Conselhos, representação e cultura anos 80

Nos anos 80, em virtude da abertura política e fim da ditadura militar, espraiou-se sobre movimentos sociais e forças progressistas e/ou de esquerda tupiniquim uma enorme desconfiança em relação às instituições e autoridades públicas do país.
Alguns autores denominaram esta cultura de autonomista. Autonomia em relação às instituições políticas (incluindo partidos políticos tradicionais). Mas, tal cultura (ou ainda, tal sentimento) avançou e legitimou experiências de democracia participativa. Esta valorização das plenárias e assembleísmo como melhor mecanismo de tomada de decisão está, ainda, reverberando nas organizações populares, mais à esquerda, do Brasil.
Mas no meio acadêmico, contudo, o assembleísmo nunca foi valorizado. Havia uma forte desconfiança em relação ao caráter efêmero e a necessidade de um "cidadão total", militante 24 horas, o que excluiria a grande massa da população. Mas algumas teorias, naquela época, validaram o sentimento geral que cito. Uma delas é a crítica ao "discurso da competência", título de um livro muito lido de Marilena Chauí (publicado, obviamente, naquele período).
Nas minhas andanças em que desenvolvo oficinas para discutir democracia participativa e seus instrumentos, vez ou outra esta teoria reaparece. Reaparece como crise de identidade. Formulada nestes termos: "em assembléias ou conselhos representamos nossa entidade ou a sociedade em geral?". Enfim, uma questão de método político (defendo, na instância de participação, minhas opiniões, mas ao ser derrotado, devo respeitar a decisão daquela instância ou desqualifico como instância coletiva), transforma-se em questão de identidade (sou ou não sou?).
Intuo que esta questão é mais nítida no debate que espelha nas teorias acadêmicas, mas que se reproduz em muitos movimentos sociais, organízações populares e pastorais sociais do nosso país, sem esta nitidez.