CAMPANHAS NA TELEVISÃO
POR Rudá Ricci
Os marqueteiros afirmam que tudo começou com Collor.
Explicam: campanhas eleitorais no Brasil sempre adotaram slogans. A palavra
significa “grito de guerra” (de slaugh-ghairm, do gaélico escocês). Na
República Velha, havia muita ironia, como o deboche dos oposicionistas à
candidatura de Arthur Bernardes, que o denominavam de “Seu Mé”, em alusão à
certa preferência etílica. Também é possível lembrar da campanha “queremista”
ou “50 anos em 5”.
Mas Collor introduziu algo mais moderno, focado no marketing
político, na construção de imagem, no cuidado com vestimenta, com a introdução
de media training, com criação de fatos político programados. No período
pós-regime militar, já tivemos seis campanhas eleitorais nacionais (1989, 1994,
1998, 2002, 2006 e 2010) e seis campanhas eleitorais municipais (1988, 1992,
1996, 2000, 2004 e 2008). De lá para cá, as campanhas sofreram mudanças
importantes.
Destaco as principais:
1. As coligações eleitorais passaram a ser
hegemônicas. Na região sudeste (em especial, São Paulo e Minas Gerais) as coligações
vitoriosas foram as heterogêneas do ponto de vista ideológico;
2. O governismo passou a ser a tônica, ou seja, a
aliança governista foi ampliada ao limite, repercutindo no processo eleitoral que
acabou por focar a personalidade do candidato e menos nas diferenças
programáticas ou ideológicas, já que o arco de alianças, de tão amplo, juntou
todo espectro partidário;
3. Do slogan político, coerente com as mudanças indicadas anteriormente, transitamos para o slogan publicitário, de fácil memorização, em todas campanhas;
3. Do slogan político, coerente com as mudanças indicadas anteriormente, transitamos para o slogan publicitário, de fácil memorização, em todas campanhas;
4. Mudanças geracionais, de um perfil mais
nacionalista (mais evidente nos anos 1950 e 1960, como a campanha “O Petróleo é
Nosso”, mas também ao longo do regime militar, com “Prá Frente, Brasil” ou “Ninguém
segura este País”) para um perfil mais individualista e focado na estabilidade
e sucesso pessoal, na desconfiança nas hierarquias funcionais e instituições
públicas (anos 2000).
O slogan publicitário tem como característica a facilidade
de assimilação, brevidade e o uso de linguagem direta, simples.
Estudo de Adolpho Queiroz (Universidade Metodista de São
Paulo e Presidente da Sociedade
Brasileira de Pesquisadores e Profissionais em Comunicação e Marketing
Político) e Carlos Manhanelli (Presidente da Associação Brasileira de
Consultores Políticos) sobre slogans políticos revela uma mudança sutil de
ênfase, nas campanhas eleitorais para Presidência da República desde 1989, de
argumentos de autoridade (em Collor e FHC) para os de fácil memorização
(repetição).
Embora ocorram situações de embates de natureza programática
e ideológica (como o debate sobre privatizações – no caso dos últimos embates
entre Lula e o PSDB - ou valores morais conservadores – como no final do
primeiro turno da campanha eleitoral presidencial de 2010), a marca é o
personalismo, o esvaziamento das diferenças conceituais. Nesta esteira, aumenta
o poder do marketing político nas campanhas e do apadrinhamento de candidatos
anódinos e jejunos na política (justamente para diminuir os pontos de atrito
com eleitor que se afasta mais e mais da identidade com a prática política).
As restrições legais para uso de showmícios, uso de imagem
de artistas em campanhas, uso de camisetas que poderiam configurar doações em
troca de voto, ao invés de reforçar o discurso de ideias e projetos, jogou água
no moinho da pasteurização política, da despolitização e afastamento do cidadão
da dinâmica político-partidária.
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