GREVES E MUDANÇA NO COMANDO SINDICAL BRASILEIRO
POR Rudá Ricci
Quando a Confederação dos
Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef) anunciou que as categorias
que lidera haviam concordado com a proposta de reajuste salarial de 15,8%
oferecida pelo governo federal, não era só o término da greve mais intensa que
um governo federal havia enfrentado em tempos recentes que se anunciava. Naquele
momento ficava patente que o comando do sindicalismo brasileiro estava mudando
de mãos. Não apenas em função das mudanças tecnológicas da base produtiva, que
desidrataram o poderio dos bancários – para citar um exemplo de categoria que
perde o poder que conquistaram nos anos 1980 -, mas em função da mudança de
patamar econômico e renda per capita por que passa o país desde 2004, assim
como mudança do papel do Estado na orientação econômica.
Já se revelava a emergência do
sindicalismo vinculado direta ou indiretamente aos serviços públicos quando da
greve dos canteiros de obra das obras do Plano de Aceleração do Crescimento
(PAC), no início deste ano. Nas obras da usina hidrelétrica de Jirau (RO), 20
mil operários seguiram o itinerário de outros três mil que paralisaram a obra
da Plataforma da Petrobras, em São Roque do Paraguaçu (BA), mesmo feito dos
operários das obras do estádio Arena das Dunas (RN) ou do Complexo Petroquímico
do Rio de Janeiro.
Os dois movimentos grevistas se articulam na mudança das
categorias dominantes no sistema sindical brasileiro.
No caso específico do
funcionalismo público, as diversas categorias que o compõe vivenciam dois
movimentos convergentes. O primeiro é sua projeção no mundo sindical. No
interior da CUT, já se firmam, em muitos Estados, como segunda força, logo
depois dos metalúrgicos. O segundo movimento é a pressão que forças
político-partidárias exercem sobre a CUT, seja porque disputam confederações e
sindicatos nacionais de funcionários públicos, seja porque outra central
sindical, a CONLUTAS, adota um discurso anti-governista que impele à
radicalização dos dirigentes das outras centrais. Assim, a CUT que tem no
funcionalismo púbico uma base cada vez mais importante no seu interior, tenta
sair das cordas na medida em que esta base é assediada por forças que denunciam
um possível alinhamento governista da maior central sindical do país.
A segunda maior central do país
também vive seu momento de mudança na composição interna. Se os metalúrgicos
continuam patronos - assim com na CUT – é visível que na Força Sindical cresce
o poder dos comerciários como categoria cujos sindicatos se projetam nas
manifestações e financiamentos da central. São 12 milhões de comerciários que
se alimentam do crescimento do consumo nacional e conquistam aumentos reais de
sua remuneração nas negociações coletivas dos últimos anos. Não por outro
motivo, os comerciários se apresentam nas articulações para indicação de
secretários estaduais do trabalho, destacam-se nos eventos da Organização
Internacional do Trabalho e são interlocutores privilegiados do Ministério do
Trabalho.
Os metalúrgicos continuam em
destaque no comando do sindicalismo brasileiro. Contudo, o envolvimento
partidário de seus principais expoentes parece abrir espaço para outras categorias
conquistarem mais terreno no mundo sindical. Uma transição relevante que já
repercute em muitas ações sindicais, incluindo a vaga grevista deste ano.
As mudanças recentes na ampliação
do consumo interno e na adoção da lógica estatal-desenvolvimentista pela gestão
Lula conformam esta transição na composição das direções das centrais
sindicais. O Brasil, a partir de agora, conviverá com estas mudanças que terão
forte repercussão não apenas no mundo sindical, mas também no sistema
partidário e na tomada de decisão dos governos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário