Mas vejam os relatos de diretores de escolas municipais e estaduais de MG que passo a reproduzir. Não vou citar a localidade, mesmo porque, estes relatos se repetem em todos municípios que conheço.
A
realidade é marcada por alunos agressivos. Uma diretora cita o caso de um aluno
de 11 anos que ameaça a todos, o tempo todo. Vive em família desestruturada,
aliás, situação que envolve a maioria dos alunos da rede pública. A promotora
convocou uma reunião com os pais, com o conselho tutelar, a direção da escola e
o posto de saúde. O posto de saúde apareceu uma vez, depois da reunião, e nunca
mais. Todos dizem que a direção é responsável, mas não há co-responsabilidade
dos envolvidos na solução.
A
própria justiça, afirmam, envia adolescentes agressivos, cujo problema não é
de sua alçada. E decidem autorizar a mudança de escola apenas quando os alunos correm algum risco. E, mesmo quando sugerem a mudança de escola, as mães exigem que os
filhos permaneçam perto de sua residência. Todos diretores sustentam que se configura, há alguma
tempo, a desresponsabilização das
famílias. Na outra ponta, os órgãos estatais pressionando. As equipes
dirigentes das secretarias de educação só perguntam: “Mas você deu merenda para
os alunos? Você deu carinho?"Também denunciam casos em que a Justiça envia bandidos para a escola, em Liberdade Assistida ou Prestação de Serviço à Comunidade. Para piorar, são sempre moradores da região. Enfrentam os diretores, não cumprem as tarefas que lhes são determinadas. E ainda aliciam crianças e adolescentes.
Uma situação que aumenta a tensão. As famílias se vêem na condição de pressionar e afirmar que vão atrás dos seus direitos. Mas, de fato, só se interessam pela vida escolar dos filhos quando o registro de faltas ameaça os benefícios do Bolsa Família.
O
primeiro caso citado é o de um aluno de 6 anos, extremamente violento, que bate
nos professores e nos colegas de sala. Os pais são viciados em crack. A
diretora afirma que toda semana leva um aluno ao hospital, vítima das agressões
desta criança de 6 anos. Ataca, preferencialmente, a cabeça dos colegas,
batendo-as nas carteiras e paredes. Joga tênis e qualquer outro objeto na
cabeça de todos. A diretora afirma que tenta convencer que ele precisa de um
professor de apoio, que ele não é deficiente, mas não é ouvida. Sustenta que
não conseguiria atendê-lo em tempo integral porque ele desmobiliza toda escola.
Outros
diretores sugerem que os profissionais da educação não estão preparados para
atender situações como esta. Não conseguem distinguir indisciplina de falta de
educação. Não sabem como criar situações de prevenção, não atuam no horário de
intervalo de aulas. Um deles afirma que tal tensão está desmotivando a
carreira. De um total de 90 profissionais, cita, 30 estão licenciados.Sustentam que é elevado o número de crianças, de 6 ou 7 anos, com sintomas de esquizofrenia. Uma diretora relata o caso de uma menina de 7 anos que toma cinco comprimidos por dia, administrados pela escola. São cinco casos similares nesta unidade escolar. Esta menina, recentemente, fugiu da escola e saiu correndo por entre os carros que passavam numa avenida próxima. Diretora e professores correram atrás dela, que gritava e, quando foi pega, mordia a todos. "E se ela tivesse sido atropelada?", se perguntam. A mãe foi chamada e só apareceu no meio da tarde, às 15h00. Porque a maioria dos pais avalia que estando na escola, a direção é absolutamente responsável por seus filhos, mesmo em uma situação crítica como esta.
Um outro caso vem em seguida. Uma menina se machucou ao andar de bicicleta. Feriu-se na virilha. Todos que estavam na escola viram que foi um acidente. Mas a mãe acusou a escola. Disse que ela teria sofrido abuso sexual. O Conselho Tutelar acolheu a acusação, sem ouvir a direção da escola, e transferiu a menina. A diretora foi até o Ministério Público e exigiu explicação sobre esta acusação.
Uma
outra diretora revela que em 12 anos de trabalho na mesma escola, este foi o
primeiro em que os alunos menores, do vespertino, revelam alto grau de
agressividade. São agitados, nervosos e sem limites, aos seis anos de idade. A
maioria, afirma, é criada por avós, sem referência nenhuma, e passam de mão em
mão, dos avós para tios, para outros tios.
Citam
caso de aluno, de sete anos de idade, que convive com o filho do assassino de
seu pai, que estuda na mesma sala de aula. Citam casos de estupro de meninos
que são perseguidos e ridicularizados por seus colegas de sala.
