sábado, 7 de julho de 2012

Occupy? What?

Comecei a ler este simpático livro organizado pela Boitempo e Carta Maior. Menos de 100 páginas, dez reais. O valor já surpreende. Autores, ilustradores, tradutores e editores abriram mão de pagamentos e lucros.
Mas o livro estimula outros livros e indagações, o que também é um mérito.
Destacaria duas indagações:
1) Não é exagero, como propõe Henrique Carneiro na apresentação do livro, juntar num mesmo balaio ações tão distintas como a Primavera Árabe, movimentos grevistas e estudantis no Chile, o Occupy em Wall Street, os Indignados em Puerta del Sol, a Geração à Rasca, o desespero grego e o rescaldo na Rússia e censura chinesa? Além do ano de 2011, o que, de fato, os uniu? Tal unidade parece artificial e apressada, como se tentasse dizer que existe uma vaga revolucionária na virada da primeira década do século XXI;
2) E o day after? Não há algo de mais interessante compreender que, assim como os movimentos sociais dos anos 1980 no Brasil, as mobilizações de 2011 não conseguirem armar ou sugerir uma alternativa à institucionalidade pública vigente? Esta pergunta me parece mais relevante do ponto de vista sociológico e político. Ocupar para quê? Para manifestar indignação? Compõe a construção da cidadania ativa, da afirmação de poder original dos cidadãos. Mas por qual motivo as estruturas políticas se manifestam intransponíveis? Há um encontro das águas entre resiliência institucional e incapacidade de formulação estratégica dessas mobilizações. Não há condições nem mesmo de afirmar que se trata de ações mais táticas que estratégicas porque são quase espontâneas, a despeito de partidos e forças políticas tentarem dar um acabamento teórico, como faz este livro (que, aliás, comentarei os artigos em outra postagem).
De qualquer maneira, fica o registro. Além da minha admiração pela competência de Vladimir Safatle. Apenas o título de seu artigo já valeria a pena: "Amar uma ideia". Capturou o espírito e o romantismo destas ações sociais.

2 comentários:

Egidia Maria Aiexe disse...

Prof. Rudá, não seria essa generalização menos um descuido de ordem sociológica que um esforço de identificar a peculiaridade e força desses movimentos, que são um fato político novo e absolutamente diferenciado dos movimentos políticos anteriores?

Rudá Ricci disse...

Poderia, Egídia. Mas a falta de rigor atrapalha numa análise mais aprofundada sobre o que, de fato, é convergente. Veja que grande parte do estímulo é exógeno: a crise financeira. Trata-se de um ciclo e não uma crise terminal do capitalismo. E se são diferenciados das mobilizações anteriores (não sei se são exatamente movimentos) também o são entre si. Em outras palavras, parece muito forçado este tipo de unificação organizacional.