quinta-feira, 20 de junho de 2013

Filhos da Rede

Abaixo, publico o artigo de João Pedro Bassoli, estudante de sociologia na UFMG. O artigo joga luz à maneira e motivação que atrai milhares de jovens às ruas, nestes dias de junho. Destacaria uma passagem final em que sugere que os jovens começam a entender o que é o público para além do facebook. Percebam, ainda, como ele faz uma leitura peculiar das diferenças entre as manifestações de hoje e as ocorridas no regime militar. Eu, que lutei contra a ditadura, me surpreendi com uma análise tão peculiar. Uma outra geração, uma outra interpretação. Interessante que ao ler o artigo, me dei conta que foi exatamente esta crítica que minha geração fazia às práticas dos militantes do partidão. O que os deixava irritadíssimos e respondiam que nós fazíamos o jogo da direita.

Filhos da Rede

João Pedro Bassoli

Vejo muita gente nas redes falando da necessidade de uma diretriz central para o fortalecimento das manifestações. Acredito que não seja por aí. A política em sua essência é a arte de compatibilizar forças. Assim sendo, por uma manifestação política se entende como o direito de expressar seus interesses, por mais que esses sejam incompreensíveis para muitos. Ligara a ideia de hierarquização e a centralização das manifestações como algo essencial para se alcançar algo é balela.
A história das manifestações de rua do Brasil, em sua maioria, possuía esse caráter hierárquico e muitas vezes fracassaram. A passeata dos Cem mil em junho de 1968 á a mais emblemática nesse aspecto. Símbolo de uma das gerações mais atuantes da política brasileira, a passeata que contou com intelectuais e artistas da cidade do Rio de Janeiro, conseguiu o direito de conversar com o então presidente da república, Marechal Costa e Silva. Porém, a conversa com o presidente marechal em um momento crítico da ditadura resultou em um estúpido bate boca entre líderes da passeata e o presidente Costa e Silva, e só. Os tempos eram outros, de fato, hoje há mais democracia (muito mais, será?) e as demandas são totalmente diferentes. Mas a questão é que manifestações populares com diretrizes centrais historicamente não garantiram o sucesso das reivindicações populares. O manifesto democrático é aquele em que há protestos dos mais diversos sem, necessariamente, ter algum comando central. A festa democrática - sim, manifestação é festa - é composta por diversos indivíduos e, portanto, como os mais diversos interesses. Obviamente que há questões primordiais  - no atual momento, a redução da tarifa de passagens que já começa a ser conquistada - mas isso não subtrai a legitimidade de quem quer protestar pela falta de estrutura na saúde, educação, e por que não, de qualquer outra manifestação mais "banal", como a reserva do Lucas na seleção brasileira de futebol - fato ocorrido em algumas ruas do país.
A juventude, do qual faço parte, começa a entender o que é público para além do Facebook. Cabe, então, a nós, o desafio de entender e respeitar o outro como membro de um grupo - rede - que é horizontal por excelência. A esperança é que sejamos filhos das redes de fato, uma rede social real.

Um comentário:

Helder Barbosa disse...

Evidentemente que na Ditadura Militar não tinha nenhum interesse ou sensibilidade política para atendimento às reivindicações de então. Muito diferente de hoje, em plena democracia quando a principal ou reivindicação inicial foi atendida na maioria das grandes cidades. Como bem disse Lula, na democracia não há problema político que não tenha uma solução.