Ontem fui entrevistado por uma rádio que procurava repercutir as denúncias de Marcos Valério e me perguntava se era motivo para investigar Lula. Minha posição é sempre a mesma: se há denúncia sobre uso indevido de dinheiro público, a investigação tem que ser algo imediato. Quem não deve, não teme. Sei que se faz marola, na política, para macular a imagem de algum político em evidência. Mas, neste caso, se não há problema algum, o melhor é correr com a investigação. Ao menos esta é a postura que nós, da sociedade civil, temos que tomar, sem nos confundirmos com o jogo de interesses dos partidos ou dos que desejam nos representar politicamente.
Mas eu ponderei algo que parece que Lula anunciou algumas horas atrás: se for pressionado, Lula vai colocar o bloco na rua. Como teria dito o ministro chinês Hua-Yuan: "consta-me que um homem superior sente compaixão quando vê outro sofrer e que o homem inferior se regozija com o sofrimento de outrem!". A leitura política desta frase é um pouco mais dramática. Atacar alguém sem piedade, não deixando nem mesmo uma passagem para a fuga instiga, inevitavelmente, o instinto de preservação. O acuado vai para o ataque, com todas suas forças, o que transforma um rato em um monstro. Agir sem pensar na reação do outro é um dos maiores pecados políticos. Interessante que a ideia de extermínio total do inimigo foi, na China, proposto por Mao Tsé-Tung, quando definiu a Estratégia da Terceira Guerra Civil: "cercar completamente o inimigo e lutar para exterminá-lo por completo, não deixando um só escapar".
E é daí que vem o anúncio de Lula. Ainda em Paris, anunciou que vai retomar as Caravanas da Cidadania, sugerindo que será candidato em 2014. Em 2005, Lula teria ameaçado transformar o Brasil num confronto aberto, ao estilo chavista. A oposição recuou. Com o "Cansei" foi o mesmo.
Já destaquei, em nota publicada hoje neste blog, que a oposição melhorou a pontaria neste final de ano, depois de anos atirando a esmo. Mas faltava-lhe acertar o timing.
O problema é que se Lula não ficar apenas na ameaça, reverte os termos do ataque. A oposição continuará tendo apenas a grande imprensa como espaço de repercussão de sua ofensiva e Lula volta para as ruas e organiza um contra-golpe. O que revelará, no final das contas, quem tem a fonte do poder político real.
5 comentários:
"Se há denúncia sobre o uso indevido de dinheiro público, a investigação tem que ser algo imediato". Sobre essa frase não há nem pode haver nada contra, mas coloque-a no contexto existente, isto é, uma declaração de um réu condenado que depois de inúmeras chances de falar não falou, e agora com esse castigo atira para todos os lados. Antes mesmo de haver uma investigação, cabe apenas perguntar ao dedurante, mostre alguma prova, por mais singela que seja, ou algum indício.
E você diz ainda que a oposição melhorou a apontaria, o que é oposição para você: a imprensa, o MPF, a PGR, o STF? Pois os partidos políticos, esses são infelizmente, um ajuntamento de mediocridade.
Qual a oposição melhorou a pontaria nada, com o Supremo Tribunal é que entrou em campo dando, por assim dizer, aquela mãozinha amiga...
Tocando,
A questão não é a origem da denúncia, mas o erro de empurrar com a barriga sobre algo que ninguém tem certeza de nada. A única hipótese que valeria a pena deixar este argumento se perpetuar é se for verdade. Caso contrário, melhor matar a história de uma vez.
Quanto à oposição, é óbvio que comentava a ofensiva do PSDB. O tucanato não conseguia emplacar nenhum ataque que gerasse algum raspão. Agora, grande parte dos petistas se defende quase todos os dias. O único que parece apontar um contra-golpe é o próprio Lula. Neste caso, a mediocridade não seria apenas da oposição.
Educação,
O Supremo não tem nada a ver com isto. Estamos com problemas econômicos que são combatidos com medidas setoriais e os casos de Lula com Rosemary não tem relação com julgamento algum, imagino. Acho que você está entrando na famosa argumentação da teoria conspiratória. Tente analisar como um jogo, não como questão pessoal.
Prof. Rudá,
desde a muito, e o professor tem me ajudado bastante, venho tentando enxergar essas questões sem as lentes da paixão.
Escrevi o comentário baseado no seu “Joaquim Barbosa”, de 07 de outubro deste - http://rudaricci.blogspot.com.br/2012/10/joaquim-barbosa.html - quando o professor escreveu: “...Confesso que admiro mais o estilo intelectualizado e cuidadoso do revisor do processo do mensalão que o estilo assertivo do relator. Também prefiro a leitura minuciosa das provas contidas nos autos que o "encaixe" dos fatos a partir de uma narrativa que envolve cada um dos casos em julgamento. A narrativa pode até ser verossímil, mas me dá a impressão de atalho, de certa indolência”, além de artigos do Paulo Moreira Leite – Época, e Jânio de Freitas – Folha de São Paulo, que escreveram textualmente que a AP 470 foi julgada de maneira equivocada.
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