segunda-feira, 21 de março de 2011

Um breve balanço da visita de Obama


O que me chamou mais a atenção a respeito da visita de Obama ao Brasil foi a pobreza editorial de nossa imprensa. Chega a ser irritante como se confundiu cobertura de evento social com reportagem política. Foi um péssimo exemplo para um jornalista em início de carreira.
Não soubemos o que faz Obama ser tão criticado em seu país por estar aqui; não soubemos claramente sua pauta (aviões? incorporação efetiva do país ao eixo ocidental liderado pelos EUA? Pré-sal?); análise dos acordos assinados. Sem saber claramente seus objetivos não conseguimos analisar seu sucesso.
Na minha visão, a viagem foi turística. Não percebo nenhum resultado para além do efêmero. Achei que a melhor expressão da viagem estava estampado nos semblantes de suas filhas: aquele olhar meio que protocolar, sugerido muitas vezes pelos pais, o enfado saindo pelos póros. Criança e adolescente dificilmente conseguem fingir sentimentos. São transparentes, agressivamente transparentes. Pudera: viram por duas vezes rodas de capoeira, umas pinturas amadoras (feitas no dia anterior), um Corcovado encoberto por nuvens. Michele colocava a mão ao rosto, aparentemente assustada com uma acrobacia de um menino e Obama até sorria. Mas as filhas...
Faça um exercício e ache na internet fotos das filhas de Obama. Aparecem quase sempre sorrindo, e muito. Mas as fotos delas no Brasil... Cito, apenas, para destacar como até colunismo social poderia ser mais atento e informativo, um pouquinho analítico.
O fato é que a cobertura não nos informou de quase nada que importa. E, assim, o jornalismo tupiniquim fica nos anos 1970, atado às pautas oficiais, ao complexo de viralata.

6 comentários:

Valéria Borborema disse...

Meu caró Rudá, concordo com você. Faltou, por exemplo, lembrar o fato de a presidente eleita ter declinado de convite feito pelo próprio Obama para que ela visitasse a Casa Branca, antes da posse. Noutros tempos, você há de convir, isso seria impensável. Outro ponto que me chamou atenção foi a falta de necessário aprofundamento sobre ato dele no Brasil, de autorizar participação dos EUA na ofensiva militar em território líbio. Ora, o Brasil absteve-se de votar quando a questão foi levada à pauta no Conselho da ONU. Deu na imprensa que o sinal verde de Obama ocorreu durante encontro reservado dos dois presidentes, no Palácio do Planalto. No mais, creio que a visita de Obama serviu para reforçar uma tendência que se faz sentir no mundo desde os ataques terroristas de 1º de setembro de 2001. A perda da hegemonia político-econômico-cultural dos Estados Unidos no planeta. Permita-me, assim, discordar de seu pessimismo, a meu ver excessivo. Embora enfraquecido, interna e externamente, trata-se ainda do homem mais poderoso da Terra, que chegou aqui, derramou-se em elogios à democracia brasileira e propôs estreitamento de relações, justamente nas vésperas de viagem que a presidente Dilma Rousseff fará à China, hoje nosso maior parceiro comercial.

Valéria Borborema disse...

Meu caro Rudá, sobre a pobreza editorial de nossa imprensa, vale lembrar texto do respeitado jornalista Alberto Dines, do Observatório da Imprensa. Com uma redação elegante, Dines lamenta a falta de preparo da chamada grande imprensa. Mal acostumada aos arroubos verborrágicos do ex-presidente Lula, a imprensa cedeu às facilidades advindas de manchetes puramente declaratórias. Daí que, ao contrário de Lula, parece que Dilma Rousseff, mais discreta, exige profissionais gabaritados o suficente para ler nas entrelinhas dos acontecimentos. Dines citou o exemplo da presença dela em evento, no Sul do país, sobre o Holocausto. Ali, a presidente equiparou as ditaduras ao nazismo. O fato mereceu pouco destaque na mídia. Para Dines, entretanto, o recado de Dilma foi mais contundente do que o captado pelos jornalistas. Na verdade, ela mandou um recado claro: seu governo não apoiaria o Irã, como fez o de Lula.

Fernando Nogueira disse...

Excelente comentário!
Pensei em algo muito parecido em comentário a minha irmã, pois percebi, já na descida do avião, o quão chato seria para as filhas acompanhar os pais nessas viagens oficiais.
Outro momento significativo foi o almoço do primeiro dia, quando deu pra perceber um certo desconforto em todos que estavam na mesa principal (FH, Dilma, etc.).
Por fim, parei de acompanhar a cobertura da visita do Obama no sábado mesmo, pois a sequência de comentaristas do Globo News foi uma aula de como não fazer boa análise (principalmente quando os convidados falam de entidades abstratas: "o Brasil deseja...", "os EUA farão isso, ou aquilo"). Enfim, gostei de ler seu comentário.

Unknown disse...

O que me incomoda na visita do Obama foi que a imprensa toda só deu elogios a todos os visitantes, como a elegância da 1ª dama, a simpatia do presidente, etc. Nem a sogra dele que estava na comitiva teve deméritos. E tudo o que se passou na história do nosso país com a arrogância americana e o escravização cultural a que nos tornamos? De repente, o céu ficou azul e o Brasil tornou-se o melhor país do mundo...
Só para elucidar: na semana passada saiu um relatório com as 100 maiores universidades do mundo. 45 delas são americanas e NENHUMA brasileira. Porque será então que nos tornamos tão atrativos agora ????

Ruy disse...

Entendendo a Verdade: Por que Obama Veio Ao Brasil. Leia Agora Novo Post no Blog: http://www.medicoanimosico.blogspot.com/

Raphael Tsavkko Garcia disse...

O saldo da visita de Obama ao Brasil é nefasto.

13 presos políticos, constrangimento de ministros brasileiros, exigências descabidas.... Mas o saldo positivo (ou quase), pode ser o desmascaramento da mente colonizada da grande mídia. Sim, já sabíamos, mas agora está escancarado para quem quiser ver.

http://tsavkko.blogspot.com/2011/03/obama-no-brasil-guerra-truculencia-e.html