A PUC-SP era uma festa diária. Uma liberdade que dificilmente se viu na universidade brasileira. Cartazes por todos os lados. Reuniões em profusão. Debates. A reitoria facilitava a organização de eventos, produzia cartazes para qualquer aluno divulgar um debate sobre arte de vanguarda ou a exibição de um filme (eu mesmo fui contemplado, por diversas vezes, por este apoio). Quando a aula estava chata ou improdutiva, eu subia até o quarto andar e entrava na aula de Paulo Freire ou Florestan Fernandes ou Octávio Ianni ou Walter Barelli. E lá estava, também, Décio Pignatari. Era irritadiço. E fazia parte da festa como poeta, ensaísta e tradutor famoso. Morreu ontem por problemas respiratórios, aos 85 anos. Ele levava consigo um tom áspero que está contida na poesia concreta, que o notabilizou ao lado dos irmãos Campos (Augusto e Haroldo). Divulgou (e traduziu) McLuhan entre nós. E brigou com Ferreira Gullar (que havia rompido com o concretismo).
Décio Pignatari fazia parte da festa permanente da PUC-SP. A universidade que hoje, infelizmente, frequenta as páginas de jornais por motivos menos nobres.
Um comentário:
A justa homenagem a décio e a poesia concreta nunca foi realmente dada. A "inovação" genuína e originariamente brasileira na origem, fruto de mentes criativas do pós guerra, livres dessa sensação aqui nos trópicos tem muito mais respeito lá fora que aqui dentro.Como me disse um amigo. A poesia concreta mexeu na Receita do Código. Sua influência é de fundo e nunca se restringiu ao "tropicalismo" e que tais, ainda hoje ecoa por causa de sua natureza em várias áreas da cultura.Décio, talvez estafado com a ignorância com que foi recebida essa coragem de fazer poesia com o código fonte acabou por dedicar-se a tradução, expansão do conhecimento deste fantástico instrumento de "apreciação" da realidade que é a semiótica que fazia com maestria e provavelmente o melhor crítico de comunicação que o país já teve.Quando nem havia internet já falava que o mundo se organizaria cada vez mais em códigos.Fazia piadas provocativas quando lhe perguntavam se o homem era capaz de levitar coisas dizia que sim, era só observar um avião Jumbo levantar voo !!! Um Lubrax na Criatividade Brasileira !
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