Recebo este artigo escrito pelo sociólogo carioca, José Maurício Domingues. Ele esteve conosco no sábado passado, discutindo o lulismo no Espaço TIM/UFMG do Conhecimento, comigo e Bruno Wanderley Reis. Aproveito para informar que no dia 4 de setembro, André Singer (autor de "Os Sentidos do Lulismo") estará conosco para discutir seu livro. No mesmo mês, Marcos Nobre (Unicamp) lançará seu livro sobre a peemedebização da política brasileira.
Vamos ao artigo do José Maurício:
Os movimentos, a política social e o direito de sonhar
José Maurício Domingues
Publicado em O Globo - 19/06/2013
Há muito ainda a compreender nas belas manifestações que tomaram o país. Mas algumas coisas parecem claras. Elas refletem uma insatisfação mundial, que afeta em particular os jovens, com a forma fechada com que funcionam os sistemas políticos.
As pessoas recusam que a política seja coisa das máquinas que a sequestraram; as redes sociais têm cumprido papel fundamental em sua organização, e as manifestações são influenciadas pelas que acontecem em outros lugares. Mas o contexto é importante.
Entre nós, depois de anos de mudanças sociais significativas, tudo indica que as pessoas querem mais e que estão faltando criatividade e iniciativa, em particular ao PT, que foi o oxigênio principal da política nas últimas décadas.
Há de tudo nas manifestações, mas dois aspectos se destacam. Vemos a insatisfação e um desejo difuso de mudança se espraiarem. A agenda do combate à pobreza e das políticas setoriais parece haver atingido seus limites de inclusão social. Assim afirma-se a ocupação massiva do espaço público, reivindicando-o contra a privatização da vida e pelo direito a sonhar.
Por outro lado, desponta a pauta dos direitos sociais - o que é especialmente visível em São Paulo em face do terrível transporte público e da opção pelo individualismo automotivo que se mantém há décadas no país.
O que ocorrerá daqui por diante está em aberto. Talvez o saldo a médio prazo desses protestos seja a regeneração do associativismo, que declinou nas últimas décadas, agora sob formas mais horizontais e inovadoras, provavelmente mais autônomas em relação aos partidos.
Uma pauta mais universalista e igualitária de direitos sociais tende a se afirmar. A curto prazo há pouco a esperar do sistema político, afora respostas pontuais, mas sua abertura à dinâmica social, a limitação dos interesses do capital nas políticas públicas e a busca de novas formas institucionais de participação são decisivas para oxigená-lo e impedir sua desdemocratização tecnocrática e gerencial.
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