indicava as mudanças que pleiteava. A aliança com o PMDB já indicou, como é perceptível, que o PT não se colocava mais como partido da mudança, mas sim, partido da ordem.

4) A exibição pelo Jornal Nacional de uma versão editada do último debate entre os presidenciáveis foi geradora de muita polêmica na época. Pesquisa Datafolha de intenção de votos anterior ao debate indicava empate técnico entre os candidatos.
Na sua opinião, a edição que foi ao ar pelo JN distorceu o desempenho dos candidatos? Esse debate e seus desdobramentos foram decisivos para a derrota petista no dia 17 de dezembro?
R: Em parte, mas não saberia dizer com precisão qual o peso. O fato é que Lula perdeu fôlego no final de campanha. E havia uma orquestração para disseminar que a vitória dele seria a implantação de algo similar ao bolchevismo, distribuindo cômodos de casas particulares para famílias mais pobres, fazendo reforma agrária em pequenas propriedades. A orquestração foi muito forte nas duas últimas semanas da eleição. Também é importante afirmar que o PT não tinha estrutura partidária no nordeste. Grande parte da campanha foi desfechada por pessoas vinculadas à igreja católica, próximos à Teologia da Libertação. O pobre só começou a votar de maneira expressiva no PT a partir de 2006, já com todos programas de transferência de renda implantados por Lula.


5) No período que antecedeu a eleição de Collor, a revista Veja publicou matérias que reforçavam determinados preconceitos elitistas, sobretudo o medo em relação às esquerdas. Os nomes que representavam as legendas de esquerda, principalmente Lula e Brizola Lula, receberam críticas mais constantes que os outros políticos.
Mais de 20 anos depois, o que mudou na abordagem de assuntos políticos pela revista da Editora Abril?
R: Piorou. Ela se partidarizou profundamente. Faz campanhas, não jornalismo. Infelizmente. A questão é que a grande imprensa, como um todo, continua baseando sua linha editorial nos valores da classe média tradicional. Mas o fato é que este segmento social não forma mais opinião no país da “Classe C” (54% dos brasileiros estão, hoje, nesta faixa de renda). Os consumidores emergentes não leem jornais e revistas. Desconfiam delas (além de não terem hábito de leitura) porque foram ignorados quando não tinham significado econômico. Os editores de política não inovam, não percebem como atingir este segmento, como dialogar com seus valores, a não ser com jornais populares, que continuam trabalhando com a velha tríade sensacionalista: sexo, futebol e sangue.

6) Pouco tempo antes de eleito presidente, o ex-governador do pequeno estado de Alagoas passa a ser reconhecido em todo país como alguém capaz de fazer uma política diferente. Após eleição, com a sucessão de escândalos sobre o governo federal, a Rede estadunidense ABC chega a dizer que Collor começou como um John Kennedy brasileiro e acabou como Richard Nixon. Em um artigo postado no seu blog, você diz que Collor introduziu uma forma moderna de fazer campanha, focada no marketing político.
Sendo assim, Fernando Collor pode ser considerado um factoide, reforçado pelos grandes veículos de comunicação e sustentado por um contexto, para ser o candidato da direita?
R: Sim, foi um factoide. Havia uma crise dos partidos conservadores naquele período. Lembremos que praticamente todos partidos lançaram candidatos à Presidência da República, demonstrando que o campo estava absolutamente aberto, sem qualquer hegemonia de um agrupamento ou bloco. Collor soube construir um discurso para as massas excluídas, percebeu e traduziu o sentimento de revolta em relação à desigualdade social, sem ruptura com a ordem. Aliás, algo que o lulismo vai incorporar somente no final da década de 1990. Porque até o momento, os petistas vinculavam ruptura com a ordem com fim da desigualdade. Mas as pesquisas apontam que quando menor a renda, maior o medo com a ruptura, com manifestações de rua, com as greves (que geram desemprego). O binômio popular articula desejo de mudança com preservação da ordem. Collor soube traduzir este pensamento em discurso, com energia, como outsider (não contaminado pelos donos do poder), a partir de um cenário de crise de lideranças e de absoluta ausência de hegemonia. 

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

O caos nas escolas públicas brasileiras

O discurso fácil sugere que as escolas particulares são superiores em função de sua metodologia, modelo de gestão e recursos. Quem conhece as redes particulares conhece outra realidade. Mas isto é assunto para outra postagem. O que quero descrever é que a escola pública vem, nas últimas décadas, incorporando todas mazelas sociais porque o ensino fundamental está praticamente universalizado. Às escolas particulares restou assimilar a elite econômica. Quando esta elite não corresponde ao esperado, os alunos são convidados a escolher outra escola. Há uma famosa escola particular em Belo Horizonte que efetivamente convida os pais para retirarem seus filhos, mantendo altos índices de aprovação no ENEM. Algo que não tem muita relação com método pedagógico.
Mas vejam os relatos de diretores de escolas municipais e estaduais de MG que passo a reproduzir. Não vou citar a localidade, mesmo porque, estes relatos se repetem em todos municípios que conheço.


A realidade é marcada por alunos agressivos. Uma diretora cita o caso de um aluno de 11 anos que ameaça a todos, o tempo todo. Vive em família desestruturada, aliás, situação que envolve a maioria dos alunos da rede pública. A promotora convocou uma reunião com os pais, com o conselho tutelar, a direção da escola e o posto de saúde. O posto de saúde apareceu uma vez, depois da reunião, e nunca mais. Todos dizem que a direção é responsável, mas não há co-responsabilidade dos envolvidos na solução.
A própria justiça, afirmam, envia adolescentes agressivos, cujo problema não é de sua alçada. E decidem autorizar a mudança de escola apenas quando os alunos correm algum risco. E, mesmo quando sugerem a mudança de escola, as mães exigem que os filhos permaneçam perto de sua residência. Todos diretores sustentam que se configura, há alguma tempo, a desresponsabilização das famílias. Na outra ponta, os órgãos estatais pressionando. As equipes dirigentes das secretarias de educação só perguntam: “Mas você deu merenda para os alunos? Você deu carinho?"
Também denunciam casos em que a Justiça envia bandidos para a escola, em Liberdade Assistida ou Prestação de Serviço à Comunidade. Para piorar, são sempre moradores da região. Enfrentam os diretores, não cumprem as tarefas que lhes são determinadas. E ainda aliciam crianças e adolescentes.
Uma situação que aumenta a tensão. As famílias se vêem na condição de pressionar e afirmar que vão atrás dos seus direitos. Mas, de fato, só se interessam pela vida escolar dos filhos quando o registro de faltas ameaça os benefícios do Bolsa Família.

O primeiro caso citado é o de um aluno de 6 anos, extremamente violento, que bate nos professores e nos colegas de sala. Os pais são viciados em crack. A diretora afirma que toda semana leva um aluno ao hospital, vítima das agressões desta criança de 6 anos. Ataca, preferencialmente, a cabeça dos colegas, batendo-as nas carteiras e paredes. Joga tênis e qualquer outro objeto na cabeça de todos. A diretora afirma que tenta convencer que ele precisa de um professor de apoio, que ele não é deficiente, mas não é ouvida. Sustenta que não conseguiria atendê-lo em tempo integral porque ele desmobiliza toda escola.
Outros diretores sugerem que os profissionais da educação não estão preparados para atender situações como esta. Não conseguem distinguir indisciplina de falta de educação. Não sabem como criar situações de prevenção, não atuam no horário de intervalo de aulas. Um deles afirma que tal tensão está desmotivando a carreira. De um total de 90 profissionais, cita, 30 estão licenciados.
Sustentam que é elevado o número de crianças, de 6 ou 7 anos, com sintomas de esquizofrenia. Uma diretora relata o caso de uma menina de 7 anos que toma cinco comprimidos por dia, administrados pela escola. São cinco casos similares nesta unidade escolar. Esta menina, recentemente, fugiu da escola e saiu correndo por entre os carros que passavam numa avenida próxima. Diretora e professores correram atrás dela, que gritava e, quando foi pega, mordia a todos. "E se ela tivesse sido atropelada?", se perguntam. A mãe foi chamada e só apareceu no meio da tarde, às 15h00. Porque a maioria dos pais avalia que estando na escola, a direção é absolutamente responsável por seus filhos, mesmo em uma situação crítica como esta.

