domingo, 9 de dezembro de 2012

Hollandisme é uma versão lulista?

Inicio com uma resposta crua: não.
O estilo pessoal é muito próximo (Hollande e Lula): conciliam interesses e rejeitam o enfrentamento direto. Mas é quase um aspecto de caráter, no caso do político francês. Lula, como sabemos, sempre foi agressivo e não se intimida por parecer um tsunami quando lhe interessa mobilizar politicamente.
A diferença essencial é histórica, contudo. O lulismo, venho sustentando, é uma versão tardia do fordismo-keynesianismo e constrói um pacto desenvolvimentista. A França socialista encara a crise do modelo fordista por ela adotado e que já revelava problemas na virada da década de 1960 para 1970. O Estado de Bem-Estar Social francês gerou um gigantismo burocrático que foi nomeado por Claus Offe de "estatalização".
A conciliação de interesses promovida pelo lulismo foi menos dramática em virtude da farta injeção de recursos públicos via BNDES e transferências de renda. Para o mundo sindical, o aumento vertiginoso de repasses de recursos à centrais sindicais, participação em agências reguladoras e conselhos de estatais, administração de bilionários fundos de pensão e indicação de ministros, significaram um atrativo apaziguador dos mais eficazes. Agradou, de início, gregos e troianos, tendo a emergência do mercado consumidor de massas como recheio.
Em suma: o lulismo criou as bases do fordismo-keynesianismo, numa ascendente de gastos públicos e arranjos entre segmentos de classe inusitados. O hollandisme, ao contrário, procura administrar dificuldades de liquidez e quebra do sistema de pleno emprego.
Fica o estilo pessoal como similar. Mas não idêntico.

Um comentário:

Professor disse...

Caro Professor,

Obrigado pela atenção, agora pude entender, de modo mais profundo, o texto. Também, foi útil na análise do modo como nosso ex-presidente governava.
Está virando moda esse efeito de personalisar formas e estilos de governo através do sufixo "ismo". A poucos dias no JN apareceu o termo "chavismo" referindo-se ao governo de Hugo Chaves na Venezuela.