A direita foi sempre tacanha no Brasil. Talvez, porque tenha tido poder e governo nas mãos. Com a crise dos partidos conservadores em nosso país, parece que começa a existir certo esforço para se formar uma escola de pensamento conservador, definidamente de direita.
O historiador Marco Antonio Villa (da Federal de São Carlos) é um dos expoentes mais perspicazes desta "novidade". Mas há os que entram na fila empurrando. A expressão livresca desta segunda ala está retratada no livro "Por que virei à direita", versão brasileira do livro "Why I turned right" (dos EUA). O livro reúne o colunista português João Pereira Coutinho e os filósofos brasileiros Luis Felipe Pondé e Denis Rosenfield. Os dois primeiros sempre foram conservadores e fica difícil porque assumiram um título que dá a entender uma reconversão pessoal. O que já demonstra certo senso de oportunidade. O argumento central de Coutinho é o ceticismo, por ele eleito como superior à política de fé. Fato que a política, pela esquerda, nos anos de redemocratização recente do país, se pautou pela crença da perfeição humana a partir da correção orientada pelas mãos do Estado. Aliás, nem tanto. Havia uma forte corrente (que transitava da teologia da libertação aos autonomistas de São Paulo e seguidores de Bourdieu e/ou Thompson de outras localidades, passando pelo conceito de democracia como valor universal) que não depositava esperanças em nenhuma saída que indicasse o Estado como protagonista político central. Mas, no caso europeu, esta distinção apareceu aqui e acolá, como em alguns discursos dos "verdes" alemães.
Pondé, de quem me incomoda o tom exageradamente militante, retoma o conceito central do ceticismo (novamente, uma contradição com seu estilo engajado) a partir de uma linha de argumentação que já estava em Comte, qual seja, a negação da tradição, pelo absoluto, nos joga no caos, na anomia. Bom argumento, ainda que insuficiente.
Rosenfield, infelizmente, foi na toada de Pondé e escreveu um texto dos mais militantes, citando sua própria experiência anti-PT.
Vou comentar mais este livro, mas me parece que esta tentativa de surgimento de um pensamento de direita mais intelectualizado e elaborado no Brasil está em seus primórdios. Será importante que ele crie mais musculatura. Melhor, que crie mais massa cinzenta.
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