O protesto sem pauta única diluiu, em grande parte, o foco num único culpado ou responsabilizado pelos manifestantes. O governo do Rio de Janeiro disse, ontem, estar aberto ao diálogo, mas ressaltou que nenhuma liderança fez contato.
Este impasse, entre a força da mobilização difusa e sem liderança e a dificuldade de transformar, já é longo tema no interior do Fórum Social Mundial e até mesmo entre forças políticas envolvidas na Primavera Árabe.
Um impasse contemporâneo, já que a revolta contra o sistema de representação formal leva, justamente, a se adotar instrumentos e métodos de mobilização que são mais horizontais e que, muitas vezes, rechaçam as formas verticais de liderança burocrática (como partidos e sindicatos). No interior do Fórum Social Mundial, muita saliva e papel foram gastos para contrapor as estruturas em rede (as "sctructural holes") às estruturas verticalizadas de comando e unidade política.
Ontem, pelo twitter, muitas mensagens de lideranças e militantes de partidos de esquerda questionavam a crítica aos partidos, isolados nas manifestações ao longo do país. Um deles perguntava, perplexo: "mas, sem partidos, para onde vamos?".
Esta reflexão perpassou toda a segunda metade do século XX. Parece que está chegando a hora de se resolver.
Um comentário:
Acredito que essa mobilização em rede que nos surpreende hoje seja a concretização daquilo que Elias Canetti previu em "Massa e Poder", mas ele conclui que esse seria o futuro, devido ao colapso de lideranças. Quanto ao futuro, eu, dando uma de previsor, acredito que o PT acaba de sofrer o mesmo que aconteceu ao PSOE.
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