sábado, 1 de junho de 2013

Entrevista sobre Juventude e Política

Minha entrevista para o Caleidoscópio, da TV Horizontes:

- O jovem de hoje possui mais consciência política do que o jovem de antigamente (que hoje são nossos pais, avós)? Por quê? Explique.
R: Não. Obviamente que nos anos 1960 até 1968 houve uma mobilização maior, mas que não envolveu a maioria dos jovens. Era um momento de grande efervescência política no Brasil e no mundo, resultado da explosão econômica pós-guerra, do alto grau de urbanização e mudança de valores e hábitos sociais (de rurais, para urbanos). É a Era da Revolução Comportamental, da revisão do papel dos pais, das mulheres, da arte, do vestuário. Na Europa e nos EUA, no mesmo momento, houve a explosão de movimentos estudantis e jovens, de experimentações culturais (geração beatnik, hippies, Maio de 68). Mas a grande maioria dos jovens brasileiros ouvia Jovem Guarda que pouco se relacionava com consciência política. Temos, portanto, que relativizar estas diferenças de época.

- Para compreender melhor sobre política, é preciso resgatar o passado para entender o que acontece no presente? Comente.
R: Política significa “organização social” (vem do grego politae). Assim como nunca estamos prontos, muito nascemos prontos. Estamos presos às tradições e ao que já se fez no passado. Este é o caso da linguagem, para dar um exemplo: falamos uma língua que já existia antes de nós. Obviamente que a recriamos, mas a partir de uma base que já existia antes de nós. Como dizia Vianinha, “nem tudo que é novo é revolucionário”. Mas existem novidades importantes na ação política que foram criadas recentemente por jovens. Este é o caso das redes sociais na derrubada de governos na Primavera Árabe e que se alastra, com menos força, é verdade, até hoje, como na Síria. Aí existe um novo a ser melhor compreendido. As redes funcionam por adesão, não por liderança de massas, mas mobiliza milhões pela identidade, não pela submissão ou disciplina. Não tem relação alguma com partidos ou sindicatos. É uma grande novidade.

- Quais são os fatores que afastam os jovens da política? Opine.
R: A mentira e o jogo ardiloso. Jovem não tolera mentira. Também tem algo a ver com recusa de hierarquia, típico da Geração Y. A política parece se relacionar com algo do passado, dos velhos. Quem anda de terno o dia todo além de empresários e políticos? Não existe identidade em relação ao comportamento, ao modo de agir, à forma de viver. Os políticos brasileiros, aqueles profissionais da política, não estão no nosso meio, no cotidiano, não discutem conosco, não pensam como nós. São inatingíveis. E vivem às custas de nossos recursos e voto. Enfim, não se trata da política, mas da estrutura e forma da política profissional brasileira. Sem representatividade e empatia, não há como ser atrativa.

- Muitos jovens comentam que não gostam de política porque não conseguem entendê-la. Existe algum manual para isso? Comente.
R: Não existe um manual. A melhor maneira de entender é acompanhar. Na própria internet é possível ler sobre a história dos partidos e até situações políticas (como impeachment de Collor) em poucas palavras, via Wikipédia, para citar uma fonte. Há sites que propõem maior controle da sociedade sobre a política, como http://www.reformapolitica.org.br/ , sem vinculações partidárias.

- O que fazer para mudar a relação entre jovem x política? Qual o papel das escolas/universidades nessa mudança? Explique.
R: Discutir abertamente, promover discussões e seminários sobre tudo. MG se envolve muito pouco com debates públicos sobre a política. É tudo muito fechado, privado. Veja o caso da USP: pelo youtube é possível acessar vários debates sobre o Brasil, sobre a onda conservadora e lulismo organizado em salas de aula. Quase um por quinzena, com ampla participação de jovens. Vários são organizados pelo DCE ou Centros Acadêmicos. Atraem professores da USP, UNICAMP etc. E aqui em BH? Para não ficar só reclamando, divulgo que no próximo dia 15, no Espaço TIM/UFMG, na Praça da Liberdade, a partir das 11h00 (até as 13h00, já que é um sábado), eu, Bruno Wanderley Reis (professor da UFMG) e José Maurício Domingues (professor da UERJ) vamos discutir se existe, afinal, um lulismo, ou seja, o que aconteceu no Brasil do governo Lula até agora. É um bom momento para discutirmos livremente o Brasil e a política brasileira sem discursos. Estão todos convidados. Precisamos de mais espaços e debates, em praças, em bares (como se faz na Itália), em salas de aula.

- Qual a importância dos movimentos estudantis para aproximarem os jovens da política?
R: São fundamentais. Mas estão muito atrelados aos partidos. Aliás, quase todos movimentos sociais estão partidarizados. Isto afasta aqueles que não têm preferência partidária ou que não querem servir de massa de manobra. Existe certa ansiedade nesta história. Juventude combina com liberdade.

- Essa apatia política é característica exclusivamente brasileira?
R: Não, mas aqui tem suas peculiaridades. Estamos vivendo um ciclo recente de inclusão social pelo consumo. Não houve inclusão pelo direito ou pela política. Quando ocorre este fenômeno (isto ocorreu nos EUA, na década de 1950), a tendência é aumentar o individualismo. As pessoas medem sua segurança e sucesso pelo consumo e estabilidade familiar, não pela solidariedade, pela noção de poder como cidadão ou controle social. Obviamente que a juventude se alimenta desta onda geral, individualista.

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