Uma
diretora revela que há três semanas, uma menina fugiu de casa, quando dizia que
estava indo para a escola. Fugiu com um traficante da região. A mãe acusou a
direção por não ter dado segurança. Todos fizeram ronda na região até que a
menina reapareceu em sua casa, altas horas da noite.
Um
dos diretores, já exaltado, afirma: “vejo que nós, diretores, estamos em pé de
igualdade para dirigir centros de internação. E sem termos apoios que existem
nos centros, como segurança e psicólogos”.
A sexualidade aflorada e vulgar é citada por
todos. Emerge muito cedo nos dias de hoje, aos 6 anos de idade. Dizem que não
existe mais inocência. Um aluno de seis anos tentou, durante semanas, retirar
as roupas das meninas de sua sala de aula. Professores e direção da escola
conversaram com ele e começaram a acompanhar seus passos. Mas ele começou a
incentivar os colegas a pegar na genitália das meninas. A direção chamou os
pais do menino, mas nada foi feito. Finalmente, o menino quase atacou uma
menina e foi contido pela professora. A
menina gritava. A professora acabou procurando a direção, totalmente
desestruturada, dizendo que não conseguia mais se controlar e que o menino a
estava tirando do sério.
Uma
menina de 9 anos era estuprada desde os 6 anos pelo padrasto. Procurou a
direção da escola que denunciou o caso. O padrasto se defendeu e disse que o
abuso foi cometido por adolescentes. A mãe acabou retirando a menina da escola.
A menina tinha um comportamento agressivo, perseguia os alunos, que a temiam.
Todos
entrevistados sugerem o retorno da figura do orientador educacional. Porque os
supervisores atendem os professores e não conseguem atender todas demandas.
Acabam se dedicando a atender estes casos de comportamento agressivo e
sexualidade precoce dos alunos, mas é algo que não consegue equacionar, tal o
volume de trabalho.
O
fato é que as crianças não são ouvidas. Um diretor diz que “estão gritando para
serem ouvidos e o professor ouve um a um, mas não escuta todos envolvidos”. Os
alunos dizem sempre que se queixam “para as tias”, mas nada acontece.
A
violência e a sexualidade agressiva é algo natural para crianças e
adolescentes. Sentem prazer em agredir, em ofender. Sorriem quando vêem um
colega sofrendo. Uma
situação crítica que acaba gerando uma dupla postura nos professores: ou chegam
armados, prontos para reagir ao primeiro sinal; ou totalmente ausentes, como se
não vissem nada ao redor.
Perguntados
sobre a relação desta realidade com o desempenho escolar, são unânimes em dizer
que é raro, mas há casos em que alunos com este comportamento saem-se muito bem
nas avaliações. Vários são inteligentes e hiperativos. A maioria tem o que
denominam de “inteligência auditiva”. Ouvem, mas não conseguem ler, não
conseguem fazer tarefas ou estudos em sua casa, não conseguem parar num lugar.
E acabam interferindo no ritmo de toda sala. Mas não conseguem chegar a um consenso sobre o desempenho pedagógico. Alguns afirmam que estão conseguindo melhorar. Outros contestam. Ao final, concordam que estão apenas preparando para os testes do IDEB. Afirmam:
A secretaria envia
material que temos que reproduzir e imprimir. Treinamos os alunos para se
saírem bem no IDEB. Se não distribuímos o material enviado pela secretaria,
somos cobrados. O IDEB é isto. Provas extensas para alunos bipolares, que não
agüentam ler muito. Eles estão acostumados a ter uma leitura por dia. E a prova
é longa, que exige 20 leituras. “
4 comentários:
Rudá,
Conheço bem esta realidade. Minha mulher leciona história em uma escola pública...
Lamentável.
Sou professor também da rede pública em Salvador. A mesma realidade relatada em MG observamos aqui na BA. Lecionar em tais condições é muito difícil, um desafio!
Atuei por 30 anos na rede publica de SP e confirmo a existência do mesmo retrato.
Prezado:
Sou professor da rede pública minicipal aqui do Rio de Janeiro há 20 anos e posso afirmar que aqui o quadro é bem parecido com os casos colocados no seu post.
Aqui a " gestão" da educação é comandada por Cláudia Costin ex ´ministra do governo FHC de triste memória.O engraçado ou triste aqui é que o PT apoia o governo municipal para tristeza e revolta de varios amigos petistas e inclusive agora tem o vice prefeito o Adilson Pires.
Lamentável;
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