sexta-feira, 6 de julho de 2012

Revolução de 32?


É interessante como um discurso acaba se sacralizando como verdade também no que tange a efemérides. José Murilo de Carvalho publicou um belo livro ("A Formação das Almas") em que analisava como se criou o mito de Tiradentes a partir da ação de florianistas que o queriam como símbolo nacional. Tiradentes, a partir de então, foi registrado como um Jesus Cristo tupiniquim, com a nítida intenção de popularizar seu nome. 
Pois a tal Revolução Constitucionalista de 1932 também é uma efeméride construída. Além de não ter sido uma revolução, foi um ato de elites produtoras de café contra a ascensão de um Estado Nacional getulista. Mais voltado para um passadismo da República Velha que um movimento popular. Vejam a entrevista do historiador Fábio Candioto a respeito:
Nossa Jacareí conversou com o historiador Fábio Candioto, que falou sobre a Revolução de 1932:
Para o historiador Fábio Candioto, é preciso cautela na análise histórica da data

NJ: Há motivos para a data ser comemorada pelo estado de SP, nos dias de hoje?
Fábio: A data deve ser lembrada como uma guerra civil, que é o nome usado pela historiografia hoje ao contrário de “Revolução”, e deve ser analisada como um grande acontecimento na história recente do nosso país. Porém, há muita confusão e paixão a respeito do tema e algumas pessoas usam a História deste movimento para favorecer suas opiniões, o que não é o cientificamente correto. A palavra “comemorada” é mais usada para os paulistas que perderam a batalha, não pelos historiadores. É preciso muita cautela na análise histórica.

Quais os maiores legados dos confrontos, tanto para os paulistas quanto para o governo Vargas?
Para os paulistas o maior legado foi a constituição promulgada em 1934, apesar de os cafeicultores paulistas continuarem afastados do poder. Para Vargas foi a consolidação de sua presidência, que passou a ser a partir dali cada vez mais centralizada.

Há muito desconhecimento da população em geral, sobre o tema?
Sim, o movimento de 1932, como todos os grandes acontecimentos da história do Brasil, não comoveu a população em geral, mas sim as elites. Estas sim fizeram campanhas em São Paulo para se doassem ouro e jóias para as tropas paulistas e pediram o alistamento, entre outras coisas. O restante da população não foi convocado para a luta porque foi um movimento da elite e que representava somente seus interesses. Os paulistas utilizaram como desculpa a questão da constituição, que Getúlio prometera para o país em 1930, mas na verdade a motivação real era a insatisfação dos paulistas por não comandarem mais os rumos do país como antes. Dizer que o movimento de 1932 era simplesmente por causa de uma luta dos paulistas pela constituição é um erro.

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