Eliana Catanhêde publica, hoje, na Folha, o artigo "Menos café, mais leite". Avalia que Lula e Dilma se apartaram nestas eleições municipais. A Presidente aposta em Belo Horizonte (com Patrus Ananias) e o ex-Presidente coloca suas fichas em São Paulo (com Fernando Haddad). Lembra que Dilma vem do PDT e afirma que não tem paciência com São Paulo, colocando uma dupla feminina sulina no comando do Planalto (as ministras Gleisi e Ideli). E sugere que Dilma aponta para o futuro, enquanto Lula reedita sua disputa com Serra.
Pode ser. Com exceção da história das ministras que comandam o Planalto (ela se esqueceu de vários outros nomes de peso, como Mantega e Míriam Belchior, ambos paulistas), concordo com as linhas gerais de sua leitura. Leitura que carrega um texto subliminar. A probabilidade maior, na aposta dos dois petistas ilustres, é de vitória de Dilma, com Patrus Ananias. Se esta aposta se revelar correta, o que mudaria na história do petismo?
Arrisco dizer que seria uma terceira inflexão na história do partido.
A primeira teria ocorrido em meados dos anos 1990. Do indefinido ideário libertário-cristão (anos 1980) para o modelo clássico pragmático-burocrático. Inflexão liderada por José Dirceu que nunca chegou a ser um ideólogo e sempre esteve mais para formulador de táticas eleitorais e disputas internas.
A segunda inflexão foi consolidada com o advento do lulismo. A chegada de Lula ao poder tornou seu modo de governar (o fazer política pelo aliciamento e estruturação de um fordismo tupiniquim) um paradigma para os petistas. A partir do lulismo, os petistas governantes se liberaram para o tudo ou nada. O PT virou o partido da ordem.
Agora, com Dilma, uma nova inflexão se avizinha. Dilma não faz parte do Panteão Petista. E, com tal limitação, foi alçada ao comando do Estado. Não tem brilho, é técnica e retilínea. Não demonstra liderança política, mas comando gerencial. Se aproxima, em parte, de certa racionalidade que FHC implantou no seu período (estou utilizando o conceito weberiano, distinguindo-a do carisma/burocratismo lulista).
O fato é que o PT foi diminuindo de peso político. O Estado se revelou maior que o ideário do partido a ponto da entrada de Lula ter destruído a identidade do seu partido.
É a partir deste vácuo programático ou ideário partidário que a sugestão de Eliana Catanhêde faz sentido.
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