Um outro caso vem em seguida. Uma menina se machucou ao andar de bicicleta. Feriu-se na virilha. Todos que estavam na escola viram que foi um acidente. Mas a mãe acusou a escola. Disse que ela teria sofrido abuso sexual. O Conselho Tutelar acolheu a acusação, sem ouvir a direção da escola, e transferiu a menina. A diretora foi até o Ministério Público e exigiu explicação sobre esta acusação.

Uma outra diretora revela que em 12 anos de trabalho na mesma escola, este foi o primeiro em que os alunos menores, do vespertino, revelam alto grau de agressividade. São agitados, nervosos e sem limites, aos seis anos de idade. A maioria, afirma, é criada por avós, sem referência nenhuma, e passam de mão em mão, dos avós para tios, para outros tios.

Citam caso de aluno, de sete anos de idade, que convive com o filho do assassino de seu pai, que estuda na mesma sala de aula. Citam casos de estupro de meninos que são perseguidos e ridicularizados por seus colegas de sala.

Uma diretora revela que há três semanas, uma menina fugiu de casa, quando dizia que estava indo para a escola. Fugiu com um traficante da região. A mãe acusou a direção por não ter dado segurança. Todos fizeram ronda na região até que a menina reapareceu em sua casa, altas horas da noite.

Um dos diretores, já exaltado, afirma: “vejo que nós, diretores, estamos em pé de igualdade para dirigir centros de internação. E sem termos apoios que existem nos centros, como segurança e psicólogos”.

 A sexualidade aflorada e vulgar é citada por todos. Emerge muito cedo nos dias de hoje, aos 6 anos de idade. Dizem que não existe mais inocência. Um aluno de seis anos tentou, durante semanas, retirar as roupas das meninas de sua sala de aula. Professores e direção da escola conversaram com ele e começaram a acompanhar seus passos. Mas ele começou a incentivar os colegas a pegar na genitália das meninas. A direção chamou os pais do menino, mas nada foi feito. Finalmente, o menino quase atacou uma menina e foi contido pela professora.  A menina gritava. A professora acabou procurando a direção, totalmente desestruturada, dizendo que não conseguia mais se controlar e que o menino a estava tirando do sério.
Uma menina de 9 anos era estuprada desde os 6 anos pelo padrasto. Procurou a direção da escola que denunciou o caso. O padrasto se defendeu e disse que o abuso foi cometido por adolescentes. A mãe acabou retirando a menina da escola. A menina tinha um comportamento agressivo, perseguia os alunos, que a temiam.

Todos entrevistados sugerem o retorno da figura do orientador educacional. Porque os supervisores atendem os professores e não conseguem atender todas demandas. Acabam se dedicando a atender estes casos de comportamento agressivo e sexualidade precoce dos alunos, mas é algo que não consegue equacionar, tal o volume de trabalho.
O fato é que as crianças não são ouvidas. Um diretor diz que “estão gritando para serem ouvidos e o professor ouve um a um, mas não escuta todos envolvidos”. Os alunos dizem sempre que se queixam “para as tias”, mas nada acontece.

