Manifestações, bom senso e fascismo

"Sem partido é é fascismo". Assim se defendeu Jadir Araújo, coordenador do setor naval da CUT do RJ. Ele se referia à expulsão, poucos minutos antes, de vnte militantes da CUT pelos manifestantes da passeata de hoje no Rio de Janeiro. Algo semelhante aconteceu em BH envolvendo manifestantes e militantes do PSTU. Os cutistas chegaram a ser encurralados na Avenida Presidente Vargas com a Praça 10. Os manifestantes gritavam "sem partido", indignados com a participação de bandeiras que identificavam qualquer facção política ou sindical.
Araújo tem razão, do ponto de vista teórico e dos direitos: a rua é pública.
Mas o problema veio antes. Apenas em alguns lugares a CUT esteve desde o início na articulação das manifestações. Este é o caso de BH, onde sindicatos cutistas já tinham convocado manifestações de rua quando explodiu a onda de passeatas. Desde então, se integraram às reuniões que organizam os atos diários. Farinha do mesmo saco, diríamos de maneira jocosa. E ainda usam o bom senso: não ficam desfraldando bandeiras como se estivessem aos cotovelos para se afirmar como líderes do movimento.
Hoje, pelas redes sociais, Rui Falcão convocou petistas e base política do governo para fazerem a "onda vermelha". Falcão chegou a afirmar que o PT "não tem medo de sair à rua". O que ele queria dizer com isto? Medo? Alguém, alguma vez, afirmou que o PT tinha medo? Ou seria uma senha para dizer que não tinha vergonha do que o partido fez e faz e que iria para o enfrentamento?
O presidente do PT foi infeliz. Parece que muitos petistas perderam a noção da dinâmica de ações de rua. Falam a partir do poder e esqueceram como quem não tem poder, quem está do outro lado do balcão, se sente quando percebe sua força. Obviamente que uma gama imensa de petistas não age assim. Mas Rui Falcão é o presidente do partido.
Faltou bom senso.
Aliás, fico estarrecido com esta dificuldade de alguns dirigentes e governantes pensarem friamente como agir. Há um profundo hiato entre lideranças, muitos de esquerda, que sabiam negociar e convencer, sabiam falar a linguagem das ruas, e a nova geração de dirigentes e governantes, empedernidos, orgulhosos de si, tecnocratas, frios. Falam em números e chantageiam, como se nunca perdessem, afirmando que se cortam nas passagens, também reduzirão na educação e saúde. Mas esta é justamente a pauta central dos manifestantes!! Saúde, educação e transporte público. Por qual motivo se apressam a assumir uma postura de ataque e não conseguem refletir sobre seus erros?
A rua é pública. Mas o problema começa quando os governantes e dirigentes partidários se esquecem disto e pensam que somente uma parte da rua é pública. Aliás, nem esta parte, já que é uma mera concessão do tecnocrata que pensa friamente e dirige o Estado, esta instituição abstrata que eles imaginam construir. Aí sobra para o coitado do Araújo. Ele até tem razão. Mas vai pagar o pato.