quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Esporte ou racionalidade?

Hélio Schwartsman publica um interessante artigo ("Brincadeira Olímpica") na página A2 da Folha. Sugere, inicialmente, que em termos racionais parece estúpido dedicar uma vida a ver quem joga um pedaço de pau mais longe ou superar milésimos de segundo numa linha reta. O artigo avança e sugere que o fascínio está justamente numa atividade que foge da realidade, que nos lança num mundo de brincadeira, que nos afasta da objetividade e agruras do cotidiano.
Interessante que Vygotsky nos ensinou que pela brincadeira a criança ingressa nas regras do mundo adulto. O melhor seria dizer que sugere que ela se antecipa ao mundo das regras e normas adultas pela brincadeira. Ao brincar com um caminhão, a criança se pensa dentro do caminhão e este é o motivo para tentar uma manobra delicada para encaixar o veículo numa vaga imaginária, quando poderia fazer isto com um desajeitado movimento de guindaste.
O livro que estou lendo (já comentado neste blog: "Sociologia da Infância") sugere algo distinto. A criança traduz o mundo adulto. Absorve e o reconstrói, lhe dá novos sentidos, a partir de sua própria cultura e perspectiva. Assim, não se coloca numa perspectiva, numa passagem da infância para a vida adulta, como sustenta Vygotsky.
O fato é que instiga pensar porque adultos fogem da vida adulta. Por qual motivo a infância e a adolescência são revisitadas, de tempos em tempos, pelos adultos que querem fugir de algo que os incomoda profundamente. Erramos? O que denominamos de civilização seria uma peça que nossa racionalidade (ocidental?) nos pregou? Ou seríamos justamente este movimento pendular entre fantasia (e descompromisso) com racionalidade, que se reabastecem ou anulam o que um tem de pior?
O que me incomoda é pensar que a sociedade racional do mundo adulto é um fracasso, fruto de imaginação, de utopia adulta, utopia moderna que procura abarcar tudo, compreender qualquer fenômeno, prever possibilidades, fazer do mundo e da natureza a imagem e semelhança de si. Uma imagem que, se Schwartsman tem razão, reflete uma sombra indelével da infância resiliente.

Um comentário:

kivas Arquitetura disse...

Assim como na religião, o esporte é superação do inevitável da condição humana.Mais uma maneira de nos acostumarmos a nossa finitude consciente e começamos a treinar na infância o reconhecimento desta realidade finita.Deve ser "limbico" até. :)