terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Denúncias de Marcos Valério e o cerco à Lula e Dilma

Final de ano pouco auspicioso para Lula e Dilma. Logo depois do bom resultado eleitoral do PT (e da vitória desconcertante de Fernando Haddad), o PSDB resolveu colocar sua artilharia em campo. O PSB também, rompendo com o governo petista do DF. São manobras corretas, do ponto de vista político, preparando terreno para a disputa de 2014. A ofensiva, num momento de péssimas notícias sobre o desempenho da economia tupiniquim, criam uma onda de pessimismo que fazem sobressair a atenção sobre alternativas possíveis. E é aí que entram o PSDB e PSB. Ou tentam entrar. Porque logo em seguida vem o Natal e a passagem de ano, momento de descarregar o 13o salário e as mágoas, como água fria em queimadura. O que exigirá nova ofensiva oposicionista no início do ano. De qualquer maneira, PSDB e PSB fazem um jogo mais maduro e certeiro que a tentativa de fulanização do PPS.
O que atrapalha ainda mais brasa no chão por onde pisa o PT, neste final de ano, é a repercussão do affair Rosemary e as denúncias de Marcos Valério. Neste ponto, a intimidade se mistura com a política, bem ao gosto da "cordialidade" brasileira e apimenta as conversas em roda das festas natalinas. São, ao meu ver, mais produtivas que a ofensiva dos socialistas e socialdemocratas (que fazem sua parte).
Vejam como o blog de Fernando Rodrigues, na UOL, repercute a última êmese de Valério. O título já é um aviso de Israel aos moradores da Faixa de Gaza.



Delação de Valério poderia ter levado Lula ao impeachment em 2005 e a réu em 2012 
 


Tivesse revelado o que diz saber sobre o mensalão quando o escândalo eclodiu, em 2005, o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza poderia ter levado ao impeachment o então presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.
Num depoimento em 24 de setembro de 2012 à Procuradoria-Geral da República, Valério afirmou que o esquema do mensalão ajudou a bancar despesas pessoais de Lula da Silva no ano de 2003.
informação consta na íntegra do depoimento de Marcos Valério e foi apurada pelos repórteres Felipe Recondo, Alana Rizzo e Fausto Macedo.
Em 1992, o que levou o Congresso a precipitar o impeachment (afastamento do cargo) de Fernando Collor de Mello foram indícios de que o chamado esquema PC (de Paulo César Farias, tesoureiro de campanha de Collor) pagava despesas pessoais do então presidente da República. Collor perdeu a cadeira. Posteriormente, acabou se livrando num julgamento no Supremo Tribunal Federal (mas nunca mais recuperou seu pretígio político).
Marcos Valério não quis fazer em 2005 as revelações que faz agora. Se tivesse falado tudo à CPI que apurou o esquema do mensalão, além de um possível impeachment de Lula, o agora ex-presidente certamente teria sido incluído como um dos réus do mensalão no processo que está sendo julgado no momento pelo STF.
Lula ficou fora do julgamento atual porque nenhuma testemunha de peso o acusou de maneira aberta. Ao contrário. Nunca é demais lembrar que Roberto Jefferson, o grande denunciante do esquema, sempre preservou Lula como pode em suas acusações. Naquela época, em 2005, outros integrantes do esquema também preferiram não envolver o então presidente. Marcos Valério foi outro que se calou sobre o petista.
Agora, Marcos Valério mudou de atitude. Contou à Procuradoria-Geral da República que recursos teriam sido depositados na conta de uma empresa do ex-assessor da Presidência Freud Godoy. Essa pessoa era uma espécie de “faz tudo” de Lula.
A informação sobre esse suposto depósito só poderá ser apurada com a abertura de um inquérito, o que é incerto no momento.
Valério também afirma em seu depoimento que o ex-presidente Lula deu aval para os empréstimos que serviriam de pagamentos a deputados da base aliada. Isso teria ocorrido em reunião no Palácio do Planalto com a presença do ex-ministro José Dirceu e do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares.
É claro que o valor do depoimento de Valério agora deve ser matizado. Ele é um réu condenado a mais de 40 anos no processo do mensalão. Tentou, com sua nova delcaração, ser considerado um delator que colaborou com as apurações –mas fez isso tardiamente e não recebeu nenhum benefício judicial no atual momento.
As declarações de Valério podem resultar, é claro, em um novo processo. Mas esse é um procedimento que só avançará lentamente para apurar a veracidade das revelações.
No atual julgamento do mensalão, o efeito é nulo. Não há como novas provas serem acrescidas ao processo na atual fase final.
Mas ainda que tudo tenha de ser comprovado do ponto de vista judicial, já há impacto político. Trata-se de uma pancada na credibilidade de Lula, que sempre se disse traído pelos correligionários que teriam montado o mensalão. Com as delações de Valério, já há pelo menos um integrante do esquema que contesta de maneira aberta a versão lulista.

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