O fim de um ciclo
Eduardo Rombauer
O Movimento Marina Silva, tal como tornou-se conhecido em um período de três anos e meio, caminha para encerrar um ciclo. Venho compartilhar por que penso que este ciclo significará sua completa transformação, e apontar um rumo para lidarmos com a sua principal ferramenta, a plataforma virtual. Até agora, todos os propósitos que buscamos no movimento foram alcançados: difundimos a idéia da candidatura de Marina, mobilizamos pessoas para convencê-la desta possibilidade, uma ampla rede de cidadãos apoiadores de sua candidatura foi formada, a idéia de um novo jeito de fazer política foi praticada e amplamente difundida, e o movimento colaborou significativamente para que Marina conseguisse o voto de 1 a cada 5 eleitores brasileiros. Passado o ciclo da campanha, depois de um tempo para voltarmos a cuidar de outros aspectos de nossas vidas, e começar a refletir sobre a experiência que passamos, nos deparamos com um situação completamente diferente. Os objetivos já foram conquistados e as aspirações futuras já não são mais as mesmas. Os próximos desafios são outros, são maiores, mais complexos e diversos. Nossos sonhos, nossos novos caminhos, estão em processo de formação, enquanto a forma que o movimento adquiriu fenece, perde seu sentido. Trata-se de um período de transição, onde não sabemos bem por onde prosseguir, e isso pode nos deixar confusos se não observarmos cuidadosamente a natureza do processo que vivemos. Passamos por situações semelhantes quando Marina pediu para suspendermos o movimento em 2008, e também em 2009, quando aceitou o convite do PV e passamos quase 2 meses imobilizados rediscutindo rumos e identidade, e o Movimento quase deixou de se chamar “Marina Silva”. Em todas estas ocasiões que encaramos um processo de “morte” de uma forma, uma outra foi construída a partir da participação ativa de novas pessoas, com novas idéias, e novas ações. O que quer que venha a emergir de nossas ações após o final deste ciclo certamente não será uma continuidade da forma que o movimento adquiriu durante a campanha. O contexto já não nos demanda concentrar energias exclusivamente em fortalecer o nome de Marina Silva. Não precisamos mais de slogans, de ações nacionais estimuladas por um núcleo mobilizador. Não temos mais um objetivo único e tangível em curto prazo, que mobilize todos os apoiadores de Marina em uma direção comum. Pelo contrário, agora é um momento em que a dispersão se evidencia. E isto não é ruim, pelo contrário: nos dá a oportunidade para que cada parte (cada grupo, cada indivíduo, cada sonhar) possa reencontrar-se com sua realidade e fazer suas escolhas fundamentais rumo ao encontro deste “todo” que emerge entre nós. Nos convida a sermos mais diversificados e conectados com os múltiplos núcleos vivos da sociedade e as múltiplas causas que a permeiam e nos mobilizam.
No embalo desta transição, me parece necessário desfazer as estruturas de poder que serviram ao contexto da campanha, para dar a oportunidade de novas configurações de forças emergirem a partir de um contingente muito maior e diverso do que o grupo que responsabilizou-se por animar o movimento neste processo. Por estas e outras razões, tenho defendido uma mudança radical na nossa atual plataforma virtual e na relação que se estabeleceu entre nós que fomos seus responsáveis e o conjunto dos participantes deste processo. O site MovMarina foi o meio que um pequeno grupo de pessoas encontrou para tornar viável um grande sonho, tornando-se a principal ferramenta de suporte para o Movimento desde 2009, tendo sido o espaço para construção aberta, dialógica e participativa das principais ações empreendidas por seus membros. Ao longo dos anos de 2009 e 2010, foi mantido e gerido por uma equipe de pessoas que assumiam responsabilidades conforme suas próprias ações no movimento. Inicialmente constituído por 4 pessoas, o grupo foi se expandindo, envolvendo novas pessoas conforme estas colocavam “a mão na massa”, até chegar a aproximadamente 20 pessoas revezando-se em diversas funções da plataforma - sempre voluntariamente, à exceção do período de campanha quando 4 integrantes incorporaram-se à equipe oficial da campanha para reforçar a enorme e exaustiva demanda de atividades. Esta ferramenta foi fundamental para darmos um importante passo na prática de um novo jeito de fazer política, num contexto em que tínhamos um propósito muito claro e definido no horizonte – a eleição de Marina. Porém a adoção de uma plataforma única (que por sua vez exige uma certa hierarquização para ser eficiente) somado ao contexto imperativamente pragmático, implicaram um determinado tipo de relação de poder que não espelham o nosso ideal de uma nova forma de fazer política. Esta utopia que nos mobiliza está em um processo co-criativo de construção, e nos pede formas de ação coletivas mais multicêntricas, horizontais, participativas, vivas e diversas. O que só pode ocorrer a partir de uma renovação completa dos meios de interação e de comunicação entre nós que a sustentamos. Na prática, penso que isto significa progressivamente desativar o site atual, de modo que passe imediatamente a dar visibilidade a novas iniciativas, novos grupos e outras plataformas que os membros do movimento queiram empreender. O fundamental é encontrar um caminho que possibilite aos membros do movimento terem a oportunidade de encontrar parceiros para materialização de suas idéias e a chance de divulgá-las em igual condição de visibilidade perante a todos os 46 mil membros da rede. Acredito que esta escolha fortalece o movimento, pois permitirá que a nova forma expresse o que ele realmente é (ou caminha para se tornar), e deixa ficar para trás características que não refletem sua verdadeira essência. É uma opção por reconhecer que nossa verdadeira capacidade de transformação da realidade brota de cada um de nós, e por confiar que a sabedoria de todos é maior do que de alguns.
2 comentários:
Será que há identidade de Marina com o PV?
Nenhuma, Angeline. Nenhuma.
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