quinta-feira, 31 de março de 2011

As profundas mudanças no campo popular brasileiro


Estou procurando retratar, em notas recentes, a profunda mudança que vem revirando o campo popular brasileiro. Estamos virando uma página importante da história política do país.
Na década de 1980, as pastorais sociais, movimentos sociais e sindicatos se constituíram no bastião das lutas por direitos e democratização do país. Contudo, na década seguinte houve uma inflexão importante.
As pastorais sociais acusaram o golpe da crise de identidade (que se arrasta até hoje). Não sabiam mais se eram apoio, motivação ou assessoria. As bases sociais que apoiaram, mobilizaram e formaram tinham ganhado asas. Se transformaram em CUT, em MST e outras mega-organizações, com financiamento próprio. Algumas pastorais chegaram a exigir respeito a alguns desses movimentos, sentindo que se transformavam em meros suportes moral e material, sem qualquer direito a falar.
Em seguida, veio a crise de financiamento das ongs e movimentos sociais. O MST foi um dos poucos que conseguiram se manter independentes. A grande maioria capitulou e passou a firmar convênios com governos para poder sobreviver financeiramente. Se alteraram por dentro. Se transformaram em pequenas empresas de serviços públicos terceirizados. A composição interna mudou. De luta por direitos, a grande maioria dos funcionários dessas ongs passaram a se perceber funcionários. O ideal político foi substituído pelo ideal profissional. Muitas ongs (antes movimentos sociais) vivem à beira de um racha interno, entre a diretoria da velha guarda politizada e os técnicos jovens despolitizados e com aspirações profissionais.
O MST, agora, já acusa o golpe da ascensão social dos últimos anos. Sua base de arregimentação seca aceleradamente. O campo é o setor econômico que mais perde pobres, agora classe média baixa. Os acampamentos em beira de estrada minguam.
O movimento sindical, por seu turno, ingressou na era do neocorporativismo. Definem ministros e seus assessores, recebem verbas milionárias a partir de convênios com o governo federal, dirigem o FAT, tornam-se conselheiros de estatais, indicam ou controlam agências reguladoras. Não se trata do jargão direitista da "República Sindical", gasto pelo uso e abuso pelo golpe militar. Trata-se de um fenômeno de tipo europeu que Phillippe Schimitter denominou de neocorporativismo, quando a estrutura sindical opera recursos em arenas de negociação com agências públicas, grandes corporações e empresas nos segmentos e arranjos setoriais da indústria, comércio, serviços, agricultura. Definem, enfim, a pauta governamental.
A resultante política desta nova prática sindical é o afastamento gradativo da direção em relação à sua base sindical e a mudança gradativa de sua pauta. As direções diminuem a alternância de poder e a preocupação com a formação de novas lidernaças. Envelhecem. Passam a disputar seus privilégios como se fossem direitos. Não admitem que suas indicações e pautas sejam rejeitadas pelos governos, qualquer que seja o partido ou ideologia de plantão.
Enfim, a mudança em nosso país é das mais radicais. E temos que compreender que o que era inovação na redemocratização do país pode ser, hoje, anacrônico.

3 comentários:

AF Sturt Silva disse...

Mais vc está defedendo isso?

Rudá Ricci disse...

Defender o que? Leia com atenção, por favor. Não tente rotular logo de cara que isto é postura de quem não quer refletir. Não existe defesa de nada. Infelizmente, o que temos é adesismo puro e partidarização do que, antes, foram movimentos sociais. Veja como a luta dos operários das obras do PAC assustaram todo movimento sindical. Eu não sou governista. Sou de esquerda

AF Sturt Silva disse...

Olha a ultima frase:

"Enfim, a mudança em nosso país é das mais radicais. E temos que compreender que o que era inovação na redemocratização do país pode ser, hoje, anacrônico."

A pergunta era mais ou menos nesse sentido: se vc é contra hoje, aquilo que era inovação (que vc defendia) na redemocratização de 80?