Como prometi ontem, vou, aos poucos, montando cenários sobre a possibilidade da candidatura de Lula ao governo paulista. Vou começar com suas chances eleitorais.
O Datafolha pesquisou a intenção de voto para Presidente da República na segunda semana de dezembro do ano passado. Os dados são conhecidos, mas vou relembrá-los: num quarto cenário montado, tendo Lula na disputa, o ex-Presidente petista ganharia o pleito com 56% dos votos. Marina Silva apareceria com 13% e Aécio Neves com apenas 9%. Na pesquisa espontânea, Lula chegou a 26% e Aécio apareceu em segundo lugar com 3%!!! A pesquisa, contudo, envolveu amostra nacional e, portanto, é uma referência importante, mas distante, da realidade paulista.
Entretanto, a eleição de Haddad é outro indicador recente da popularidade de Lula, dado que o candidato petista ao governo paulistano era desconhecido até agosto, quando aparecia com meros 9% de intenção de voto, e viveu às custas da popularidade de seu padrinho. No final de agosto, Haddad saltou para 16% e começou a crescer mais lentamente até ultrapassar a marca dos 20% às vésperas da eleição do primeiro turno. O Estado de São Paulo possui 22% dos eleitores do país. Já a capital paulista, que possui mais de 8,6 milhões de eleitores, possui um colégio eleitoral superior a 23 Estados brasileiros (perdendo apenas para os Estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia). Assim, a maneira como Haddad venceu as eleições, como apadrinhado de Lula, indica um potencial eleitoral significativo no maior colégio eleitoral paulista. A performance de Haddad à frente da Prefeitura pode ser decisivo nas eleições paulistas de 2014.
Já no último embate eleitoral pelo governo paulista (2010), o candidato petista obteve pouco mais de 35% dos votos, sendo derrotado por Geraldo Alckmin (que obteve pouco mais de 50% dos votos). Na eleição anterior (2006), o PT obteve 31% dos votos (perdendo novamente para o PSDB que obteve 57% dos votos). Em 2002, o PT obteve 32% dos votos contra 38% do PSDB, no primeiro turno.
O teto eleitoral do PT, nos anos 2000, portanto, girou ao redor de 30% a 35%, no primeiro turno das disputas estaduais paulistas. Já o PSDB oscilou entre 40% e 57% dos votos.
O que temos que acrescentar a esta especulação é a mudança gradual do perfil do eleitor petista. As análises de André Singer indicam que, desde 2006, o voto petista passou a ser majoritariamente oriundo dos eleitores mais pobres, incluídos nas classes D e E e parte da C. O dado mais recente a respeito deste eleitorado foi divulgado pela Fundação SEADE no final do ano passado. A divisão em estratos de renda no Estado de São Paulo seria, segundo a fundação:
a) sem renda (4,5%)
b) renda familiar per capita de 261 reais (12%)
c) renda familiar per capita entre 261 e 396 reais (11%, considerada, pela fundação, baixa classe média)
d) renda familiar per capita entre 396 e 575 reais (18,1%, considerada média classe média)
e) renda familiar per capita entre 576 e 914 reais ( 20,2%, considerada classe média alta)
f) renda familiar per capita acima de 914 reais (34,3%)
Se André Singer tem razão, o PT disputaria preferencialmente pouco mais de 50% do eleitorado paulista.
Com efeito, o PT governa, hoje, 45,2% da população paulista (68 prefeituras). Nas eleições municipais houve aproximação entre o total de votos obtidos pelo PSDB e o total de votos obtidos pelo PT, uma diferença (pró-tucanos) de pouco menos de 200 mil votos.
Os dados disponíveis são estes. Demonstra que o PT paulista vem crescendo em termos de resultado eleitoral e que Lula poderia efetivamente otimizar este crescimento.
As chances de vitória, portanto, são reais.
Numa próxima postagem, farei projeções a respeito do impacto de uma possível vitória de Lula como governador no cenário político partidário e na recomposição das alianças eleitorais e governamentais.
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