domingo, 30 de agosto de 2009

Galiléia


Resolvi comprar os romances finalistas do Prêmio Jabuti deste ano. Por ser uma referência, apenas. E para ter uma noção do que se produz em literatura brasileira. Acabo de ler Galiléia, do pernambucano Ronaldo Correia de Brito. Não tem como não lembrar Lavoura Arcaica. Nassar escreve épicos (rurais e urbanos), busca arquétipos. Brito é mais existencialista e intimista (Raduan Nassar também, mas mais próximo da linguagem da dramaturgia, enquanto Brito é algo mais verossímil, mais prosaico. Mas tão intenso quanto). Adota uma perspectiva muito interessante, do migrante rural bem sucedido. Um Brasil mais contemporâneo (e as tragédias rurais e familiares). Também aproxima-se, em alguns momentos, do realismo mágico (caso da conversa do médico Adonias, o narrador, com a tia Donana, que estava morta).
Uma palhinha do livro:

"Vago numa terra de ninguém, um espaço mal definido entre campo e cidade. Possuo referências do sertão, mas não sobreviveria muito tempo por aqui. Criei-me na cidade, mas também não aprendia a ginga nem o sotaque urbanos. Aqui ou lá me sinto estrangeiro".

"O sertão é anterior ao descobrimento. Já se fundara em Creta, no culto ao touro e na arte de domar a rês. Também se fizera sentir na Arábia das Mil e Uma Noites e em Israel, com o legado da Escritura Sagrada. O Oriente e o Ocidente se juntaram nos desertos de cá. Mouros e judeus mesclados na Ibéria continuaram se misturando com outtras raças de gente, gerando a estirpe sertaneja."

Tenho a convicção que a literatura brasileira revela melhor o Brasil para os brasileiros que a sociologia. Nós, sociólogos, até que tentamos. Mas corremos atrás da literatura.

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