Qual o impacto do julgamento do Mensalão nas eleições de outubro?
Rudá Ricci - Fico com a opinião do Gaudêncio Torquato, da USP: ele terá algum impacto nos grandes centros urbanos, mas passará ao largo de 90% dos
municípios. Entre outros motivos, porque envolve a figura do personagem mais
popular da política brasileira, Lula, porque o julgamento é muito longo e porque
dificilmente serão muitos punidos. Mas se o julgamento encerrar muito próximo
das eleições (menos de duas semanas antes) a exploração na televisão será muito
grande.
O Mensalão do PSDB (MG) acabou em pizza?
Rudá Ricci - Claro. Existe um acordão tácito envolvendo PSDB, PMDB e PT em
relação a estes temas. Dificilmente eles chegarão a um termo completo no que
tange às deliberações das casas parlamentares. Os três partidos constituem a
garantia da ordem política estabelecida ou hegemônica.
Qual será o fim da CPMI do Carlinhos Cachoeira?
Rudá Ricci - Pizza. Talvez um punido, um boi de piranha, além de Demóstenes
Torres. Mas nada além disto. Pelos motivos que citei na resposta anterior.
Qual real motivo da ruptura em Belo Horizonte entre PSB e PT?
Rudá Ricci - E uma situação peculiar. O prefeito Lacerda sempre foi próximo
de Aécio Neves. Quando de sua posse, citou eufemismos para afirmar que faria o
choque de gestão, adotando princípios empresariais. Durante o último ano,
oscilou em dar mais poder ao PT e ao PSDB. Mas o estopim foram os cálculos a
respeito do coeficiente eleitoral. O PSB percebeu que se coligando com o PT
teria poucas chances de eleger vereadores; já o PT, a projeção era inversa: sem
coligação, reduziria pela metade a sua bancada atual. Foi um pretexto, digamos,
muito concreto para o PSB. Adicionaria, ainda, uma avaliação negativa sobre a
maneira como Lula tentou conduzir a aliança nacional com Eduardo Campos.
Valorizou em demasia o partido aliado e o preço foi subindo às alturas, a ponto
de indicar a Eduardo Campos que poderia dar saltos maiores do que projetava para
2012. Foi neste contexto que Lacerda percebeu que teria mais liberdade para se
aliar com quem já tinha afinidades.
O que muda na postura do Palácio do Planalto em relação às greves com Dilma
Rousseff? [Em relação a Lula]
Rudá Ricci - Muda tudo. Primeiro, não existe mais a intervenção direta do
Presidente e de seu hábil ministro, Luiz Dulci. Segundo, não vivemos um período
de bonança. Finalmente, não há mais a ameaça latente de confronto ideológico,
como ocorreu em 2005 e 2006, no auge da crise aberta pelo mensalão. Há, ainda,
uma conjuntura em que o sindicalismo do funcionalismo público aumenta
consideravelmente e ocupa espaço significativo no interior da CUT (tensionada
nos últimos anos por outras centrais sindicais), forçando uma guinada para uma
pauta mais exigente. Somam-se, enfim, uma conjuntura sindical, econômica e
perfil governamental bem distintos do período Lula.
Lula volta em 2014?
Rudá Ricci - Hoje parece mais difícil que parecia em 2011. Lula está mais
fragilizado fisicamente, está sem palanque diário, cometeu erros de condução nos
acordos políticos, se desgastou em vários Estados com lideranças petistas. Dilma
navega com mais facilidade junto à grande imprensa. E verdade que sofre com a
economia em banho maria. Mas ainda não chegamos ao ponto de afetar
significativamente o consumo de massas, o principal fator que abalaria, de fato,
o governo de Dilma Rousseff.
O PIB de 2012 será um "pibinho"?
Rudá Ricci - Sim. Deve girar ao redor de 2%. Pífio. Mas tudo leva a crer
que haverá recuperação em 2013.
Barack Obama vence?
Rudá Ricci - E bem possível. Também em virtude de certo polo
ultraconservador no interior do Partido Republicano, que esgarça as relações
internas e provoca contradições no discurso do candidato oposicionista. De
qualquer maneira, o governo Obama foi decepcionante. Já se dizia que Clinton
teria sido o presidente democrata com maior perfil republicano da história
recente. Não sabiam que ainda viria Obama. Falta aos EUA uma perspectiva mais
estratégica. Por anos, a guerra se tornou sua principal referência. Mas poucas
nações (talvez a Alemanha seja uma exceção) se constituíram historicamente a
partir da ameaça externa. Obama era a esperança de superar este déficit.
O que esperar das eleições na Venezuela?
Rudá Ricci - O problema político da Venezuela é a oposição, dividida e
frágil. A grande imprensa brasileira procura vender a versão que o problema é
Chavez. Mas uma mudança política, e os problemas de saúde de Chavez podem
aumentar as chances de mudança, revelará um país sem alternativas reais de
liderança.
O que o senhor anda lendo?
Rudá Ricci - Leio "Coligações Partidárias na Nova Democracia Brasileira",
organizado por Silvana Karuse, Humberto Dantas e Felipe Miguel; "Sociologia da
Infância", de William Corsaro; e "A Visita Cruel do Tempo", de Jennifer Egan.
Vou comentando estas leituras no meu blog.
Projeto de novo livro?
Rudá Ricci - Sim, sobre a política mineira e sobre o fordismo lulista.
Qual o balanço de sua experiência com o blog/site?
Rudá Ricci - E um aprendizado constante. No ano passado, uma fundação fez
uma proposta para sediar meu blog. Cheguei a ter apenas 100 acessos por dia,
quando o normal são 1.700. Descobri que os internautas querem fidelidade. Voltei
rapidamente para o que foi sempre. Também descobri que as redes se interligam.
Cada vez que posto algum comentário no blog e jogo no twitter, em poucos minutos
a nota já ultrapassa mais de 100 acessos. Digressões ou teorizações não atraem
muito os internautas, mesmo em notas pequenas. E há, ainda, pouca interação
(embora grande número de visitas) em relação aos temas que são mais frequentes
no meu blog (política, literatura e educação). Finalmente, sinto que as redes
sociais estão se polarizando, em muitos casos, se partidarizando aceleradamente.
Formam-se grupos que se apoiam diariamente, que se auto-promovem ou se protegem.
As tags, no twitter, são usadas como armas de ataque diariamente.
Um comentário:
Boa entrevista !
eu gosto de digressões e teorizações:)
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