domingo, 30 de agosto de 2009

Manual da Paixão Solitária


Começo a ler o segundo livro da minha lista de finalistas do Prêmio Jabuti de 2009. Livro de Moacyr Scliar, mesmo título desta nota. Moacyr é mais um médico, como Brito (autor de Galiléia). Quantos médicos e diplomatas brasileiros se tornaram escritores? Muito mais que professores de literatura ou letras.
O livro de Scliar nasce de um mote dos mais instigantes. Uma passagem da Bíblia (Gênesis, capítulo 38). A história de Judá e Tamar. Uma daquelas histórias que padres e freiras não comentam. Judá, um dos irmãos de José, se casa e tem três filhos. Um deles, Er, casa-se com Tamar, mas morre sem deixar nenhum filho. Tamar, contudo, procura engravidar para garantir a descendência de Er. Em tais situações, era dever do cunhado perpetuar a linhagem de seu irmão falecido e a também prover o sustento e as necessidades da viúva. O cunhado Onã, porém, agiu de forma diferente do esperado e se recusou a perpetuar a linhagem de seu irmão. A Bíblia afirma que tal atitude não agradou ào Senhor, que o matou. Tamar então recebe a promessa de que poderia ter seu filho quando o cunhado mais novo atingisse idade, e volta à morar com seu pai. Ao perceber que a promessa não seria cumprida, ela cria um plano tão arriscado que coloca em jogo sua própria vida e honra. Judá toma Tamar como uma prostituta e não a reconhece, uma vez que era costume da época ter o rosto velado durante o ato sexual. Após saber que sua nora havia engravidado, a notícia bombástica: ele era o pai da criança, ou melhor, das crianças gêmeas. Judá assume então a responsabilidade por seu pecado, e Tamar passa a ser uma mãe solteira.
As tragédias rurais são todas relacionadas à famílias e sua perpetuação. E a Bíblia é uma obras tipicamente rural. Scliar acertou em cheio.

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