domingo, 15 de julho de 2012

Luís Fernando Veríssimo

Li, uma vez, uma dica de Hemingway sobre como escrever um conto. Dizia que após escrever o texto, retirava a parte final. O leitor se prendia ao texto, continuando em sua mente o conto que já havia terminado.  Quando li O Velho e o Mar, não entendi o motivo para este livro ter se tornado um ícone. Bastou uma semana para entender. O livro não saía da minha mente. Forma, conteúdo, emoção, tudo voltava e voltava e voltava.
Mas arte não tem regra fixa. E resolvi fazer o contrário com o último texto de Luís Fernando Veríssimo, intitulado "Quem não é?". Retirei a parte final para emoldurar a manhã deste domingo:



Me lembrei do texto que escrevi certa vez sobre a visita de uma comissão a um manicômio. A comissão é recebida por uma recepcionista, que passa a dar instruções desencontradas sobre como chegar ao gabinete do diretor — “Entrem por aquele corredor marchando de costas e cantando a Marselhesa” — até que vem um médico buscá-la, explicando que se trata de uma louca que pensa que é recepcionista. Mas o médico não é médico, também é um louco passando por médico, e que é levado por um segurança. Que não é um segurança, é outro louco que declara ser sobrinho-neto do Hitler, e é levado por um enfermeiro para o seu quarto. Mas o enfermeiro também não é enfermeiro, é um louco que etc, etc. A comissão finalmente chega ao gabinete do diretor — ou alguém que pode ser o diretor ou um louco que se passa pelo diretor. Como saber se é o diretor mesmo?
— Não há como saber — diz o possivel diretor. — Nem eu sei. Mas temos que supor que eu sou o diretor e não outro louco. Senão isto aqui vira um caos!
Temos que supor que nem todos são corruptos, ou afilhados reais ou simbólicos do Carlinhos Cachoeira. Senão isto aqui fica ingovernável.

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