domingo, 9 de agosto de 2009
Como transformar uma opinião em argumento de autoridade
O Globo de hoje destaca, à página 9, uma frase de Chico de Oliveira como manchete. Aliás, dois Chicos, o de Oliveira e o meu amigo Chico Whitaker, são os dois entrevistados que embasam uma espécie de opinião autorizada contra a extinção do Senado tupiniquim. O subtítulo estampa: "outros especialistas dizem que saída não é extinção nem sistema unicameral, mas reformas no sistema eleitoral".
Fui ler os "outros especialistas". Só os dois Chicos aparecem, com opiniões, sem fundamento algum, nem sociológico, nem histórico. Oliveira diz que o Senado reequilibra o jogo político e que a proposta de extinção é coisa de paulista. Uma opinião meio preconceituosa, não? E sem fundamento. Onde estaria o equilíbrio? Nos 3 senadores por Estado? Sendo um criado como biônico, para equilibrar o jogo entre Arena e MDB? Qual seria o motivo para não equilibrar a representação na Câmara Federal?
O outro Chico só fala genericamente numa reforma.
Em outra coluna, o historiador Marco Antonio Villa apresenta um argumento mais frágil ainda: se a crise fosse na Câmara, a proposta seria pela SUA extinção. Sério? Então, por qual motivo nunca se fez uma campanha por isto? A questão é a estrutura bicameral ou unicameral, caro Villa!! E que o Senado nunca teve sentido no Brasil como câmara alta. Foi, desde sempre, um pastiche da história européia. E gasta como ninguém. Enfim, qual o argumento para termos o Senado?
Finalmente, esta segunda coluna apresenta uma breve opinião do cinetista político Amaury de Souza. Sugere a redução das atribuições do Senado.
Como pode um jornal nacional propor uma matéria tão, digamos, opinativa? Não se propõe ao menos indicar o contraditório. Não informa o leitor dos motivos de uma representação bicameral. Nem mesmo o motivo da origem do senado tupiniquim. E entrevista uma liderança política e três intelectuais, sendo dois deles sem qualquer tradição analítica sobre o tema.
Nem paciência chinesa poderia engolir algo assim.
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