Papa, exageros e noves fora

Já dá para traçar um olhar mais nítido sobre este novo Papa. Seu perfil ideológico é algo que se pode resumir como "mezzo a mezzo".
Li muito exagero, desde ontem.
De um lado, os cristãos dogmáticos, mais "realistas que o rei". Não conseguem nem ler um perfil mais crítico ao passado do Papa Francisco, já transformando tudo em Cruzada. As leituras foram de "querem destruir a Igreja" ao "nem deram tempo para ele". Tolerância zero.
Do outro lado, o argentino seria um quase um Pio XII, principalmente em relação á sua ação moderada (para alguns, omissa) durante a ditadura militar argentina.
León Ferrari, argentino que muitos consideram um ícone das artes plásticas do seu país, avaliou que a eleição de Jorge Bergoglio teria sido um horror. A história foi contada na Folha: em 2004, o então cardeal Bergoglio teria divulgado uma carta e, em seguida, sustentado uma ação judicial para fechar uma exposição de Ferrari que criticava duramente a igreja católica. A exposição mostrava Jesus crucificado em um avião de guerra e até a reprodução do Juízo Final da Capela Sistina pintada com excrementos de pombas. Censura é sempre condenável. Não ouvir o que o outro tem a dizer é intolerância à inteligência humana. Mas, convenhamos, Ferrari exagerou no ataque e o cardeal tinha o direito - e até dever - de defender a instituição que reconhece (e que o acolhe).
O fato é que o outro lado do novo Papa indica alguém que não gosta de pompa, parece rigoroso em relação à lisura da igreja e se abala com a pobreza humana. Ideologicamente conservador e socialmente engajado.
Enfim, o mezzo a mezzo do novo Papa sugere uma personalidade dura e até intolerante à diferença. Austero. O que aponta para reformas administrativas na igreja católica, mas poucos avanços em relação às demandas do mundo contemporâneo, em especial, em relação ao comportamento e direitos civis.
Ser conservador não é problema. Porque a sociedade e as várias correntes teológicas criarão contrapesos. O problema é ser um líder religioso não humanista.
Para finalizar, o que me chama mais atenção é a energia do novo líder católico. Ele não será nem um pouco moderado em relação à defesa do Vaticano, de sua correção. E vai entrar em campo para estancar a perda de fiéis no Brasil. O primeiro movimento será no final de julho, durante a Jornada da Juventude que ocorrerá no Rio de Janeiro.