sexta-feira, 30 de novembro de 2012

O infantilismo do PPS

Sim, é plágio do famoso livro de Lênin. Eu acreditava que o PPS poderia se constituir num partido que projetaria uma oposição democrática, de centro-esquerda. Talvez, por sua origem. Talvez, por alguns de seus membros, que admiro. Mas parece nítido que caminha pisando firme na direção das ações espetaculares, de tipo infantil, meio factóide, meio bravata. O PPS perde eleitorado e não possui munição política para se arrogar ao enfrentamento de peito aberto ao governo federal e, principalmente, à liderança de Lula. É evidente que se deve criticar os dois, mas o que define o infantilismo é a negação pela negação, motivada quase sempre pela mágoa ou arrogância. O que lamento é que o Brasil precisa de oposição consolidada e inteligente. Sem isto, a democracia vira um exercício meramente formal, já que os acordos ocorrem nos escaninhos dos governos, nunca à luz do dia. E era aí que eu imaginava que estaria o PPS. Infelizmente, optou pelo udenismo simplório, os arroubos juvenis e a inconsistência programática. Uma infelicidade.
O lugar que imaginava para este partido vai sendo tomado rapidamente pelo PSB, seguido pelo PDT. Estes, parecem ter rumo certo e cabeça no lugar.

15 comentários:

Fred disse...

Esse negócio de centro-esquerda não existe...quem está no centro sempre cai para a direita!

Alberto Aggio disse...

Acho estranha a argumentação. Se é o PSB e o PDT que vão assumindo o lugar da centro-esquerda, não haveria possibilidade de se pensar uma "oposição democrática" fora do bloco governista comandado pelo PT. Nesta imaginação só haveria uma contraposição: a esquerda petista e seus aliados no governo versus a "direita udenista",de um lado, e a esquerda residual, de outro. Retirando a licenciosidade da política municipal, o cenário, no plano nacional, me parece mais complexo. E se pedir o depoimento das "Roses" petistas na Câmara for udenismo, acho que chegamos ao fim do caminho.

Unknown disse...

Caro Rudá,

Em alguns posts relacionados ao PT, Lula, creio que você comete infantismo. Estou errado?

Dulcinéa disse...


Concordo com João Luiz.
A propósito, Rudá, acho que deveria mudar o nome do seu Blog para "Da Esquerda à Direita".
Primeiro vem falar do PPS. Ora, faça-me o favor! O Roberto Freire?!
Segundo, não acha que a mídia, esta que você adora citar, já não faz oposição suficiente? Oposição truculenta, criminosa, em alguns casos. Faça-me o favor.
Estou vendo o dia de excluir o seu Blog da minha lista de favoritos.
Abraço.

Rudá Ricci disse...

Caros,
1) Qualquer definição a partir do espectro partidário se refere à relação entre partidos. É distinto de analisar pela autodefinição ou por conceito ideológico. Explico: partido de centro é o que ficaria entre os partidos mais à direita e os à esquerda. Mera localização no espectro do sistema. Já partido socialista não é uma definição em comparação com os outros, mas uma autodefinição ideológica. Enfim, sempre haverá centro, centro esquerda, centro direita e direita na leitura da organização do sistema partidário. Não quer dizer, obviamente, que um partido seja de esquerda, mas mais próximo deste lado que os outros à sua direita;
b) Claro que há possibilidade de oposição democrática à esquerda do PSB e PDT. Este é o caso nítido do PSOL. Mas ele ainda é muito pequeno, no momento. PDT e PSB já estão no rol dos grandes partidos. No interior do PT, contudo, não vejo nenhuma força capaz de fazer frente ao lulismo;
c) Sobre meu posicionamento, não faço proselitismo partidário. Já fui dirigente do PT e sei bem o que ocorre. Minha crítica se pauta a partir da construção da democracia participativa, que as direções petistas abandonaram. Neste caso, não se trata de crítica personalista, mas ideológica. Estou à esquerda do lulismo, que me parece neogetulista. Quando criamos o PT, criticávamos a idolatria porque propunhamos a ação coletiva e a emergência do poder popular. Hoje, criticar um ato de abuso do poder público é, para muitos militantes do PT, um sacrilégio. Algo como ofender o Papa para alguns carolas;
d) O que fiz para te deixar tão irritada, Dulcinéia? Se você soubesse 1/3 do que sei dos bastidores...

Unknown disse...

Caro Rudá,
Antes de ser um cientista, você é um ser humano, portanto, você não consegue ser 100% isento, neutro. Como você mesmo salientou, já foi dirigente do PT e, certamente, essa relação deve ter criado alguns calos, alguns doloridos.
Você podia compartilhar, socializar com seus leitores os bastidores da política, esses 2/3 de informações que nós não conhecemos.
Faça como o ministro Luiz Fux, nessa memorável entrevista (ou seria suicídio?) concedida por ele à FSP.
Abc.

Alberto Aggio disse...

A geografia política brasileira, desde o combate à ditadura, se fixou entre "situação" e oposição". Isso ainda permanece atualmente, a despeito das diferenciações partidárias que foram surgindo. A ideia aventada de uma "oposição democrática" à esquerda pode,certamente, expressar-se em diversos partidos; e é isso que acontece. Entendendo que o PT é o centro do bloco governista, é o partido que dá estrutura à "situação", e, creio que o PPS e o PSOL se encontram efetivamente no campo da oposição, embora sejam partidos de esquerda distintos distintos. Já PSB e PDT não se encontram no campo da oposição e sim no da situação. Contudo, na dinâmica política é possível que isso se altere, como a eleição municipal assim evidenciou: o PSB competiu e venceu o PT e, por outro lado, o PPS realizou o mesmo com o PSDB (outro partido da oposição, distinto dos dois já citados)na cidade de Vitoria. Há inclusive uma aliança eleitoral vitoriosa que contou com PSOL e PPS em Macapá. É possível haver deslocamentos mais vigorosos, mas isso ainda é muito tênue na atual conjuntura. Volto a demarcar, portanto, meu estranhamento e frisar: não há infantismo algum na politica que vem levando o PPS; pode haver algum exagero, como é comum acontecer com todos. Ele mantem uma posição de "oposição democrática" à esquerda, de caráter programático, republicano e progressista, o que é distinto tanto do lulismo quanto do petismo.

