Estou lendo um clássico deste tema, "Sociologia da Infância", de Wlliam Corsaro. Já devia ter lido este autor que está me fazendo pensar e repensar meus conceitos. Corsaro sustenta sua tese em três pilares:
a) a infância forma um segmento social próprio, com hábitos, cultura, comportamento e relacionamento social;
b) o desenvolvimento da criança ocorre entre pares infantis;
c) as crianças se apropriam de maneira criativa da cultura adulta e não uma mera imitação ou assimilação.
A partir daí, faz uma digressão sobre as teorias clássicas sobre infância e desenvolvimento da criança
Começa com o funcionalismo e o construtivismo.
Mais crítico ao funcionalismo, sugere que ambas linhas teóricas concebem a criança como perspectiva, caminhando para a vida adulta. Assim, a noção de internalização se aproxima de controle social (dos adultos) e não de desenvolvimento, já que subestima a importância das atividades infantis.
Quanto ao construtivismo, embora dedique mais tempo à Piaget (e à explicação do conceito de equilíbrio, muitas vezes interpretado de maneira errônea pelos leitores), critica a visão solitária de desenvolvimento infantil. Explico: o conceito de equilíbrio se refere à compensação individual que a criança faz em relação à uma invasão (ou estímulo) externo. Em cada fase do desenvolvimento a criança altera o foco de análise. Primeiramente (4 a 5 anos) numa única característica do objeto; depois (6 a 7 anos), entra numa zona de incerteza; finalmente (7 a 9 anos), começa a gerar interdependência de fatores que cria a lógica do movimento e da transformação. Todos esses movimentos são individuais, como se percebe.
Corsaro critica Vygotsky (psicólogo russo) por reforçar a leitura da apropriação da cultura externa pela criança, caso do conceito de zona de aprendizagem proximal, que seria o estímulo entre o potencial de desenvolvimento (ainda não atingido) e a zona de desenvolvimento real (estágio de momento da criança).
O construtivismo, afirma, focaliza em demasia o ponto de chegada da criança, ou seja, a vida adulta. Na perspectiva etnológica do autor, seria uma leitura exógena à realidade concreta do desenvolvimento infantil.
O livro é extremamente instigante e problematiza grande parte das crenças, mesmo as mais contemporâneas, a respeito do olhar sobre a criança e seu processo de desenvolvimento.
Corsaro apresenta um modelo de teia global do desenvolvimento infantil que lembra, em certa medida, os múltiplos fatores que determinam uma situação social proposta por Weber.
Mais adiante, comentarei os conceitos, apresentados pelo autor, de cultura de pares e cultura local.
3 comentários:
Olá,
Me interesso muito por sus posts referentes à educação. Tenho a mesma crítica ao construtivismo. Estou estudando muito Piaget e a pedagogia Waldorf de Rudolph Steiner com sua abordagem da formação do indivíduo. Você tem alguma sugestão de pesquisa ou visão sobre esta questão?
MAs bah, o FHC vai cair matando (não sei encima ou por cima disso) e agora ela deverá aprender alguma coisa de socio(logia)
Oi, Rudá! Veio a calhar esta postagem. Começo amanhã a fazer um curso na UNIFESP (por conta do doutorado)sobre Desenvolvimento Infantil e o segundo artigo a ser lido é sobre a teoria do Vygotsky. Bjo. Lígia
Postar um comentário