Muito do que ocorre hoje não é necessariamente novo em nosso país.
Em junho de 1968, em São Paulo, 5 mil estudantes, comandados por Zé Dirceu iniciaram uma passeata que logo saiu do controle. Automóveis foram atacados, coquetéis molotov foram lançados no largo do Arouche, vidros da Secretaria de Educação foram quebrados, um poste da São João com Ipiranga foi arrancado e arremessado contra o First National City Bank. Logo depois, começaria a famosa barricada da rua Maria Antônia.
Ontem, nossos jovens rebeldes tomaram a Câmara Municipal de Belo Horizonte. A foto que ilustra esta nota foi tirada ontem. Os policiais impediam o acesso às galerias onde vereadores votavam a redução do preço das passagens de ônibus. Impedidos de acompanharem (e intimidarem) de perto os vereadores, os jovens pintaram os escudos dos policiais com corações vermelhos. Começava a "ocupação artística", uma evolução nas manifestações das últimas semanas. Os vereadores, insensíveis, aprovaram a redução de 5 centavos e rejeitaram qualquer proposta de redução maior, assim como a abertura da planilha de custos e contratos da empresas de ônibus da capital mineira. Ganharam moedas, atiradas pelos cidadãos que tinham conseguido chegar às galerias.
Foi o que bastou. Os manifestantes, do lado de fora, decidiram ocupar a Câmara Municipal. Diziam que não sairiam enquanto o prefeito Márcio Lacerda não os recebesse.
É necessário ter mente aberta para entender estas ondas e mudanças de rumo dos manifestantes.
Ontem, às passeatas se somaram as "ocupações artísticas".
A segunda foto que ilustra esta nota registra o show de piano, como os jovens ao redor.
O foco não é a passagem, nem somente a educação ou saúde. O foco é a prática política.
Talvez, a situação mais visível e nítida ocorra em Belo Horizonte. Vereadores e prefeitos, a cada ato, revelam um profundo divórcio com as ruas e com o que os jovens tentam emitir para seus ouvidos.
Interessante que naqueles anos de regime militar havia como entender os motivos dos governantes não dialogarem com os jovens. Mas, hoje, o sistema de representação formal revela todo seu esgotamento com as cenas de incapacidade explícita de eleitos se sentirem apenas representantes. Parecem acreditar que são autoridades ungidas pelos deuses e que o voto foi apenas uma confirmação que os céus já haviam anunciado. Uma passagem mítica, uma licença poética. Isto é que parecem dizer nossos eleitos.
Os jovens continuam insistindo. Se apresentam.
E, por algum motivo, a maioria dos analistas e imprensa, continuamos perplexos.
No início deste domingo, os manifestantes decidiram continuar acampados na Câmara por tempo indeterminado.
Abaixo, reproduzo uma das mensagens postadas no facebook na noite de ontem:
Ocupa Câmara BH
Câmara Municipal de BH: Com o final da assembleia, a
Ocupação Artística ganha força e muitos manifestantes estão no jardim. Piano,
violão, rodas de conversa e jantar preparado na cozinha improvisada com
alimentos doados fazem parte do cenário da Câmara nesse momento. Ainda nessa
noite acontecerão o Sarau Vira Lata e o Duelo de MC's.
A Assembleia Popular decidiu: a ocupação da Câmara Municipal
continua até o prefeito Marcio Lacerda reconhecer a Assembleia como legítima e
negociar com uma comissão de negociação aprovada na mesma."
- Pratos e copos descartáveis
- Pó de café
- Pasta de dente e absorvente
- Macarrão
Um comentário:
Pesquisa de Malini no Twitter identifica fim da bipolaridade política no Brasil => http://bit.ly/118RX7Q
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