Rudá Ricci disse...

João Luiz,
Tento evitar a fulanização nas minhas análises por vários motivos. Um deles é que ao focar numa pessoa não ajudo a pensarmos os motivos para que seus erros tenham tido sucesso. O que posso dizer é que o PT nasceu como uma força libertária desde baixo e, por este motivo, se organizou a partir de mecanismos de democracia direta. Os diretórios zonais e núcleos tinham uma força no processo decisório nunca antes vista no sistema partidário brasileiro. Este ciclo terminou em meados dos anos 1990, quando a concepção de partido de quadros assumiu o controle do partido. Com ela, veio o velho etapismo da esquerda carcomida. A burocratização dá resultados porque gera ordem unida. Mas destruiu tudo o que havia de novo no PT. Agora, com o advento do lulismo (neogetulista) a análise fica mais previsível.

Rudá Ricci disse...

Alberto,
O PPS não se sobressai pelo seu programa, há tempos. Se sobressai, em primeiro lugar, pela alta exposição de Roberto Freire, que vem se tornando uma cacique como qualquer outro. Não se vê nenhum outro expoente do PPS, embora algumas vezes apareça o Rubens Bueno. Fora isto... Em segundo lugar, o discurso de Roberto Freire é reativo e profundamente emocional. É evidente que se trata de mágoa pessoal. Ele simplesmente fica repisando o ataque pessoal a Lula e ponto. Assim, o PPS definha a cada eleição e não há santo que ilumine a direção do partido para que perceba que o caminho adotado é um erro absoluto e está divorciado do Brasil real. O discurso do PPS reduz a história do partido, é udenista, pessoal e não fala para o Brasil. Mais infantilismo, impossível.

Dulcinéa disse...


Rudá, se dei a impressão de estar irritada, e devia estar mesmo, valeu a chamada.
Mais uma vez vou concordar com o João Luiz: divida conosco o que sabe dos bastidores, embora, deve ser dito, nenhum governo até hoje foi tão vasculhado, tão exposto quanto dos do PT.
Sei um pouco dos bastidores também, embora em proporções muito, muito menores, visto que bastidores de gestões petistas em uma cidade de porte médio.
O Roberto Freire, só lembro dele apoiando fortemente o governo FHC e criticando acidamente o de Lula.
Para um ex-comunista é meio brabo, né?
O motivo, talvez, do que você viu como irritação, é que, ao que parece, você torce para a derrocada do governo petista.

Alberto Aggio disse...

Pois é Rudá, acho que vc não tem acompanhado devidamente o PPS nos últimos tempos. Pena. Seria importante para um cientista político da sua envergadura e que tem um livro publicado pela Fundação vinculada a esse partido. Freire, ao contrário do que vc diz, tem se pronunciado sobre diversas questões e, por outro lado, tem sido questionado internamente como liderança única do PPS. Talvez vc deseje mesmo que a oposição silencie ou não se pronuncie sobre as falcatruas dos governos petistas. É uma posição, consignada pelo PT e pelos petistas. Criticar os governos de Lula/Dilma e o PT, para essa posição, não deve faz parte de um discurso político legitimo e imagino que, no seu entendimento, seria descaracterizado como uma posição de esquerda. Eu sei que vc também tem lá suas criticas, mas também vejo que não há radicalidade e consequência nelas. Compreendo que vc não busque uma alternativa, pelo seu passado e por suas posições. Também é "umas", como se diz. Pensamos rigorosamente diferente. Um abraço.

Rudá Ricci disse...

Alberto,
É óbvio que acompanho cada passo do PPS. E faço críticas ao Roberto Freire, que admiro há muito tempo, semanalmente, via twitter. Ele não concorda, obviamente, ou já teria mudado de posição. Sobre as críticas de cunho moral, apenas afirmo que se trata de algo inócuo, sem impacto social amplo. Algo parecido com organizações de esquerda do início do século XX. Em suma, não se transforma em discurso hegemônico, se contentando com aplausos das classes mais abastadas. Mas nós, de esquerda, temos como alvo as classes subalternas. E é aí que me parece que o PPS erra profundamente e não arreda pé desta posição exclusivista e fechada em si.

AF Sturt Silva disse...

Mas qual livro do Lenin eles estão plagiando?

Dulcinéa disse...


Nós, de esquerda?!

Rudá Ricci disse...

Percebo que a discussão sobre a esquerda brasileira atrai muitos visitantes deste blog. Achei muito interessante as diversas intervenções. Considero normais que uns e outros tentem se afirmar desautorizando os outros. Isto faz parte da construção de identidade, muitas vezes, a partir da negação do diferente. Mas o mais importante, na minha opinião, é aprofundarmos os métodos e princípios desta esquerda (atual ou que já foi esquerda, a partir de sua própria concepção). Em outras palavras, talvez seja o caso de enviarem leituras próprias sobre os acertos e erros partidários deste lado de cá do espectro partidário. O que acham? Bastaria postarem aqui que eu transfiro para a página central do blog. Ou enviarem observações ou opiniões para meu email (ruda@inet.com.br). Resumindo: opinem sobre o que consideram erros e acertos da esquerda brasileira, em toda sua fauna e extensão. Acho que poderemos abrir um bom debate.