segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Venezuela às vésperas de mais um plebiscito


Recebo as seguintes informações de Bruno Lima Rocha:
1) A democracia representativa na Venezuela é muito peculiar. Nasce de um acordo (Pacto de Punto Fijo, assinado em 1958) em que três grandes partidos, AD, Copei e URD concordam com a alternância no poder;
2) A emenda constitucional que sofrerá referendo popular no próximo dia 15 gera grande tensão entre os opositores de Chávez em virtude do aumento do número de eleitores que votaram nas últimas convocatórias. Chávez e seus candidatos aumentaram seus índices eleitorais em 20%, passando de 4.379.392 na derrota do referendum de 2007 para 5.504.902 votos nas eleições municipais e estaduais de 2008. Hoje a aliança encabeçada pelo PSUV governa 265 das 327 prefeituras, 18 das 24 capitais de estado, 80 dos 100 municípios mais populosos e 17 dos 22 estados;
3) Mas o chavismo não é unitário ou homogêneo. Desde 2002, o apoio político de Chávez é mais desorganizado do que se pensa, focado não exatamente no Movimento Quinta República (MVR), mas nos segmentos sociais assistidos pelo Estado;
4) Os setores que conformam hoje a ala radical da chamada “esquerda bolivariana” defendem o conceito de poder popular exercido diretamente pela população, indo além do controle do aparelho de Estado. Alguns coletivos político-sociais vêm da histórica Paróquia (distrito) 23 de Enero, como o Simón Bolívar, Alexis Vive, La Piedrita, Tupamaros e Lina Ron. Outros, são movimentos mais amplos, como as Comunidades al Mando, Misión Boves, Frente Campesino Ezequiel Zamora e a ANMCLA (associação de meios de comunicação alternativos).
5) Existe certa independência política frente ao governo e lealdade inquestionável ao processo bolivariano. Todas estas agrupações têm militantes mortos em seu histórico, boa parte deles executados pela repressão política da chamada 4ª República (até 1998). Daí se reforça a intransigência com a Oposição. Para desespero do próprio Chávez, não são raros os confrontos diretos, algumas vezes a tiros, entre o setor organizado pelo Comando Angostura (pelo Não à Emenda) e estes coletivos.
6) Tampouco são raros os conflitos com o aparato governista, dominado por dirigentes chamados de “direita endógena”. O apelido se justifica na medida em que sua prática política ainda se parece com os tempos dos “adecos” (Ação Democrática).
7) O servidor público venezuelano não entrar por concurso e sim por indicação. Como Chávez acabou com a estabilidade vitalícia, cada grupo que toma uma fatia de poder demite uma leva e põe os seus, do secretário de governo ao contínuo de repartição;
8) Os critérios do presidente para formar sua equipe direta são mais de amizade pessoal do que de capacidade político-técnica. A lista de reclamações contra os “anéis de entorno ao comandante” é enorme.

Meus comentários:
A Venezuela é um país em permanente mobilização, convocadas pelo governo federal. Não sei até que ponto esta mobilização permanente não gera um esgotamento político marcado pelo confronto (muitas vezes mais que conflito) entre diversas alas políticas. Há um permanente calendário eleitoral-plebiscitário (14 pleitos em dez anos). A considerada “direita endógena” ainda tem um grande espaço no interior do governo, tema que não se discute ou analisa no Brasil.
Para piorar o cenário, a Venezuela foi classificada recentemente como o país mais violento da América do Sul, com taxa de 45 homicídios por 100 mil habitantes. 69% das vítimas são jovens (entre 15 e 29 anos, moradores de bairros pobres, como ocorre no Brasil).

Nenhum comentário: