domingo, 16 de dezembro de 2012

Ser oposição nos EUA e no Brasil

Paul Krugman acaba de escrever um belo artigo sobre a crise existencial do Partido Republicano. Vou reproduzir a maior parte do artigo escrito pelo Prêmio Nobel. Leia e me reponda: não é uma análise da crise da oposição no Brasil?


Desde os anos 1970, o Partido Republicano tem sido cada vez mais influenciado por ideólogos radicais, cujo objetivo é nada mais, nada menos do que eliminar o estado de bem-estar social – isto é, todo o legado do “New Deal” e da “Great Society”. Desde o começo, no entanto, esses ideólogos se viram diante de um grande problema: os programas que eles querem eliminar são muito populares. Os norte-americanos podem concordar com a cabeça quando alguém ataca o governo gigante e tentacular na teoria. Mas eles apóiam totalmente a Previdência Social, o Medicar e até mesmo o Medicaid. Então, o que os radicais podem fazer? A resposta, durante muito tempo, envolveu duas estratégias. Uma delas consiste no plano que visa “matar a besta de fome”, que é a idéia de usar cortes de impostos para reduzir a receita do governo e, em seguida, usar a conseqüente escassez de recursos para obrigar a realização de cortes em programas sociais populares. Quando vemos algum político republicano denunciar piedosamente as contas federais que estão no vermelho, devemos sempre nos lembrar que, durante décadas, o Partido Republicano tem visto os déficits orçamentários como um recurso, e não como um defeito. No entanto, sem dúvida mais importante no pensamento conservador era a noção de que o Partido Republicano poderia explorar outras fontes de força – como o ressentimento dos norte-americanos brancos, a aversão da classe trabalhadora a mudanças sociais, as conversas duras sobre a segurança nacional – para construir um domínio político esmagador e, a partir de então, permitir que o desmantelamento do estado de bem-social prosseguisse livremente. Apenas oito anos atrás, o ativista anti-impostos Grover Norquist olhava para o futuro alegremente, vislumbrando os dias em que os democratas seriam politicamente neutralizados: “qualquer fazendeiro pode lhe dizer que certos animais são ariscos, não param de correr e são desagradáveis. Mas, após serem corrigidos, eles ficam felizes e calmos”. OK, você consegue perceber o problema: os democratas não apoiaram o programa e se recusaram a desistir. Pior ainda: do ponto de vista republicano, todas as fontes de força do partido se transformaram em fraquezas. O domínio democrata entre os hispânicos tem ofuscado o domínio republicano entre os brancos do sul do país e os direitos das mulheres triunfaram sobre as políticas relacionadas ao aborto e ao sentimento anti-gay. E olha onde estamos agora em termos do estado de bem-estar social: longe de acabar com ele e, atualmente, os republicanos têm que assistir enquanto Obama implementa a maior expansão do seguro social desde a criação do Medicare.Então, os republicanos sofreram mais do que uma derrota eleitoral. Eles têm testemunhado o colapso de um projeto de décadas. E, com seus objetivos grandiosos agora fora de alcance, eles literalmente não têm idéia do que querem – daí a sua incapacidade de fazer exigências específicas.

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