segunda-feira, 9 de julho de 2012

Minha entrevista ao jornal O Popular (Goiânia) sobre crescimento do número de candidatos

1) Que fatores poderíamos eleger para analisar o crescimento do número de candidatos?
R: Primeiro, o crescimento de cadeiras nas câmaras municipais. Cresceu 10% entre 2008 e 2012 ou 5.070 vereadores a mais. Em segundo lugar, a insegurança política para 2014. A crise de representação e o embate entre os dois polos do sistema partidário (PT X PSDB) vem diminuindo a margem de certeza para os pequenos partidos que aliam aos vencedores e, assim, conquistam cargos comissionados nos governos eleitos que sustentam, por sua vez, a militância profissionalizada. Com o grau de insegurança cada vez maior, os pequenos partidos procuram alimentar sua estabilidade com chapa com possibilidade de vitória. Há uma tendência em segmentar as chapas coligadas para candidatos proporcionais por tamanho de partidos, diminuindo a possibilidade de serem apenas "escada" para eleger vereadores dos partidos maiores.
Finalmente, o custo de campanha. Estima-se que a campanha eleitoral deste ano custará 15 bilhões de reais (dados de Gaudêncio Torquato, da USP). Há aumento de custo da ordem de 30% em relação às eleições anteriores. Com a centralização orçamentária na União, os deputados federais passaram a se destacar como padrinhos para acesso aos convênios estaduais e federais. Sem isto, prefeito algum consegue lograr um bom governo. Assim, os deputados se tornaram personagens principais nas disputas locais. A campanha deste ano se nacionaliza em várias regiões por conta do acirramento da disputa entre lulistas e oposição (o lulismo procura fechar o cerco aos partidos oposicionistas), mas também em função desta nova característica da organização partidária-eleitoral do país, tendo os deputados federais como avalistas.

2) Como o aumento da quantidade de vagas em câmaras municipais se relacionaria com esse crescimento?
R: Como afirmei, houve aumento das vaga em 10%. Este é o índice aproximado no aumento de candidaturas em relação a este fator.

3) O aumento do poder aquisitivo do brasileiro teria relação com esses dados?
R: Não. Teria se os meios de comunicação e abordagem tivessem sido alterados ou se sofisticado. Mas este não é o caso. As redes sociais são, ainda, marginais na captura de votos. A televisão ainda é o principal meio, além do contato direto, na rua. A questão é que a competição entre partidos e nacionalização dessas disputas aumentam o volume de recursos em jogo. Há relação direta entre a eleição municipal e a eleição de deputados (dois anos depois).

4) Por que "gastos de campanha" poderiam ser considerados uma variável para essa análise?
R: Como afirmei, estima-se aumento de 30% nos custos de campanha em relação à última eleição. Custo de campanha é material de rua (bandeiras, santinhos, botton), deslocamento (gasolina, veículos), eventos (reuniões, churrascos, encontros, comícios e mini-comícios) e, principalmente, cabos eleitorais. Ora, com custo tão alto, os pequenos partidos precisam transformar os próprios candidatos a vereador em cabos eleitorais natos. Em outras palavras, além da soma de votos de candidatos com menor expressão (para se atingir o coeficiente eleitoral), esses aspirantes menores também se transformam em operadores de campanha, distribuindo material do partido. Efetivamente, diminuem o gasto geral de campanha. Vale, ainda, registrar que partidos coligados recebem, normalmente, recursos do candidato majoritário de outro partido justamente para movimentar seus candidatos a vereador. É a mesma lógica: o partido principal, que disputa a prefeitura, paga aos candidatos a vereador seus santinhos, gasolina e algum dinheiro. O número de candidatos está, muitas vezes, relacionado a esta negociação.

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