terça-feira, 21 de agosto de 2012

Vaga na Câmara custa 3 carros


Vaga na Câmara custa 3 carros
Pelo menos 40% das despesas de campanhas vão para a comunicação
Publicado no Jornal OTEMPO em 20/08/2012
GUSTAVO PRADO

Quem disputa uma das 41 cadeiras da Câmara Municipal de Belo Horizonte com o objetivo de realmente se eleger deve preparar o bolso. Levantamento feito pela reportagem de O TEMPO revela que um kit básico para divulgação da campanha, com produção e confecção de material gráfico e com elaboração de estratégias de marketing, com layout e slogan, por exemplo, não custa menos do que R$ 30 mil, o que representa apenas 40% do total de despesas.

O gasto ainda pode ser maior, dependendo da quantidade de cabos eleitorais e da estrutura do comitê de campanha. Em média, essa estrutura consome cerca de 60% dos investimentos na disputa. Entre as despesas estão gasolina e contas de água, luz, telefone e internet. Ou seja, um candidato na capital precisaria de R$ 75 mil para se eleger - o preço de três carros populares.

Com o avanço da propaganda na internet, os gastos com o kit de divulgação da campanha também foram elevados. A criação e a manutenção de hotsites e perfis em redes sociais têm preço entre R$ 500 e R$ 7.000, dependendo das ações e dos serviços prestados. Os atuais pacotes de mensagens eletrônicas, como gravações de telemar-keting, e-mails e torpedos telefônicos, têm valor a partir de R$ 5.000. Os serviços audiovisuais, que envolvem fotos, gravações para TV e jingles, também custam a partir de R$ 5.000. Os cursos de marketing político voltados para o candidato têm preços que variam de R$ 1.000 a R$ 2.000.

Os serviços gráficos também demandam grandes investimentos. São faixas, cartazes, banners, bottons, bandeiras, adesivos, jornais e os tradicionais santinhos. Os gastos para estes serviços chegam a custar R$ 10 mil, de acordo com a quantidade encomendada. Os valores para alugar um carro de som giram em torno de R$ 400 por semana. Já os cabos eleitorais recebem, pelo menos, R$ 500 mensais.
Perfis. De acordo com especialistas, existem, basicamente, dois tipos de candidatos a vereador. Cada perfil interfere diretamente nos gastos da campanha eleitoral. O primeiro seria o candidato com base eleitoral forte em determinada região da cidade. "Cada um dos candidatos tem um kit específico para a campanha. Os candidatos com base eleitoral em determinada região pode promover caminhadas, tentando reforçar a sua imagem na região. Este é o período de fechar o território", diz o cientista político Rudá Ricci.

De acordo com ele, a demarcação do território pode ser feita com a divulgação das propagandas em áreas estratégicas do bairro. "O candidato começa a colocar banner na casa dos que apoiam a sua eleição. Assim, ele tem certeza que o morador ou comerciante vai votar nele, expondo gratuitamente o seu material. O candidato vai mostrando para todo mundo daquele bairro que ele é o nome da região", diz o professor.

O outro perfil de candidato seria mais genérico, aquele que não tem uma região específica de atuação ou uma identidade com um público alvo. Com isso, o candidato acaba gastando mais dinheiro. "Esse candidato investe mais em cavaletes, bandeiras, adesivos de para-choques. Ele tem que espalhar a imagem para fixá-la", afirmou Ricci.
INVESTIMENTO
Kits por perfil custam mais caro
Novidade desde as últimas eleições, os kits de campanha fazem sucesso entre os candidatos. Empresas de publicidade e de assessoria de comunicação e política oferecem aos concorrentes planos diversos, que incluem tudo o que o candidato precisa para se promover. O investimento, porém, é alto. Todo o serviço de assessoria, desde a elaboração de estratégias, slogan e logomarca até a produção de materiais gráficos, sem contar a impressão, giram em torno dos R$ 40 mil.

O publicitário Filipe Mattos, da F/Mattos Marketing Político, explica que os serviços são voltados para o perfil de cada pessoa. "O primeiro passo é identificar o perfil do candidato. A estratégia é saber o que vai ser colocado no material. O slogan deve ser centrado nas carências e naquilo com que o candidato mais se identifica", diz.

O publicitário admite que quem consegue aparecer mais acaba levando vantagem, mas avisa que só a exposição não adianta. "Se o candidato não tem conteúdo, não tem o que transparecer dele, fica mais complicado. A credibilidade conta muito, principalmente com o avanço da internet, onde as pessoas passam a acompanhar mais os candidatos", afirma, completando que a boa publicidade depende do bom candidato. "O marketing vai pegar o que o candidato tem de melhor e vai repassar às pessoas esse conteúdo", conclui. (GP)
MÍNIMO
R$ 10 mil elegeram um vereador
Em 2008, os gastos dos candidatos que conseguiram ser eleitos chegaram a ultrapassar os R$ 400 mil. Dez deles gastaram acima de R$ 150 mil. O vereador Iran Barbosa (PMDB) foi o terceiro eleito que mais gastou na última eleição – R$ 311 mil. Segundo o peemedebista, 40% foram gastos em material gráfico.

"O meu perfil é mais completo. Tenho que levar o número de campanha ao conhecimento das pessoas em várias regiões da cidade. O desafio é acertar o perfil do eleitor que é o seu para não gastar tempo e dinheiro em quem não vai votar em você". Barbosa diz, ainda, que ele utiliza novas estratégias de publicidade. "Com um balão, por exemplo, eu consigo causar um impacto visual maior e sem gastar muito, não precisando ter 30 pessoas em um lugar para fazer volume", diz. O vereador disse que deve gastar cerca de R$ 400 mil na campanha para a reeleição.

Na parte de baixo do ranking de maiores gastos em 2008, está o vereador Márcio Almeida (PRP), que gastou cerca de R$ 10 mil em 2008. De acordo com o parlamentar, o dinheiro foi investido para pagar o pessoal de campanha e em despesas como gasolina. "Todo o material de campanha eu ganhei do partido. Eu estava desempregado na época, pois tive que me desincompatibilizar do cargo que ocupava na prefeitura. Foi uma campanha muito humilde. O dinheiro que eu gastei foi com gasolina e paga pagar o meu pessoal", relembra.

O vereador disse que o trabalho realizado na comunidade do bairro União – seu reduto eleitoral – foi o diferencial para ser eleito. "Fui presidente da associação do bairro. Com muito trabalho, conseguimos algumas demandas para a comunidade com os prefeitos", diz o parlamentar.
Em 2012, o vereador disse que pretende gastar, no máximo, R$ 60 mil, caso consiga doações.(GP)

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