Os arroubos do ministro Joaquim Barbosa indicavam um excesso de rigor. Mas a grande imprensa, no afã de encontrar um cavaleiro da esperança, o catapultou à condição de herói. Agora, se assusta com a indignação do ministro. Um texto de articulista da Folha de S.Paulo, à página 2 da edição de hoje, já se adianta a acrescentar um sobrenome ao nome do ministro, comparando-o com Jânio Quadros.
Não desejo me concentrar na figura do ministro, mas no desserviço do açodamento de parte da grande imprensa tupiniquim, que começa a se alastrar para todos meios de comunicação.
Não vejo com bons olhos a transformação de um julgamento à condição de matéria sensacionalista ou grande evento de massas. Publicizar as divergências jurídicas e as decisões constituem um serviço público, mas adjetivar ministros e contradizer suas reflexões como uma gincana de oradores, leva a uma exposição e banalização do papel do juiz que me parece condenável. Fico de cabelo em pé só de pensar nos tribunais populares da Revolução Cultural maoista. A reflexão jurídica da instância máxima do sistema judiciário deveria ser envolto de certo recolhimento acadêmico. As pontes com o mundo real, os valores hegemônicos e a moral que alimenta as instituições estarão sempre presentes em qualquer julgamento. Mas transformar um juiz em herói ou algoz, em redentor da nação, seria o mesmo que criar um reality show de todo processo de pesquisa de campo e redação da análise do pesquisador social, incluindo um 0800 em que a população pudesse votar nas melhores frases escritas pelo acadêmico. Imagino o constrangimento do pesquisador. Caso fosse realmente profissional, rejeitaria as indicações populares mas, ao final, sairia chamuscado pelos índices de popularidade medidos pelo IBOPE.
Não dá para aplicar técnicas mercadológicas à notícia e a processos que exigem discernimento e formação da convicção pessoal a partir do contraditório.
Parte da imprensa, com pouco critério moral e intelectual, desliza para esta banalização que acaba por colher tempestades. Agora, julga seu algoz de ontem um caudilho de hoje.
Que um programa sensacionalista que explora o mundo cão adote um âncora famoso por seus perdigotos e gritaria não tenha bom senso e transforme tudo em luta entre santos e demônios, é até compreensível. Mas que a maioria da grande imprensa se inspire na oposição venezuelana para enfrentar tudo o que não lhe agrada resvala em estelionato.
Um comentário:
A análise do "A Outra História do Mensalão" sai, quá?
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