O mais próximo da gestão Lula da atual talvez tenha sido os seus dois primeiros anos. Mesmo assim, a distância ainda é grande. Nos dois primeiros anos, Lula entrou forçando a agenda nacional, mas de maneira desorganizada e contraditória. De um lado, tentou emplacar a reforma previdenciária, reforma tributária, reforma trabalhista, reforma sindical e reforma política. Na outra ponta, estruturou o Fome Zero, mas sem orçamento e estrutura, de maneira voluntarista e voluntariosa. Finalmente, o Ministério da Fazenda criou a terceira ponta, cortando orçamentos e alterando toda a lógica das políticas sociais até então cantadas em verso e prosa pelo PT. Um texto da Secretaria Nacional de Política Econômica, sugerindo a focalização das políticas públicas e a educação voltada para o mercado gerou a ira de Aloizio Mercadante e Maria Conceição Tavares.
Se pensarmos o que ocorreu a partir de 2005, perceberemos que a lógica da Fazenda imperou a partir daí. Mas acabou se casando, paradoxalmente, com a vertente que vinha do outro lado do governo, da Casa Civil.
Na prática, a linha programática passou a ser mais europeia, mais centralizadora, mais indutora e muito menos participativa ou transparente. Formou-se um bloco de governo de tipo parlamentarista que remodelou o pacto federativo. A partir de então, o governo federal se confundiu com a República. E o aríete desta lógica estatal-desenvolvimentista passou a ser a figura do deputado federal, captador de convênios federais para prefeituras, orientador e financiador de todo processo eleitoral. Os deputados federais, infelizmente, não pensam estratégias, muito menos de desenvolvimento territorial. Teriam todas condições, mas concentraram seus mandatos na lógica cartorial-eleitoral.
O governo Dilma não tem esta ousadia, nem capacidade de mudança de rumos. Estas parecem ser as diferenças mais significativas. Trata-se de um governo de tipo gerencial, focado em metas e programas já formatados. A percepção que passa é que este modelo de gestão adota um planejamento normativo, aquele que é concebido como regra, como lei, que não possui mobilidade suficiente para se repensar em função de alguma alteração conjuntural, situacional. Dai uma imagem ainda que opaca que lembra alguma coisa do modelo de planejamento central do mundo soviético.
Que Dilma não tenha carisma e não tenha perfil negociador, isto parece já escrito nas estrelas.
Mas ainda não ficou tão nítido como ela opera a partir desta deficiências e, ainda mais importante, que rumo aponta a Nau Brasil.
A questão que fica é a mesma do dilema das bolachas Tostines. O governo Dilma é acanhado em função da conjuntura internacionais e dificuldades econômicas ou é exatamente o inverso? Seria sua timidez política e estratégica uma alavanca que potencializa o cenário internacional desfavorável?
O fato é que não temos um projeto sequer que aponte uma mudança de patamar estratégico.
As políticas anticíclicas parecem uma freio aos movimentos na direção da crise, mas não chega a ser um freio de arrumação. Tenho a impressão que se parece mais com o papel dos bois de coice, que seguram o carro numa descida.
Enfim, o governo Lula parecia mais um boi de cambão e o de Dilma, mais um boi de coice.
Se é que me entendem.
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