quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Propaganda de vereadores de BH é um desserviço à política






Propaganda de vereadores de BH é um desserviço à política, diz especialista

Thaís Mota - Do Hoje em Dia

22 de Agosto de 2012

O primeiro dia do horário eleitoral gratuito em Belo Horizonte foi um verdadeiro "circo de horrores". A avaliação é do sociólogo e cientista político Rudá Ricci. Segundo ele, a propaganda dos candidatos a vereador é um verdadeiro desserviço à política.
A pedido do Portal HD, Rudá analisou o discurso apresentado pelos candidatos a vereador na capital mineira. Ele acredita que o formato da propaganda eleitoral no país não favorece a apresentação das propostas e programas de governo. "Esse tipo de propaganda não auxilia em nada um eleitor que está indeciso sobre quem votar. É um discurso frio, você não consegue saber quem é a pessoa que se apresenta na TV", critica.
Na visão do especialista, a melhor apresentação foi dos candidatos do PSTU. Apesar do discurso radical e agressivo, o partido apresentou de forma mais estruturada a proposta de governo. "O conteúdo ficou muito distante dos eleitores já que se concentrou na greve do funcionalismo público, mas foi a propaganda mais compreensível", ressaltou. A campanha dos candidatos a vereador da coligação "BH segue em frente" reforçou a imagem do candidato à reeleição, Marcio Lacerda (PSB).
Nos vídeos, a foto do socialista aparece em destaque ao fundo esquerdo. Já na propaganda dos partidos coligados ao PT nem isso. O nome do candidato a prefeito Patrus Ananias mal apareceu embaixo da tela. "O que fica na memória de quem assiste o horário eleitoral é a imagem do Lacerda, diferente da imagem de Patrus. Foi uma propaganda mal feita".
Além da falta de propostas concretas e o tempo reduzido do horário eleitoral para os vereadores, Rudá Ricci também criticou a falta de coordenação e cuidado em algumas campanhas. Durante a exposição, um candidato governista chegou a dizer que "agora é tempo de mudar".
"Como um candidato do governo fala em mudança? Não existe o menor cuidado em editar esse material que é divulgado no horário eleitoral gratuito", comenta.
Uma solução para a melhoria da qualidade do horário eleitoral gratuito no Brasil seria fazer uma mudança na maneira como o tempo é distribuído para cada partido. Rudá propõe que os candidatos tenham mais tempo para, de fato, apresentarem suas propostas e mostrarem como a cidade é na visão deles.
"As coligações teriam tempo proporcional ao tamanho da chapa ao número de candidatos. Dessa forma, eles teriam tempo para trabalhar melhor os slogans, apresentar o programa de governo em capítulos e a campanha seria mais organizada", aponta.

Propaganda Eleitoral de 1976



Formato: o que mudou?

Apesar da aproximação dos candidatos com os eleitores por meio da incorporação das redes sociais às campanhas eleitorais, o formato da propaganda eleitoral gratuita na TV e no rádio se manteve praticamente o mesmo desde seu início no Brasil.
"A propaganda acontece apenas para anunciar o candidato. O que fica é seu rosto, seu partido e seu nome. As propostas mesmo não chegam nem a serem apresentadas", explica o cientista político.
Em alguns casos, o retrocesso é tão grande que a propaganda chega a remontar os tempos da Lei Falcão de 1976, que proibia os candidatos de falar durante o horário eleitoral (veja o vídeo). Apenas a imagem do político, acompanhada do seu nome e número, aparecia na tela da TV. "Tem partidos que fazem isso até hoje, inclusive na campanha aqui em BH", aponta Rudá.

Discurso político

Com o fim da ditadura militar, o país sofreu várias mudanças no discurso eleitoral. A principal delas ocorreu durante a campanha de Fernando Collor para a presidência do Brasil em 1989. Foi a partir disse que o discurso político começou a mudar no país. Até então as campanhas sempre adotaram slogans.
"Mas Collor introduziu algo mais moderno, focado no marketing político, na construção da imagem, no cuidado com a vestimenta, com a introdução de media training, com criação de fatos políticos programados, explica Rudá.
Entre as mudanças destacadas pelo especialista estão o esvaziamento do discurso ideológico dos partidos, a ampliação da aliança governista e a transição de um slogan político para um slogan publicitário. Além disso, as campanhas passaram a focar mais na figura do candidato do que em um programa político, ideológico e partidário.
A pegada publicitária nas campanhas veio para reforçar a assimilação dos eleitores em relação aos candidatos. Em estudo realizado pelos pesquisadores Adolpho Queirzo e Carlos Manhanelli é possível verificar a sutil mudança de ênfase nos discursos apresentados já na campanha para a Presidência em 1989, quando os argumentos de autoridade perderam espaço para recursos de fácil memorização.
Por isso, os candidatos optam cada vez mais por realizar paródias de músicas de sucesso durante a campanha e optam por repetições e associações que facilitem a fixação da imagem do candidato pelo eleitor. "Tem gente que opta pelo engraçado, como um candidato a vereador que em seu discurso utiliza a frase ´Já que Minas Gerais não tem mar, só sobra o bar´. Ou seja, ele faz um trocadilho durante o horário eleitoral e ri. E aí acabou a propaganda", exemplifica.

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