A violência e a sexualidade agressiva é algo natural para crianças e adolescentes. Sentem prazer em agredir, em ofender. Sorriem quando vêem um colega sofrendo. Uma situação crítica que acaba gerando uma dupla postura nos professores: ou chegam armados, prontos para reagir ao primeiro sinal; ou totalmente ausentes, como se não vissem nada ao redor.
Perguntados sobre a relação desta realidade com o desempenho escolar, são unânimes em dizer que é raro, mas há casos em que alunos com este comportamento saem-se muito bem nas avaliações. Vários são inteligentes e hiperativos. A maioria tem o que denominam de “inteligência auditiva”. Ouvem, mas não conseguem ler, não conseguem fazer tarefas ou estudos em sua casa, não conseguem parar num lugar. E acabam interferindo no ritmo de toda sala.
Mas não conseguem chegar a um consenso sobre o desempenho pedagógico. Alguns afirmam que estão conseguindo melhorar. Outros contestam. Ao final, concordam que estão apenas preparando para os testes do IDEB. Afirmam:

A secretaria envia material que temos que reproduzir e imprimir. Treinamos os alunos para se saírem bem no IDEB. Se não distribuímos o material enviado pela secretaria, somos cobrados. O IDEB é isto. Provas extensas para alunos bipolares, que não agüentam ler muito. Eles estão acostumados a ter uma leitura por dia. E a prova é longa, que exige 20 leituras. “

domingo, 16 de dezembro de 2012

Ser oposição nos EUA e no Brasil

Paul Krugman acaba de escrever um belo artigo sobre a crise existencial do Partido Republicano. Vou reproduzir a maior parte do artigo escrito pelo Prêmio Nobel. Leia e me reponda: não é uma análise da crise da oposição no Brasil?


Desde os anos 1970, o Partido Republicano tem sido cada vez mais influenciado por ideólogos radicais, cujo objetivo é nada mais, nada menos do que eliminar o estado de bem-estar social – isto é, todo o legado do “New Deal” e da “Great Society”. Desde o começo, no entanto, esses ideólogos se viram diante de um grande problema: os programas que eles querem eliminar são muito populares. Os norte-americanos podem concordar com a cabeça quando alguém ataca o governo gigante e tentacular na teoria. Mas eles apóiam totalmente a Previdência Social, o Medicar e até mesmo o Medicaid. Então, o que os radicais podem fazer? A resposta, durante muito tempo, envolveu duas estratégias. Uma delas consiste no plano que visa “matar a besta de fome”, que é a idéia de usar cortes de impostos para reduzir a receita do governo e, em seguida, usar a conseqüente escassez de recursos para obrigar a realização de cortes em programas sociais populares. Quando vemos algum político republicano denunciar piedosamente as contas federais que estão no vermelho, devemos sempre nos lembrar que, durante décadas, o Partido Republicano tem visto os déficits orçamentários como um recurso, e não como um defeito. No entanto, sem dúvida mais importante no pensamento conservador era a noção de que o Partido Republicano poderia explorar outras fontes de força – como o ressentimento dos norte-americanos brancos, a aversão da classe trabalhadora a mudanças sociais, as conversas duras sobre a segurança nacional – para construir um domínio político esmagador e, a partir de então, permitir que o desmantelamento do estado de bem-social prosseguisse livremente. Apenas oito anos atrás, o ativista anti-impostos Grover Norquist olhava para o futuro alegremente, vislumbrando os dias em que os democratas seriam politicamente neutralizados: “qualquer fazendeiro pode lhe dizer que certos animais são ariscos, não param de correr e são desagradáveis. Mas, após serem corrigidos, eles ficam felizes e calmos”. OK, você consegue perceber o problema: os democratas não apoiaram o programa e se recusaram a desistir. Pior ainda: do ponto de vista republicano, todas as fontes de força do partido se transformaram em fraquezas. O domínio democrata entre os hispânicos tem ofuscado o domínio republicano entre os brancos do sul do país e os direitos das mulheres triunfaram sobre as políticas relacionadas ao aborto e ao sentimento anti-gay. E olha onde estamos agora em termos do estado de bem-estar social: longe de acabar com ele e, atualmente, os republicanos têm que assistir enquanto Obama implementa a maior expansão do seguro social desde a criação do Medicare.Então, os republicanos sofreram mais do que uma derrota eleitoral. Eles têm testemunhado o colapso de um projeto de décadas. E, com seus objetivos grandiosos agora fora de alcance, eles literalmente não têm idéia do que querem – daí a sua incapacidade de fazer exigências específicas.

