- O jovem de hoje possui
mais consciência política do que o jovem de antigamente (que hoje são nossos
pais, avós)? Por quê? Explique.
R: Não. Obviamente que nos
anos 1960 até 1968 houve uma mobilização maior, mas que não envolveu a maioria
dos jovens. Era um momento de grande efervescência política no Brasil e no
mundo, resultado da explosão econômica pós-guerra, do alto grau de urbanização
e mudança de valores e hábitos sociais (de rurais, para urbanos). É a Era da
Revolução Comportamental, da revisão do papel dos pais, das mulheres, da arte,
do vestuário. Na Europa e nos EUA, no mesmo momento, houve a explosão de
movimentos estudantis e jovens, de experimentações culturais (geração beatnik, hippies,
Maio de 68). Mas a grande maioria dos jovens brasileiros ouvia Jovem Guarda que
pouco se relacionava com consciência política. Temos, portanto, que relativizar
estas diferenças de época.
- Para compreender melhor
sobre política, é preciso resgatar o passado para entender o que acontece no
presente? Comente.
R: Política significa “organização
social” (vem do grego politae). Assim como nunca estamos prontos, muito nascemos
prontos. Estamos presos às tradições e ao que já se fez no passado. Este é o
caso da linguagem, para dar um exemplo: falamos uma língua que já existia antes
de nós. Obviamente que a recriamos, mas a partir de uma base que já existia
antes de nós. Como dizia Vianinha, “nem tudo que é novo é revolucionário”. Mas
existem novidades importantes na ação política que foram criadas recentemente
por jovens. Este é o caso das redes sociais na derrubada de governos na
Primavera Árabe e que se alastra, com menos força, é verdade, até hoje, como na
Síria. Aí existe um novo a ser melhor compreendido. As redes funcionam por
adesão, não por liderança de massas, mas mobiliza milhões pela identidade, não
pela submissão ou disciplina. Não tem relação alguma com partidos ou
sindicatos. É uma grande novidade.
- Quais são os fatores que
afastam os jovens da política? Opine.
R: A mentira e o jogo
ardiloso. Jovem não tolera mentira. Também tem algo a ver com recusa de
hierarquia, típico da Geração Y. A política parece se relacionar com algo do
passado, dos velhos. Quem anda de terno o dia todo além de empresários e
políticos? Não existe identidade em relação ao comportamento, ao modo de agir,
à forma de viver. Os políticos brasileiros, aqueles profissionais da política,
não estão no nosso meio, no cotidiano, não discutem conosco, não pensam como
nós. São inatingíveis. E vivem às custas de nossos recursos e voto. Enfim, não
se trata da política, mas da estrutura e forma da política profissional
brasileira. Sem representatividade e empatia, não há como ser atrativa.
- Muitos jovens comentam
que não gostam de política porque não conseguem entendê-la. Existe algum manual
para isso? Comente.
R: Não existe um manual. A
melhor maneira de entender é acompanhar. Na própria internet é possível ler
sobre a história dos partidos e até situações políticas (como impeachment de
Collor) em poucas palavras, via Wikipédia, para citar uma fonte. Há sites que
propõem maior controle da sociedade sobre a política, como http://www.reformapolitica.org.br/
, sem vinculações partidárias.
- O que fazer para mudar a
relação entre jovem x política? Qual o papel das escolas/universidades nessa
mudança? Explique.
R: Discutir abertamente, promover discussões e seminários sobre
tudo. MG se envolve muito pouco com debates públicos sobre a política. É tudo
muito fechado, privado. Veja o caso da USP: pelo youtube é possível acessar
vários debates sobre o Brasil, sobre a onda conservadora e lulismo organizado em
salas de aula. Quase um por quinzena, com ampla participação de jovens. Vários
são organizados pelo DCE ou Centros Acadêmicos. Atraem professores da USP,
UNICAMP etc. E aqui em BH? Para não ficar só reclamando, divulgo que no próximo
dia 15, no Espaço TIM/UFMG, na Praça da Liberdade, a partir das 11h00 (até as
13h00, já que é um sábado), eu, Bruno Wanderley Reis (professor da UFMG) e José
Maurício Domingues (professor da UERJ) vamos discutir se existe, afinal, um
lulismo, ou seja, o que aconteceu no Brasil do governo Lula até agora. É um bom
momento para discutirmos livremente o Brasil e a política brasileira sem
discursos. Estão todos convidados. Precisamos de mais espaços e debates, em
praças, em bares (como se faz na Itália), em salas de aula.
- Qual a importância dos
movimentos estudantis para aproximarem os jovens da política?
R: São fundamentais. Mas
estão muito atrelados aos partidos. Aliás, quase todos movimentos sociais estão
partidarizados. Isto afasta aqueles que não têm preferência partidária ou que
não querem servir de massa de manobra. Existe certa ansiedade nesta história. Juventude
combina com liberdade.
- Essa apatia política é
característica exclusivamente brasileira?
R: Não, mas aqui tem suas
peculiaridades. Estamos vivendo um ciclo recente de inclusão social pelo
consumo. Não houve inclusão pelo direito ou pela política. Quando ocorre este
fenômeno (isto ocorreu nos EUA, na década de 1950), a tendência é aumentar o
individualismo. As pessoas medem sua segurança e sucesso pelo consumo e
estabilidade familiar, não pela solidariedade, pela noção de poder como cidadão
ou controle social. Obviamente que a juventude se alimenta desta onda geral,
individualista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário