Fui assistir o filme, baseado no livro de Fernando Morais, dirigido por Vicente Amorim.
O filme adota uma narrativa oriental, da tradição japonesa. E se fixa no drama pessoal, de casais.
O efeito é menos uma narrativa histórica e algo muito mais impactante, que emociona profundamente.
Já foi emocionante rever as "máquinas" de beneficiar algodão (em Tupã, onde nasci e a trama ocorreu, era café), as ruas de terra, os trilhos da ferrovia, as casas pintadas de amarelo. Tudo vinha à memória, escondida em algum lugar que nem sabia que ainda existia. Eu e Clau nos emocionamos e lembrávamos daquela Tupã que não existe mais. Ao fugir do risco de se tornar um documentário sobre o "Shindo Renmei", foi possível uma outra proeza: o drama retoma, com delicadeza, a humanidade e desespero dos migrantes japoneses enredados num conflito cultural, moral e existencial que os confunde. As mulheres aparecem como a ponta menos irracional (ao mesmo tempo, mais afetiva) deste conflito.
Esta possibilidade acaba construindo uma narrativa que, no fundo, é etnológica. Os japoneses nem sempre são retratados no Brasil com toda esta carga emocional e humanista que o filme discorre.
Triste, violento, tenso. Uma beleza.
Li uma crítica do Cineweb sobre o filme que me pareceu não captar esta lógica e sugeria retomar a trama do livro. Seria outro filme. E poderia ser tão belo como este. Mas dificilmente falaria tão claramente da dignidade dos japoneses que sofreram esta história.
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