TIMÃÃÃÃOOOOO


Sobre o discurso da privatização

Ainda está para aparecer o discurso mais sólido sobre alternativa ao lulismo. O PSDB esboçou retomar o discurso das privatizações como saída para maior abertura da economia e crescimento sustentável. Cita Chile, Colômbia e outros países do continente para indicar o rumo certo. Mas este discurso não pega. Tenho, cá comigo, uma hipótese explicativa.
A desconfiança popular sobre o tema não se ancora em nenhuma motivação ideológica. Longe disto. Acredito que a grande maioria nem pisca um olho para este tema. Mas há os que se incomodam. Explico a hipótese. Os dados que temos em mãos sugere que grande parte dos pequenos municípios brasileiros (a grande maioria, com menos de 40 mil habitantes) tem no comércio sua principal fonte de energia e movimentação econômica. Nas grandes cidades, o pequeno comércio varejista também faz a festa dos bairros e comunidades. Estou citando, portanto, grande parte da vida dos brasileiros de baixa renda. E de onde vem os recursos para movimentação do comércio? Dos recursos estatais, via bolsa família, crédito popular, pensões e aposentadorias, além de funcionários públicos. Basta consultar os dados das associações comerciais dos pequenos municípios. Não se trata do valor unitário (o governo federal, recentemente, revelou que o valor médio de aposentadorias e pensões pagas pelo INSS é inferior a dois salários mínimos), mas da massa de recursos que movimenta o pequeno comércio. Mais de 17 milhões de famílias brasileiras são beneficiadas pelos recursos previdenciários.
Pois bem. Acredito que o discurso das privatizações assuste estes comerciantes e beneficiários deste sistema de transferências de renda e recursos federais. Não se trata de nacionalismo ou postura ideológica. Mas de receio do mercado, altamente competitivo e pouco afeito às políticas sociais redistributivas, tomar conta da área.
O receio, enfim, parte do bolso.

DATAFOLHA: PT elegeria Presidente no primeiro turno

Se as eleições presidenciais fossem hoje, Dilma ou Lula estariam eleitos no primeiro turno.
Dilma teria entre 53% a 57%, conforme o cenário e Lula teria 56% se disputasse a Presidência. Uma situação mais confortável que em todas situações em que Lula e Dilma venceram o pleito.
Esta é a medida para se entender a agressividade da oposição após as eleições municipais de outubro. Parece evidente que os canais de comunicação da oposição com a maioria dos brasileiros está interditado. 
Vejam a situação de Aécio Neves. Nos cenários tendo Dilma candidata à reeleição, o tucano mineiro aparece em terceiro lugar, atrás de Marina Silva. Com Lula candidato, Aécio figura em quarto lugar.
Não há dúvida: é o pior Natal que a oposição poderia ter.

sábado, 15 de dezembro de 2012

Serraglio surpreende novamente

Ele já foi representante do baixo clero no Congresso Nacional. Mas ninguém impõe duas fortes derrotas sendo cavalo paraguaio. Pois bem, o deputado federal Osmar Serraglio, acaba de ser eleito presidente do PMDB do Paraná. Não foi qualquer vitória. Derrotou o todo poderoso senador Roberto Requião, por 56,7% dos votos (de um total de 501 convencionais). Já se fala em conciliação. Pode até ser. Mas o diretório paranaense está dividido não só entre estes dois blocos. Os deputados estaduais, agora dirigentes do PMDB PR, preferem a aproximação com o tucano Beto Richa. Já Serraglio, o ex-governador Orlando Pessuti e Rocha Loures (chefe de relações institucionais da Vice-Presidência da República) são próximos do casal petista Gleisi e Paulo Bernardo. Tenho a impressão que esta é a vida do PMDB de norte a sul.