sábado, 26 de fevereiro de 2011

Erundina: serei estranha no ninho


A ex-prefeita de São Paulo e deputada federal Luiza Erundina deixou claro ontem que sairá do PSB se o partido acolher políticos como o prefeito Gilberto Kassab e o vice-governador Guilherme Afif Domingos, ambos de saída do DEM. Erundina destacou sua proximidade com o PT, partido do qual saiu em 1997, mas disse esperar que a Justiça Eleitoral impeça a concretização de uma eventual manobra de Kassab e da cúpula do PSB - nessa hipótese, estaria assegurada sua permanência na legenda.
Não sei se já postei neste blog minha profunda admiração por Erundina. Fui do governo dela em São Paulo. Fazia parte da ATDR (Assessoria Técnica de Diretrizes Regionais) que funcionava como uma secretária adjunta da SAR (Secretaria de Administrações Regionais, hoje, de Subprefeituras). Eu acompanhava todas regionais do norte e oeste de São Paulo (Perus, Pirituba, Pinheiros, Lapa e Butantã). O que posso testemunhar é a correção e engajamento da prefeita. Presenciei cenas que são raras em políticos, como a visita à uma biblioteca para crianças pobres em que Erundina, ao ver duas crianças lendo, foi imediatamente até elas e as abraçou, com lágrimas rolando no rosto. Perguntava o que estavam achando da biblioteca, se era confortável, se tinha o que elas queriam. Quando andava pela cidade no carro dela, era comum vê-la anotando num bloquinho os problemas que percebia na cidade: de um morador de rua ao relento à um pequeno incêndio embaixo de um viaduto. O projeto de ação integrada em São Miguel Paulista, onde em cada quarteirão havia um representante dos moradores que (com prancheta do cronograma das obras na mão) fiscalizava in loco as obras foi uma das situações mais marcantes na minha vida. Foram muitas inovações. Recebíamos e visitávamos experiências internacionais de gestão descentralizada e participativa (Osaka, Bolonha, Toronto, Barcelona). Tive o prazer de participar, com Paul Singer e Chico Whitaker, da equipe que elaborou a proposta do Executivo (absolutamente derrotada na Câmara Municipal) de Lei Orgânica. Foi, talvez, a gestão mais petista que a região metropolitana de São Paulo já viu. Erundina me parece a nossa Rosa Luxemburgo. Uma pessoa fantástica, admirável.

3 comentários:

Nilson R. do Nascimento disse...

Estranha postura de Erundina, quantos socialistas de fato existe no PSB, seu partido atual.

Rudá Ricci disse...

Não me parece estranha. Ela está jogando em duas frentes: a) revendo seu espaço e poder eleitoral (daí começar a abrir negociação de volta ao PT) e b) reforçar seu perfil mais à esquerda. Veja que o PSB tem algumas lideranças populares, como o governador Eduardo Campos. Mas no PT falta trabalhador, no PPS falta popularidade, o PV está mais para maduro que verde, o PSDB é mais liberal que social-democrata, e assim por diante. Exigir coerência do nome com a pessoa parece anacrônico nos dias de hoje.

AF Sturt Silva disse...

Ela poderia ir é para PSOl.O um novo "PT".Em vez de voltar para o velho partido.Alias o que justificaria sua volta ao PT depois de ter saido em 97?